Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS (107) (Último da série pandêmica)
24/08/2022
TEXTOS ANTIVIRAIS (107) (Último da série pandêmica)


SUA BENÇÃO SANTO PADIM CIÇO

O "Padim Ciço" agora Beato, chegará à santidade, que, faz muito tempo, o povo lhe credita.

É, aconteceu, Roma curvou-se ao Juazeiro do Norte, aquele, o Juazeiro do Padim Ciço.

Juazeiro não existiria sem o Padim Ciço, e ele não existiria sem o Juazeiro. E nenhum deles existiria não fosse a terra mágica do nordeste, terra de contrastes, de fúrias, de danações, de generosidade, terra génese e morada fértil para a espiritualidade, tantas vezes ingênua, tantas vezes arrastada pela telúrica vocação à credulidade, e, por isso, tornando possível separar a sede do corpo da sede do espírito, aquela, que vai além das vicissitudes, dos azares, ou dos dramas da existência; e se afirma, e transcende a matéria, para fundir-se numa esperança fluída que galvaniza  gerações.

Nesse cenário surgiu o padre Cícero Romão Batista, e ele soube acolher e entender a alma sertaneja.

Agora, beatificado pelo Papa Francisco, ele chega ao umbral da santidade.

Virão os “advogados do diabo”, enviados de Roma para investigar a sua vida, pesquisar sobre os alegados milagres. Descobrirão, por certo, que o agora beato cometeu em vida muitos erros, muitos desacertos. Envolveu-se em lutas partidárias, foi Prefeito do Juazeiro, vice–governador do Ceará, isso, depois que o seu pupilo e protegido Floro Bartolomeu liderou uma tropa de jagunços e enxotou do Palácio o governador. E quase proclama a República do Ceará.

Tempos depois, Juarez Távora, um dos tenentes da Coluna Prestes que fora escorraçada pelos “guerreiros do sol", vindos do Juazeiro, já em vias de tornar-se o poderoso “vice-rei" do nordeste, manda um telegrama ao padre Cícero informando que a Revolução estava vitoriosa, e que lhe fazia um apelo para que pacificasse e governasse os sertões do Carirí. Era a Revolução de 1930, da qual o Padim, negou-se a participar, explicando não desejar o seu povo envolvido nas guerras entre irmãos.

Sem dúvidas, os enviados de Roma remexerão baús e arcanos de uma História que é bem recente, e até poderão ter dúvidas suscitadas em face dos milagres de hóstias transformadas em sangue, na boca de beatas, e nas mãos do candidato à santificação.

Eles tomarão conhecimento das multidões acorrendo ao Santuário do Juazeiro, fazendo promessas ao Padim Ciço e agradecendo as graças recebidas. E aí eles constatarão o milagre de um simples Padre, que formou grande patrimônio, e o transformou numa caridosa obra permanente, alimentando o espírito e o corpo. Fez a divisão de terras, entregou a cada um o seu lote, ensinou a plantar, a respeitar as leis da natureza, preservando a mata nativa, as nascentes, e fez surgir em torno do seu nome e da sua obra, um oásis no sertão, onde não faltava emprego e não havia fome.

Juazeiro do Norte é hoje uma cidade próspera e de porte médio. Quando o seminarista ordenou-se, chegou, um dia ao local onde existiam três frondosos pés de Juazeiros e umas poucas taperas, fez construir uma Igreja, e fez sentida a sua Palavra. A cidade foi crescendo, ao lado dela a visão utópica realizando-se: o banimento do crime, dos vícios, as pessoas se desarmando, separando-se do “papo amarelo”, do clavinote, da “passarinheira”, da afiada peixeira.

E de todos os pontos do nordeste e além dele, (a fé desconhece a geografia) abriram-se caminhos, por onde a pé, a cavalo, em carroças, depois em caminhões, vinham os peregrinos “Romeiros do Padim Ciço”.

Um século depois, as romarias multiplicam-se, e multiplicam-se os  ardorosos penitentes.

