Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS (19)
10/06/2020
TEXTOS ANTIVIRAIS (19)

AS PEDRAS E O HOSPÍCIO

(O hospício e seus habitantes)

O Hospício era vasto, e bastante numerosos os seus hóspedes. Embora a evolução da psiquiatria tenha oferecido novas alternativas que amenizariam a doideira, sem necessitar de hospícios e dos torturantes choques elétricos, alguns sanatórios ainda existem, e este, que aqui figuramos, pelo que se sabe, é supostamente um deles. Um manicômio enorme, com largos espaços para os internos, e abrigando variados aspectos de desarranjadas cabeças.

Cada doido, é bem sabido, tem a sua mania. Há os ensimesmados, que se isolam, se enclausuram, ou fogem, tímidos e apavorados do convívio com os outros.

Mas há, também, os que gostam de aparecer, e geralmente são os mais alterados, e que não cansam de provocar tumultos, deixando os demais inquietos. Nada todavia se poderá estranhar, porque isso, é o próprio clima da normalidade nos hospícios.

Há coisas surreais que ali aconteceram, enfim, a loucura é o escape do real, a viagem pelas fronteiras da desconexão com a lógica, e a linearidade dos fatos.

Apareceu, pelo sanatório, um hóspede muito chegado às excentricidades e aos desatinos, e logo tomou conta do ambiente.

Dizia-se Napoleão, não mais o imperador, apenas, aquele já destronado e vivendo na ilha de Elba, que recebeu dos ingleses vitoriosos para ficar brincando de governar. O espaço do hospício era, para o nosso Napoleão, a imaginária configuração da ilhota no Mar da Ligúria, entre a Córsega, outra ilha francesa, e a Itália, onde ele lembrava que seu filho era o Rei de Roma, e sua mulher, a duquesa de Nápoles. O maluco empavonado começou a dar ordens de comando. Tomou os seus colegas de hospício como habitantes da ilha imaginária, e os dividiu entre aliados duvidosos, e inimigos ameaçadores.

Entrou no hospício uma carreta e descarregou algumas toneladas de pedras, pequenas todas, e somariam mais de cinquenta milhões.

Loucos junto de pedras, já se sabe no que vai dar. O nosso Napoleão devaneou durante algum tempo, até saber o que deveria fazer com elas. Um dos encarregados do hospício explicou-lhe que aquelas pedras seriam usadas para tapar um buraco que começava a ameaçar a estrutura do prédio, onde todos se abrigavam. Mas ele fez pouco caso. Entendendo que estava ameaçado e cercado de inimigos e sabotadores, juntou amigos que se mostraram tão desvairados quanto ele, e danaram-se a jogar pedras, primeiro, para o alto mesmo, e algumas lhes caiam na cabeça, depois, na direção dos inimigos que enxergavam por toda parte. Houve uma saraivada que fez pipocar seixos nos telhados das casas próximas. Os moradores, querendo mostrar que naquele entorno havia gente a merecer respeito, começaram a bater panelas, e elevaram a voz em gritos de protesto contra os amalucados em clima de guerra. Então, as cabeças desmioladas foram incentivadas pelo Napoleão de fancaria a irem invadir aquelas casas, onde os moradores protestavam contra a chuva de pedras, e deviam calar imediatamente a voz de todos. Há vezes em que as loucuras humanas, apesar das considerações satírico-elogiosas que sobre elas teceu, primorosamente, o filósofo e teólogo Erasmo de Roterdam, de fato, se transformam em grave perigo. Mais ainda, quando são loucuras ou desatinos coletivos.

Os que procuravam por ordem no hospício, resolveram determinar que os malucos fossem recolher os pedregulhos que lançaram, e os colocassem de volta onde estavam, mas, que contassem todos que haviam recolhido. Lá se foram os agora obedientes zuretas à catar as pedras. Um deles, enquanto catava afanosamente por todo canto os calhaus, parou um instante e foi conversar com o “Napoleão”, e disse-lhe que melhor seria fingirem não achar as pedras, porque, quanto mais recolhessem, maior seria a punição.

O “Napoleão” sem coroa, encheu-se de empáfia e os advertiu: “Nada nos acontecerá, lembrem-se que eu perdi a Coroa, mas ainda tenho uma parte da Grand Armée ao meu lado, já estou de saco cheio desta ilha, acabou, acabou, breve terei o poder completo, vou governar com os meus marechais.”

Aos poucos, porém acalmou-se, piscou alguma luz de sensatez naquele cérebro obscuro, e o Napoleão corrigiu-se: “Tenho uma saída melhor, vocês sabem que eu era um bom aluno de matemática na Escola Militar de Brienne, onde fui cadete, podem juntar sem medo as pedras. Sei mexer com números, se forem mil eu diminuo para dez. Deixem comigo.

Diante dos olhos surpresos dos tantãs que o seguiam cegamente, o nosso Napoleão terminou por convencer a todos, quando completou a sua arenga adoidada com a revelação: “Vocês lembram da Copa do Mundo de 2014?

