Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
Temer apodrece a república
15/07/2017
Temer apodrece a república

Quando o presidente do Senado apagou as luzes do plenário, reagindo contra as senadoras que  faziam  a decepcionante travessura infantil   ocupando a mesa da presidência, Eunício Oliveira, sem querer, legava à História uma página desenxabida: a metáfora e a metástese de uma época. O apagão do governo ocorre ao mesmo tempo em que a contaminação do organismo republicano chega a uma fase terminal.

Quando, num país, um assaltante algemado por policiais se diz injustiçado , porque o presidente da República  está solto, teria chegado o instante em que a indignação cívica deveria forçar a aplicação do antídoto certo contra o letal veneno da dissolução das instituições e do apodrecimento social.

O único antídoto para a crise devastadora de credibilidade em que se encontram as instituições seria, em primeiro lugar o afastamento do  desacreditado  Michel.   Isso somente poderá ser feito seguindo-se o rito constitucional. E a licença da Câmara para que o presidente seja processado é imprescindível.

Os deputados não irão condenar nem absolver, apenas, permitir que Temer venha  a ser julgado, com todas as garantias que um estado democrático de direito concede, e assegura.

Proteger o presidente, a pessoa do presidente, como dizem os que o defendem, é desproteger o país, a Nação, esses 210 milhões de brasileiros que foram enganados, traídos, envergonhados pela quadrilha que se instalou no Planalto, acolhida pelo presidente, que a colocou ao seu lado, e aos seus integrantes chamou-os de "pessoas da sua mais estrita confiança".

O senhor Temer perdeu toda a compostura indispensável a um Chefe de Estado. Mente, tergiversa, distorce os fatos, corrompe, compra adesões, compromete o equilíbrio fiscal, e, pior ainda, estimula o choque entre os poderes, agride o Ministério Público, o Supremo, desqualifica a Polícia Federal, e avilta   ainda mais o nosso Parlamento, agora, o mais desacreditado da história republicana. Se escapar, como de forma covarde deseja, se ficar sobrevivendo para também salvar os quadrilheiros  ao seu lado, Temer será um presidente ainda mais desacreditado, fraco, anêmico, e submetido à chantagem permanente de tantos outros desqualificados.

Os argumentos de ordem econômica não subsistirão por muito tempo, porque Temer e os seus asseclas abrigados no poder irão degradar ainda mais o ambiente político, e não haverá equipe econômica que consiga manter a saúde da economia, enquanto as instituições republicanas apodrecem e o gangsterismo dominante ganha mais espaço.

Na feira de deputados onde Temer saiu às compras, o custo  impressiona, isso, sem contar os cargos apetitosos que estão sendo fartamente distribuídos com aquela gente do ¨centrão¨.  Esse grupo de políticos, na maioria desprovidos de maiores qualificações, tanto éticas como intelectuais, exibe um conservadorismo que anda ao lado da intolerância, mas, revelam uma heterodoxa ganancia por dinheiro público. Esqueceram o reacionarismo seboso, e uniram-se, antes, ao gangsterismo de Zé Dirceu, ex-guerrilheiro, que aliás nunca guerrilhou com armas. Saíram todos de bolsos cheios, e irão, com Temer, enchê-los mais ainda.

OS POLÍTICOS LADRÕES E AQUELES QUE OS ELEGEM

O deputado Zezinho Guimarães estava em Franca, São Paulo, participando de uma Feira Nacional da Indústria de Calçados. Ele é bem relacionado entre os empresários do setor, porque, quando Secretário da Indústria e Comércio no governo Albano Franco, participou das bem sucedidas tratativas que possibilitaram a instalação em Sergipe de várias fábricas de calçados.

À saída  do hotel, Zezinho parou numa banca para comprar  jornal. Ao seu lado uma senhora lia as manchetes dos matutinos, e soltava a língua contra os políticos. A coisa ia de ladrão a baixo. Zezinho, educadamente a interrompeu, e perguntou-lhe: "Me permita madame, a senhora é eleitora"? A resposta foi positiva.

Zezinho completou: Pois veja a senhora a coisa é assim, o povo é que elege todos eles. Sem os votos que recebem, nenhum dele estaria roubando, como a senhora tanto fala.

A loquaz calou-se, meditou um pouco e  admitiu: "pois é moço, é assim mesmo, nós os elegemos".