Não é raro encontrar-se pela vestidão nordestina encarquilhados senhores e senhoras, do alto dos seus 70, 80, 90, dizendo, com indisfarçado orgulho: já fui ao Juazeiro, 50, 60, ou até 70 vezes. E alguns acrescentam: já ia quando criança, e nem  me lembro, meus pais me levavam, agora, eu quase digo que conheço todas as pedras da estrada.

Pessoas das capitais fazem o roteiro do Padim Ciço. Aqui, em Aracaju, o professor doutor Jose Paulino é uma dessas. Ele, além de ser estudioso da obra e dos fenômenos da Terra Santa nas caatingas, se deixa conduzir pelos eflúvios daquelas terras e daquelas gentes.

O ex-deputado e integralmente político, Jorge Araújo, faz, quase vinte anos, tem viajado regularmente ao Juazeiro. Se faz acompanhar invariavelmente por Aderaldo, vereador de Poço Redondo, uma voz que troveja, seja no verão ou no inverno.

Numa dessas viagens, ao chegar na madrugada a Poço Redondo para levar Aderaldo, de longe já ouvia a sua voz, que despertava a cidade, o encontrou na calçada, e descalço. Jorge não perguntou nada, porque sabia tratar-se de uma promessa. Seguiram por estradas empoeiradas até chegar a Rodelas, às margens do Velho Chico, na Bahia, para a travessia numa balsa. Um sol de quase dezembro esbraseava o chão e os ares, a água do rio parecia um fervedouro. Aderaldo faz impávido o percurso, sem aparentemente sentir, nos pés descalços, a aspereza e o calor das pedras. Chega à balsa, que era toda de ferro. Ao subir a rampa já começa a pular, dentro, estava pior, as chapas pareciam em brasa. Aderaldo vai abrigar-se ao lado da mureta, onde havia sombra, mas, embaixo havia o motor, e ali era um forno. Os pés quase torravam, e ele sem dar uma palavra. O vozeirão ficou mudo. 

Era a promessa ao Padim Ciço que teria de ser cumprida.

Aí está o grande milagre do Padre Cicero Romão: a têmpera da fé que ele desperta nas gentes. Este, é um feito muito maior, transcendente, bem além das outras virtudes almejadas, e nunca ao todo alcançadas. Com estes feitos, e estes fatos, os “inquisidores” vindos de Roma irão se defrontar, e é preciso que tenham a amplitude da razão para interpretá-los, no contexto e nas circunstâncias em que tudo aconteceu.

Beato agora o Padre Cícero, este escrevinhador, seu confesso devoto, fica a esperar que os tramites na Santa Sé corram menos espichados, para que ainda possa, ao lado da capelinha de Santo Antônio, sem nenhum demérito ao fulgurante Santo português, preparar uma outra, nordestinamente enfeitada, emoldurada pela caatinga, onde estará o Santo Padre Cícero Romão, Santo do nordeste, Santo brasileiro.

E que possamos então viver, não numa terra de santos, mas numa “Terra dos Homens“, onde a vida corra em busca da placidez, da harmonia daqueles caminhos dos Romeiros, evitando as encruzilhadas da odiosidade, com os cânticos da paz sufocando o rugir insensato das armas.

Que assim seja.

Sua benção, meu Santo Padrinho, Padre Cícero Romão do Juazeiro do Norte.

 

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16 de AGOSTO de 42: O NOSSO PERAL HARBOR

 

O 16 de agosto, agora, será data fixa e permanente no calendário cívico - cultural de Aracaju.

O padre José Lima no Seminário realizado no 28 BC.


Não se diga que cada povo tem a tragédia que merece. Nenhum povo merece uma tragédia, seja ela de qualquer amplitude. Sejam causadas pelos humanos, as piores, sejam pela natureza, eternamente indomada.

Aos vencedores, sempre ficam assinaladas as tragédias, a relembrar com a intensidade e a emoção do que se considera uma agressão pérfida e desmedida. Assim, os americanos destacam o ataque japonês a Peral Harbor, que os arrastou para a guerra; os ingleses, os devastadores bombardeios de Londres; os franceses os seus milhões de mortos em tantas e sucessivas guerras. Os russos, de Stalingrado.