Naquele tempo eu ainda não era Napoleão, era o técnico da Seleção Brasileira, e o Brasil não perdeu da Alemanha por 7 a 0. Ganhou de 1 a 0. Eu mudei os números.”

Eu sou Napoleão, porrraaa !!!!

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A MANGABA, AS CATADORAS, UM AVANÇO DA CIDADANIA

(A mangaba virou um bom negócio)

A Associação Sergipana das Mangabeiras, conseguiu, em Sergipe, tornar efetivo aquele conceito de propriedade com finalidade social. Não se trata de nenhuma invenção, ou nova descoberta, apenas, um esquecido preceito constitucional, que, após muitas lutas, muito diálogo, muita incompreensão, muito apoio, tornou-se efetivado na prática, justamente o que importa.

A ideia de propriedade privada, que a Constituição brasileira homenageia e defende, assegurando a todos o pleno direito de tê-la, envolve, também, alguns aspectos que demonstram uma evolução sobre a abrangência do direito de usufruir da propriedade. A propriedade não pode colocar-se acima da responsabilidade social, a agora, mais modernamente ainda, não poderá existir em conflito com a legislação ambiental.

As árvores da mangaba sempre existiram nas micro regiões litorâneas de Sergipe, onde fazem parte da vegetação de restinga. Também avançam um pouco, e ocorrem aproximando-se do agreste. Todavia, dizem os especialistas que aquela mangaba molhada pelo orvalho e pela maresia, são indubitavelmente, as mais saborosas. A proximidade do mar, e no nosso caso sergipano, das marés que penetram entrelaçando-se pela terra, é fator fundamental para a qualidade diferenciada dos frutos .

A mangabeira tem outras, digamos assim, esquisitices de planta voluntariosa. Para começar, só nasce em terreno ruim, terra de fato sáfara.

O fruto cai durante a noite e deve, como dissemos, ser recolhido cedo, antes que o sol esquente e “azede” a fruta. Antes havia áreas de reserva, depois, tudo foi cercado, a mangabeira ganhou dono, apesar de ser árvore nativa. As catadoras passaram a ser reprimidas pelos proprietários, que não admitiam aquela liberdade de cruzarem suas cercas. Houve conflitos.

Nisso, começa o papel do diálogo e da organização popular.

As catadoras ganharam o apoio dos Ministérios Públicos, federal e estadual, e na Justiça obtiveram o direito de catarem suas mangabas, sem que isso represente violação da propriedade privada. A maior parte dos proprietários de terras onde estavam os mangabais nativos, até concordou, outros, permanecem recalcitrantes. A paz é assegurada pela forma cuidadosa como se comportam as catadoras, cuidando para não causarem danos às propriedades.

A organização delas é um caso especial de protagonismo de um grupo, que transformou o ato simples de catar mangaba, numa atividade que se fez lucrativa, pela capacidade de agregar valor ao fruto, produzindo, além do próprio fruto e da sua polpa, doces, licores, compotas, biscoitos balas, trufas, etc..

É tanta coisa com sabor requintado, que lojas de conveniência, bistrôs e restaurantes já se interessam pelos produtos da Associação das Mangabeiras.

A jovem professora da UFS, Patrícia, nascida em sítio de mangaba, de mãe catadora, o que ela também foi, pode simbolizar bem as transformações que se registram, quando setores excluídos da sociedade, criativamente, vencem barreiras e superam a pobreza, somando esforços com a sinergia do coletivo.

Patrícia, é uma das principais idealizadoras e líder da Associação das Mangabeiras.

OS INQUISIDORES CRUZAM AS PORTAS DAS UNIVERSIDADES

(Os inquisidores estão chegando)

Os Torquemadas os Savonarolas ressurgem, e hoje, nessa ressurreição dos cenários mais trágicos da história humana, eles tomam forma em esquisitices como este Weintraub, que desmonta a educação brasileira, levando à frente a batalha ideológica, a guerra cultural que o presidente e seus filhos estimulam, apoiam e patrocinam.

Acaba de ser editada uma Medida Provisória, que pisoteia o critério da autonomia universitária, dando poder a Weintraub, para nomear, interinamente, os Reitores de 19 Universidades federais, onde a pandemia poderá impedir a eleição. A medida é uma afronta as melhores tradições do ensino e da cultura do país. Durante os governos militares que variaram entre o autoritarismo e a ditadura, no Ministério da Educação, que era também da Cultura, sempre foram colocadas personalidades respeitadas, homens de cultura, pessoas comprometidas com o processo educacional transformador. Bolsonaro extinguiu o Ministério da Cultura, fez uma Secretaria subordinada ao Ministério do Turismo, (vejam só) por onde já passaram quatro pessoas, todas, deploravelmente desprezíveis. Na Educação, foram buscar uma múmia colombiana, o Velez Rodriguez, que perpetrou uma série de calhordices.

Weintraub tem uma frustrada vocação de palhaço, mas é um personagem trágico. Vai sair catando o que existe de mais parecido com ele, para colocar nas reitorias, e nos campi serão acessas as fogueiras da Inquisição. Não estranhem, se nelas resolverem lançar livros por eles amaldiçoados.

