Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS (97)
27/05/2022
TEXTOS ANTIVIRAIS (97)

 

O NAZISMO ENTRE NÓS E O MAU EXEMPLO DO CAPITÃO ANARQUISTA

Genivaldo era um homem pobre, fazia parte dessa enorme massa de brasileiros que lutam dia a dia pela sobrevivência. E não poucas vezes, passam fome. Para esses brasileiros, o Poder Público se deve voltar com proteção, e, se possível, com amor para ajudá-los a sofrer menos.
Ah, esse é um discurso piegas, um mimimi abestalhado, porque caridade não resolve os problemas do mundo.
Desde que o mundo é mundo, existe pobreza, fome, desgraça.
A indiferença não chega a ser tipificada, nesses casos, como um crime, mas, agora, chega um instante em que a indiferença se transforma em agressividade odienta. 
Some a piedade, desaparece o sentimento humano, enquanto igrejas estão repletas de tantos que se dizem cristãos, e não reagem, muito menos se mostram indignados com a iniquidade assassina. 
Genivaldo de Jesus Santos tinha 38 anos, residia em Umbaúba, sul sergipano, tinha também família. Era um ser humano. Era um brasileiro. Nunca cometera crimes, não tinha passagem pela Polícia, mas era pobre, por isso desamparado, frágil para argumentar, frágil para defender-se, frágil até para pedir piedade.
Genivaldo não era um bandido, não tinha um fuzil na mão, sequer um canivete. Foi detido numa ação da Polícia Rodoviária Federal. Eram cinco agentes, e não tiveram condições para conter o homem desesperado que, afirmam, teria resistido? O que se vê nas cenas, absolutamente não sugere nenhuma reação do homem subjugado. 
Acontece que sopra pelos quatro cantos do país um vento pestilento de odiosidade. 
Há, entre nós, vestígios da presença soturna de um monstro que se denominou nazismo.
Esse monstro, foi, ao nascer na Alemanha culta, civilizada, naturalizado como apenas um movimento político que tentava reerguer a Alemanha; que pretendia eliminar os velhos métodos, conter a ação dos que surgiram como inimigos do povo alemão.
Chegou o dia em que a indiferença, a naturalização do monstro, permitiu que fossem construídos grandes fornos, e neles foram sufocados milhões de pessoas, mais ainda Judeus, que no holocausto infame  aspiraram o gás da morte. Mais de seis milhões, exterminados, tal e qual aconteceu com  Genivaldo.
Detalhe: Genivaldo de Jesus Santos, foi empurrado para dentro dos fundos de uma viatura, depois de receber chutes e socos. Fecharam a tampa, do porta-mala, e antes, lançaram bombas de gás. Não tinham a intenção de matar?
A Polícia Rodoviária Federal sempre foi uma instituição respeitada. Nas estradas brasileiras sempre esteve prestando serviço à população. Não se tem notícia, até agora, de violências, de abusos praticados por Policiais Rodoviários Federais contra cidadãos indefesos.
O que  está acontecendo?
De qualquer forma, é algo assustador.
Mas o gemido agoniado e surdo de Genivaldo já alcança os quatro cantos do Brasil, os quatro cantos do mundo.
Por que motivo ele foi parado pelos policiais?
Estava sem capacete.
Então, porque ninguém se atreve a deter o irresponsável transgressor, o grande responsável pelos piores exemplos?
Ei-lo:

 

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DE CANINDÉ (SE) A PIRANHAS (AL) ENTRE O DESCASO E A COMPETÊNCIA

Em Piranhas (AL) trabalho e realização.


 

Em Canindé (SE) muita promessa pra quase nada.


