Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS (20)
22/06/2020
TEXTOS ANTIVIRAIS (20)

NÉSCIO, IMPOSTOR E MESQUINHO

(Néscio, impostor e mesquinho?)

A pior desgraça para um país seria ter um governante que pudesse, com justa precisão, ser caracterizado como néscio, impostor, e mais ainda mesquinho.

Néscio, é aquele indivíduo destituído de conhecimento, ignorante, desconexo incoerente.

Quando, à condição de néscio se incorpora uma outra, que poderia ser classificada como impostura, o néscio e também impostor se torna mais perigoso, porque consegue alterar a sua verdadeira aparência, apresentando-se com uma roupagem falsa, aquela máscara disfarce do seu real e deprimente perfil.

O néscio impostor, ou impostor néscio, tanto faz, mesmo tendo uma outra grave deformação de caráter, que é a de ser mesquinho, poderá alcançar sucesso na vida pública.

Isso ocorre geralmente em países onde a maior parte da sua gente carece de educação, e, por consequência, é culturalmente atrasada.

Em terra de cego que tem um olho é rei”, assegura o rifão. A impostura, que nela inclui mentira, fraude, traição, vilania, e tantos outros adjetivos desprimorosos, é o arsenal que fica à disposição do néscio, ou malandro, todavia esperto, para utilizá-lo à favor das suas ambições.

O néscio impostor não tem limites éticos na prática da impostura, e quando encontra uma sociedade vulnerável, fragilizada pela descrença, inconformada com a vida, e incapaz de vislumbrar saídas, seus instintos mais animalescos do que humanos despertam, com uma intensidade proporcional ao ego insaciável.

Eis então o néscio impostor conquistando adesões, preenchendo os espaços indiferentes às mensagens habituais dos discursos políticos esgotados, saídos de vozes sem eco, num clima de decepção e descrença.

Nessas circunstancias, a impostura pode conquistar corações e mentes, porque o ser humano precisa de algo esperançoso em que se agarrar, quando se sente afogado pela desesperança, e no desespero de uma indignação que se transforma em barreira para que encontre, com a clareza da consciência livre, um caminho certo a percorrer. Então, nesse impasse, chega o impostor e lhe oferece o rumo.

E o primeiro acredita, e outros se juntam, e se vai formando a massa humana, tantas vezes ingênua, que, até inconscientemente, se faz portadora e disseminadora da impostura.

Surgem os símbolos, se constrói o mito, se forma a onda da crença retemperada. Cresce o tsunami da irracionalidade, a massa avança enquanto a consciência crítica encolhe. O néscio impostor, carregado nos braços e identificado como mito, sobe o último degrau da sua ambição. Nesse momento, surge com mais evidencia uma outra característica sua: a mesquinharia.

Por não possuir uma exata compreensão de como agir, para transformar em realidade a mínima parte da impostura das promessas, e na estreiteza da sua mente sem conseguir traçar rumos, e atingir metas, o néscio impostor, perde-se na mesquinharia, começa a apontar obstáculos invisíveis, cria inimigos inexistentes, buscando transferir para eles a culpa pelo próprio fracasso; gera um ambiente de dúvidas, onde ameaças pairam no ar, enquanto dissolve-se o corroído arcabouço, erguido sobre a imagem irreal de um mito.

Fica cada vez mais configurada a realidade trágica, que um personagem primitivo, todavia ousado na impostura e mesquinho nas atitudes, pode causar, quando sobe um degrau muito alto, cuja altura ele é incapaz de avaliar corretamente.

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A ÚNICA E URGENTE ALTERNATIVA

(Nele estaria a solução?)

Ora, dirão ouvir estrelas”. Não é nada disso, o momento não favorece o devaneio da poesia.

Ora, dirão: É inconcebível que alguém, eleito com uma montanha de 54 milhões de votos, possa vir a ser ameaçado de perder o governo antes mesmo de completar dois anos de mandato.

A observação que traduz espanto, não deixa de ser pertinente, tanto mais quando se constata que o portador de todos esses votos, ainda conta com pelo menos trinta por cento da adesão dos brasileiros, e tem, ao seu lado, uma legião entusiasmada de apoiadores, onde se encontram políticos, militares, policiais, empresários, e o cidadão comum, o pobre, quase miserável, aquela parcela deles, agora festejando os “600 reais de Bolsonaro.”

