Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
VALMIR, ENTRE VOTOS E AMBIÇÕES DESMEDIDAS
14/09/2022
VALMIR, ENTRE VOTOS E AMBIÇÕES DESMEDIDAS

Diga-me com quem andas...

A ambição não é um sentimento pernicioso, mas, o mesmo não se pode dizer quando ela existe em excesso.
Para Valmir de Francisquinho, o ex-prefeito de Itabaiana, não deve ter sido uma surpresa a impugnação da sua candidatura pela Justiça Eleitoral. Ele, e os seus advogados sabiam, todos, daqueles processos que rolavam na Justiça. Já lidavam com eles há algum tempo, e não são poucos, desde que o prefeito foi preso por alguns meses sob acusação de desvio de dinheiro proveniente do abate de animais no Matadouro Municipal.
Essa questão do envolvimento de prefeitos com irregularidades nos Matadouros, é uma “matança” da ética que se espalha por algumas prefeituras do interior. O  Matadouro de Itabaiana era o mais vistoso entre todos, dada a prosperidade daquele município, exemplo exitoso de empreendedorismo. E que cresce sempre, sem depender de quem seja o Prefeito.
Depois de libertado e voltando a assumir a Prefeitura, que vinha sendo com muito zelo e responsabilidade, administrada pela vice-prefeita, irmã da deputada Maria Mendonça, Valmir retornou à Itabaiana, sendo recepcionado por enorme multidão, e uma alongada fila de caminhões e veículos diversos.
Aquilo lhe deu um enorme fôlego para dar a volta por cima. Passou a usar o discurso vitimista de que a prisão resultara de pressões sobre o Ministério Público, de dois grandes frigoríficos que desejavam controlar todo o abate, formando um duopólio, que “abateu” os seus concorrentes.
Esse discurso pegou, porque foram enormes as consequências negativas do fechamento dos matadouros municipais, apontados como perigosos à saúde pública, e “objetos de estimação” dos prefeitos, entre eles Valmir, para usufruírem de benefícios financeiros. A última afirmação parece verdadeira, mas o perigo sanitário, não foi eliminado.
Cresceu o abate clandestino “na folhinha”, onde não chega nenhuma forma de inspeção, muito menos a fiscalização da Receita Estadual. Em suma: ninguém liga para protocolos sanitários, e muito menos cogita em pagar impostos. Ou seja, virou uma bagunça que vem gerando insatisfações crescentes de trabalhadores que perderam seus empregos. São açougueiros, magarefes, fateiras, motoristas de caminhões, de camionetes. Enquanto isso, os urubus que rondavam os antigos matadouros hoje andam esparsos, revoando pelos locais ermos onde se fazem os abates clandestinos, literalmente no meio do mato.
É preciso olhar para essa situação com muita urgência, porque as vezes ações bem intencionadas, mas não devidamente planejadas, se mostram danosas à coletividade, afetando pesadamente seus hábitos ancestrais. Como aconteceu, durante uma bem intencionada, todavia mal planejada operação, liderada pelo Ministério Público, desfechada para regularizar matadouros, laticínios e preservar o meio ambiente.
O saldo resultou negativo. Laticínios fechados, ampliaram o desemprego afetando toda a cadeia produtiva do leite. Dessa operação, restou para o sertanejo a historinha muito repetida do papagaio, “xpropriado” de uma idosa, que sairá gritando: “Mamãe os homi tão me levando”.
Ações desse tipo ferem a alma de um povo simples, e causam a indignação, que logo se reverte em esperança, quando surge um demagogo ousado, prometendo todas as benesses e felicidades do mundo, começando pela reabertura imediata de todos os matadouros, água gratuita para todos, aumento geral de salários, dispensa de impostos. Se aparecerem alguns dizendo  que querem ir a Paris, logo ouvirão a resposta: “o povo deve ter o direito a ir aonde quiser, e nós vamos providenciar isso”.
Assim, do discurso fácil e da ausência de responsabilidade surgem essas lideranças oportunistas de ocasião, que, ao serem revelados todos os espaços cinzentos das suas vidas, rapidamente se vão sumindo de cena e gerando novas decepções, naqueles crédulos ingênuos e sempre bem intencionados, acreditando, com facilidade, que o “céu é perto”. E há sempre aqueles profanos, ou políticos melosamente espertos que prometem a todos a viagem, a sonhada viagem a um paraíso terrestre. 
No caso, o paraíso agora prometido é Sergipe. Embora não consigam comprovar com fatos e cifras, como será feita essa miraculosa trajetória. 
O povo, precavidamente, se orienta por sábios aforismos, que servem sempre como atualizadas advertências. Em Sergipe, tornou-se quase um mantra aquela frase do ex-governador Albano Franco, (uma das raras unanimidades desta província). Disse Albano: “Sergipe é pequeno e todos nos conhecemos”.
Mas, há um aforismo, o mais popular entre todos, que remonta à sabedoria de muitos séculos: “Diga-me com quem andas que eu te direi quem és”.
A ofensiva de Valmir vem sendo estimulada e organizada pelo maior tomador de empréstimos bancários de Sergipe: o homem de variados negócios, Edvan Amorim.  Agora, exatamente às voltas com uma possível execução de agigantado empréstimo sem perspectivas de ser  honrado. Vai daí, o médico e cidadão respeitado, todavia, político titubeante, Eduardo Amorim, candidato ao Senado, já acomodou numa segunda suplência um genro do ex-deputado cassado Valdevan 90. A indicação foi do cabeça de chapa, impugnado pela Justiça Valmir de Francisquinho, o líder que hoje Eduardo segue, por recomendação do seu irmão Edvan, que desafiará céus e terras, desde que o comando do governo estadual, se exercido formalmente por Valmir de Francisquinho, fique, de fato, em suas mãos. O genro de Valdevan 90, com a carteirinha de segundo suplente de senador terá direito a passaporte diplomático.
Na verdade, o paraíso que prometem ao povo, se vitoriosos os integrantes dessa corriola, se transformará num suntuoso banquete exclusivíssimo. Durante quatro anos.
Existe um outro aforismo, muito popular, aquele, que se refere a suínos e farelos.