Entre os derrotados, a tragédia sofrida há que se transformar, sempre, em um momento de expiação das culpas pelo que provocaram, e acabaram  também, sendo vítimas. É o caso do Japão com a hecatombe de Hiroshima e Nagasaki.

A Alemanha moderna, dá um exemplo de como se pode perenizar o arrependimento, condenando o crime eterno do nazismo, evocando as maiores tragédias da Segunda Guerra, e entre elas avulta o Holocausto, o frio e bárbaro extermínio, metodicamente planejado e executado pela horda desumana que vestia indigna farda: o Holocausto. O genocídio contra os judeus. Mais de seis milhões de mortos.

Guardadas as proporções, o Brasil, em Sergipe, foi palco de uma tragédia que poderia ser comparada a Peral Harbor americana, pela forma traiçoeira e letal como ocorreu. Foram 607 mortos dos dois navios Aníbal Benévolo e Baependi, afundados em nossas águas pelo submarino alemão U-507. E isso levou o Brasil a combater na Segunda Grande Guerra.

Aquele dia passará a ser a partir de agora, lembrado com cerimônias diversas todos os anos.

O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira anunciou, ao fim da comovente solenidade acontecida na tarde do dia 16, que o dia constará, para sempre, no calendário das nossas responsabilidades cívicas com a História.

Ao sul de onde estavam os representares da sociedade sergipana, tropas da Marinha, do Exército, da Aeronáutica, da Policia Militar de Sergipe e do Corpo Militar de Bombeiros, em torno do Farol da Atalaia, no mar, um barco da Marinha Brasileira lançava flores em homenagem aos mortos. Foi uma solenidade marcante, também, além de evocativa, didática para as novas gerações. Toda a Semana foi marcada por eventos: um Seminário no 28º BC sobre a Segunda Guerra, onde fizeram palestras os mais conceituados historiadores e escritores, que tratam do tema. No Aeroclube de Sergipe, que teve destacado papel no socorro às vitimas, foram relembrados os seus pilotos, os primeiros, no Brasil, a entrarem em operações de guerra.

Os eventos de agosto não teriam sido possíveis, não houvesse na Prefeitura de Aracaju, o entusiasmo do prefeito Edvaldo Nogueira, a competência e profissionalismo do professor Luciano Correia, Secretário de Cultura, a colaboração do Governo do Estado, o apoio do Comandante da Marinha de Guerra Almirante Garnier, a participação decisiva do capitão dos Portos em Sergipe, Capitão de Fragata Leandro Maciel Rodrigues, do comandante do 28º BC, coronel Leandro Cezar Pimentel Alves, entre tantos outros.

Lutando há tanto tempo para que se desse o devido valor àquela data histórica, esteva, naquele dia plenamente realizado, o piloto da Latam, o sergipano André Cabral.

 

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CIRO, PROFESSORAL E BOLSONARO, RUDE

Ciro professoral e convincente. Bolsonaro, aluno desatento, que gazeia para passear de moto.

 

Das duas entrevistas exibidas no Jornal Nacional, iniciando a série que terá Lula nessa quinta e Tebet na sexta, sem nenhum proselitismo ou tendência partidária se poderá concluir, com plena convicção, que, na primeira tivemos um entrevistado carente de tudo, inclusive de conhecimento e respeito à verdade, diante de entrevistadores, que, além da empáfia, pouco acrescentaram à mediocridade de um pífio perguntar arrogante, e as respostas no mesmo diapasão de um presidente da República, que dedicou-se, prioritariamente, a tumultuar a República.

Já Ciro Gomes, este, deu uma magistral aula sobre os problemas do Brasil, e foi mais além, apontando exatamente como seriam exequíveis as ideias que apresentou, para fazer deste Brasil, agora assustado e dividido, um país confiante, unido, sem os traumas de uma corrosiva “guerrilha ideológica”, que já nos leva ao destempero, e ao pior nível de amesquinhamento da inteligência: a contaminação pelo culto à personalidade, e fanatismo religioso.

 

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