Conta ainda, a seu favor, com uma oposição dividida, e a vaidade empedernida de adversários como o ex-presidente Lula, e daqueles que saem às ruas protestando contra o capitão presidente, carregando bandeiras vermelhas e dísticos tais como: “Ditadura do proletariado”. Estes, agindo dessa forma, transmitem a mensagem inversa, e são assemelhados, no desatino, aqueles classe média, ricos, ou bem remunerados pelo próprio governo, que pedem o fechamento do Congresso, o fuzilamento dos ministros do Supremo, enfim, que se faça uma gigantesca fogueira para churrasquear adversários incômodos.

Se de um lado existe a figura sebosa de um Luciano Hang, ou Gang, do outro, surge a esfuziante estupidez de uma Gleisy Hofmman, aliás, presidente de um grande partido.

Fica então bem claro que a solução do impasse não será obtida nesse inconsequente pandemônio das ruas.

Mas o impasse existe, é resiliente, e vai perdurar.

Para evitar este crucial momento que vivemos, os militares que estão no Planalto, e nos altos postos de comando, tentaram, docemente, colocar uma brida, naquele que na caserna haviam apelidado de “cavalão”, e a quem o ex-presidente general Geisel, de maneira menos informal, classificou como “um péssimo militar”, evitando assim, diplomaticamente, dar-lhe uma característica equina.

Como se vê, foi impossível. Frustrada a tentativa, os palacianos como o general Heleno, aderiram, ao que parece de corpo e alma, ao discurso desconexo, deseducado, em certos instantes estúpido, de um presidente inculto, algumas vezes aparentando insanidade, que, estimulado, ou “administrado” pelos filhos turbulentos, faz uma sequência de tiros no próprio pé. Mas agora, a depender do aprofundamento das investigações e das bocas soltas ou fechadas do miliciano Queiroz e do lobista advogado Wassef, os militares palacianos não poderão esconder o incômodo.

Bolsonaro não sabe governar, não comanda, porque para isso lhe falta discernimento, e não tem noção exata do que seja o conceito de autoridade, muito menos, da indispensável liturgia do poder.

À frente de um projeto familiar de anarcopopulismo, ele aprofunda a divisão do país, estimula o confronto, a odiosidade. Por culpa dele, pela sua desídia, pelo seu negacionismo, a “gripezinha” tragicamente avança. É obvio que se ele assumisse, de início, o comando e a liderança do processo, tendo ao seu lado a ciência, a medicina, e formasse com a sociedade brasileira um sólido consenso, sem milagres de cloroquina, e sem mensagens desordeiras por ele mesmo transmitidas, e sem trocar ministros, a situação estaria menos calamitosa. O STF, para evitar o pior, deu aos governadores e prefeitos a prerrogativa de adotarem as soluções recomendadas, como o isolamento social. Não se pode tratar de uma pandemia de proporções planetárias, com medidas municipais ou estaduais, faltou, nisso tudo, o governo central, a presença direta do presidente, buscando unificar e fortalecer o combate à pandemia. Bolsonaro fez o contrário, zombou, fez piada, declarou guerra a alguns estados e prefeituras, e deu à população brasileira o pior dos exemplos: a desobediência pessoal às normas sanitárias. O luto, a dor, as lágrimas, não parecem sequer comover um pouco o presidente, que age como se fosse destituído do menor senso de humanidade, e jamais admitirá a sua culpa. Ele nem sequer lamentou formalmente as mortes, homenageou os profissionais da saúde que estão empenhados na luta heroica pela vida. Chegou a sugerir a invasão de hospitais, estimulou a violência contra os que neles trabalham. Chamar Bolsonaro de genocida, não será nenhum exagero.

Ao lado do luto nacional, prosperou o desastre da economia, do desemprego, e Guedes refugiou-se no superado credo, que há 30 anos trouxe de Chicago, e até hoje nada se fez de concreto para salvar as micro e pequenas empresas da falência. Agora, o que vier, não terá mais efeito, porque dezenas de milhares de empresas já cerraram as portas.

