Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
TEXTOS ANTIVIRAIS (105)
10/08/2022
TEXTOS ANTIVIRAIS (105)

 

AQUELA DATA QUE DEVERIA SER SEMPRE LEMBRADA EM SERGIPE


Aconteceu em agosto de 1942. Foi a grande tragédia sergipana, e também brasileira, durante a Segunda Grande Guerra, da qual ainda estávamos nos imaginando afastados e neutros. Era uma falsa sensação, porque, desde 1939 o mundo incendiara-se, e as tropas hitleristas há dois anos ocupavam a França; travavam combates nos desertos da África do Norte. Depois de rompido o vergonhoso pacto entre os dois déspotas, o nazista Hitler e o comunista Stalin, que deu início à guerra em setembro de 1939, quando os dois, juntos, invadiram e repartiram a Polonia, os maiores exércitos que o mundo já vira reunidos, em 1942, combatiam nos arredores de Moscou, e ao sul, cercavam Stalingrado. A Inglaterra salvara-se por um triz, quando Hitler a imaginou vencida pela força devastadora da sua Força Aérea, mas a ilha resistiu e sobreviveu. Os japoneses empurraram o colosso americano para a guerra, atacando Peral Harbor. 
O saliente brasileiro sobre o Atlântico Sul, ou seja o Rio Grande do Norte, tornara-se uma área estratégica, indispensável, para que os americanos atravessassem o Atlântico no ponto onde ele é mais estreito, montassem uma cabeça de ponte na África, e dali avançassem, atravessassem o Mediterrâneo para o desembarque na Itália, começando a desmontar a “Fortaleza Europa”, como Hitler denominava o continente que ele subjugara.
Desde que os Estados Unidos envolveram-se na guerra em dezembro de 1941, Getúlio já sabia que o Brasil não poderia permanecer naquele jogo, oscilando entre os dois lados, e pendendo para o campo totalitário. Não imaginaram, ele, e os seus generais e almirantes que a guerra chegaria às nossas praias. Estavam também, quase certos, de que não cedendo espaço para as bases no nordeste reivindicada pelos americanos, haveria uma inevitável ocupação. Por isso, Getulio já declarara solidariedade aos Estados Unidos em janeiro de 1942, mas, nem cogitava de entrar direto no conflito, embora, em águas internacionais, navios brasileiros eram afundados por submarinos alemães, e já estivessem, no Brasil, aviões e barcos americanos operando na patrulha do Atlântico Sul, com a participação de aviões da recém criada Força Aérea, a FAB, e barcos da nossa Marinha. Um dos aviões da FAB atacou, sem êxito, um submarino alemão, o que teria enfurecido o comandante da imensa frota, almirante Döenitz.
Então, chegou às costas sergipanas o submarino U-507, e disparou seus torpedos devastadores na noite de 15 de agosto contra o Baependi, e o Araraquara, no dia 16 afundou o Aníbal Benévolo que navegava para aportar em Aracaju. Depois, ao longo da costa baiana foram mais navios e mais mortos. Foram 607, contados e identificados, quase todos sepultados entre a barra da Estancia e a foz do Vasa Barris.
Sergipe foi, assim, o primeiro estado da Federação brasileira a sofrer as consequências da guerra, e aqui, houve um cenário de desespero, medo, (centenas fugiram da cidade com receio de uma invasão e bombardeios) também heroísmo, e indignação.
Os pilotos do Aeroclube de Sergipe seriam os primeiros a se envolverem em operações de guerra, fazendo o que era possível e até impensável nos frágeis Piper-Cubs, monomotores de dois assentos, desarmados, sem rádio, tentando a localização em alto mar dos destroços e sobreviventes, depois, aterrissando nas praias, recebendo, dos sobreviventes, as informações completas da tragédia. No grupo chefiado pelo instrutor e fundador do Aeroclube Walter de Assis Ferreira Baptista, estava Lourival Bomfim,  primeiro piloto e médico brasileiro, a prestar  socorro em solo brasileiro, a feridos numa operação de guerra.
Depois, em Aracaju, haveria a explosão da revolta, depredação de casas e negócios de alemães, italianos, e brasileiros considerados adeptos do nazifascismo, os chamados quinta–colunas, suspeitos de espionagem. O mais visado era o rico empresário Nicola Mandarino, entusiasta do regime fascista italiano. O mesmo aconteceu por todo o país, mais intensamente na capital federal o Rio de Janeiro. Forçado pelas circunstancias, o ditador Getúlio Vargas em 29 de agosto declarava guerra aos países do Eixo: Alemanha, Itália, e Japão. 
