Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS (32)
03/10/2020
TEXTOS ANTIVIRAIS (32)

ACORDA SIMEÃO, DELEGADO LADRÃO DE JEGUE” (32)

(É preciso não confundir política e administração com o que faz um xerife)

Enquanto a colonização do Brasil pelos portugueses iniciou-se poucos anos após a descoberta, os ingleses, somente lembraram-se de ocupar as terras do norte, onde surgiriam os Estados Unidos, após a virada do século 16. O navio Mayflower que lançou âncora nas proximidades do que viria a ser o sofisticado balneário Cap Cod, trouxe os primeiros colonizadores. Eram pouco mais de cem, e migraram da Inglaterra fugindo às perseguições religiosas.

Não demorou muito, começaram a chegar as levas de migrantes de toda a Europa. No século 18 iniciou-se a Marcha para o Oeste. Era a busca de terras nas pradarias férteis, e ouro nas áreas beirando os desertos. O avanço foi uma guerra constante contra os índios, e nas cidades florescentes que surgiam, na “febre do ouro”, ou no rastro do gado, era preciso estabelecer a “lei e a ordem”, aquilo, que hoje Donald Trump anuncia como meta principal do seu almejado segundo mandato.

Então, surgiu a figura do “Sheriff”, um sujeito com fama de valente, “eleito” pelos mais ricos das cidades. Na ausência de instituições, e onde a lei era letra morta, ele, se fosse ágil no gatilho seria a suprema autoridade, submissa, apenas, aos mais ricos que o escolheram.

Hollywood imprimiu charme, glamour, heroísmo e inquebrantável honradez ao perfil do Sheriff, tendo `a cintura dois revólveres e atravessado na sela um rifle Winchester. Muitos se transformaram em venerados símbolos do “Velho Oeste”, sem ordem e sem lei.

Sheriff, é palavra do árabe, para designar entre os muçulmanos, aqueles que seriam descendentes de Maomé, e, por isso, investidos de uma condição suprema para fazer e desfazer.

Não é mais necessário implantar a lei para que a ordem se construa, porque a lei já existe, e a violação da ordem é assunto para um conjunto inter-relacionado e harmônico de instituições.

A delegada Daniele, para quem não faltou competência no exercício das suas atribuições específicas, e por ela conquistadas através de concurso público, é neófita no campo político, onde chegou trazida pelo sentimento passageiro de que as ações policialescas teriam o condão de regenerar, por si mesmas, toda a sociedade. Assim, aspira ser uma xerife, mantendo uma visão política defasada, que a queda até certo ponto desonrosa do Juiz Moro o Breve, acabou por destruir por completo. Ela, convocada, e imediatamente cedida pelo governador Belivaldo, para ir com todos os seus direitos assessorar Sérgio Moro, naquele tempo o segundo mais poderoso personagem da República. Daniele imaginava receber o apoio decisivo do Ministro para turbinar uma carreira política que imaginaria poder estrear em 2022. Seria candidata em Sergipe, e acoplando-se à campanha do ex- Juiz, com certeza candidato a Presidente. Retornou porém a Aracaju, bem antes do que imaginara, e criou talvez um sentimento de frustração. Agora, tentaria contornar essa circunstância psicológica, imaginando-se com poder ampliado para executar o que Moro teria em mente, e que a realidade demonstrou não ser nada mais do que individualismo a enorme vaidade pessoal.

Assim, ela pretende chegar à Prefeitura de Aracaju. Seria uma Xerife de fala tonitruante, e uma espécie de ponta de lança das pretensões que tem ainda o ex- Juiz, para disputar a Presidência da República. Para isso, a delegada estaria, confiantemente, utilizando-se de alguns instrumentos de poder que teriam sobrado ao ex- Ministro e ex- Juiz , mesmo após a sua queda.

Moro , na verdade, quase nada fez pela segurança, o que levou os Secretários de Segurança de todos os estados brasileiros a sugerirem, numa reunião com o presidente Bolsonaro, no ano passado, que ele recriasse o Ministério da Segurança. Segundo os delegados, o ministro nem os recebia. Daniele, por sua vez, nada fazia em favor do seu estado, Sergipe.

