NEM SÓ DE GÁS VIVERÁ SERGIPE
(Para entrar na era do gás Sergipe adiantou-se e fez o “dever de casa”)
Com muito entusiasmo foi anunciada a nova era do gás em Sergipe. Não seria apenas uma euforia descolada da realidade. De fato, as portentosas reservas de gás e petróleo justificam um novo horizonte desenhado para o desenvolvimento sergipano, desde a década dos sessenta, atrelado à exploração dos nossos minérios, o combustível fóssil, principalmente.
O petróleo transformou, a economia sergipana, destravando o ramerrão de um modelo agropastoril, e da industrialização anunciada em um promissor parque têxtil, que perdeu fôlego por não ter acompanhado a evolução tecnológica.
Quando os amadurecidos campos em terra se exauriam, e a pioneira produção em águas rasas decrescia, ressurgia, com mais força ainda a esperança dos anos sessenta, dessa vez fundamentada nos campos de gás e petróleo em águas profundas, considerados gigantes. A era dos combustíveis fósseis está chegando ao fim, o meio ambiente clama para que isso aconteça.
O gás é energia quase limpa, mas a sua produção não se tornará econômica sem associar-se ao óleo. O mercado do petróleo, sempre volátil, entrou em turbulência por vários e complexos fatores, e o clima é de imprevisibilidade.
Apesar de tudo, o horizonte para o gás ainda não se tornou cinzento, e os projetos ganham consistência.
Sergipe antecipou-se na visão das possibilidades, e atrelou-se firmemente ao “trem” do gás.
Como se diz agora tão exaustivamente, fizemos o “dever de casa”.
Belivaldo foi previdente, até antecipou-se, mandou que se fizessem os estudos necessários, buscou parcerias, listou possíveis investidores, e promoveu em Aracaju o Seminário de Petróleo e Gás, reunindo autoridades federais e um expressivo número de empresários. Assim, a favorável “localização Sergipe”, ganhou dimensão nacional e internacional.
Na Secretaria de Desenvolvimento Ciência e Tecnologia, concentraram-se as atividades sob o comando entusiasmado do Secretário, o engenheiro e professor José Augusto Carvalho; na assessoria direta do governador, ficou o economista Oliveira Júnior, especializado em energia e minérios; no plano nacional atuou mais ativamente o deputado federal Laércio Oliveira.
O projeto de gás no plano nacional estava sendo tocado pelo Ministro Bento Albuquerque, e ele rapidamente incluiu Sergipe como um polo prioritário.
O empresariado sergipano foi mobilizado, e nessa tarefa destacou-se o engenheiro Joaquim Ferreira, gestor do projeto de uma usina fotovoltaica em Canindé, e especializado em assuntos de gás.
Ao tempo em que se moldava a matriz sergipana do gás, concluía-se, na Barra dos Coqueiros, a maior usina termo-elétrica da América Latina, a CELSE. Com a entrada em operação dessa térmica, já existe disponibilidade de gás, antes mesmo que os poços marítimos comecem a fornecê-lo. Um navio de regaseificação está há mais de um ano fundeado na costa sergipana. Ele recebe o gás liquefeito vindo do Qatar, e pode fornecê-lo sob as duas formas, porque terá capacidade ociosa apenas com o fornecimento para a CELSE. Foi planejado para suprir também o mercado. Esse gás poderá ser utilizado pela “hibernada” FAFEN, agora com os seus novos controladores tratando de fazê-la operar no início do próximo ano.
Sergipe, todavia, não pode lançar toda a sua sorte no que virá possivelmente do gás, é preciso gestar e acionar projetos em diversas áreas, como no turismo, e na nossa agricultura, enquanto, nas energias limpas, o caminho parece efetivamente aberto.
No turismo, apesar da pandemia, estão sendo acionados bons projetos, e destravando-se os emperramentos. O secretário Sales Neto conseguiu avançar na questão dos terrenos da CHESF na orla de Canindé, e se for alcançado um bom termo, iniciam-se diversos projetos, inclusive a expansão do Karrancas, o polo criado pelo empresário pioneiro na região, Manoel Foguete. Restabeleceu-se a imprescindível parceria com a CVC; já está em conclusão o refeito Centro de Convenções; há o possível retorno dos estudos sobre o hotel da CVC na região do Mosqueiro; avançam bons projetos do empresário José Wilson, o fundador da Universidade AGES, e agora na área do turismo. Mesmo com a pandemia, está em andamento a nova Orla da José Sarney, que o governo planeja inaugurar a primeira etapa no início do novo ano.