Quem atravessa o Velho Chico saindo de Canindé de São Francisco em demanda a Piranhas, sendo turista, ou residente em Canindé, será dominado por dois sentimentos: um, de surpresa e alegria com o cenário na histórica cidade alagoana, outro, de desalento, e até revolta, diante da incúria e descaso   evidentes do outro lado, na paradeira acabrunhante do infelicitado Canindé do São Francisco.
Faz agora, quase seis anos, que Canindé desapareceu por completo do rol das notícias positivas. Parece, que nesse tempo marcado pela inércia, o pessimismo da população convive com o desleixo dos ocupantes da Prefeitura.
Quando Heleno Silva foi prefeito, no segundo ano do seu mandato houve uma queda abrupta na receita do município. Algo em torno de uns 30 %. Houve necessidade de por um freio em projetos idealizados ou em curso, principalmente na área da Educação, Saúde a Assistência Social, para que fosse cumprida a obrigação básica de manter em dia a folha dos servidores, que, aliás, é gorda, feita num tempo em que sobravam “gorduras” no orçamento. Agora, faz mais de um ano, as “gorduras”, por uma conjunção de  circunstâncias, voltaram a existir. Deve andar hoje em torno da média de 14 milhões de reais. Canindé tem 30 mil habitantes, Piranhas 25 mil. Mas, a desproporção entre receitas dos dois municípios é enorme. Piranhas não chega a nove milhões.
Se antes, em Canindé, não se chegou a colocar um só paralelepípedo em ruas esburacadas, agora, a “boa notícia" é que estão caiando, ou seja, pintando de branco os meios-fios, e algumas escolas, e espalhando out-doors enormes, anunciando obras irrelevantes.
O novo Promotor Público  da Comarca Paulo José Alves Filho, naturalmente anda curioso. Vai promover reuniões para saber por qual ralo estaria sumindo a dinheirama do município, onde não existe sequer um simples vestígio de planejamento e controle financeiro.
A comparação feita em relação a Piranhas, deixa Canindé numa situação constrangedora.
No município alagoano,  que é um caso  de sucesso, vários fatores convergiram para que ocorressem as transformações.
Houve uma evolução política, tornando possível a ascensão de Piranhas a um patamar muito acima da mediocridade, que é, infelizmente, marca registrada em grande parte dos municípios brasileiros.
Na essência de tudo, o nosso subdesenvolvimento, a carência de visão política e administrativa, além da cupidez patrimonialista, que ampliam os malefícios do atraso econômico e social. 
Em 1988 Inácio Loiola Damasceno Freitas foi eleito prefeito de Piranhas. Um jovem engenheiro-agrônomo, ele já cursava uma outra faculdade, a de Direito, depois, seria licenciado também em História. E não para por aí a ânsia de conhecimento do político, que é também pesquisador, e faz parte do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Dizem, que intelectual raramente dá certo em política, afinal, estamos no Brasil, não na França.
Mas em Piranhas deu certo, e começaram as transformações, envolvendo outros gestores da família Damasceno Freitas, completando e ampliando etapas do que Inácio iniciara. Ele voltaria à Prefeitura, e hoje cumpre o terceiro mandato como deputado estadual. Na Prefeitura, está um sobrinho, é filho de Washington Luiz Damasceno Freitas, que era Promotor Público, elegeu-se deputado estadual e foi nomeado Desembargador.
Se poderia perguntar: trata-se de uma dinastia?
Mas os piranhenses tiveram saudade da “dinastia”, quando, na última eleição arrependeram-se do erro cometido na anterior, e elegeram Thiago Torres Freitas. É um jovem recém saído da Faculdade de Administração. O que já foi consertado, feito ou iniciado em Piranhas, neste ano e meio de administração, chega a ser surpreendente.
Thiago, gestor cartesiano, orienta-se pela razão e pela praticidade. Por isso, diante do crescimento do desemprego, em face da situação que atravessa o país, enxugou a Prefeitura, aliviou a folha de pagamento, entendendo que o município não pode ser visto como cabide de emprego. Então, saiu em busca de investidores atraídos pelo destaque alcançado por Piranhas como polo turístico, e centro comercial dinâmico.
