Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
VÍRUSTEMPOS (5)
09/04/2020
VÍRUSTEMPOS (5)

TEXTOS ANTIVIRAIS (5)

Quais as circunstancias ou quais os “vírus” que mais atormentaram os governadores de Sergipe, desde a República, e quando ainda eram denominados presidentes?

Houve, sem dúvidas, momentos tensos, episódios de conflitos armados, deposições e prisões, reposições no cargo, tumultos, revolta nas ruas, crises econômicas devastadoras, como o nunca esquecido debacle planetário iniciado em 1929. Aconteceram pestes, nenhuma, até agora, igualada à “gripe espanhola”, de 1918. O coronavírus, infelizmente, vai superá-la.

Apesar do isolamento de Sergipe, naquela época sem rodovias, nem estradas de ferro, havia os navios que chegavam ao porto de Aracaju, um deles, trouxe a peste. Segundo Samarone o nosso médico historiador e pensador, seis pessoas portadoras da gripe desembarcaram do navio Itapacy no nosso porto, dia 20 de outubro de 1918. Apesar de terem sido todas removidas ao Lazareto Público, um mês depois, a peste já se espalhara pela cidade. O presidente Oliveira Valadão deixou o governo no dia 23 de novembro, e restou ao novo presidente, Pereira Lobo, a responsabilidade imensa de fazer frente à desgraça. Detalhe importante no texto de Samarone é o enfoque sobre a mobilização social que aconteceu, para suprir as enormes deficiências da saúde pública. Os exemplos de solidariedade humana foram essenciais, naqueles instantes de medo, desespero e pânico.

Entre os 17 mil mortos só na capital federal, o Rio de Janeiro, estava o presidente eleito Rodrigues Alves, que assumiria seu segundo mandato. Abatido pela peste “espanhola”, ele, no seu mandato anterior, erradicara a peste da Varíola, mas, para isso, teve de matar quase 200 cadetes da escola Militar da Praia Vermelha, que, liderados pelo general Travassos, tomaram como pretexto a obrigatoriedade da vacina, que entendiam como violação dos direitos humanos. Marcharam, então, para depor Rodrigues e implantar uma ditadura positivista, tendo à frente o tenente-coronel Lauro Sodré, que escapou ferido dos combates. Entre os alunos que restaram, vivos, estava um sergipano, o depois general e interventor Maynard Gomes, que participara da sua primeira sublevação. Outras viriam, na década dos vinte.

Como se vê, a politização das pestes não é novidade no Brasil. O estranho nisso tudo, foi a ideia positivista colocando-se contra a vacina, um avanço da ciência e do progresso humano, elementos fundamentais na doutrina de Augusto Comte.

Quase 116 anos depois que as ruas da acanhada vila que era então Aracaju, ficaram atulhadas de cadáveres, levados em carroças para o sepultamento coletivo, uma nova e até então improvável pandemia nos castiga.

Em 1918, quando as autoridades sanitárias mandavam queimar alcatrão à noite nas ruas desertas da cidade, ninguém discutia se o remédio seria bom ou mal, muito menos se colocava em dúvida a pandemia.

Sergipe se dividira muito, 12 anos atrás, durante a revolta de Fausto Cardoso. A polarização entre faustistas e olimpistas, acabou em tragédia, sendo assassinado o rebelde e eloquente deputado federal; depois, os filhos dele assassinaram no centro do Rio de Janeiro, o monsenhor Olímpio Campos que era Senador.

A radicalização que antes dividia o Estado, resultou no bom senso que a história sempre constrói. Hoje, perpetuados em bronze, Fausto Cardoso e Olímpio Campos, estão, cada um nos seus pedestais, nas duas praças que lhe levam os nomes. Quem elaborou o projeto revelou uma tendência, reservada apenas aos que interpretam sutilezas. Fausto, num dos seus gestos de arroubo oratório, braços abertos e erguidos; ao fundo, em atitude de circunspecta lassidão, está o monsenhor Olímpio; à sua frente, o adversário, contemplando o mar, o sol nascente, o futuro.

Aqui, um parêntese, para algo pessoal. Minha avó paterna, Etodéa Simões Costa, no interior abafado de uma casa na rua de Maroim, tentava preservar as vidas dos sete filhos crianças, cuidava, também, de regar uma roseira que produzia rosas vermelhas, a que deram o nome de Fausto Cardoso. Queriam, ela e o marido, Costa Filho, se não escapassem da peste, ter nas mãos aquela rosa, sabendo, contudo, que os seus corpos seriam levados em carroças e jogados ao fundo de covas coletivas.