Acrescente-se ao ressurgir do turismo, dois memoriais em andamento. Um deles a ser localizado na nova Orla, sobre o início da Segunda Guerra no Brasil, com os torpedeamentos dos navios entre Sergipe e Bahia; um outro, já desenhado pelo sergipano André Cabral, piloto de uma grande empresa aérea. Ele reúne interessados, e agrega ideias para montar um memorial sobre a ação da FAB na Itália. Entre sistemas audiovisuais, André pretende instalar um protótipo do avião pilotado pelo tenente aviador sergipano Aurélio Sampaio que morreu em ação; o P-47 foi pilotado também pelo tenente Paulo Costa, sergipano, que chegaria depois ao mais alto posto da Força Aérea. São estas, apenas, sintéticas referências a projetos que serão essenciais para uma arrancada pós-pandemia do nosso turismo.
No setor primário voltam-se as atenções para a cadeia produtiva do leite, com boas perspectivas de parcerias público privadas.
Para dar sustentabilidade a esse projeto seria fundamental, no semiárido, uma reforma da reforma agrária, ou seja, a criação de um polo de leite e carne nos assentamentos do MST, que em breve serão apenas favelas rurais, caso não sejam estimulados a produzir.
Para o polo do leite, seria essencial incluir, na sua articulação, os perímetros irrigados Califórnia e Jacaré Curituba, criando-se áreas produtoras de silagem e de sementes da palma forrageira, numa escala compatível com a demanda por alimento que surge nos períodos de estiagens. Mas isso não seria assunto a ser tocado pela COHIDRO, que gira em torno de num modelo inerme, estacionado na pasmaceira do estatismo burocratizante-paternalista. E que pesa no orçamento público. Por isso, até hoje não se conseguiu transferir o Platô de Neópolis para a iniciativa privada.
Governo, terá sempre de estar presente, ser indutor, parceiro, nunca cuidando diretamente de quem planta mandioca, coentro, ou quiabo.
O perímetro irrigado da Quixabeira, em Canindé, idealizado por João Alves, acabou suspenso diante da possibilidade de pôr ali passar o futuro canal de Xingó, que estacionou no papel. É um excelente terreno, e propício à instalação de um projeto de irrigação a ser tocado por grandes empreendedores. Quem sabe, chineses? Isso, desde que ficassem assegurados os direitos daqueles que agora ocupam áreas, e permanecem na miséria.
Existe muito no que pensar, além do gás.
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ENTRE O LÍBANO E O BRASIL
(No dia da tragédia libanesa, a tragédia da Covid-19 no Brasil causou mais mortes)
O Líbano volteia entre o crescimento e a euforia, a estagnação e o desencanto, a tragédia e a dor.
Sendo um pouco menor do que a metade de Sergipe, tem três vezes a nossa população, e nesse diminuto espaço oferece o encanto de deslumbrantes paisagens. As montanhas onde se praticam esportes de inverno, as praias do morno Mediterrâneo, e os milenares cedros, evocados na bandeira do país onde sempre conviveram religiões, e certamente é aquele com maiores traços da civilização ocidental. Durante o período em que estiveram sob domínio colonial da França, os libaneses souberam valer-se do que poderia existir de útil, mesmo numa degradante sujeição a outro país, e absorveram o melhor da cultura, das artes que fazem parte da avançada civilização francesa. Já independente, o Líbano manteve o francês como uma das línguas oficiais do país, e adotou hábitos cosmopolitas, que o distinguem tanto, e já o fizeram ser chamado a Suíça do médio oriente, quando exibia um sistema bancário de fazer inveja ao mundo árabe.
Mas o país tornou também refúgio, ou base para os variados movimentos armados que existem na região, sempre em conflito permanente com Israel. Desse cenário de turbulência politica e social surgiram guerras, a última delas durando vários anos, e quase arrasando o país, onde até então predominava a paz. O Líbano reconstruiu-se, se refez, curou as feridas, mas atravessa uma crise econômica profunda, que agora atinge um clímax de tragédia, com aquela explosão devastadora.
País pequeno, com um povo industrioso, o Líbano é uma terra de permanente diáspora. O Brasil sempre foi um os seus destinos preferidos. Aqui, há mais libaneses ou descendentes diretos do que a população atual do país de onde vieram.