Daniele, que soube aproveitar muito bem aqui as luzes dos holofotes quando comandou suas ululantes operações, não soube , ou não conseguiu, como assessora do poderosíssimo Ministro, levar-lhe alguma sugestão prática, para tornar menos ineficiente a passagem dele pelo Ministério da Justiça, abrangendo a Segurança Pública no conjunto das suas atribuições. Por outro lado, os delegados que aqui a substituíram no GAECO, conseguiram, sem alarde, executar operações de muito maior amplitude e relevância.

A visão estritamente policialesca, não pode conviver com a Política, muito menos com a própria Polícia.

Não é por outra razão que a Lava – Jato está sendo agora reformulada, colocada no seu espaço próprio, de onde, quando saiu, atropelou o conceito de Estado Democrático de Direito.

Não fosse aquela atração pelo holofote, a ânsia de aparecer do Juiz Moro, do Procurador Dalagnol, as investigações realizadas com pleno êxito pela Policia Federal, teriam merecido, na Lava – Jato, um tratamento menos espetaculoso, e visivelmente politizado. Da forma como foi posta a andar, a Lava – Jato descolou-se do seu principal escopo, e errou, redondamente, ao destruir empresas. A roubalheira de fato existia, mas ao arrastar as empresas ao cadafalso, Moro e seus Procuradores causaram um tombo na economia do qual ainda não nos recuperamos, (foram quase um milhão de empregos perdidos) enquanto, pelo açodamento, grande parte das sentenças estão sendo hoje reformuladas.

O Juiz Moro mirava a Presidência da República, e o procurador Dalagnol, lhe providenciava os necessários recursos, querendo lançar mão de dois bilhões de reais que teriam dono certo , sendo restituídos à assaltada Petrobras.

Operações contra a corrupção não podem ser conduzidas paralelas ao interesse político-eleitoral. Começam sob aplausos, terminam com decepções. Observe-se a diferença como foi conduzido no STF o processo do Mensalão, quando era presidente do Supremo o sergipano Carlos Britto. Tudo se fez seguindo -se um rito, em sintonia com a lei e o bom senso, sem atoardas nem açodamentos. Os culpados foram condenados, e qual sentença do Mensalão que precisou ser revista, ou corrigida?

O Juiz, o delegado, o cidadão de um modo geral, não precisam bater no peito e dizer: “Eu sou honesto, combato a corrupção”. Honestidade não é virtude, apenas, obrigação a ser cumprida; e combater a corrupção é somente uma decorrência. Esse roteiro se desfigura quando o alvo se torna um objetivo sorrateiro. Foi exatamente o que aconteceu com o Juiz Moro, com o Procurador Dalagnol. E poderá acontecer com todos que fazem da suposta eficiência como xerifes uma escalada para o sucesso na política.

Após o apagão súbito das luzes de Sérgio Moro, um astro fugaz, a delegada Daniele viu-se sem ter o que fazer em Brasília, e para não ampliar as suas decepções, e tornar -se apenas mais uma saudosista dos métodos espetaculosos das ações policiais, devolveu –se a Aracaju. Então, o senador Alessandro, um delegado entre aqueles que alcançaram sucesso eleitoral em todo o país, imaginou repetir o feito com a ainda atônita delegada Daniele . Ela, tornando-se prefeita de Aracaju, seria uma boa base de apoio para uma normal pretensão do senador: candidatar-se ao governo, na metade do seu mandato no Senado.

Agora, um não confia no outro.

A política no Brasil não é mais aquela metáfora imaginada pelo mineiro Magalhães Pinto, aludindo às nuvens que se movimentam. A política brasileira é um furacão imprevisível. Inesperadamente, seus ventos sacudiram o sossego tranquilo do pastor Malafaia, muito confiante na sua máquina da fé , que gera dinheiro e poder. Alessandro, elegendo-se na onda do bolsonarismo , agora tornou-se um réprobo traidor, segundo os mais exaltados; enquanto a delegada Daniele não sabe ainda se aceita uma mensagem de apoio do ex- Juiz, destronado do Ministério, ou se preferirá escondê-lo. Enquanto isso, vai , subliminarmente, utilizando-se de alguns daqueles aludidos instrumentos que restaram ao ex- Ministro, e ela bem os conheceu naquela jornada de vapt – vupt, Aracaju – Brasília – Aracaju. Assim, vai tocando a sua campanha, com alguma chance de ser eleita.

