Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS  (1) - 24/03/20020  (republicamos o texto nº 1 da série concluída semana passada com o de número 107, e quando ultrapassamos 684 mil mortes)
30/08/2022
TEXTOS ANTIVIRAIS  (1) - 24/03/20020  (republicamos o texto nº 1 da série concluída semana passada com o de número 107, e quando ultrapassamos 684 mil mortes)


VÍRUSTEMPOS - 01


Obediente a asséptica prevenção imposta aos idosos, cercado, agora, pelo cinturão verde das caatingas, enfim molhadas, confinado neste exílio, e podendo atravessar meses, torna-se humanamente impossível afastar o pensamento da tragédia planetária.

Daí, esses Textos Antivirais que inicio, dando proatividade a uma parcial inércia, com a esperança de que seja uma curta série.

Durante o Estado Novo, eufemismo que criaram para nomear a ditadura de Getúlio, cultivava-se um excremento autoritário tendo como modelo o fascismo italiano. O idílio repugnante do Estado Novo com o nazifascismo persistiu até dezembro de 1941, quando os japoneses atacaram o Havaí, arquipélago americano no Pacífico.

Logo depois, na Conferência do Rio de Janeiro os americanos fizeram sentir a Getúlio que precisavam de bases no nordeste, e iriam tê-las, cedidas, ou ocupadas.

Roosevelt veio ao Brasil, conversou com Getúlio, e voltou dizendo que nunca antes conhecera um ditadorzinho tão simpático. A partir de então o condecorado fascista sergipano Lourival Fontes, poderoso chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, afrouxou os controles rígidos que eram exercidos sobre os meios de comunicação. Deixaram de ser conduzidos à delegacia de Ordem Política e Social, o sinistro DOPS, os intelectuais, profissionais liberais, servidores públicos, sergipanos, inclusive, poucos é verdade, que, em documentos de qualquer natureza, onde colocavam suas assinaturas, acrescentavam: “Saudações anti-nazi-nipo-fascistas”. Era o repúdio demonstrado aos países que formavam o agressivo Eixo: Alemanha, Japão, Itália. 

Diante das circunstâncias que atravessamos hoje, não há dúvidas de que existe a tentação de insinuar que comecemos a escrever: “Saudações anti- anarcopopulismo". 

Esse anarcopopulismo é aquela nefasta ideia de que os problemas do país se resumem ao núcleo de indignados extremistas, que simplificam soluções, escolhem um líder que traduz o que eles imaginam, radicalizando ainda mais um jogo de antagonismos, onde os adversários, existentes ou imaginários, são considerados perigosos inimigos que devem ser sumariamente eliminados. Se lhes faltam propostas, recorrem ao caminho das ruas, onde o grito substitui a razão. 

A essência do anarcopopulismo é o tensionamento das relações sociais, até o ponto sem volta das instituições demolidas. Em outras palavras: o caos.

Seria o caos com apoio popular. Por isso, desde antes das eleições e depois delas mais ainda, o que se tem feito em primeiro lugar é manter o clima de guerra política, com a sustentação das ruas.

Veio a desgraça do vírus, agora também já politizado, e objeto de uma discussão que nada resolve. E tudo complica.

Estão corroendo um tema que deveria ser estritamente cuidado por especialistas, e começaram a espalhar suas “verdades" pessoais. Gente assim como os mistificadores da fé, Edir Macedo, Silas Malafaia, Valdomiro, empresários arrogantes e egoístas tipo Véio da Havan, Junior Durski, um abutre moral, que vende bifes na sua rede de restaurantes Madero. Ele disse, sem meias tintas, num vídeo que postou na redes: “por causa de 5, 7 mil mortes, não se pode parar a economia”. Poderia acrescentar: desde que eu venda meus bifes. Ou seja, enriquece com a carniça, mesmo que seja a humana.

O tema é evidentemente complexo, as consequências de uma paralisação de atividades econômicas redundará em graves prejuízos, mas o mundo, a ciência do mundo, os especialistas do mundo, não podem todos estar errados completamente, quando advertem que sem o isolamento social, sem as medidas drásticas, o vírus se expandirá exponencialmente, e aí não serão 5 ou 7 mil mortos, poderão ser 70 mil, 700 mil, uma hecatombe, e suas consequências ainda piores. 

Quando o presidente, ele próprio, dissemina a dúvida, muitos, não se acanham em imitá-lo.

Apesar disso tudo, parece que as providências indispensáveis estão sendo tomadas na área federal, e Bolsonaro, rompendo barreiras criadas pelas suas ojerizas, idiossincrasias, e malquerenças, manteve uma produtiva reunião com os governadores do nordeste e do norte. E vai reunir-se com todos os demais, inclusive com Witzel, do Rio de Janeiro, e Dória de São Paulo, aos quais tem constantemente agredido; isso, para não falar sobre o que fazem os seus filhos.

Existe a perspectiva positiva de que, de agora em diante, haja uma coordenação entre a União e os estados. Alguém precisa convencer o presidente de que ele foi eleito para governar o Brasil, e o seu primeiro gesto, logo após a posse, seria a tentativa lúcida e sensata de unir o país, mas isso ainda poderá ser feito, em face da terrível ameaça da pandemia ficando fora de controle. De que adiantaram todos esses meses de agressões, ofensas, ideias ditatoriais circulando, se hoje os fatos comprovam que essa insensatez só causou prejuízos aos brasileiros?  Mas os atores do anarcopopulismo, não pensam assim, não admitem o erro.