O empresário Ibrahim Salim, cidadão de primeira linha na sociedade sergipana, homem prestativo e ligado às boas causas, maçom dos mais destacados, recebeu muitos telefonemas de amigos. Queriam saber se os seus numerosos parentes e amigos, no Líbano, teriam sido afetados pela tragédia. Ibrahim está consternado, ele viaja regularmente ao Líbano, tem laços fortes de amizades, mas nenhum dos que fazem parte do seu relacionamento foi afetado. Ibrahim, que nasceu em Barretos, São Paulo, quando jovem fixou-se em Aracaju, onde instalou empresas. Seus pais são originários da aldeia de Hibarye, nas encostas do bíblico Monte Hermon, onde há cedros e uma vista bem ampla das terras de Israel, mas o clima é de paz.
O Brasil deve muito aos imigrantes, e entre eles, os libaneses e seus descendentes brasileiros são dos mais criativos e realizadores, a exemplo de Ibrahim Salim. Deveríamos ter em relação ao Líbano uma ação solidária mais efetiva, muito além da simples e convencional manifestação de pesar feita pelo Itamaraty e pelo próprio presidente. Estamos em crise, em dificuldades, mas sempre teríamos algo a oferecer, além dos vagos acenos de formalidade diplomática.
Se no Líbano existe tanta dor, tanta destruição, por aqui, na terça-feira, quando houve a tragédia em Beirute, e foram divulgadas as cifras de mortos e feridos, tínhamos a nossa própria tragédia, revelada nas cifras de mais de mil e trezentos mortos no dia, e um total de mais de 96 mil mortos.
Há entre nós alguma coisa pior: um clima de indiferença, que não é apenas a característica estranha do presidente, parece coisa mais grave, é algo que começa a infiltrar-se no comportamento da nossa sociedade, com uma parte dela anestesiada, e a outra ululante e inutilmente raivosa.
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O VICE NÃO OBEDECE ÀS ORDENS DE TRUMP
(O vice Mourão responde ao insolente recado de Donald Trump)
Finalmente, ouviu-se no governo uma voz criteriosa, firme e essencialmente brasileira: falou o vice presidente general Mourão, respondendo ao insulto do embaixador americano, um porta voz das insanidades arrogantes do decadente Donald Trump. Ele, rompendo todas as normas diplomáticas, prometeu consequências, caso o Brasil venha a exercer os seus direitos de país soberano, e decida optar pelo sistema chinês 5 G, que promete uma revolução na internet.
Mourão foi incisivo, afirmou que o Brasil não teme consequências, e fará, com liberdade, a sua escolha. Admitiu que o sistema chinês é muito superior aos seus concorrentes.
Um presidente deve em primeiro lugar sintonizar completamente com os interesses do país, não podendo ter, nesse particular, preferências ou idiossincrasias pessoais.
Se Bolsonaro e os seus filhos idolatram Donald Trump, o imitam e obedecem, é problema deles, mas, sendo um presidente, e os outros representantes do povo brasileiro em Casas Legislativas, cometem crime de lesa-pátria se adotarem posições contrárias ao interesse nacional. Não será nenhuma demonstração de hostilidade, muito menos um insulto aos Estados Unidos, pais com o qual temos e deveremos manter sempre bons laços de amizade, se viermos, após análises técnicas e econômicas de escolher o sistema chinês, o 5 G.
No momento os interesses comerciais com o nosso maior parceiro, a China, recomendariam que estreitemos cada vez mais os laços econômicos com os chineses.
Da mesma forma como poderemos fazer com os Estados Unidos, e quaisquer outros países, surgindo novas circunstancias.
Isso se chama independência, soberania nacional.
Receber advertências ou reprimendas de embaixadores, sejam eles dos Estados Unidos, da China, de Cuba, ou de onde forem, é atitude que nos amesquinha, nos envergonha, nos humilha como Nação.
Se Bolsonaro aceita calado, o vice Mourão nos devolve a sensação de que o nosso país não se tornou uma republiqueta de terceira classe, onde embaixadores estrangeiros se imiscuem e dão ordens.
O vice teve uma outra atitude fundamental: desautorizou publicamente o falsário Ministro do Meio Ambiente, que queria escancarar as portas da Amazônia a todos os seus devastadores.