Já meus avós maternos, Benício Oliveira e Silvina, contavam, que no Sítio Castanheiro, onde viviam em Bom Conselho, hoje Cícero Dantas, no sertão baiano, não tiveram maiores cuidados para proteger Ana, minha mãe, da gripe espanhola, da qual só receberam notícia por cartas, enviadas de Aracaju por Sálvio, filho mais velho, voluntário numa das enfermarias instaladas na cidade , e que sobreviveu.

A vida corria mais tranquila, sem pressas, sem correrias, sem notícias do mundo lá longe, e aparentava, ao lado das paixões politicas até romanceadas, talvez, uma naturalidade maior diante dos perigos, talvez, pela vulnerabilidade reconhecida de todos, diante da morte, que fazia sua ronda sempre próxima.

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VÍRUSTEMPOS (6)

TEXTOS ANTIVIRAIS (6)

Uma pandemia, um ínfimo e desprezível vírus desafiando a ciência, e devastando os países mais ricos e poderosos do mundo, parece uma ficção absolutamente descolada de todos os limites do pensamento.

Mas o coronavírus está aí, e antes de mais nada o seu combate exigiria a tomada de ações, duras, inauditas, digamos assim, beirando as dimensões de uma economia de guerra.

Mas, temos no país um cenário de desconexões, afetando, em primeiro lugar, o próprio presidente, e depois, grande parte da sociedade.

Nesse clima, imaginemos o peso da responsabilidade que recai sobre os governadores e prefeitos, desde os mais poderosos de São Paulo, aos mais frágeis, espalhados pelo Brasil.

Individualizemos em dois, por estarem aqui, onde também estamos: Belivaldo, governador de Sergipe, e Edvaldo Nogueira prefeito de Aracaju.

O que de fato eles precisaram decidir? Fazer, ao mesmo tempo, o isolamento social, e dentro das possibilidades mínimas do estado e do município, montar uma rede de saúde capaz de enfrentar o tamanho das exigências que a pandemia faria surgir?

A decisão foi tomada, e quase ao mesmo tempo por todos os governadores, e prefeitos das maiores cidades, mas, enquanto construíam a barreira de proteção, ouviram o presidente Bolsonaro dizer aos brasileiros: “é só uma gripezinha”.

Seguiam as normas traçadas pelo Ministério da Saúde, enquanto o presidente ia de encontro às normas baixadas pelo seu próprio governo, e ameaçava baixar um decreto acabando o isolamento. Pior ainda, acusava os governadores de estarem envolvidos numa conspiração para levar o caos ao Brasil.

Faziam, também, contatos produtivos com o Ministro Mandeta, enquanto o presidente publicamente o desautorizava. Paralelamente, a politização do tema criou um pandemônio de críticas, de acusações e cruzamento de opiniões divergentes. Até jejum se fez, para “explodir o diabo”, e usando cloroquina, acabar de vez com ele, que seria o vírus, criado nos infernos, ou nos laboratórios da China, com seus agentes aqui no Brasil, para acabar a civilização ocidental.

Tudo isso se assistia, tudo isso teve de ser enfrentado, e agora diz o presidente, que os responsáveis por uma crise econômica mais devastadora ainda, que virá, serão os governadores e os prefeitos.

Perguntou o presidente quem dará o pão ao pobre que perdeu o emprego, e lançou a culpa sobre o isolamento social, defendido e aconselhado pelo seu Ministro, e seguido pelos governadores e prefeitos. Mas a resposta é óbvia e lógica: o pão deverá ser providenciado pelo Estado brasileiro, hoje, sob a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro.

O vírus avança, a situação tende a piorar, e seria pior ainda, sem as providências adotadas.

Diante de tudo isso, os brasileiros se dividem num confronto político radicalizado, descobrindo inimigos onde eles nem existem, e mesmo que existissem, seriam irrelevantes, diante da dimensão do problema.

É prioritário agora cuidar do day-after, que não se sabe precisamente quando virá, mas existe a certeza de que irá acontecer.

Então, é preciso garantir o pão para quem tem fome, e criar instrumentos eficazes, para evitar a falência de empresas e gerar desenvolvimento.

Já se disse que depois do corona, teremos de inventar um Plano Marshall, aquele, que reergueu a Europa finda a Segunda Guerra, e, alimentado com os dólares fartos que os Estados Unidos acumularam durante o conflito. O dólar era, então, a moeda forte e única do mundo, após o acordo de Bretton Woods, antes do final da guerra, quando o império britânico curvou-se à antiga colônia.

O dinheiro terá de sair daqui mesmo, se necessário , das máquinas da Casa da Moeda, fabricando dinheiro. Ou, buscado pelo mundo, onde ele estiver disponível. Essa elegância rigorosamente técnica do modelo orçamentário perfeito, sumiu, acabou, o vírus já o destruiu, e levará tempo para ser refeito.