 

LEIA MAIS

 

UM RETRATO MUITO ÚTIL DO QUE É A NOSSA SOCIEDADE

O grande "conflito" brasileiro deveria resumir-se ao futebol. 

O IPEC, entre tantas e variadas pesquisas que têm elaborado, sobre este momento de acirrada e virulenta campanha política, saiu, à margem do atual foco de interesses, e foi perscrutar o que pensam os brasileiros, como se definem politicamente estes 215 milhões.
Eis o quadro: 37 % se definem como centristas, 35% como direitistas, e 26% como esquerdistas.
E diz uma outra pesquisa: 80% dos brasileiros se declaram favoráveis à democracia representativa, com os 3 Poderes funcionando, independentes e harmônicos.
Nesse particular, a nossa consciência política, apesar da calamitosa educação que temos, se assemelha, ou supera, a própria realidade de países berços da ideia democrática, e das Constituições, suportes basilares dos regimes onde prevalecem o pluralismo, a liberdade de expressão, e todos os direitos fundamentais que informam uma sociedade livre.
O quadro real das nossas tendências, sugeriria uma reflexão sobre a necessidade de deixá-las fluir sem maiores conturbações, num jogo político normal, onde prevaleça a sensatez da consciência democrática.
Uma pesquisa semelhante efetuada em diferentes etapas da nossa vida democrática, se depararia, quase certamente, com a mesma configuração.
Não há, no jogo político, nenhuma maneira de um dos estamentos tentar superar o outro pelo voto, tornando despiciendas as coligações, as frentes partidárias. O Centro continua prevalecendo. Já dizia um filósofo grego, que a virtude está no meio. Desde que aqui não se queira confundir o “meio” com o “centrão”. Embora, aquela turma de calejados “pais da pátria”, demonstre, algumas vezes, um equilíbrio que desarma os surtos radicais.
Esse retrato da sociedade brasileira é uma advertência para aqueles que imaginar-se-iam capazes de conquistar o povo para uma aventura autoritária. Até porque, a índole brasileira é avessa a extremismos. Isso já foi demonstrado através da história, e em dois momentos antípodas. Em 1935 quando a chamada “Intentona Comunista” foi deflagrada com a ideia equivocada de que ganharia apoio entusiasmado das “massas” e adesão no Exército. Tudo não passou de duas quarteladas localizadas e restritas, embora sangrentas, em Natal, onde foi instalado o “poder popular”, sem povo, enquanto nas residências da cidade as pessoas se aproximavam dos altares pedindo a Deus que viesse livrar os potiguares daquela desgraça. E do sertão chegaram os jagunços encourados comandados por Dinarte Mariz, que ajudaram o Exército a sufocar rapidamente a rebelião.
No Rio de Janeiro, nas edificações do Exército da Praia Vermelha e no Campo dos Afonsos, a Escola de Aviação Militar, soldados e oficiais mantiveram um tiroteio intenso, até que chegaram reforços, e o punhado de rebeldes saiu para render-se, como se estivessem vindo de um final de festa. Tudo se resumiu a uma pantomima sangrenta, enquanto a “massa”, esperada dos bairros periféricos, não apareceu.
As “massas”, na verdade, estão contidas naqueles três estamentos em que se dividem. E assim têm sido formados os nossos governos, e assim se têm realizado as nossas eleições.
