Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
TEXTOS ANTIVIRAIS (72)
03/09/2021
TEXTOS ANTIVIRAIS (72)

SERGIPE, DO ENGENHO AO AGRONEGÓCIO-4 (Final)

(Do carro de bois à modernidade, o trajeto não tem sido fácil)

Quem percorre pela primeira vez toda a extensão dos perímetros Jacarecica 1 e Jacarecica 2 em Itabaiana e Areia Branca, sem ter alguma informação anterior sobre aquelas áreas irrigadas que se perdem no horizonte, plantadas de verduras diversas, alface, couve, coentro, cebolinha, brócolis, repolho, pimenta, e tudo mais, se já estiver na casa dos setenta, e por ali ter andado antes, se indagará: “Qual o milagre acontecido para tornar possível a transformação de pequenas roças de agricultura familiar dependendo das chuvas, num agora portentoso negócio, que envolve técnicas sofisticadas de irrigação e plantio?

E ali permanece, essencialmente, o mesmo modelo de pequenos lotes explorados por famílias, todavia, com visão moderna e empreendedora.

Ao lado, e quase subindo as vertentes da Serra Comprida estendem-se os plantios. No povoado maior a surpresa com a qualidade de vida. Casas confortáveis, camionetes novíssimas e motos circulando, asfalto na principal estrada vicinal, escola, posto de saúde, praça com área de lazer, um contraste entusiasmante com a imagem corriqueira da pobreza no campo.

Há exemplos variados de sucesso empresarial.

Um deles:

Zezelo e sua esposa, jovens, nascidos ali mesmo, filhos de pequenos produtores. Eles deram um salto em qualidade de vida, progrediram, e hoje geram dezenas de empregos. A Fertilizantes Zezelo, é uma loja quase no meio das plantações que tem quase tudo o que é necessário para o cultivo. Fertilizantes de última geração, alguns importados, e também caríssimos. Isso é o resultado da fragilidade enorme da nossa agricultura, por não existir o suporte completo de uma indústria nacional de fertilizantes, que seria essencial e estratégica. Sergipe tem todas as condições para ampliar o seu importante polo de fertilizantes, agora, com a UNIGEL, privada, produzindo amônia e ureia, e da próxima oferta de gás que teremos.

Ao lado da loja do casal Zezelo, há uma vistosa estrutura de estufas, onde se produzem mudas, quase como se aquilo fosse um laboratório, e mais de vinte jovens ali trabalham.

Na área podem ser encontrados outros diversos “Zezelos”.

O que existe em Itabaiana e Areia Branca, e em outros perímetros como o Platô de Neópolis, agora exportando limão para o mundo, além do coco, é uma das características novas do agronegócio sergipano.

Por falar em limão sendo exportado cabe a pergunta: O que foi feito da outrora florescente citricultura sergipana?

O advogado, ex-Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, Simpliciano Fernandes Fontes, clareia essa questão.

Filho de Benjamin Fernandes Fontes, um produtor de laranja e homem público muito conceituado, que morreu prematuramente, ele, sua mãe e irmãos herdaram um plantio de laranja, naquela época considerado grande.

Ele, irmão mais velho, cuidou do trato da terra, e, ao mesmo tempo tornou-se um advogado dos mais requisitados em Sergipe. Aos poucos, foi ampliando sua atividade na citricultura. Aposentado do serviço público, ele torna-se referência como produtor moderno e eficiente, alcançando uma produtividade que causa surpresa até entre os grandes citricultores paulistas. Hoje, Simpliciano tem os seus laranjais na Bahia, principalmente, pelos municípios de Entre Rios e Esplanada.

Fazendo uma resenha histórica da citricultura sergipana, Simpliciano vai aos primórdios em Boquim, quando os engenhos apagaram o fogo e surgiram os pastos. Na terra fértil e molhada pela regularidade de chuvas, lá pelos anos 40, pessoas, muitas da sua família, plantaram pequenas áreas com laranja. Deu resultado, os preços compensavam e o cultivo ampliou-se.

