Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
TEXTOS ANTIVIRAIS (17)
25/05/2020
TEXTOS ANTIVIRAIS (17)

A ATA E O PANDEMÔNIO 17

Integrantes da turma de 1971 da Academia Militar das Agulhas Negras, assinaram uma nota de solidariedade ao ministro da segurança institucional, general Augusto Heleno. Tudo em consequência de uma decisão do ministro Decano do Supremo Tribunal Federal, Celso de Melo, que, supostamente, teria determinado a apreensão dos telefones do presidente da República, e de um dos seus filhos. Não houve essa determinação. O Ministro, aliás, um daqueles em torno do qual se forma o conceito quase unânime em relação à sua integridade, como cidadão e magistrado, tendo recebido de um grupo de partidos políticos uma notícia crime contra o presidente da República, agiu, digamos assim, como manda o “manual”: remeteu para apreciação do Procurador Geral da República, Augusto Aras a denúncia, que, no caso de ser acolhida, poderia ou não ensejar a apreensão dos celulares. E é fora de dúvidas que a apreensão não será determinada. Assim sendo, a turbulência terá sido inteiramente desnecessária.

Entre os signatários da Nota, inclui-se o nome de um sergipano que foi aluno naquela turma, mas, não seguiu a carreira militar, o hoje experimentado e competente promotor de Justiça Augusto Cezar Lobão Moreira. Ele conhece tanto as leis como os modos de aplicá-las, e que existem as devidas precauções, quando se trata de representantes dos poderes, sem que isso os tornem inalcançáveis.

Os que assinaram aquela nota, fazem parte de uma turma de cadetes que decidiram fazer uma homenagem a um presidente da República que havia falecido num desastre aéreo em 1967. Integram a turma Marechal Humberto Castelo Branco. Estudaram a biografia do homenageado, e, certamente, conheceram as atitudes de Castelo, tanto quando chefe da seção de operações do marechal Mascarenhas de Morais no front italiano, como as suas ações, até contemporizadoras, na Presidência da República, onde em face das circunstancias, detinha quase plenos poderes. Devem então ter observado que, no exercício da presidência, Castelo, sem afetar arrogância, imprimia absoluto respeito às suas funções, sempre obediente a uma liturgia da qual não pode afastar-se o homem de Estado, desde que entenda e respeite a majestade e a dimensão das suas prerrogativas e responsabilidades.

Jamais, Castelo Branco, presidindo uma reunião ministerial, reduziria o nível das exposições a um linguajar de arrieiro, ou toleraria ministros, comportando-se como se estivessem num botequim de esquina, ou fazendo bravatas, comuns em bêbados frequentadores de tavernas.

Os signatários da nota, como todos nós brasileiros, estamos ainda mais angustiados agora, quando se torna provável a cifra de trinta mil mortes, causada pela pandemia, que o chefe da Nação faz questão de negar, e essa preocupação cresce, diante do clima de desencontros políticos que vivemos. Mais ainda, agora, quando o presidente Trump proíbe voos provenientes do Brasil, o que afeta, pesadamente, a nossa imagem internacional já devastada.

Os que emitiram a Nota, aprenderam na vida castrense a obediência à hierarquia, e cultivam um sentimento de honra, que é marco essencial na vida militar, por isso, a ignomínia da desonestidade, da prostituição do ambiente político, talvez os façam acreditar que a regeneração poderia ser alcançada com a virtude imposta pelas armas. Mas estão equivocados. As armas submetem, subjugam, mas não educam, muito menos civilizam.

Todos os reformados que representam o setor mais ativista do Exército em pijamas, certamente se sentiriam constrangidos se tivessem de redigir a Ata em inteiro teor, da reunião ministerial do dia 22, um documento insólito nos anais da História brasileira, e que as futuras gerações de pesquisadores irão analisá-lo, e nele encontrar o retrato desalentador de uma época.

Se esses pesquisadores, daqui a uns cem anos, fizerem um cotejo daquela Ata com as demais, ao longo dos mandatos de todos os presidentes, até o daquele capitão, chamado Jair Bolsonaro, teriam um desafio para entender como, assim, daquela forma tão abrupta, teria acontecido o fenômeno de completa avacalhação dos valores republicanos, de desprezo total às regras mínimas de civilidade, mesmo de educação doméstica, de abandono aos princípios elementares do convívio social, também, daquela noção de cavalheirismo, por sinal cultivada nas Academias Militares. Na reunião estavam presentes algumas senhoras.

