Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS (7)
16/04/2020
TEXTOS ANTIVIRAIS (7)

OS "ISMOS’’ E O VÍRUS

Houve um tempo em que o Brasil estava “irreconhecivelmente inteligente".

Esta frase é do escritor e ensaísta Roberto Schvartz, pinçada pelo historiador Eduardo Bueno, para incluí-la em um dos seus livros.

Era o tempo da bossa nova, do cinema novo, das linhas futuristas de Niemayer, do urbanismo avant la lettre de Lúcio Costa, fazendo nascer, no cerrado de Goiás, a joia revelada ao mundo: Brasília, modelada pelas mãos ásperas e gestos fraternos da massa trabalhadora, onde assomavam, numerosos, os nordestinos, formando o exército entusiasmado da “candangada". Outros, abriam as picadas, terraplenavam, estendiam lonas impermeáveis, protegendo das chuvas constantes, na selva amazônica, os trechos recém recobertos pelo asfalto fumegante. E surgia a rodovia Belém-Brasília. Breve, ela seria percorrida por caminhões e automóveis brasileiros, fabricados com aço saído das nossas novas siderúrgicas. A economia que ganhava alento, teria o suporte logístico das estradas, o suprimento de energia por novas hidrelétricas, e o mercado consumidor ampliado. No nordeste, começava a fase auspiciosa, da industrialização.

Não deixava de haver nesses tempos de bonança e ansiedades futuristas, as vozes duras da oposição, até insistentemente pregando o golpe, a intervenção militar. Houve duas rebeliões, tendo à frente oficiais da Aeronáutica liderados pelo major Haroldo Veloso. Eram, quase aqueles mesmos que participaram da chamada República do Galeão, um reduto de indignados numa base aérea, se fazendo de policiais e justiceiros. Queriam depor Vargas, acusando-o de cumplicidade no assassinato do major Rubens Vaz, um oficial aviador que servia de guarda costas ao tumultuário e quase irresistível tribuno, o jornalista Carlos Lacerda, por sua vez, alvo dos capangas assalariados pelo chefe da absurda guarda pessoal de Getúlio, Gregório Bezerra. Tudo fora tramado nos porões do palácio do Catete. Getúlio nem tivera conhecimento. Governava o país naquele agosto de 1954, chegando ao último ano de mandato conquistado pelo voto popular, todavia, mantendo os mesmos vícios autoritários dos seus quinze anos anteriores como ditador. (1930- 1945).

Como é sabido, ele cumpriu a promessa de somente sair do palácio morto, com o tiro no peito na madrugada de 24 de agosto.

O major Veloso, e seus companheiros das rebeliões ocorridas já nos tempos da bossa-nova, inaugurados pelo afável, criativo, e realizador presidente Juscelino Kubitschek, definiam-se, quase todos, como “Lacerdistas", isto é, seguidores incondicionais do jornalista Lacerda, o maior inimigo do “Getulismo".

Por que então, com tanto tumulto como se constata, o Brasil naquela época estava “irreconhecivelmente inteligente"?

Simples: por que começavam a perder força os “ismos”.

A vida pública degenera, quando começam a acrescentar o “ismo” aos nomes dos seus mais importantes protagonistas. Em política, esse sufixo acoplado a nomes de líderes, para definir suas manadas humanas, é, quase sempre, prenúncio de tumultos e tragédias.

Juscelino ajudou o Brasil a tornar-se “irreconhecivelmente inteligente", quando desestimulou o “juscelinismo". Preferiu popularizar-se como JK, que era lembrança simpática, mas, não significava adesão fervorosa, muito menos incondicional.

Quando JK assumiu o governo no começo de 1956, o “getulismo" era um retrato na parede, o “lacerdismo" suscitava algumas paixões, e também uma onda de ódios.

O “lacerdismo” voltara a somar forças, ganhava adeptos com um discurso voltado para o moralismo. Denunciava o perigo do “getulismo", que, segundo ele, não fora enterrado com o líder, e estava mais forte do que nunca, instalado no topo da República, tendo mudado de nome para “janguismo”, os ancorado na liderança de João Goulart, Jango, o vice presidente de Juscelino, fortemente enraizado nos sindicatos.

Mas, nesse interregno, um novo “ismo” ganhava corpo, era o “janismo", que somava adeptos não só em São Paulo, onde surgiu na esteira do moralismo oportunista do governador Jânio Quadros, inveterado alcóolatra, orador histriônico, todavia culto, e apegado a um clássico e escorreito português. Jânio completava sua imagem jocosa enfiando-se num terno em desalinho. Interrompia as cena burlescas, nos palanques, parando por instantes, para comer um sanduiche de mortadela que retirava do bolso. Depois, retornava à sua arenga demolidora contra o “adhemarismo", a massa de manobra do poderoso Adhemar de Barros, sempre homenageado, até por grande parte dos seus entusiasmados apoiadores, com um elogio contundente: “rouba mas faz".

Pelo menos, neste caso, o “adhemarismo" revelava não ter absoluta crença nas virtudes do ídolo ao qual se atrelava.

Eis então que o “janismo” supera o “lacerdismo", Lacerda recua, e até faz de Jânio Quadros o seu candidato a presidente.