O empresário Manoel Foguete é o descobridor pioneiro  do potencial turístico do Cânion de Xingó. Assim que a hidrelétrica foi concluída, ele instalou em Canindé o complexo do Karrancas, com navegação e gastronomia, ampliando-o, depois, com o Eco-Parque da Grota do Angico, em Poço Redondo. 
Manoel Foguete instalou-se também em Piranhas. Lá, o seu grupo concluiu um hotel com 150 apartamentos, também um Condomínio de elevado nível. São mais de 300 residências numa área de cem hectares. Circulando o condomínio há um largo cinturão verde de proteção ambiental, e uma Marina privativa numa tranquila e protegida enseada. Dezenas de casas já estão concluídas ou iniciadas. Quando inteiramente instalado, o condomínio, segundo Manoel, irá pagar mais IPTU do que a cidade nova de Piranhas, criada pela CHESF para instalar seus técnicos durante a construção da Usina. Em fase final de construção há um empreendimento classificado como Parque de Gastronomia, que pretende ser, também, um espaço de eventos direcionado ao público jovem.
Manoel demonstra, contando aos dedos, que o turismo faz surgir cerca de 50 atividades paralelas, e assim, o prefeito Tiago pode afirmar: “não fiz empreguismo na Prefeitura, saí em busca de quem gera emprego: o empresário. E qualifiquei pessoas para que possam entrar no mercado de trabalho.”
O prefeito de Piranhas elaborou projetos, formulou ideias, e foi agarrar-se ao agora ex-governador Renan Filho; já trouxe a Piranhas para uma visita, o governador recém empossado Paulo Dantas. Bateu às portas de gabinetes dos senadores e deputados alagoanos, e conseguiu vistosas emendas, recursos e dinheiro. O governador interino, desembargador Loureiro, esteve em  Piranhas com uma comitiva de oito desembargadores, ciceroneados pelo desembargador Washington Luiz, pai de  Thiago. O desembargador embora vivendo em Maceió, não deixa de ser permanentemente arraigado à terra onde viveram seus pais, Dona Cacilda, tabeliã ,e Rosalvo, fiscal de tributos. Ela alagoana, ele sergipano.
Canindé, faz algum tempo, surgiu como uma área de excelência no nordeste, quando João Alves iniciou o Perímetro Irrigado Califórnia, o primeiro em Sergipe. Concluiu-se a Usina, e a grande barragem fez surgir o Cânion de Xingó, um lago espichado entre  formações rochosas, muito firmes e estáveis. O turismo cresceu, passam hoje pelo Karrancas, em média, 400 pessoas por dia. No início, quando nem havia a certeza da conclusão das obras da Usina, o jornalista e empresário Nazário Pimentel, com apoio do programa de incentivo ao turismo, e do BANESE, instalou o Xingó Parque Hotel. Vieram, depois, algumas pousadas. 
Para desenvolver o turismo no lago, chegou, com disposição do pioneiro Manoel Foguete. Foram levados, rebocados por terra, catamarãs e escunas. Deu trabalho, mas, surgiram os bons resultados,
Instala-se agora um novo hotel. É tocado pelo procurador aposentado Moacyr Motta. Ele chegou a Canindé há muito tempo, quando ainda iniciava a vida como advogado, e adquiriu terras, criou bode, engordou boi. Hoje, também faz preservação da caatinga. Conhece bem os meandros difíceis que teve de percorrer, até concretizar o projeto do hotel, quase pronto para ser inaugurado.  
Há uma grande usina fotovoltaica a ser iniciada este ano, segundo Joaquim Ferreira, executivo do grupo investidor. É coisa de bilhões. Poderia ter sido acelerada, se na Prefeitura, há três anos, houvesse alguma iniciativa para solucionar problemas de posse e titularidade de terras.
Em Canindé há empresários com capacidade para tocar empreendimentos diversos, é indispensável que recebam  estímulo, inicialmente, do próprio município.
Enquanto isso, na Prefeitura de Canindé, onde há uma carência de gente com capacidade para entender o que é desenvolvimento, formular ideias, e fazer projetos, prossegue o festival de besteiras e mediocridades, além da outra “festança”, está, todavia, exclusiva, restrita a poucos “foliões”.
E chamam aquilo de governo popular..........

