LAÉRCIO SAVONAROLA OU LAÉRCIO TORQUEMADA ?
O deputado federal Laércio Oliveira, agora candidato ao Senado Federal, não é um cidadão afeito à leitura. Ele deve dar prioridade a textos mais atrativos: balancetes das suas prósperas empresas, ou, da prazerosa vista pelas linhas concisas dos extratos bancários, onde aufere o prazer de vê-los, cada vez mais recheados, certamente, pela sua competência empresarial, sem descurar do reforço político, que facilita o trânsito, quando existe a base do prestígio.
Depois desse vídeo (foto acima) tão surpreendente quanto decepcionante, ou assustador, que sua empresa de mídia intensamente distribuiu, Laércio poderia, sem muito esforço, recorrer à leitura leve da biografia de dois frades famosos, que viveram entre a Idade Média e o Renascimento: Tomás Torquemada e Jerônimo Savonarola. O primeiro, ficou tristemente conhecido como o maior dos Inquisidores, ou seja, aquele que mandou mais hereges a irem expiar seus pecados nas fogueiras da Santa Inquisição. Contam, alguns dos seus biógrafos, que, enquanto subia a fumaça e a cidade espanhola de Sevilha era invadida pelo cheiro incomum da carne humana tostada, o frade, em atitude de contrição, dava graças aos céus por ter livrado aquela alma de ir padecer eternamente nos domínios tenebrosos de Lúcifer, que ele, o todo poderoso Inquisidor absolvia, pelo martírio do fogo. Um detalhe: Torquemada, o frade piedoso, determinava que a fogueira fosse atiçada lentamente, para prolongar o padecimento do inditoso, ou inditosa, churrasqueados.
Savonarola, um frade de Florença, onde as artes avançavam, e o comércio abria portas ao mundo conhecido, também, como integrante devotado do Santo Ofício, fez escurecer os ares florentinos com o arder constante das suas crepitantes e fumarentas fogueiras, que tanto queimavam viventes ímpios, como os seus cadáveres, caso fosse constatado, a tempo, que o defunto havia transgredido algumas das ordenações, entre elas, a descoberta de que o inditoso houvera praticado a homossexualidade, a bigamia, fosse maçom, judeu, ou se deixado contaminar por alguma heresia, a mais visada, e recente: o protestantismo, criado por Martinho Lutero, frade que escapou do fogaréu santo.
Depois de tomar conhecimento do que foi a Inquisição, e o que fizeram os Inquisidores com as suas “santificadas fogueiras”, o deputado Laércio Oliveira, que não é insensato, e muito menos desinteligente, constatará, então, que aquela montagem feita no vídeo onde aparece o líder político lagartense Sérgio Reis apresentando a sua candidata ao Senado Daniele Garcia, é, além de deselegante, absurdo, e revelador da maldade reprimida de quem elaborou a peça infame, e, mais ainda, do candidato que permitiu que fosse postada, com a sua foto enorme nas redes sociais.
Na manipulação feita, há sinais de técnica eficaz, e também da evidencia gritante de estupidez. A frase EITA SÉRGIO TRAIDOR, é, além de atestado de indigência política, uma demonstração de ódio, expressa exatamente na fogueira, onde colocaram o “Traidor”, e a candidata Daniela, adversária de Laércio. Ele aparece ao fundo da cena e com rosto ampliado. Há, na sua face, uma expressão de fria vingança executada, de satisfação contida, e arrogância tão desmedida, que o faz, virtualmente, exercer o papel horripilante de um Torquemada, ou Savonarola.
E através dos óculos, o que significaria aquele olhar mortiço de Laércio fixado na fogueira?
Uma coisa salta aos olhos de quem não os tem mortiços: político, na acepção da palavra, Laércio não é.
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NO PROJETO DO SEMIÁRIDO SURGE A ADUTORA DO LEITE
Do úbere da vaca sai o "petróleo branco" do semiárido.
O que é afinal uma adutora do leite?