Caso essa pandemia que apenas começa dure mais uns 30 dias, apesar da capacidade revelada pelo ministro Mandeta, e sobretudo pela heroica dedicação dos profissionais da saúde, pelo esforço e responsabilidade dos governadores, da maior parte dos prefeitos, teremos pela frente um desafio muito maior, que exigirá dos governantes uma estatura acima da média daqueles que atravessaram os cruciais momentos da nossa história.

Não existem salvadores da pátria, mas há, sim, personagens providenciais. Citemos, no plano internacional, e no espaço da História contemporânea, três deles: Franklin Delano Roosevelt, nos Estados Unidos, Charles De Gaulle na França, e Winston Spencer Churchill na Inglaterra.

Diante do derrotismo que já começava a ser um pesado sentimento, Winston Churchill torna-se Primeiro Ministro, alteia a voz, pede a união e a resistência dos ingleses, confronta Hitler, e lhe desafia, dizendo que a Inglaterra não se renderá, lutará no mar, no ar, nas praias, nas montanhas, de casa em casa, e se vier a sucumbir, continuará a luta pela extensão do seu Império. 

E faz a afirmação corajosamente verdadeira. Promete aos ingleses: "sangue, suor e lágrimas”.

E, como é sabido, o nazifascismo foi derrotado.

Guardadas as merecidas proporções, quem, nesta crise brasileira poderia, emulando Winston Churchill, desempenhar o papel de unir a Nação, de ser uma voz respeitada, com força moral para expor aos brasileiros toda a dimensão da crise, e convocá-los para o grande sacrifício que entre todos terá de ser compartilhado, preservando os mais pobres de maiores sofrimentos?

Quem?

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O BANCO CENTRAL O PIX E O CENÁRIO DA ECONOMIA

O BC que criou o PIX, discretamente mostra o resultado da farra eleitoral. Orçamento Secreto não usa o PIX.

O PIX, esse, digamos assim, revolucionário sistema de pagamentos online, é um instrumento barato para que se multipliquem os micro empreendedores. Com a maquininha simples, qualquer um pode comprar e vender, transacionar, livre de burocracias, de exigências de cadastros, ou de outros quaisquer documentos. Ao PIX se deve a queda do desemprego, reduzido pela informalidade do micro-empreendedorismo, mesmo assegurando, apenas, uma renda quase sempre inferior a um salário mínimo, ou até nem chegando à metade dele.

O PIX resulta de um bom trabalho técnico executado pela equipe do Banco Central, talvez a única instituição importante do governo federal, que não tenha sido contaminada pelo tumulto insensato que é criado e alimentado pelo próprio presidente.

O BC emite o Boletim Focus, onde se faz uma análise técnica da economia brasileira, a curto, médio e longo prazos, o dia a dia dos mercados, as variações da inflação, das suas tendências, como também as projeções do PIB, o Produto Interno Bruto, ou seja, o desempenho de toda a máquina produtiva do país, a soma do montante produzido, comercializado, exportado. É uma espécie de radiografia, confiável e abalizada. As tentativas de interferência na apresentação das cifras têm sido até agora contidas.

Esta semana o Boletim Focus, fez mais uma previsão de alta no PIB projetado para este ano. Coisa ínfima, todavia, sem deixar de ser positiva. Passaria de 2.02% para 2.10% este ano. Para o próximo ano, 2023, entretanto, a cifra projetada é absolutamente pífia: 0,37%. Em 2024 de 1.8%; e de 2% para 2025.

Já a inflação para este ano tem tendencia de baixa, não ultrapassando mais os dois dígitos, tal como ocorreu assustadoramente em 2021, ficando agora em 6.7%, todavia, no acumulado de 12 meses ainda nos dois dígitos, 10.07%; para o próximo ano de 2023 a previsão é de 5.3%, para 2024, de 3.41%; e para 2025, 3.0%.

Os desavisados poderão até entender essas cifras como algum sinal de boa reativação da economia, mas, embora sem descambar para o pessimismo, é forçoso reconhecer que os números previstos são absolutamente decepcionantes, e chegaríamos, caso eles se confirmem, a um quadro de recessão técnica, porque em três anos seguidos os números do crescimento do PIB, estariam visivelmente abaixo daqueles da inflação, mesmo com as positivas tendencias de queda na subida dos preços.

Isso nos faz chegar, facilmente, à conclusão de que a economia de um país não pode ser tratada na base da improvisação, ou das avaliações meramente eleitoreiras. 

Não é possível lidar com a economia pensando, somente, em ganhar eleição.


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UMA FAMILIA QUE DETESTA USAR O PIX

Moeda corrente não deixa rastro.


Depois desse novo escândalo das transações realizadas todas em “moeda corrente do país”, ou seja, pagando apenas em dinheiro vivo, a família Bolsonaro pode ser apontada como inimiga do PIX, da mesma forma como se mostra até agora inimiga da vacina. Tanto o presidente como as suas ex-mulheres e os seus filhos, fizeram a compra de dezenas de imóveis, usando o mesmo meio de pagamento preferido pelos que “alaranjam” seus negócios, ou ocultam as fontes de onde provêm os seus rendimentos.

Que o presidente não use capacete quando pilota motos, que não usasse máscara nem tomasse vacina quando a pandemia atingia seus índices mais elevados, não é admissível, todavia, não pode ser capitulado como crime, apenas, transgressões de normas. Ou deploráveis exemplos, vindos da mais alta autoridade do país. Mas, pagar imóveis de elevado valor em dinheiro vivo, prática comum entre aqueles que não ganham dinheiro com o suor do rosto, como a grande maioria dos brasileiros honestos, é algo inadmissível.

Ou seja: é crime.

 

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