Há, porém, que observar um fato: as pessoas, quando são extremistas de esquerda ou extremistas de direita, não se definem como tal. Preferem definir-se na abrangência maior da Direita ou da Esquerda.
Representam, talvez, esses extremistas, algo não superior a 10% da nossa população. O que não deixa de ser um número expressivo. A extrema esquerda, aquela que preconizava fazer dez, cem mil Vietnamese através do mundo, sumiu, desapareceu, quando morreu Guevara, abandonado num altiplano boliviano. Estava sozinho. E o  fim de Guevara parece a metáfora do colapso daquela ideia de empalmar o poder pelas armas, e “conquistar o mundo”. Mas, a extrema direita hoje no Brasil está armada, e fortemente armada, depois que se subtraiu do Exército e da Polícia Federal, o poder que tinham de exercer controle absoluto sobre o armamento.
A década dos anos 30, marcou no Brasil a ascensão de um extremismo representado pelo Integralismo, cópia fiel dos fascismos italiano e português. Seu líder, o caricato Plínio Salgado, com um bigodinho à Hitler, formou milícias fardadas. Desfilavam fazendo a saudação hitlerista, com o braço direito erguido. Foi o maior movimento de massas no Brasil, seriam 100 mil adeptos, num país onde a população nem chegara ainda a 40 milhões. Fizeram um fracassado “putsh” em 38, e não conseguiram penetrar no Palácio Guanabara, onde estavam apenas o ditador Getúlio Vargas, sua família, e uma pequena guarda. Fugiram todos, quando chegou um reduzido contingente do Exército liderado pelo general Dutra, que, asseveram, cruzou o tiroteio para chegar até onde estava Getúlio. Alguns deles foram sumariamente fuzilados. Onde estava a “massa” Integralista? Em casa, enterrando suas fardas, suas insígnias, e retirando das paredes a frase guia: Deus, Pátria, Família. Por pura coincidência, a que repete hoje, insistentemente, o presidente Bolsonaro.
Se tivermos juízo, menos emoções exaltadas que se distanciam da razão, iremos concluir que o Brasil pode viver tranquilamente em paz, que os brasileiros não precisam andar se matando em discussões e conflitos ideológicos. Basta deixar que essas três tendências, façam, como dissemos, o jogo político, e a rotatividade no Poder, com as eleições sendo vistas como um processo normal, e não uma “ameaça às nossas instituições, uma subversão dos nossos costumes”.
Ao vencedor as palmas da vitória, ao perdedor o devido respeito. E a espera pelo que acontecerá outra vez, após 4 anos.
E que se preocupe o próximo governo em mudar os rumos, pacificar o Brasil, melhorar nossa imagem no mundo, onde não devemos enxergar inimigos, mas parceiros, que somam e nos ampliam o comércio. E, principalmente não tratar como inimigos os brasileiros que pensam de forma diversa e pluralista, que não sejam estigmatizados pelas suas preferências sexuais.
Simples assim. Mas, infelizmente não é. Por que?
Então, que tentem explicar essa quizília, os sociólogos, politicólogos, doutores, acadêmicos, e principalmente o Zé Povinho, que está ali, paradão, mas estranhando o tumulto.
 

Voltar