Não se imagine que seria um “lactoduto", ou canal onde copiosamente escorreria aquele enriquecido líquido branco, a atravessar terras quase sempre ressequidas do sertão sergipano.
Afinal, pelo que se sabe, a terra onde escorria o leite e o mel, é a Canaã bíblica.
Mais esturricada do que o nosso semiárido, todavia, para quem vagava pelo deserto imenso, e chegava onde havia um rio, mesmo miúdo, como vem a ser o Jordão, e contemplava as águas salinas, todavia dadivosas do Mediterrâneo, ou do modesto lago doce da Galileia, sem dúvidas, tudo aquilo se assemelharia à “terra prometida”, sonhada pelos judeus errantes, desde tempos imemoriais perseguidos e exterminados.
O termo Adutora do Leite surgiu aqui neste espaço, onde, insistentemente o semiárido tem sido enfocado, com ênfase nas ações em andamento, ou que precisam ser iniciadas; também, nas ideias que possam merecer apoio institucional ou a adesão do empreendedorismo. Quando os dois se juntam, é a fórmula perfeita.
Agora, a satisfação imensa é constatar que o termo ADUTORA DO LEITE, está incluído, com destaque, no programa de governo do candidato Fábio Mitidieri, que tão bem contempla o semiárido, quem o habita, e os problemas que enfrentam.
Naqueles anos em que o semiárido sergipano com toda sua conotação de área problema, sempre pesadamente fustigado pelas secas, o agravamento da miséria era atenuado com os pedidos de “esmolas", e tudo parecia ficar acomodado.
Chegou-se a sugerir que a solução para os problemas da “terra inapropriada à vida” estaria exatamente no desesperado êxodo em massa dos nordestinos, demandando o “sul maravilha”, onde seriam uma mão de obra barata, e bem comportada. E os “paus de arara”, aqueles ronceiros caminhões levando gente na boleia amontoada como gado, faziam subir poeira pelos encastrados caminhos.
No que diz respeito ao semiárido sergipano, há uma mudança que ocorre, talvez sem muita visibilidade externa, mas, quem chega a Nossa Senhora da Glória, ao povoado Santa Rosa do Ermírio, em Poço Redondo, quem contempla os milharais de Carira, e o azáfama do transporte das safras, sente a pujança de uma economia em expansão, afastando a descrença e transformando pessimismo em esperança.
O semiárido é agora uma importante bacia leiteira. Lá, além dos rebanhos, hoje com alta qualidade genética, há três grandes laticínios, e mais de 200 de pequeno porte, produzindo o queijo e a manteiga. Mais de cem mil pessoas estão direta ou indiretamente envolvidas nessas atividades.
O São Francisco corre paralelo ao nosso semiárido, e Sergipe soube aproveitar muito bem suas águas. Desde Lourival Baptista, que iniciou a primeira adutora, enfrentando a objeção dos técnicos da SUDENE, e o dirigente do CONDESE, Juarez Alves Costa, servidor público competente e cidadão exemplar, soube convencê-los do erro, todos os sucessivos governadores foram implantando a rede que hoje atende a mais de 70% da população sergipana. A maior, com quase cem km, a adutora Propriá–Aracaju, construída no governo Augusto Franco em parceria com a PETROBRAS. É, já houve tempo em que a estatal petroleira sabia onde ficava Sergipe.
A bacia leiteira do sertão sergipano precisa urgentemente de água, e de água a baixo custo, e farta. A solução continua da mesma forma como antes, ali bem perto: no Velho Chico. A primeira Adutora do Leite, já definiu Mitidieri em seu programa, será exatamente aquela, vista como prioritária, indo das margens do rio em Poço Redondo até Santa Rosa do Ermírio, o polo leiteiro, base da economia da região.