Os pesquisadores ficariam em dúvida sobre a autenticidade daquela Ata, se ela retrataria mesmo um presidente, reunido com ministros de Estado, com generais, e o que é pior, o próprio presidente estimulando a criação de milícias armadas, “para evitar uma ditadura”, quando ele, como reza, ou rezaria a Constituição da época, era o chefe supremo das forças armadas. Descobririam, os garimpeiros da História, que no dia exato da elaboração daquela Ata, já existiam mais de dez mil mortos, e na reunião quase nada se disse sobre a gravidade da pandemia, que o próprio presidente desconsiderava, além de querer a população armada para reagir contra determinações das autoridades estaduais, visando o combate à pandemia.

Os autores da Nota, sendo militares, devem entender a gravidade de uma incitação partida do próprio presidente, para que todo o povo brasileiro seja armado. Na reunião, ele definiu como um dos pilares do seu governo o armamento da população.

Um revólver, dos mais simples, junto com as despesas necessárias para obtenção do registro e porte da arma, se é que essas exigências não teriam sido suprimidas, fica tudo em torno de cinco mil reais. Qual a pessoa do povo que terá dinheiro para armar-se?

O presidente sabe exatamente quem irá comprar essas armas. São aqueles que estão nas ruas, felizmente cada vez em menor quantidade, gente rica, de classe média, ou contemplados com sinecuras no próprio governo, a uivar por um regime totalitário.

Com essa milícia bolsonarista, assim, tão poderosamente armada, idêntico aliás ao que faz Maduro na Venezuela, o presidente ouvirá ainda a ponderação sensata de algum oficial general?

Neste caso, a hipótese de uma guerra civil, sobre a qual alertam os signatários da Nota, ganha contornos de realidade, e serão eles mesmos, que, sendo convocados, terão de trocar a bengala, pelo fuzil necessário para conter a ousadia descontrolada de milícias fanatizadas, e pulverizadas em núcleos sem comando.

Bolsonaro não tem limites, isso ele demonstra até mesmo na incapacidade de conter o absurdo das suas falas.

Na cabeça de alguém onde restar uma esquiva dose de sensatez, e isso com certeza ainda nos resta, a prioridade absoluta deveria ser a construção de um clima de pacificação nacional, primeiro agora, para vencer a pandemia, o que é também uma demonstração de humanidade que andamos a desprezar; depois, a reconstrução da economia, que exigirá, além de um clima interno de entendimento, muito mais competência, sensibilidade, criatividade, sintonia perfeita com os mercados globais.

O mapa para o caminho de escape imediato dessa tragédia já em curso, está ao alcance das nossas mãos: a Constituição brasileira, que determina, em caso de vacância do cargo de Presidente, a posse sem atropelos institucionais, do Vice, no caso o general Hamilton Mourão.

Esse trânsito rumo à razoabilidade, e que passa ao largo de delírios autoritários, está, agora, exclusivamente a cargo dos altos comandos militares. Em todos os níveis, eles devem estar meditando muito sobre o perigo representado por um chefe de Estado que alimenta a loucura de empoderar o povo armado. Para fazer-se ditador, amparado pelas milícias?

Ligeiramente, recorramos à História:

O ex-cabo do exército alemão, Adolf Hitler, em desafio aos generais, criou a sua milícia, as SS. Chegou ao poder, mas se viu ameaçado pela ascendência do chefe das Shutzstaffel, o exército nazista. Cercou-se de guarda costas, invadiu os alojamentos onde Ernest Röhem fazia uma orgia gay, e o crivou de balas, junto com seus guerreiros, em despreocupado amontoado horizontal.

As SS foram então domesticadas, até quando Hitler pode humilhar os seus outrora orgulhosos marechais e generais, oriundos de estirpes prussianas aristocráticas, e tornou-se, ele próprio, o chefe supremo das forças armadas, e da guerra, sem esquecer de antes mandar fuzilar os que ousaram desobedecê-lo.

NOTAS:

O S.O.S QUE NÃO OUVEM

Sabe-se, e isso não é novidade, que os ouvidos do Ministro da Economia são muito sensíveis aos apelos, ou às determinações dos círculos que giram em torno do mercado financeiro. Mas, a surdez de Paulo Guerra aos gritos de socorro dos empreendedores, que gravitam entre a micro, e a pequena empresa, se revela agora como uma deficiência resultante dos dogmas ultraliberais, que aprendeu na Escola de Chicago. Aliás, Guedes parou no tempo, porque mesmo Milton Friedman o guru de todos os “Chicagos boys”, chegou a reformular suas ideias, para adaptá-las melhor ao outro mundo, aquele mais abaixo, de onde circula a plutocracia, todavia gera muito mais emprego dos que as megaempresas somadas.