Aqui na UFS, se essa MP não for anulada no Supremo, já se sabe o que irá acontecer. Será reitora uma obscura, anódina professora, que junto com outros, intolerantes e raivosos senhores e senhoras, assinaram um seboso manifesto de apoio ao arqueológico Weintraub.

É inegável, os inquisidores estão chegando, e conduzem as suas tochas acesas.

DO DEPUTADO NOVENTA À CHAPA BOLSONARO-MOURÃO

(A justiça eleitoral e suas cassações tardias)

Há quem comemore a cassação pela Justiça eleitoral sergipana do deputado federal Valdevan Noventa. Todavia, não existem motivos reais para essa exaltação de um ato que ocorre de forma atemporal, isso, depois de a própria Justiça Eleitoral ter entregue ao parlamentar eleito o diploma, o que significaria a homologação dos resultados das urnas que o consagraram. Eleito, diplomado e empossado, o correto seria que o parlamentar ou o ocupante de cargo executivo, passasse a ser exclusivamente problema das respectivas Casas Legislativas. Uma Justiça que tarda, e só depois denuncia ou pune, será sempre uma justiça objeto de ressalvas.

Precisa ser avaliado melhor esse papel da Justiça Eleitoral, a quem cabe organizar o processo da escolha democrática, e nisso tem revelado uma notável capacidade modernizadora, todavia, no que se refere ao poder de cassar mandatos, ainda mais de forma retardada, é uma anomalia institucional que terá um dia de ser corrigida, inclusive acabando com a figura do Juiz Eleitoral, sem toga, indicado geralmente por políticos e escolhido entre advogados. Quase todos, quando lá chegam, têm o rabo preso com quem os indicou.

Se sabiam de algum motivo que poderia impossibilitar moralmente o Deputado Noventa de ser candidato, porque não agiram tempestivamente barrando a candidatura?

O nome dele não é desconhecido, chama-se: José Valdevan de Jesus Santos. Bastaria buscar as informações acessíveis.

Por outro lado, esse julgamento que se faz da chapa Bolsonaro-Mourão no Tribunal Superior Eleitoral, é algo que beira a sagração do ridículo. A chapa teve mais de cinquenta milhões de votos, e descobrem, só agora, que ela teria sido beneficiada por um esquema ilegal de propaganda política? A descoberta é tardia, e, por outro lado, se houver a improvável cassação, irão oferecer de bandeja um motivo para o que alguns tanto desejam: a ruptura institucional, sobre a qual muito falam e tanto desejam os três Delfins da República.

Se meia dúzia de Juízes, alguns nem togados, cassam mandatos conquistados pelo voto, afinal de contas, o que vale mesmo o voto?

PANDEMIA, MORTOS E VIVALDINOS

(O tiro na "cabecinha"?)

(Algo a ver com o DNA?)

Esses dois governadores em cujos palácios bateu a Polícia Federal, não inventaram a pandemia. Ela existe, e só energúmenos negacionistas seriam capazes de contestar a existência do vírus que contagia, e também mata. O vírus é estreante, a ciência não o conhece direito, por isso, multiplicam-se as versões sobre a melhor ou pior forma de combatê-lo.

A evidencia mais concreta indesmentível e horrorosa, é a cifra de 40 mil mortos já alcançada.

Agora, que existem indivíduos capazes de aproveitar a oportunidade da morte em série, para encher os próprios bolsos, disso, não há dúvidas.

As primeiras evidências surgem no Rio de Janeiro, onde as provas parecem consistentes, e o tal Witzel, que elegeu-se prometendo combater a corrupção, parece nela atolado. Um fato curioso, a autorização para a abertura do impeachment, foi dada pela unanimidade dos deputados da ALERJ, e estão juntos no mesmo desejo, tanto bolsonaristas, como petistas, comunistas, socialistas, etecétera e tal.

Já no Pará, onde Helder Barbalho também se enrola, um impeachment seria pelo menos até agora muito improvável, pela forte base de apoio.

No caso de Helder Barbalho, sem nenhuma malícia, parece haver algo relacionado ao DNA.

Roubar dinheiro que deveria servir para salvar vidas, é crime hediondo?

Se não for, deveria ser.

UM POLÍTICO PÉ FRIO?

(Pé de pato mangalô três vezes)

Amigos do ex-deputado André Moura, que não escondem suas tendências supersticiosas, já andam a murmurar uns com os outros que o politico sergipano que ganhou tanto destaque no cenário nacional, seria, o que se costuma chamar de “seca pimenteira” ou “pé frio”.

André foi fiel aliado de Eduardo Cunha, que está preso; foi líder de Michel Temer, que foi preso; e Secretário Chefe da Casa Civil do governador Witzel, que vai sofrer impeachment, e dificilmente deixará de juntar-se aos quatro ex-governadores do Rio de Janeiro, que estão, ou estiveram presos. Será o quinto a ir parar na cadeia.

 

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