Presente no teatro de guerra o Brasil só estaria dois anos depois, com duas divisões do Exército e uma esquadrilha da FAB. Embora chegando nos últimos meses da conflagração, os brasileiros demonstraram tenacidade, e deixaram, entre as populações dos locais onde estiveram como vitoriosos conquistadores a imagem de um povo cordial, e solidário, que, mesmo numa guerra, não perdia o nobre sentimento de fraternidade humana.
Por isso, como tanto lembra o piloto sergipano André Cabral, estudioso da Segunda Guerra, nas datas alusivas, ou em locais onde tombaram brasileiros mortos, como no caso do piloto de guerra sergipano Aurélio Vieira Sampaio, os italianos promovem, todos os anos, comoventes homenagens.
Por aqui, restou esquecida a tragedia que deu início à guerra, com um número de mortos superior aos registrados nos sete meses de combates terrestres e aéreos na Itália.
Quando diretora do departamento de cultura a professora Nubia Marques construiu um mausoléu no Mosqueiro, e colocou ali os ossos de muitos náufragos, retirados de covas ainda visíveis nas praias.
A Marinha do Brasil construiu em local próximo um singelo memorial, onde estão uma parte dos restos mortais das vítimas. Ali, todos os anos a Força Naval presta homenagem às vítimas do ataque traiçoeiro.
O prefeito Edvaldo Nogueira resolveu, na passagem agora dos oitenta anos, dar uma maior amplitude, organizando uma homenagem com a participação dos militares e de todos os segmentos da nossa coletividade. Servirá como lembrança comovida da nossa história, e também de estimulo para que ela seja melhor estudada e melhor entendida.
No dia 16, às 16 horas, inicia-se a solenidade no quadrilátero interno do Farol da Marinha Brasileira, no início norte da Orla da Atalaia, em frente ao estuário do Sergipe.
A organização ficou a cargo do representante da Marinha o capitão de fragata Luciano Maciel Rodrigues, Capitão dos Portos. Participarão representantes dos três poderes, da área acadêmica; representações da Marinha, Exército, Aeronáutica, da Policia Militar de Sergipe e do Corpo Militar de Bombeiros de Sergipe. Haverá uma apresentação da Banda do 28º Batalhão de Caçadores, e de uma fração da Orquestra Sinfônica de Sergipe. No mar, ao sul do evento, estará um navio da Marinha de Guerra que, a partir do escurecer, acenderá as luzes, e fará o lançamento de flores ao mar como homenagem aos mortos. 
Paralelamente, ocorrerá no Aeroclube de Sergipe, no domingo dia quatorze, um ato lembrando a participação dos seus pilotos nas ações de salvamento e patrulha.
No auditório do 28º BC haverá o Seminário Sergipe na Segunda Guerra, com exposição de fotos e palestras proferidas por renomados historiadores convidados. Será a partir das oito horas da manhã, do dia 13 de agosto. 
A iniciativa dessas palestras é do estudioso da nossa história na Segunda Guerra o piloto sergipano André Cabral, e do GRUSEF, Grupo Sergipano de Estudos da FEB.
A ambientação da cerimonia ficou a cargo do arquiteto Ézio Déda, diretor da área cultural do Instituto BANESE.
Pela Prefeitura, toda a coordenação e execução do evento ficou sob a responsabilidade do Secretário de Cultura, o jornalista e professor Luciano Correia.
O Memorial dos Naufrágios e da Guerra, idealizado pelo governador Belivaldo Chagas, é agora um projeto sendo finalizado. Será exigida uma licitação internacional para que venha a ser construído. O local inicialmente pensado, a Nova Orla da Atalaia, quase em frente onde ocorreram os torpedeamentos, está merecendo sugestões para que se localize na Orla inicial, por ficar mais próximo da movimentação turística, e assim receber um número maior de visitantes.

 

A PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO

O DECRETO CRIANDO A COMISSÃO ORGANIZADORA

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