Os prometidos financiamentos, os apoios prometidos há mais de um mês, até agora não chegaram às carteiras dos gerentes de bancos.

Os empresários estão sendo sumariamente sufocados, e Guedes foi muito claro naquela reunião, ou seria baderna? Do dia 22, quando disse: “Dar dinheiro para a pequena empresa é jogar dinheiro fora”.

NEM SÓ DE CORONAVÍRUS

Apesar da carga de responsabilidade que recai sobre todos os hospitais, os públicos, principalmente, os demais setores das ciências médicas continuam operantes e, em alguns casos, aprofundando-se em pesquisas e experimentos pioneiros. No Hospital São Lucas comemora-se o primeiro transplante de medula óssea autólogo realizado em Sergipe. Trata-se da coleta de células tronco da medula óssea, que são congeladas e depois usadas num transplante programado. No caso em foco a coleta ocorreu em março e a aplicação num paciente com linfoma agressivo se deu no início de maio. Após esse procedimento, há um período de expectativas e muitos cuidados específicos e sofisticados, no acompanhamento da evolução do paciente. O procedimento chama-se autólogo, porque o próprio paciente é o doador das células tronco, que começam a produzir leucócitos, reduzindo a agressividade do câncer. No caso, já se constata uma visível melhora do paciente.

A equipe responsável pelo experimento pioneiro em Sergipe é coordenada pela Dra. Ana Carolina Silveira Sobral Paixão, e dela fazem parte dos Doutores Osvaldo Alves de Menezes Neto, Priscila Oliveira Percout e Ohana Carolina Machado Bispo Passos.

A doutora Ana Carolina, é filha do casal Vânia e Eliziário Silveira Sobral.

O Hospital São Lucas segue na linha de atualização com a ciência, o objetivo maior traçado pelo seu criador, o Doutor José Augusto Barreto .

A BARRAGEM E AS FAKE NEWS

Um dia ainda se fará um levantamento pormenorizado dos males causados à humanidade pelas fake news, essa epidemia levada a efeito por doentes morais que se especializam em gerar pânico e também no envenenamento do ambiente político.

Desgraças sociais, conflitos sangrentos, erros calamitosos ocorridos no processo de escolha de candidatos, são aspectos, da capacidade demolidora das falsas e criminosas informações.

Semana passada, quando chovia muito em Aracaju, espalhou-se que a Barragem do Poxim, que fica em São Cristovão, poderia romper, e certamente causaria uma catástrofe de proporções incalculáveis em Aracaju. A DESO começou a explicar o que na verdade acontecia, mas, enquanto essas informações transitavam pelas vias normais, a parte contaminada da internet continuava a gerar alardes.

O que sucedeu, como a DESO explicou, foi exatamente o contrário. A Barragem, desde que foi construída, como observa o engenheiro Carlos Melo, diretor da empresa, tem contribuído para conter as águas, e evitar inundações, que frequentemente se registravam em pontos mais baixos no sudoeste da cidade. Houve o sangramento, mas as barragens são construídas exatamente para que isso ocorra, quando alcançam o nível de segurança.

QUEM VAI COBRIR O PREJUÍZO?

A Organização Mundial da Saúde agora faz a constatação definitiva: a cloroquina não cura o Coronavírus, e, pelo contrário, mata o paciente. Charatães usaram o produto na fase inicial do ataque do vírus, quando, sem o agravamento, logo o paciente naturalmente se recupera. Então, cantavam o sucesso do medicamento. Agora está comprovado que a Cloroquina não tem nenhum efeito positivo. Muito pelo contrário. Como se sabe, o presidente Bolsonaro mandou que todo mundo tomasse cloroquina, mandou que os laboratórios das Forças Armadas passassem a fabricar o produto. Contrariou a opinião abalizada e com base científica de dois ex-ministros da Saúde, Mandetta e Teich. Os dois foram humilhados e demitidos. Sabe-se que muita gente ganhou bilhões com a cloroquina.

Do Tesouro Nacional, para as experiencias determinadas pelo presidente Bolsonaro, saíram mais de meio bilhão de reais. Muitos morreram e continuam morrendo em consequência da Cloroquina.

Quem vai pagar pelos prejuízos e ser responsabilizado pelas vidas perdidas?

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