Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
TEXTOS ANTIVIRAIS (101)
11/07/2022
TEXTOS ANTIVIRAIS (101)

UMA RODOVIA E 117 QUEBRA-MOLAS

O quebra-molas, uma lembrança do atraso.

 

Ao longo da  importante rodovia turística chamada “Rota do Sertão'', multiplicam-se os quebra- molas. O nome, tanto é jocoso, quanto depreciativo, jamais elogioso. Mesmo assim, eles já ultrapassam a casa dos 117. A contagem poderá ser um tanto imprecisa, variando, pela dificuldade de fazê-la, enquanto se repete a penitência de frear e acelerar para seguir em frente,  percorrendo a sucessão exaustiva da malsinada invenção. Ah! Dirão alguns, mas esses obstáculos protegem vidas, evitam atropelamentos. Disso, não restam dúvidas. O que se questiona é  a ausência de critérios para criá-los. Tudo se fez atabalhoadamente. Os ditos cujos, são encontrados no sopé e no topo de ladeiras, é possível imaginar-se o que sofrem motoristas de caminhões ou de coletivos, transportando cargas pesadas, ou passageiros, submetidos aos sacolejos repetidos. Um motorista de ônibus turístico, com passagens diárias através daquele suplício, convivendo com o desconforto que gera reclamações frequentes dos  passageiros, fez um cálculo aproximado, e constatou que o consumo do combustível em virtude dos freios e acelerações aumenta em torno de 5%.  
Rodovias existem para que o tráfego flua livremente, se possível, de forma constante, sem interrupções, desde que sejam obedecidas as regras de trânsito.
A devida proteção de segurança, com redução de velocidade, é indispensável nas proximidades de hospitais, escolas, ou de aglomerações urbanas, e pode ser assegurada com sistemas eletrônicos de controle, sem uso do trambolho, também causador de acidentes, principalmente com motoqueiros.
Não há motivo para castigar tanto quem trafega pela Rota do Sertão, na maior parte do seu trajeto percorrendo áreas de baixa densidade populacional. 
Quase toda a produção do semiárido passa pela Rota, também, um fluxo permanente de pessoas direcionado ao segundo polo turístico de Sergipe, o Cânion de Xingó. Somente ao complexo Karrancas, chegam, diariamente, centenas de turistas que se deslocam pela Rota, na sua maioria em vans e ônibus. O trajeto, desde o entroncamento em Itabaiana com a BR-235, até Canindé do São Francisco, tem aproximadamente 140 km. Poderia ser tranquilamente percorrido em uma hora e meia, mas, os coletivos gastam mais de duas horas. É um martírio para o turista que sai de Aracaju para ir e voltar no mesmo dia.
Miúdos interesses politiqueiros geraram essa situação. Sobre o interesse público, prevalecem privilégios na escolha dos locais para os quebra- molas, alguns, malandramente colocados, para forçar a parada em frente a comércios, em outros casos, os prefeitos, ao invés de instalarem semáforos nos cruzamentos, enchem de quebra-molas os trechos urbanos da Rota do Sertão. Só na área central de Ribeirópolis, por exemplo, são dezoito.
Ao longo da estrada, há locais onde ocorreram atropelamentos,  batidas, com vítimas fatais, e neles foram surgindo os quebra-molas, e construídas as Santa Cruz de beira de estrada, um ato de devoção e saudade, que não atrapalha, pelo contrário, casa com uma tradição religiosa nordestina.
O tosco quebra-molas, é apenas uma resiliência do subdesenvolvimento. Sabe-se que eles surgem nos locais onde ocorreram acidentes fatais, mas ninguém sabe quantos acidentes acontecem por causa deles.
Aquelas lombadas  que evidenciam o nosso atraso, há muito tempo já deveriam ter sido removidas, e substituídas pelos “pardais”, que geram multas  para os que ultrapassam os limites de velocidade.
Quando Albano foi governador, a esposa Leonor, prestava assistência direta aos feridos e às famílias dos que perderam a vida na  tragédia do ônibus incendiado em Poço Redondo. Ela percorreu várias vezes o trecho. Aracaju – Poço Redondo. A estrada ainda não era a remodelada Rota do Sertão, mas, já tinha um elevado número de quebra-molas. Leonor, irritada, entendendo que os quebra-molas retardavam as ambulâncias, chamou o diretor do DER e deu-lhe a ordem: demolir tudo em 72 horas.
A ordem foi literalmente cumprida, mas exageraram, eliminando até os que eram necessários e obrigatórios pelas regras de trânsito.
Com pouco tempo, foram sendo reconstruídos, na medida em que acidentes ocorriam. 
Quando Marcelo Déda, no seu primeiro ano de governo, recuperou toda a rodovia e deu-lhe o nome de Rota do Sertão, escolheu Poço Redondo para fazer a inauguração. Concluída a solenidade e os discursos, Frei Enoque Salvador de Melo, pediu licença para quebrar o protocolo porque queria fazer uma advertência. Déda aquiesceu, dizendo-lhe que ele tinha todo o direito, porque era o dono da festa.
Frei Enoque renovou os elogios pela estrada, disse que existia uma boa sinalização, mas, como o asfalto era perfeito, os motoristas iriam correr muito, e isso, sem quebra - molas era um perigo, porque na região havia muitos jegues, e eles gostavam de passear pela estrada, por isso, ele já vislumbrava acidentes em série. Déda pediu-lhe desculpas, tomou-lhe o microfone da mão e respondeu: “Meu caríssimo e respeitado Frei Enoque, o governo fez esta estrada, e vai cuidar para que ela se mantenha em boas condições, e o senhor que é prefeito tome conta dos seus jegues.”
Agora, quando os jegues se tornam raridades, o governador Belivaldo resolveu acabar com o tormento dos quebra-molas, mas, está instalando em lugar deles os radares. Isso fará com que o limite de velocidade seja rigorosamente mantido nos locais  onde são indispensáveis. Haverá um tempo para adaptação,   sem aplicação de multas. Depois, se fará, como é usual em todo mundo, a punição do transgressor afetando o seu bolso.
E a Rota do Sertão, finalmente, dará sossego aos que a utilizam transportando cargas, aos turistas, mais eficiência às ambulâncias que socorrem, também, rapidez para a Polícia, os Bombeiros, na execução das suas tarefas.
Mas, é preciso que pelo menos oitenta por cento dos quebra-molas sejam sumariamente demolidos.
 