O projeto precisa ser ainda elaborado, ficando definido se o objetivo será unicamente à dessedentação dos rebanhos, (por isso a água não precisa ser tratada) ou haverá a possibilidade de imaginar-se, também, áreas irrigadas para o plantio das forrageiras. Provavelmente, seria mais viável o aproveitamento de várzeas junto ao rio, e utilizá-las. Uma frota de caminhões (elétricos) faria o transporte da silagem. Para mover as bombas, que, no caso, não fariam uma elevação significativa, a energia poderia ser gerada através de equipamentos fotovoltaicos ou eólicos, a depender de estudos pertinentes. Mas, com certeza, dessa forma, os custos seriam reduzidos, e o polo leiteiro avançaria em produção e produtividade. Depois da primeira ADUTORA DO LEITE, outras poderiam surgir, adotando-se o mesmo modelo.
Com disposição para fazer e vontade política para concretizar, as coisas acontecem, como aliás têm acontecido, a despeito dos tempos difíceis e do tumulto inconsequente e improdutivo que atravessamos.
É essencial que existam o entrosamento, a sintonia de objetivos entre a bancada federal a ser eleita, e também com o novo governo federal. Isso caberá a Mitidieri alcançar, se vier a ser eleito.
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DAQUELES CONFINS SELVAGENS DA AMAZÔNIA AO AR CONDICIONADO
O sepulcro da promessa da moralidade público.
Um jovem tenente e um calejado sargento do Exército, por idealismo e cumprimento de missão, destacados para um quartel fronteiriço na Amazônia, rodeado por centenas de quilômetros de selvas, mas, em contato com o mundo, dispondo de sofisticados meios de comunicação, todavia, enfrentando mosquitos, tomando cloroquina para livrar-se da malária, (para isso ela serve) e cobrindo numa margem estreita as despesas das famílias distantes, com o soldo modesto que recebem, tomam conhecimento, quase com incredulidade, que generais, bem acomodados no ar condicionado palaciano, receberam a título de compensações, pagamento de férias, ou outros motivos que sejam, somas que em alguns casos chegam a um milhão de reais, o que corresponderia a um salário mensal acima de oitenta mil reais. Mas aquelas somas são adicionadas aos soldos normais. E eles, o tenente e o sargento, olham os seus holerites e os comparam às vantagens dos felizes ocupantes do Planalto. Ah!, mas são apenas tenente e sargento, aqueles da selva; os do ar condicionado, tratam-se de oficiais-generais, último posto da carreira.
O tenente e o sargento são disciplinados, têm amor à Força que integram, gritam: Selvaaa, com muito orgulho, por saber que naqueles fins de mundo, tão longe dos gabinetes refrigerados em Brasília, eles desempenham uma função primordial, e que exige imensos sacrifícios. Por ali, além das endemias, das asperezas da “selva hórrida” como a classificou um naturalista, há traficantes armados, garimpeiros que se tornam ameaçadores quando incomodados, há contrabando de armas, de minérios, tudo circulando pelos rios; as fronteiras estão próximas, mas são imprecisas, e é preciso vigiá-las. Pelos rios, chegam vez por outra barcos da Marinha, da Policia Federal; esporadicamente, se vê entre as nuvens um avião Super–Tucano, em busca de aeronaves suspeitas, e o tenente e o sargento, no isolamento da selva, sabem que todos desempenham missões que envolvem riscos, e que todos recebem, como eles mesmos, o mesmo soldo, que não é ruim, mas não vai além do razoável.
Então, o que dirão em diálogo mudo com os seus botões, sobre o imenso fosso aético que continua sendo o marco entre os beneficiados pelos privilégios, e os que dependem exclusivamente do próprio mérito. Seriam ilegais, as benesses milionárias? É quase certo que estão previstas em leis, ou regulamentos. Mas, quem os fazem?
Rememoremos então: O marechal de exército, Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente do ciclo militar, era um cidadão com vida quase espartana. Solitário e sofrido viúvo de Dona Argentina, a quem enviava do
front italiano cartas repletas de saudade, e de algumas decepções pessoais, ele chegou à presidência “eleito pelas baionetas", e com a tarefa ingente e urgente de pacificar o país, e conter o que, na época, denominava-se conluio entre subversão e corrupção.