 

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OSÓRIO, UM PARADIGMA DA JUSTIÇA

Do jornal à toga.


Um estudante de Direito, Osório, filho do Juiz de Direito de quem recebera o nome, chegou à redação do Diário de Aracaju, para o que seria o seu primeiro emprego. O jornal acabava de ser inaugurado, por sinal, o último elo da enorme cadeia brasileira de comunicação, criada, mantida, e depois doada, pelo chantagista virtuoso Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.
O ano, 1966; o mês, janeiro.
O quase menino era tímido, circunspecto, muito pontual e dedicado às tarefas que ia recebendo como redator estreante.
O Diário, moderno para a época, trazia diversas novidades,   modelos de redação ainda desconhecidos na acanhadíssima imprensa sergipana. Um deles era o lead e o sub-lead, os cabeçários exigidos para cada matéria mais alongada. Uma espécie de síntese do conteúdo, e de forma atraente, para despertar o interesse do leitor pelo texto.
Formaram dois blocos verticais, separados por um pequeno espaço, e sempre em negrito, para maior destaque. O primeiro, um tanto sensacionalista, o segundo, mais descritivo. Tinham, rigorosamente, o tamanho delineado, medido, numa escala em “picas”, (pronunciava-se em inglês: paicas), e não se podia fazer piada, porque na redação havia moças, acadêmicas de Direito, Maria Luiza Cruz, Creuza Batalha, e a cronista social Tereza Neuman, aluna da Faculdade de Serviço Social.
Osório, metódico, dedicado, era quem conseguia com mais precisão escrever os dois blocos iniciais dos textos.
José Augusto Lobão, que foi criminalista famoso em Sergipe, na sua breve vida, era jornalista já consagrado em Salvador, e chefe de redação do Diário da Bahia. Viria a Aracaju  por determinação do condômino baiano do grupo Associado, Odorico Tavares, para a instalação do novo jornal. Sergipano, filho também de Juiz de Direito, o Dr. Lobão da Estância, José Augusto revelou a Raimundo Luiz , diretor comercial do jornal, (hoje decano dos jornalistas sergipanos) a sua premonição: “daqui, vão sair expoentes do mundo do Direito em Sergipe.” De fato, ele mesmo foi um deles. Maria Luiza Vieira Cruz, falecida há um mês, tornou-se Procuradora de Justiça; da mesma forma Creuza Batalha, que acrescentou o Figueiredo, do marido Benedito ao nome, como mais uma das simbioses que os uniram. Luiza e Creusa serão sempre lembradas como modelos  virtuosos de operadoras da Justiça. Havia, também, o redator José Carlos Oliveira, hoje emérito e exemplar Procurador de Justiça, poeta, escritor, dileto amigo de Osório, um pouco mais jovem.
Jorge Araújo, ex-deputado, com larga história de boas iniciativas, e agora entusiasmado com a possível eleição do filho Jorginho à Assembleia, conta, como chegou a tornar-se, também, um integrante da equipe dos Associados em Aracaju.
Ele era técnico agrícola, e na única Penitenciária de Sergipe localizada em Aracaju, orientava o trabalho dos presos, que plantavam e cultivavam hortas no interior do presídio.
O diretor da Penitenciária, advogado Antônio Fernandes Fontes Ferreira, dedicava-se inteiramente ao esforço de ressocialização dos condenados, e o trabalho nas hortas fazia parte dessa pedagogia reparadora.
As gavetas dele, lembra Jorge, eram cheias de sementes. Não havia armas. Ainda estava longe o tempo insano do “armai- vos uns aos outros”.
Jorge lembra de um episódio que, até poderia ser entendido como uma espécie de metáfora da vida do desembargador agora aposentado, Osório de Araújo Ramos Filho.
O diretor da Penitenciária pediu-lhe que procurasse, no Diário de Aracaju, o editor-chefe. Ele prometera mandar um repórter que faria matéria sobre as atividades laborais dos presos, e   o repórter não viera, ainda. Jorge foi ao jornal, e dirigiu-se ao jovem redator, que era Osório, perguntando-lhe pelo editor, e recebeu a informação de que ele sairá para jantar, mas, ouviu a solicitação. Pediu que Jorge sentasse ao lado, fizesse a matéria,   ele daria a redação final, e a entregaria ao editor, quando ele retornasse. Leu, mas não alterou o texto, e sugeriu a Jorge que  mantivesse uma coluna sobre assuntos relacionados à agricultura e à pecuária. Assim foi feito, e Jorge afirma que naquele instante descobriu-se jornalista.
Ao cidadão Osório de Araújo Ramos, nunca faltou a sensibilidade para acolher, entender, ajudar, incentivar. Isto se traduz numa qualidade que, infelizmente, nos tempos ásperos que atravessamos, se vai tornando cada vez mais rara: a sintonia virtuosa com tudo o que é humano.
E essa sintonia é a sua bússola, o seu norte na viagem através da existência.
Aposenta-se o magistrado, que é um paradigma, permanece íntegro o humanismo do cidadão, apenas, com mais tempo, hoje, para dedicar-se à família, que ele e Vera, amorosa e cristãmente formaram.

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