E o que faz Bolsonaro? Vai as redes sociais para defender Queiroz, o miliciano com o qual dividia a sua mesa. Morrem 50 mil brasileiros, a economia derrete, o Brasil despenca no conceito do mundo civilizado, e Bolsonaro avilta a República, apequena o seu cargo para misturar-se com notórios bandidos e negocistas peculatários.

Ah! Existe um ativismo judicial exagerado, existe uma campanha cerrada de uma parte da imprensa contra o presidente. Existe, sem dúvidas. Mas foi ele quem começou a guerra, insultou magistrados, insultou os poderes, insultou artistas, intelectuais, insultou a cultura. E o resultado é este clima de ebulição. Agora, surgem as evidências enlameadas de que Bolsonaro não é o mais abalizado porta voz em defesa da moralidade pública, em defesa dos interesses nacionais.

O Brasil não terá fôlego suficiente para aguardar o desfecho dessa catástrofe.

É preciso evitá-la o mais rápido possível, enquanto é tempo de costurar um acordo nacional de governabilidade. É urgente aquietar os ânimos, amaciar as paixões, atravessar o campo minado das divergências para ampliar o diálogo onde restar um fiapo que seja de bom senso.

É urgente a formação de uma frente política com a imensa parcela da sociedade brasileira ainda livre da contaminação da insensatez. Neste momento, a intermediação da cúpula militar, preocupada com o acirramento da crise será indispensável.

Ao eleitor de Bolsonaro, os que permanecem acreditando no falsificado mito, restaria o consolo de que não perderam o voto. Afinal, o general Hamilton Mourão, fez parte da chapa.

Com Mourão no Planalto poderá ressurgir a esperança de equilíbrio e autoridade moral para a busca do entendimento, da recomposição dos pedaços destroçados da sociedade brasileira. Reconstruindo a governabilidade, o presidente Mourão não desceria aos porões a fim de apertar as mãos de ex-presidiários, tais como Roberto Jeferson, Valdemar Costa Neto, que acabam de recuperar a franquia dos cofres da Nação.

Outra coisa sem dúvidas tranquilizadora: Com Mourão, teríamos um presidente, não um quarteto de desajustados.

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A CULTURA E O CIRCO PERGENTINO

(A que foi sem nunca ter sido)

Na Secretaria recentemente desocupada por quem nunca a ocupou, aquela malfadada atriz, agora, haverá um novo ocupante. Já foram cinco ou seis, e mais outros virão. E nem os que saíram nem os que estarão chegando, de fato conseguiram nem conseguirão ocupar aquela Secretaria, o que restou do Ministério da Cultura raivosamente extinto pelo presidente inculto, que colocou na cabeça a ideia de promover uma guerra cultural.

Melhor seria colocar no frontispício daquele mausoléu infame, uma lápide esclarecedora dos propósitos de quem criou a inerte Secretaria, e de todos os que ocupam ou virão a ocupá-la: “Aqui jaz a cultura brasileira”.

O propósito dos trogloditas que se empenham nessa guerra, é fazer desaparecer a cultura brasileira. Em vez de bibliotecas, estão montando arsenais, em vez de livros querem doar armas.

Nessa pandemia tão mal administrada, as atividades artísticas, culturais, também entraram em quarentena. Os pequenos artistas, os que vivem em torno das atividades culturais, nos teatros, nos cinemas, nos museus, nas bibliotecas, no mundo sôfrego e vital da criação, da ebulição da arte e do pensamento, estes, estão vivendo um tempo de padecimentos.

Nada se fez na área do Executivo Federal para dar um amparo aos que neste país enorme e múltiplo, povoam o sagrado e universal templo da cultura.

Não fosse o Congresso Nacional, (que aliás querem fechar) por iniciativa do Senado, que fez nascer a lei Aldir Blanc, para amparar os que laboram no agora paralisado ofício, não fossem empresas, pessoas, prefeitos, governadores de estados, que tomaram algumas iniciativas, nada teria sido feito.

Os circos, aqueles pequenos, mambembes, percorrendo as veredas do interior brasileiro, que chegam às pequenas cidades, aos povoados, são portadores do sonho, onde sonhar é quase impossível.