Em Boquim predominavam os minifúndios, e isso favoreceu a expansão dos laranjais em pequenas áreas, multiplicando o número de produtores.

Os laranjais foram envelhecendo, a terra tornou-se sáfara, a produtividade caiu para algo em torno de 15 toneladas por hectare. Vários fatores contribuíram para isso. O esgotamento da terra, a descontinuidade dos programas de apoio do governo estadual. Grandes produtores, que haviam expandido seus domínios sobre maiores extensões de terra, como Osvaldo da Laranja, e outros, cansados também de enfrentar pragas que foram surgindo, olharam as extensões de terras incultas ou cobertas de pastos na Bahia, ao longo da bacia do rio Itapicuru, e para lá se transferiram. Naquela região a produtividade alcançada era mais do que o dobro obtido em Sergipe.

Simpliciano foi um desses que se deslocaram para a Bahia. Todavia, cercou-se da mais atualizada técnica, apoiou-se na experiência de um técnico que ele gosta de citar o nome: o agrônomo Jadilson Oliveira, e entendeu que poderia avançar, e até ultrapassar o roteiro dos citricultores paulistas.

Simpliciano desenvolve os laranjais a partir de módulos com 30 mil pés, em área de 50 hectares. Isso facilita a logística, e, no caso, existe a vantagem do mercado nordestino, onde produtores paulistas não podem competir, em face do custo do transporte.

A produtividade nesses módulos supera as cifras maiores alcançadas em São Paulo.

Simpliciano considera que Sergipe não deixará de ser importante produtor de laranja, porque as áreas de plantio já se ampliaram por terras novas, em Umbauba e Cristinápolis, enquanto, no centro sul, englobando Boquim, Itabaianinha, Pedrinhas, Arauá e outros, as técnicas de plantio e recuperação de terras estão se intensificando, enquanto o mercado consumidor cresce, e amplia-se também o parque industrial, com a excelente perspectiva da exportação de sucos.

Como se pode facilmente constatar, o padrão do agronegócio alinhado à tecnologia, foco na produtividade e sintonia com regras ambientais, não é um privilégio de grandes ou mega-produtores. Entre os pequenos agricultores, aquele modelo classificado como de agricultura familiar pode ser disseminado, e isso já é constatado nas áreas dos perímetros irrigados de Areia Branca Itabaiana e outros.

O novo Secretário da Agricultura, Zeca da Silva, terá pela frente o desafio de estimular as práticas do agronegócio, ultrapassando aquele preconceito que a realidade mostra ser absurdo.

Assim, Zeca poderá fazer uma avaliação realista do que se obtém nas áreas onde estão fixados os oriundos do MST. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra liderou a iniciativa de alterar o arcaico modelo do latifúndio improdutivo, isso foi positivo; todavia, os êxitos em termos de produção não chegam a ser animadores. Dessa forma, sem alterar o modelo de repartição de terras, Zeca Silva poderia tentar introduzir nos módulos do MST a visão e a experiência do agronegócio, e até um diálogo produtivo entre as duas formas, hoje convivendo lado a lado, e necessitando de mais empatia e integração.

No semiárido, onde a estagnação é mais grave, a tentativa seria mais complexa, todavia, seguindo a trilha da cadeia produtiva do leite na região, a jornada se tornaria menos áspera.

O que não se pode entender é a existência de grandes áreas de terras arduamente conquistadas e divididas, que nunca, sequer, buscaram um modelo cooperativo, e nelas está sendo perenizada uma situação deplorável de miséria. (final)

LEIA MAIS:

DE MARRONZINHO AO SENADOR ALESSANDRO

(Entre Marronzinho e o Senador Alessandro não há nenhuma semelhança)