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SERGIPE: ENTRE UM  VELHO “OURO NEGRO" E O NOVO “OURO BRANCO”


Em Sergipe o "ouro branco" é o leite.

 

De 1963 até quase agora, Sergipe viveu a “era do ouro negro”. Isso parece que acabou, embora existam promessas sobre uma nova “era do gás”, que começaria nos próximos cinco anos, quando, outra vez, o petróleo também voltaria a ser importante,   o “ouro negro”, retirado das profundezas distantes do mar.
Mas, lá pelo sertão sergipano já nasce a nova era: a do “ouro branco” , ou seja, do leite.
Produzir leite em Sergipe sempre foi uma atividade acanhada,  limitada a poucos produtores, quase todos entre a praia e o agreste. Nos arredores de Aracaju, concentravam-se os principais. Nenhum deles chegando perto dos mil litros diários.
Um conceituado comerciante e industrial, bem ali, onde fica hoje a avenida Osvaldo Aranha, a mais importante via de acesso a Aracaju, tinha um sítio e nele começou a criar vacas holandesas de alta qualidade genética. Era o pioneiro e visionário José Garcez Vieira. Alcançou uma produção, para a época, bastante elevada.
Havia a Cooperativa Sergipana de Laticínios, processadora de leite criada pelo próprio governo, que a terceirizava. Ali, se fazia a pasteurização, e produzia-se diminuta quantidade de queijo e manteiga. O leite in natura circulava pela cidade vendido em carroças puxadas a burro, isso, até a metade da década dos anos sessenta. Na frente das residências colocava-se um litro de vidro transparente junto à porta. O leiteiro chegava, abria a garrafa e derramava o leite, que ali ficava, enquanto as pessoas passavam pela calçada e ninguém mexia, exceto, uns poucos estudantes do Atheneu, que madrugavam para irem à aula de educação física, e esvaziavam uma ou outra garrafa. A conta do leite era paga mensalmente.
No interior, cada um que tinha condições, tratava de produzir o próprio leite para a família, criando umas vaquinhas.
A CSL fez um avanço, quando passou a oferecer o leite em sacos plásticos. Em Arauá, um fazendeiro de muita visão, seu Joaldo da Buril, gostava de criar vacas leiteiras, e instalou um laticínio moderno, o Buril. Por um bom tempo dominou o mercado, que se ampliava, enquanto a CSL por ausência de gestão fechava as portas. O Buril acabaria também, anos depois, talvez, sem suportar a concorrência dos grandes laticínios multinacionais que já ofereciam o leite longa vida. Mas, então, em Nossa Senhora da Glória anunciava-se o início da “era do ouro branco”. Surgia o laticínio NATVILLE , agora, parte de um complexo verticalizado de produção leiteira tocado pela empresária Janier. Depois, o BETÂNIA, de um grupo pernambucano. Um mais novo, o NUTLACT, de pequenos empresários, já alcançando um médio porte. Além disso, há uma rede vistosa e dinâmica de pequenos laticínios espalhados pelo sertão.
Ao mesmo tempo, expandia-se a bacia leiteira, deslocando-se quase inteiramente para o semiárido, tendo, em Santa Rosa do Ermírio, nos ermos ressequidos de Poço Redondo o seu polo mais destacado e promissor.
Quinta-feira à noite, véspera de feriado sergipano, no restaurante anexo ao hotel e posto de gasolina do grupo Barreto, em Nossa Senhora da Glória, numa mesa, dois empresários manobrando os hashis provavam um sushi de excelente qualidade, tomavam chopp, e conversavam sobre negócios. Antecipavam cifras da próxima colheita do milho, discorriam sobre máquinas agrícolas de última geração, e a introdução definitiva dos drones na agricultura tecnificada. E faziam projeções para o crescimento da cadeia produtiva do leite, enquanto, um deles, que mostrava conhecer os mais adiantados centros do agronegócio, dizia que nenhum local do Brasil o surpreendeu tanto nos últimos anos, como o crescimento da economia leiteira em Sergipe. Faziam, também, referência à reabertura próxima do laticínio SABE, como a melhor notícia para o negócio do leite.