Um plano com essa dimensão, exigirá em primeiro lugar uma liderança voltada, com disposição, para levá-lo à frente. E principalmente o abandono da mesquinharia, da mediocridade política que nos contamina.

Presidente, governadores, prefeitos, a sociedade brasileira, desde que despidos de preconceitos, e superados esquemas ideológicos, poderão fazer surgir um Brasil renovado após o vírus.

Aqui em Sergipe, na pequenez do nosso território, na penúria dos nossos cofres, têm surgido bons exemplos, dos governantes, dos parlamentares, dos empresários, das organizações sociais. Nesses dias de tensão e temores, a solidariedade se fez sentir, ideias afloraram, medidas foram tomadas.

O Fórum Empresarial, a Fecomércio, movimentaram-se. Joaquim Ferreira e Laércio Oliveira, surgiram, nesta hora complicada, como líderes de uma classe, que está sofrendo as consequências diretas da crise, mas, acalentando ideias, como aquela contida no lema lançado pelo empresário Juliano Cezar: “Não Demitam”. E, de forma criativa, um empresário como Aloísio Abreu convertando sua fábrica de mobiliário para produzir equipamentos cirúrgicos; tantos polos já criados para a fabricação de máscaras, tudo, nesse ritmo de sofreguidão gerado pelo sofrimento.

Mas há, acima de tudo, um inimigo maior que deve ser denunciado, combatido, e subjugado. E não está na China, não está em Washington, Moscou, ou Havana, está na Avenida Paulista: chama-se FEBRABAN. Não é difícil avaliar o tamanho do rombo que a concentração bancária causa ao Brasil. Agora mesmo, dinheiro injetado pelo governo para acudir empresas, para levar o pão ao faminto, é manipulado através de juros crescentes, e da invenção criminosa de um spread, a garantia dos bancos contra o calote, ou seja, o colchão macio onde deitam os banqueiros, enquanto fábricas fecham, construções param, lojas abrem falências, e o desemprego cresce. Podem apostar: nesses meses de crise que estamos atravessando, ao final deles, os bancos irão publicar os seus balanços trimestrais, vistosamente bilionários.

O sistema financeiro é, na verdade, o grande, o pior, o mais devastador vírus que corroí a saúde econômica do Brasil.

Receitar cloroquina como remédio milagroso é, tão fácil, quando leviano, difícil, mesmo, é encontrar o raticida eficaz para, sem jejum dominical, “explodir o demônio”, hóspede da FEBRABAN.

INFORME PUBLICITÁRIO

"Programa Deso Vida" promove responsabilidade social

Reunir parceiros, instituições participantes e disseminar o programa para que mais entidades possam ser beneficiadas. Esse foi o clima durante a segunda edição do "Programa Deso Vida", desenvolvido pela Companhia de Saneamento de Sergipe – Deso, através do setor de Assistência Social, que tem o objetivo de propiciar a regularização de débitos existentes e contribuir para a manutenção de adimplência das instituições participantes, através da adoção de tarifas diferenciadas. Para tanto, as instituições devem preencher alguns requisitos de elegibilidade, conforme estabelecido no regulamento.

A programação foi iniciada com a apresentação do Coral Cantar das Águas, além de muitos agradecimentos de representantes das instituições presentes. Após a interação no auditório, uma feirinha solidária de artesanato com vários estantes e produtos diversos na área externa atraiu a participação dos funcionários, tudo isso ao som da "Orquestra do Lar Infantil Cristo Redentor", além da visitação a unidade móvel "Saneamento Expresso" e um vasto coffee break.

A Companhia pretende manter a comunicação com o público externo a partir desse projeto e também de outras maneiras. Será mantida uma via de mão dupla entre a Deso e a sociedade, visando sempre atender as pessoas mais carentes em todas essas instituições. O planejamento para 2020 visa chegar o mais próximo do cliente para que ele fique satisfeito com a prestação dos serviços, interagindo sempre. Por isso, é investido em novos canais de atendimento como o atendente virtual, tudo baseado em inteligência artificial.

É um trabalho extremamente valoroso para a sociedade e muito importante realizar a segunda edição do evento, haja visto o sucesso da primeira. O intuito é que o evento seja anual, sempre trazendo uma inovação para que se torne cada vez mais interessante. O objetivo é ampliar a participação de outras instituições no programa, por conta da importância que ele tem.

INSTITUIÇÕES

Para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE, a preocupação da Deso com a sociedade por meio desse projeto revelou a importância dele. Enquanto instituição, receber esse recurso do abatimento da conta é de suma importância, mas mais importante do que isso, é que a Deso vira um exemplo de empresa ao se preocupar com o lado social.


 


 

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