Em 1989, quando houve a primeira eleição direta para presidente após o período militar, os principais candidatos eram Lula, Leonel Brizola e Fernando Collor. O retorno pleno da democracia estimulava muitos a botarem a cara de fora após um tempo de ostracismo forçado. Entre os candidatos miúdos, sempre em busca dos holofotes da notoriedade, surgiu um sergipano nascido em Maruim. Registrou-se com o seu apelido: Marronzinho. Quase ninguém o conhecia no seu estado natal, muito menos no resto do Brasil. Ele vivera em São Paulo a maior parte da sua vida, e o nome ou apelido era o resultado da sua atuação como “editor” de um esporádico jornal, notório pela prática da “imprensa marrom”, ou seja, useiro e vezeiro na chantagem e na difamação, ou bajulação, a depender da oferta.

Na visita que fez a Aracaju como candidato, desembarcando no aeroporto vazio, Marronzinho reclamava muito porque o governador Valadares não mandara ninguém para recebê-lo; alguém que o escutava, viu perto um jornalista, o chamou e lhe disse: “Quero lhe apresentar um seu conterrâneo maruinense, que será o futuro presidente do Brasil, e fez alguns elogios melosos ao jornalista, que permaneceu calado. Marronzinho falou: “Então, encontro um maruinense como eu, e o amigo aqui me diz que você é um intelectual, eu preciso valorizar minha terra, e no meu governo você terá um cargo importante. O jornalista, até para não ser indelicado, respondeu: “Eu só almejo um cargo: o de embaixador em Paris”.

Marronzinho aproximou-se, e disse, solene e empostando a voz: “Não tenha dúvida você será o meu futuro embaixador na Inglaterra. Eu gosto muito de Paris.”

O jornalista apenas segurou o riso, e afastou-se do conterrâneo, “futuro presidente”, deplorável por muitas coisas, tanto quanto em geografia.

Desastrosamente, foi este nome sergipano o único que tivemos disputando a presidência.

Na eleição de Jânio Quadros, em 1962, um destacado líder político sergipano, o ex-governador Leandro Maciel, foi indicado pelo seu partido, a UDN, para ser o candidato a vice presidente. Jânio, que desejava mesmo era uma aliança por baixo dos panos com Jango Goulart, que concorria a vice, começou a hostilizar Leandro, ele entendeu, e rapidamente renunciou. Naquele tempo o vice concorria em faixa própria, e era também votado, Leandro, de um estado pequeno e sem projeção nacional dificilmente venceria.

Nenhuma dessas situações se assemelha agora com a possível candidatura à presidência do senador Alessandro Vieira.

Marronzinho, para os sergipanos tornou-se uma vergonha, já Leandro, foi até muito elogiado pela atitude que tomou, não se deixando humilhar pelo desajustado “homem da vassoura.” Parece até que desajustados apreciam humilhar seus vices.

Alessandro, por sinal, nem é sergipano, mas, os sergipanos lhe deram um sergipaníssimo atestado de naturalidade ao elegê-lo senador da República. Em Brasília Alessandro tem valorizado o mandato e sua atuação na CPI revelou um político firme nas suas convicções e coerente para defendê-las, ao tempo em que reforça o papel investigativo da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Não é uma pretensão descabida a tentativa de viabilizar-se como candidato à Presidência da República.

Sem dúvidas, é muito difícil alguém de um pequeno estado repetir a trajetória de Collor, que teve o suporte da Rede Globo para consolidar a imagem falsa de “caçador de marajás”.

Sendo delegado, Alessandro poderá ir além do agora desmoralizado “moralismo” (veja-se o que aconteceu com o farsante Sérgio Moro) mas, destacando a sua condição de policial, cacifando-se com a apresentação de um plano de segurança para o país, sem a absurda afirmação de que “bandido bom é bandido morto”, a ideia estúpida de eficácia da carnificina.

A ausência total do presumido governo de Bolsonaro, nesta, como em quase todas as áreas, além de passeios a cavalo ou em motocicletas, ampliou a sensação de colapso, que agora se concretiza com o retorno do “cangaço urbano” (vide os assaltos a bancos) facilitados pelo descontrole total do comércio de armas, após a decisão de retirar do Exército e da Polícia Federal a responsabilidade pela fiscalização e controle.