Todavia, hoje, diferente do que faziam os homens do Velho Oeste com a estrela no peito, ela não poderia, como Prefeita, exibir-se com uma pistola Glock numa mão, e na outra um fuzil SIG – 500.

Os tempos modernos repelem os Xerifes, e até os Westerns americanos, onde eles eram numerosos, não são mais atrativos. Os policiais com os instrumentos da tecnologia e usando a inteligência, são hoje os novos personagens de tantos filmes de ação. E eles , quando incursionam pela política, abordam temas atuais, como a nova era da economia verde, visualizada com abrangência social.

Houve um tempo, lá pelos anos quarenta e cinquenta, que em Aracaju, quando se falava num delegado, logo vinha à lembrança a imagem do homem de estatura alta, rotundo, sempre suarento, que recobria na camisa estufada um parabélum , pistola alemã que tinha no cabo uma esfera de aço. Era útil para aplicar violentas bordoadas, o que o delegado Simeão sabia fazer com muita destreza. Ele gostava de percorrer a cidade numa viatura chapa 13. Era o único camburão da Policia sergipana.

Era também atento farejador de quem ousasse contrariar o governante, fosse ele eleito, ou interventor. Babava de alegria quando lhe davam a tarefa de prender algum jornalista, ou líderes da “ subversão”.

Apesar de eficiente, dentro das suas concepções, o delegado Simeão não conseguia alcançar um nível sequer sofrível de simpatia entre os aracajuanos. Quis ser candidato a vereador, mas, foi logo dissuadido pelos líderes do partido que a ele lembraram: “ Simeão, o povo não gosta de policiais como você. Quantas vezes você é acordado à noite pelas pessoas passando na rua e gritando: Acorda Simeão, ladrão de jegue .

Se esses fossem seus eleitores você estaria eleito “.

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MANOEL HORA O AGRÔNOMO POLÍTICO

(Manoel Hora: Um homem que viveu intensamente o seu tempo)

Manoel Hora, agrônomo, saído de uma turma depois de Rosalvo Alexandre, o Bocão, Zé Dias, Sérgio Santana, Naziazeno. Com essa turma ele se relacionaria mais, por amizade e tantas afinidades políticas. Foram todos para o MDB, eram da tropa de choque do líder Jose Carlos Teixeira. Fazer política naqueles anos setenta não era fácil, principalmente para os que se tornaram servidores públicos. Rosalvo Bocão , Naziazeno e Manoel Hora, eram também militantes na clandestinidade do Partido Comunista, uma atividade mais perigosa ainda, e que deixou-lhes algumas sequelas.

Mas aquele pessoal saído da Faculdade de Agronomia de Cruz das Almas, teria muito mais aptidão para gerir, e todos se tornaram gestores de destaque ao longo da carreira, e sem deixar de fazer política. Zé Dias foi candidato a Prefeito de Poço Redondo. Se houvesse vencido, o pobre município teria iniciado mais cedo as suas transformações. Rosalvo, o primeiro que se foi, elegeu-se vereador com um mega – fone na mão, mas o que gostava mesmo era de ser conselheiro de governadores, entre eles, Valadares, Déda, Jackson, e soube como ninguém mover as peças da política. Manoel Hora era o seu parceiro, mas, apenas uma vez sonhou ter um mandato. Disputou uma cadeira na Câmara Federal, foi bem votado, mas não deu para chegar. Criativo, sempre agitando ideias, Manoel Hora deu forte contribuição para muitas iniciativas no campo da agricultura, e ocupou importantes cargos, sempre deixando a marca da sua inteligência.

Desse grupo de amigos todos exerceram cargos importantes de direção, Manoel Hora e Sérgio Santana foram Secretários de Estado, e estão ainda na atividade pública. Dela só se afastam compulsoriamente pela inevitável morte, que primeiro ceifou Rosalvo, agora Manoel Hora.