Juscelino, ao fim do seu mandato, talvez possa ter admitido como falha o fato de não haver dado forma orgânica a um tipo qualquer de “juscelinismo”. Estadista, com visão no futuro da pátria, sem necessitar recorrer às patriotadas vazias e inconsequentes, ele entendeu que era preciso aliviar as tensões políticas, e , para isso, seria melhor que um personagem da UDN, a União Democrática Nacional, chegasse ao poder, para, com a responsabilidade do cargo, visualizar melhor a República, aliviando assim, seus arroubos messiânicos com um choque forçado de realismo.

Amigo de Juscelino, e tendo participado do seu governo, o general Olímpio Mourão Filho, que desencadearia em 1964 o golpe militar, observa nas suas Memorias de um Revolucionário, que JK via com receio a eleição do Marechal Lott, seu sustentáculo no Ministério da Guerra, porque isso poderia acirrar ainda mais os ânimos dos inconformados. Por atitudes assim é que o quinquênio de Juscelino foi, de fato, um tempo em que o Brasil se tornara daquela forma, tão “irreconhecivelmente inteligente".

Mas não foi exatamente a UDN que chegara ao poder, e sim o “janismo”.

E ao “janismo” o histrião Jânio Quadros precisava corresponder, na sua missão dita moralizadora, simbolizada pela figura de uma vassourinha que os janistas colavam ao peito.

Jânio, dizem, de acordo com o porre do dia, baixava os seus decretos. Num deles, proibiu a briga de galos; num outro, criminalizou o uso do lança perfume nas festas carnavalescas; e, noutro mais ainda esquisito, vedava o uso do maiô de duas peças, o biquine, que estreava em nossas praias tão acanhadamente. As jovens bonitas, esculturais, impedidas de bronzear mais generosamente o corpo, reagiram, lotaram as praias, e decidiram tornar sumário o traje então comportadíssimo, mas, mesmo assim, visto como ofensa à moral e aos bons costumes. E então, foi surgindo o fio dental. O último e precário anteparo ao sol e à nudez.

O “janismo", exibindo suas vassourinhas, a tudo aplaudia, enxergando naquela patacoada, a mão vigorosa do “salvador”, que varria da pátria os seus pecados. Para decepção de todos, Jânio, após um porre, em meio a uma ressaca cívica, decidiu renunciar. O “janismo" enviuvou.

Quando, e se um dia, o Brasil voltar a ser “irreconhecivelmente inteligente", os “ismos” já não mais farão parte do nosso arejado cenário político.

Se tivermos sorte, e inteligentemente soubermos rejeitá-los, não sofreremos a angustiada dor de relembrá-los, como lembram, os alemães, do hitlerismo; os russos, do stalinismo; os espanhóis, do franquismo; os italianos, do mussolinismo; os chineses, do maoísmo; os portugueses, do salazarismo; e por aí vai. A lista é imensa.

INFORME PUBLICITÁRIO

Responsabilidade Social: Deso envia remessas de copos de água ao "Restaurante Popular Padre Pedro"

Compartilhar. Esse é um dos principais objetivos, não somente diante da pandemia pela COVID-19 que a população mundial enfrenta, mas em todos os momentos. Com base nisso, a Companhia de Saneamento de Sergipe -Deso tem fortalecido a parceria com o "Restaurante Popular Padre Pedro", localizado no Centro da capital sergipana, através da Secretaria Estadual de Inclusão e Assistência Social, e tem enviado remessas de copos de água potável, destinados a população que procura o estabelecimento diariamente para fazerem suas refeições.

Ao constatar que o estabelecimento continuaria atendendo ao público (com as devidas precauções de saúde e higienização), a Companhia percebeu que poderia apoiar o estabelecimento com a entrega dos copos de água. A ação do "Restaurante Popular Padre Pedro" converge com um dos valores empresariais da Deso que é a responsabilidade social, então, os laços foram estreitados entre a Companhia e a Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social, para fornecer remessas de copos. A sugestão foi imediatamente aprovada pela diretoria que deu amplo apoio. Até agora foram três remessas e o intuito é ampliar ações como essa.

REFEIÇÕES DIÁRIAS

Segundo a coordenação de Segurança Alimentar e Nutricional, vinculada a Secretaria Estadual de Inclusão e Assistência Social, são ofertadas cerca de 2.250 refeições por dia. No almoço 1.500 refeições em média e no jantar, em torno de 750 refeições, apesar de ter aumentado a demanda nos últimos dias. Foram enviados 800 copos d'água, distribuídos na refeição da noite compatível com o número de refeições que é oferecido no turno. 

De acordo com a coordenação, ao passarmos por uma pandemia, a alimentação adequada e saudável é mais que necessária, além de ser um direito que deve ser garantido, e é um componente importante no fortalecimento do sistema imunológico. No "Restaurante Popular Padre Pedro" é fornecido um  cardápio nutricionalmente balanceado e todos os usuários tem acesso a água de maneira ininterrupta através do bebedouro localizado na área interna do restaurante, uma parceria como essa com a Deso, permite potencializar o acesso do  usuário a água, para que eles possam levar e se hidratar onde quer que estejam. A hidratação adequada é uma das principais aliadas nas infecções virais e fundamental para a vida do ser humano. É um momento de soma de esforços no combate ao COVID-19.


 

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