Inteligente, tendo capacidade expositiva e boa imagem na televisão, Alessandro, se souber retirar da face os sinais de policial raivoso, poderá alcançar uma projeção nacional que, mesmo com mínimas chances de sucesso, será um forte acréscimo à sua bagagem politica. Em Sergipe ele já surpreendeu desafiando o tradicional estamento político-eleitoral, mas, Sergipe compreende apenas 21 mil, naquele mundão de 8 milhões e 516 quilômetros quadrados do Brasil imenso.

Todavia, não deixa de ser instigante o acompanhamento da trajetória do gaúcho sergipanizado, com a justa pretensão de tornar-se presidente desta República, tão aviltada pelo errático e desastrado ex-capitão.


LEIA MAIS:

O BANESE E A AGÊNCIA DO AGRONEGÓCIO

(Na agência do Banese para o agronegócio, uma homenagem ao fundador do banco o ex-governador Luiz Garcia)

No governo Belivaldo, há coisas no ar muito além do “sem-terrismo”. São ideias e iniciativas para acoplar ações públicas ao dinamismo do agronegócio, que vem demonstrando como criar riqueza e gerar empregos, fazendo surgir áreas de excelência, do litoral ao semiárido.

O BANESE, numa fase de transição para integrar-se ao espaço promissor, vai transformar a agência em reformas da avenida Augusto Maynard, numa área exclusiva para atendimento o agronegócio.

Em 1962, preparando-se para deixar o governo e concorrer ao Senado Federal, Luiz Garcia, inovador e visionário, criou o Banco do Estado, que tinha a característica de uma agência de desenvolvimento. O tímido banco estatal começou a funcionar no ano seguinte, já no governo Seixas Dória, e teve como primeiro presidente o usineiro e jornalista Orlando Dantas.

Ao longo dos anos o banco foi perdendo a sua tendência inicial de ser ferramenta exclusiva de fomento, e diversificou suas áreas de ação, seguindo a politica do Banco Central, e escapando de desaparecer com a concentração bancária, que nos levou a uma situação um tanto anômala deste “oligopólio dos cinco”.

A integração ao ambiente de negócios gerado pela produção do leite, do milho, da agroindústria canavieira, da expansão da horticultura, do protagonismo dos perímetros irrigados, é algo que oportunamente entrou na agenda do governo, com o seu instrumento de ação: o Banese.

Belivaldo, fez a Gilton Garcia filho de Luiz, o convite para uma conversa. Gilton foi deputado estadual, federal, governador do Amapá, acumula uma vistosa bagagem política. Belivaldo queria fazer uma comunicação ao amigo, e assim Gilton Garcia ficou sabendo que a nova agência do agronegócio terá o nome do seu criador, Luiz Garcia. Ele denominava uma outra agência que foi desativada, e agora liga o seu nome à nova fase do BANESE, acercando-se mais de quem fortalece expressivamente a economia.

Sem nenhuma aversão ou preconceito injusto ao “sem-terrismo”, que apenas necessita adaptar-se ao regime, que é e continuará sendo capitalista, até porque não existe nenhuma outra alternativa com possibilidade concreta de sucesso econômico e social.

Um dia, o “sem-terrismo”, seguindo o exemplo de áreas como Santa Rosa do Ermírio em Poço Redondo, também estará incluído no agronegócio, com a característica talvez, de ser mais sensível, tanto às questões sociais como ambientais.

LIVRO: A CASA LILÁS - MEMÓRIAS DE UM CRIME

O livro do jornalista e escritor Luiz Eduardo Costa, a história do famoso Crime da Rua de Campos e das circunstâncias político-sociais de Sergipe, do Brasil e do Mundo, está a venda no Quiosque do GBarbosa da Francisco Porto e nas Livrarias Escariz da Avenida Jorge Amado e dos Shoppings Jardins e RioMar.

 

Voltar