Castelo, pragmático, entendeu que o seu exemplo pessoal de vida austera e sóbria, seria o elemento indispensável para manter a própria autoridade. Nunca se transformou em exibido moralista, mas, quando o seu irmão que dirigia modesto setor de uma repartição pública federal concedeu benefícios a ele próprio, e aos demais servidores, foi implacavelmente exonerado.
Seu filho, que era oficial de Marinha, permaneceu no posto que ocupava antes, não costumava frequentar palácios, nem dava qualquer opinião sobre o governo.
Quase não se ouvia falar sobre ele. De Castelo, o que se comentava à boca miúda, era a sua frequente ida aos espetáculos de Teatro, principalmente, quando estrelava a fascinante Tônia Carrero. Ela teria sido uma paixão do marechal circunspecto.
Tânia Carrero, se viva, teria completado cem anos este mês.
Costa e Silva, ao contrário de Castelo, era extrovertido e falastrão.Teria sido derrubado pela “linha dura“ caso não assinasse o fero Ato Institucional nº 5. Seu filho, Élcio, oficial do Exército pediu reforma, e foi montar um escritório de contabilidade. Não consta que tenha recebido favorecimentos. Dos filhos de Médici se pode dizer o mesmo. Economistas, continuaram trabalhando em Porto Alegre, e eram desconhecidos anônimos.
Geisel, tinha uma filha única, seu filho homem morreu criança, atropelado por um trem em Santa Maria (RGS) quando ele, capitão, lá servia.
Lucy Geisel, a filha, era funcionária da FUNARTE, muito ligada aos movimentos culturais, e lá permaneceu. Seu irmão, o general Orlando, “linha duríssima", era Ministro do Exército, e Geisel não o manteve ao tornar-se presidente. E ele, calado sempre, foi curtir o pijama.
Figueiredo, em tempo de abertura e com imprensa sem censura, tinha dois irmãos generais como ele, eram quase mudos, e seguiram rigorosamente a ordem da lista de promoção. Dele, além de piadas jocosas, o que se criticou com maior ênfase foi a morada dos seus cavalos na Granja do Torto, onde ele residia. Dizia-se que alimentavam-se, com alfafa e cenoura pagas pelos cofres públicos. Figueiredo, como era seu estilo, respondeu quase desferindo um coice verbal, todavia, sem recorrer ao baixo calão. Ele gostava de cavalos e também de motos, mas, ao pilotá-las, usava capacete e circulava sem seguranças e anônimo pelas ruas de Brasília no trajeto entre o Alvorada e as casas onde moravam suas prediletas. Morreu pobre, como os seus antecessores, e desiludido com a política brasileira.
Exemplos, sem duvidas constroem, mas, Dilma Roussef, que os cultivava, não conseguiu salvar-se do impeachment, um golpe sim, mas permitido por ela própria, que era tão inepta para governar, quanto rigorosa no trato pessoal com dinheiro público. Tinha uma filha em Aracaju Procuradora Federal. Dilma, quando Ministra de Lula, vinha periodicamente visitá-la nos fins de semana. Desembarcava dos aviões de carreira, e tomava um táxi para levá-la ao destino na cidade.
Os bons exemplos as vezes, de imediato, não servem para nada, mas, permanecem lembrados e exaltados ao longo da História. Já os maus exemplos, contaminam, destroem, minam a autoridade, avacalham o conceito de República; mais ainda, quando cartões corporativos, atos de governo, ou suas falhas, são ocultados pela decretação de segredo por cem anos. Até lá, a devastação moral nunca estará ocultada, e restará registrada numa página compungida da nossa história.
Por oportuna, cabe a pergunta: o que diria o atual presidente quando era candidato, prometendo prender, matar e esfolar desonestos e descuidados com o dinheiro do povo, se, naquela ocasião repleta de promessas mil, soubesse que servidores públicos da área federal haviam recebido, em vantagens, o mesmo que aquelas somas vultosas, que ele, hoje, sem nenhum constrangimento fartamente autoriza?
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