Fugir com o circo, misturar-se com aquele mundo de fantasia miúda, onde estão o palhaço, o mágico, o malabarista, a mulher barbada, o engole fogo, é algo que povoa as cabeças de adolescentes e até adultos, vivendo na ausência de fantasia, e com o esgoto que escorre na porta.

Num desses locais assim, o tristonho povoado Capim Grosso, em Canindé do São Francisco, chegou, em fevereiro, o Circo Pergentino. No final dos espetáculos, somavam a féria do dia, e raramente se chegava a 200 reais. Mas iam vivendo, os quinze artistas que compõem o elenco. Dava para comer mortadela com farinha, tapar os buracos da lona quase esfarrapada e pagar o gás que move um desfigurado Chevette, e um ônibus carcomido pela ferrugem, rebocando um desengonçado “motorromi.”

Veio a Covid, o Pergentino parou, desmontado, se transformou num escombro sobre um terreno ao lado de uma rua de palhoças. Veio a fome.

O locutor do circo, homem miúdo, quase esquelético, mas uma voz forte, entrecortada pelos pigarros de fumante, semana passada foi à rádio Xingó FM, na sede do município e fez o apelo: “Estamos há três meses passando fome, não queremos dinheiro, pelo amor de Deus tragam comida, o que puderem, um saquinho de fubá, um quilo de farinha, tudo serve”. O locutor Roberto Silva reforçou o apelo. Em Canindé, quase todas as atividades estão paralisadas, o turismo no Carrancas, no Cânion, há mais de três meses interrompido; servidores da Prefeitura com salários atrasados, mas a solidariedade ainda está viva.

No circo Pergentino, de fome, pelo menos, nenhum dos 15 artistas vai morrer.

O Circo Pergentino é a própria metáfora ou alegoria da cultura brasileira. Nenhum dos dois morrerá, porque fazem parte da alma do nosso povo.

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NEM SÓ DE PANDEMIA

(Meu destino é Sergipe)

Se um dia conseguirmos respirar, sorver a plenos pulmões o ar sem o receio da pestilência, ou mesmo que, por um bom tempo, ainda tenhamos de usar máscaras, ainda tenhamos de viver precavidamente com um álcool gel por perto, então, nesse tempo que até poderá ser amanhã, a vida será retomada com uma boa dose de normalidade. O mundo ainda poderá acolher a normalidade?

Mas, mesmo quando a normalidade com que nos acostumamos deixa de existir, logo nos adaptamos a um novo patamar de normalidade possível. Assim, se fez a evolução das espécies, uma adequação evolutiva construída ao longo de milhões de anos. Nós humanos, que saímos da ameba ancestral, fomos vitoriosos na “struggle for life” a luta pela vida, perfeita no campo biológico, desastrosa quando aplicada às visões totalitárias, então nós, que inventamos o fogo, afugentamos o mamute, o tigre de dentes de sabre, vamos também, sem dúvidas, subjugar o vírus, e se o Planalto permitir, reconstruiremos em paz, em harmonia a vida, reativaremos a economia, recuperaremos os empregos perdidos. Pode ser que não sejamos plenamente felizes, aliás isso nunca acontece, mas, enxugadas as lágrimas, pelos nossos mortos; homenagearemos esses heroicos que lutam nos hospitais, numa guerra que chega agora às cifras nunca alcançadas por todas as guerras nas quais envolveu-se o Brasil ao longo da sua história. Aos ex-combatentes que perderam a vida, teremos de tributar todas as honras. Por que não fazer um memorial a eles dedicado? Lembremos de listar também os nossos mortos, posto que não deixamos, apesar de tudo, de ser humanos.

Então, dito isto, festejemos uma nova simples e, justamente por isso emblemática frase, para o nosso turismo que pretende reviver: Sergipe é o meu destino.

Parece até uma alegoria ao futuro.

Coisas positivas têm acontecido no turismo sergipano, apesar de tudo, depois que Belivaldo colocou na Secretaria de Turismo Sales Neto, um cara que trabalha, dialoga, ouve, pensa, e descobre como fazer.

 

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