Aquela indústria moderna, com capacidade de processar 500 mil litros diários, permanece fechada há  quatro anos. Destoando do comportamento ético, tradicional no Grupo FRANCO, desde os seus primórdios, quando criado pelo Dr. Augusto, o SABE encerrou atividades sem sequer uma informação aos fornecedores, aos colaboradores, causando graves prejuízos, tanto aos produtores, como, evidentemente, aos que se viram de uma hora para outra no olho da rua. Albano Franco, um empresário e político altamente conceituado, se estivesse à frente do Grupo, que permanece sólido, e altamente capitalizado, seguramente, não agiria desta forma. Ele tem uma vistosa e exemplar biografia, que nunca sofreu abalos, e assim continuará.
Para a conclusão dos entendimentos, houve a participação decisiva do superintendente do BNB em Sergipe, Antônio Cesar. Como sempre tem agido, ele tratou do problema de uma empresa paralisada e em endividamento crescente,  sob o ângulo do interesse específico do banco credor, e, de uma forma mais abrangente, dos efeitos danosos que aquela abrupta desativação criara na cadeia produtiva do leite em Sergipe, e no estado vizinho de Alagoas, onde a bacia leiteira de Batalha, foi duramente afetada, até que o NATVILLE, com capacidade ampliada, absorvesse a produção excedente e sem mercado.  Essa situação, sem dúvidas, gerou para o BNB, múltiplas  inadimplências.
O fato auspicioso é que agora o laticínio capixaba DAMARE, assumiu o controle do SABE, e dará um outro rumo de competência e responsabilidade social à empresa reaberta.  Excelente notícia para Sergipe, que poderá somar-se a uma outra: a venda da Usina Alcooleira e termelétrica Campo Lindo, em Capela.
Aquele notável empreendimento do empresário Carlos Vasconcelos, após a sua morte prematura, poucos dias depois da inauguração do projeto ao qual tanto se dedicara, passou aos seus herdeiros, todos, da família do sólido grupo G. Barbosa.  O controle foi transferido a um empresário de São Paulo, que, descobriu-se depois, era refinado caloteiro, agindo, aliás, sob o discreto manto protetor de um influentíssimo político sergipano. A coisa degringolou, o golpe já estava consumado. Sendo um grupo responsável, e com um nome a zelar, os herdeiros seguraram o prejuízo, até quando, agora, surge a perspectiva de uma negociação bem sucedida com um forte e conceituado empresário do ramo sucro-alcooleiro em Sergipe, e a CAMPO LINDO poderá recomeçar suas atividades. As duas empresas, reabertas e operando, deverão gerar mais de três mil empregos diretos e indiretos.
O grupo capixaba chega a Sergipe confiando na capacidade produtiva da nossa bacia leiteira. 
Agora, mais do que nunca, torna-se inadiável a análise técnica e econômica daquela ideia da ADUTORA DO LEITE, o assim denominado projeto de água do São Francisco para a bacia leiteira de Santa Rosa do Ermírio. Havendo água para dessedentar rebanhos, e, se possível, para um perímetro irrigado de médio porte, em cinco anos, transcorridos após a inauguração da adutora, a produção leiteira mais do que dobrará.
Até hoje, dos pretendentes ao cargo de governador, só tratou objetivamente deste assunto o pré-candidato Fábio Mitidieri.
 

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