Pessoa afável, cheia de amigos, um cidadão sempre preocupado com o seu país , o seu estado. Um valoroso sergipano que se foi. Mais uma vez o câncer de pâncreas deixa o seu sinete de morte em quem tanto merecia viver mais.

Manoel Hora, do casamento com a geógrafa e professora Lílian Wanderley, deixa dois filhos, Francis e João Paulo. Entre as suas qualidades, seus amigos enxergam a de ter sido um pai extremamente dedicado.

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UM ANO COM BOAS NOTICIAS

(Belivaldo começando pagar em dias e iniciando obras)

Só se houver um bastante improvável desastre na economia brasileira, Sergipe deixará de ter boas notícias no ano que vai começar. Nunca houve por um ano novo tanta ansiedade. O tempo que passa, é, evidentemente, menos espaço de vida, mas a pandemia alterou até esse sentimento de fruir ao máximo os dias da existência, de modo que a gente fala assim, com certa sensação de alívio, sobre o término deste, que foi um ano de tragédia, e, acelera a sensação do tempo, esperando a mais rápida chegada de 2021. Isso, com a força da esperança que o Covid vá mesmo embora, ou seja menos temido com as providenciais vacinas, tão esperadas.

Mas então quais as boas notícias para Sergipe?

Em primeiro lugar a reabertura da FAFEN, que implica na retomada de plena atividade do parque de fertilizantes sergipano, depois, a intensificação das operações no mar que permitirão o escoamento do gás e do petróleo. Quando se faziam péssimas previsões sobre as finanças, o governador Belivaldo anuncia um programa de investimentos audacioso e só em estradas um investimento de trezentos milhões de reais para recuperação da malha, em alguns locais bastante danificada. E tem até calendário de pagamento da folha, com o décimo terceiro este ano já sendo adiantado.

N o turismo, uma parceria formada pelo Secretário Sales Neto com o setor hoteleiro, grandes agencias operadoras, além de empresas aéreas, é um bom sinal de dinamização.

Depois da parada ou lassidão imposta pela pandemia, há um ressurgir de esperanças com a reativação do setor imobiliário, pela imperiosa necessidade de investir em atividades produtivas, porque renda financeira tornou-se inviável.

Tudo isso desenha um cenário de onde o pessimismo se descola.

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UM INTERVENTOR A CURTO PRAZO

(O tempo é curto mas Edgar não perde a calma)

Com pouco mais de três meses para tentar um conserto indispensável no município de Canindé, o interventor Edgar Motta não dá sinais de preocupação. Calmo, comedido, sensato, ele levou consigo uma reduzida equipe de assessores de alta qualificação técnica. Hospedam-se todos numa pousada modesta, com diária bastante razoável. Se é para tratar de corrigir evasões, o primeiro passo é dar exemplos de contenção, e até de sacrifício.

Edgard tem plena consciência de que concluirá em tempo hábil o seu trabalho, até porque já tem uma radiografia completa da situação financeira; resta o perfil administrativo, para adequar cargos, definir atribuições e traçar as correções e reformas. Reúne-se com o mesmo secretariado deixado pelo prefeito afastado, e vai sentindo o clima para possíveis mudanças bem rápidas, que se fizerem necessárias. Não há um clima policialesco de caça ás bruxas. Há sim um clima de tranquilidade e segurança na capacidade de corrigir e apontar rumos.

Será uma intervenção bem sucedida, da mesma forma que foi aquela comandada pelo procurador Fernando Matos, com tempo mais dilatado e onde o município tinha uma certa fartura de recursos, que na época haviam sido devastados.

No caso de Edgar não haverá como deixar recursos em caixa para o futuro prefeito, mas, ele reduzirá o desperdício, contendo despesas, e renegociando dívidas, entre elas as previdenciárias e os precatórios.

O próximo prefeito a ser eleito terá um quadro menos problemático a enfrentar, e com a expectativa do início das obras da Usina Fotovoltaica e ampliação nos investimentos e no fluxo turístico, o que, aliás, dependerá da capacidade técnica e habilidade política dele mesmo.

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