Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
UM JARDIM BOTÂNICO SURGINDO EM ARACAJU
12/11/2018
UM JARDIM BOTÂNICO SURGINDO EM ARACAJU

Qualidade de vida, aquela meta que o prefeito Edvaldo tanto insiste em conferir a Aracaju, é objetivo ambicioso. Qualidade de vida envolve inúmeros aspectos, começando, o que é mais difícil, pela redução das desigualdades sociais. Não haverá qualidade de vida completa enquanto restar uma só favela, uma só criança fazendo das ruas a sua morada. Mas ai entra, sem dúvidas, uma daquelas doses de utopia que fazem a virtude do sonho de quem vive não apenas para si mesmo. E é essencial ter a capacidade de sonhar.

Então, como parte da qualidade de vida, até já dissemos aqui, repetindo frase de um cronista anônimo, é imprescindível que nas cidades existam uma orquestra, um sebo, sem livros ensebados, mas bem cuidados, e um Jardim Botânico, que nem precisa ter a emoldurada beleza daquele que o rei Dom João VI, legou ao Rio de Janeiro, como uma das boas lembranças da sua forçada mas produtiva escapada ao Brasil, com as tropas maltrapilhas e saqueadoras do general napoleônico Junot nos seus calcanhares. E nem precisam ter os Jardins Botânicos o notável aparato científico, como aquele do Tiergarten em Berlim, ou o não menos famoso Jardin des Plantes em Paris.

Sobre o Jardim Botânico de Berlim há um episódio interessante, e que nos diz respeito como brasileiros, que descuidamos do país, mas, agora, até nessa onda de pastores ensandecidos pelo fanatismo, quase idêntico ao que defende o Estado Islâmico, estamos a nos preocupar com quem dorme com quem, sem nos lembrarmos dos milhões que dormem e acordam com a companhia da fome.

Corria a década dos anos vinte, e curiosos professores descobriram, nas redondezas de Tapacurá, próximo ao Recife, uma planta linda, frondosa, que eles não identificaram. Recorreram, então, ao saber dos cientistas do Jardim Botânico de Berlim, enviando-lhes umas folhas e fotos da espécie desconhecida. Meses depois, receberam a resposta: ¨Trata-se, a referida espécie, da Paubrasilia Echinata a árvore que deu nome ao seu país, o Pau Brasil.

Não nos conhecemos, e nos entregamos, por covarde capitulação, quando nos vendemos por migalhas ao estrangeiro, e a eles transferimos o pouco que sabemos, como nos dois casos vergonhosos da venda da EMBRAER à Boeing, e de toda a tecnologia do pré-sal por preço vil às petroleiras multinacionais.

Voltemos ao Jardim Botânico, para anunciar que Aracaju poderá ganhar um, que será modesto, restrito a um grupo de espécies que nos rodeiam, mas, deploravelmente, estão sendo extintas.

Historiemos: Na década dos setenta, acabaram a repartição do Ministério da Agricultura que cuidava do plantio do coco em Sergipe. A sede ficava na Sementeira, à margem da ¨estrada da Atalaia¨ que ganhava a nova imagem de uma extensa avenida a beira-mar. Área valorizada, portanto no radar das construtoras, que já haviam mudado com seus prédios a feição provinciana da capital. A Sementeira passou ao controle do estado e já pretendiam reparti-la, com a venda de lotes. O então prefeito Heráclito Rolemberg, entendeu que Aracaju precisava de mais áreas verdes, que deveria haver a preocupação de não criar uma completa barreira de prédios entre os ventos marinhos e a cidade.

Ele era nomeado, um quase secretário do governo para cuidar da cidade capital, isso, no modelo que o governo autoritário criara para cidades com mais de 200 mil eleitores. Foi então ao governador Augusto Franco e falou sobre o projeto de fazer da Sementeira um parque público. Recebeu imediato apoio, assim, enfrentou pressões, até má vontade na Câmara de Vereadores, e criou-se o parque, o segundo maior da cidade. O primeiro é o do morro do Urubu, o antigo lixão, que João Alves quando prefeito transformou em Horto, uma área aprazível da cidade.

A Sementeira transformou-se no Parque Augusto Franco. De lá para hoje tem sido bem cuidada. Marcelo Déda, que lhe dedicou cuidados especiais, hoje, é estátua reverenciada, no Memorial projetado pelo arquiteto Ézio Déda, rodeado pelas árvores que o seu primo quando prefeito plantou.

Uma nova parte de uns três hectares foi acrescentada ao parque. Resultou a doação pela EMBRAPA, do empenho que teve o seu ex-dirigente em Sergipe, o professor engenheiro agrônomo e ativista da espiritualidade Manoel Moacir Macedo, um dos esteios culturais da Loja Maçônica Cotinguiba.

Luiz Roberto Santana, jurista, ecologista por herança do avô, o herói de guerra capitão Juca Teófilo, que caçava e preservava, é hoje então, Luiz Roberto, o diretor-presidente da EMSURB, que, entre outras coisas, cuida do Parque, e lá tem a sede onde trabalha.

Ele quer aproveitar bem a área recebida, e com entusiasmo, recebeu a ideia de ali implantar um Jardim Botânico exclusivo para plantas de restinga, ou seja, aquelas que estão, ou estavam por aqui entre nós, acompanhando a linha da praia e os estuários dos rios. Plantas assim como o gragerú, que dá nome a um dos bairros de Aracaju, por sinal populoso. Qual o aracajuano que sabe o que vem a ser gragerú?

Mas, há também a maçaranduba, o araticum verdadeiro, e o ¨cagão¨, o cajuí, o murici, o ingá, a mangabeira, e tantas mais.

Luiz Roberto acompanha a trilha do prefeito Edvaldo Nogueira, também ambientalista, que faz do meio ambiente parte essencial da qualidade de vida na cidade.

Que venha, então, percorrendo um virtual tapete vermelho de boas vindas a concretizar-se o projeto do Jardim da Restinga de Aracaju. Seria o segundo no Brasil, o único que existe fica no Rio de Janeiro, quase no final da Avenida da Barra.

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