Pior do que o voto desperdiçado em candidatos notoriamente vagabundos é a indiferença distante dos que votam, em relação ao que fazem aqueles, a quem elegem. Muitos do que escolhem senadores e deputados, depois nem lembram em quem votaram.

Há momentos em que o eleitor deve acordar desse sono letárgico de cidadania desprezada.

Depois dessas cenas de ausência  de pudor de um governo que faz strip-tease da liturgia do cargo, e se desnuda moralmente diante da sociedade ainda apática, é preciso que  surja um sentimento de responsabilidade com a opção feita pelo voto, e o eleitor passe a acompanhar as atitudes que tomarão, de agora em diante, os deputados federais que irão decidir sobre a licença para o julgamento do presidente. Isso é essencial, para que o poder mal exercido não se  torne para os jovens prematuramente descrentes, o perigoso argumento a favor da ideia degenerada de que o crime compensa.

A Comissão de Ética do Senado por via da ausência de vergonha de um indigno senador maranhense, arquivou o pedido para abertura de processo contra Aécio Neves, a vergonha do avô. Os senhores senadores calaram-se, tornaram-se coniventes, inclusive o petista Lindbergh Faria, tão agressivo em outras circunstâncias.

Dos senadores sergipanos só Valadares manifestou-se contra o cinismo do engavetamento.

Agora, os deputados federais votarão a favor ou contra a autorização para que Temer seja processado pelo  STF.

Os eleitores de cada estado devem acompanhar o comportamento dos seus deputados, porque a mala está circulando, e mandatos estão à venda.

Em Sergipe só temos oito federais, e é mais fácil saber o que todos fazem. Se votarem a favor de Temer, é porque foram encorajados por ¨argumentos¨, tão fortes que os fizeram esquecer  da própria reeleição. Mais de 90 % dos brasileiros querem Temer fora.

É preciso fiscalizar de perto o que farão André Moura, Joni Marcos, Laércio Oliveira, Fábio Mitidieri, Sérgio  Reis, Adelson Barreto, João Daniel e Valadares Filho.

Só neste mês de julho foram usados até agora 134 milhões de reais. Com essa quantia  compraram 36 deputados.

De Sergipe, os que  se mantêm fora da relação das compras são, até agora: Fábio Mitidieri, Laércio Oliveira, (que recusou  ser pau mandado)  Valadares Filho e João Daniel. Precisam dizer ainda se não serão comprados: Joni Marcos, Fábio Reis e Adelson Barreto. Quanto a André, este, é caso perdido, trata-se do líder de Temer na Câmara. Não valem desculpas de que o partido fechou questão. Nesse momento, a consciência e a dignidade de cada um deveriam ditar o comportamento.

UMA NOTÍCIA QUE É ALARMANTE

Poderá faltar o coquetel usado para o controle do vírus  da AIDS. Os pacientes  livram-se do que seria morte certa, com aquele mix de remédios que são utilizados continuadamente, e o vírus se mantem inativo. Assim, os soropositivos conseguem ter vida normal, saudável, e com os devidos cuidados, serão longevos. O tratamento adequado da AIDS, a quebra de preconceitos, a intensidade do esclarecimento educativo para as medidas preventivas, foi uma conquista dos brasileiros.

Nosso modelo é imitado em todo o mundo. Aqui em Sergipe temos um líder precursor dessas medidas, um cidadão, o médico Almir Santana, que fez da luta contra a AIDS a razão maior da sua virtuosa existência. Há tantos outros infectologistas, médicos, enfermeiros, equipes de apoio, de atendimento, que  dão exemplos diários de dedicação, de solidariedade. A chama do humanismo, por obra e graça da nossa gente, não se apagou ainda no Brasil.

Mas há nuvens ameaçadoras no ar. Houve corte drástico de gastos públicos, inclusive na saúde, e isso está afetando diversos setores, entre eles a fabricação dos remédios que integram o coquetel. Enquanto escasseiam os estoques, existe o temor de que novas remessas não cheguem a tempo, e os soropositivos fiquem ao desamparo. Como se trata  de um programa federal, e o presidente Temer está agora inteiramente concentrado em comprar deputados, fica-se imaginando o que acontecerá, se houver, como já se prevê, uma interrupção no fornecimento  gratuito do coquetel, que só é feito pelo Governo Federal, e no mercado não há disponibilidade dos medicamentos, mesmo para quem dispõe de muito dinheiro para adquiri–los.

OS TAXISSISTAS E O UBER

Os motoristas de táxis se dizem vítimas do UBER, essa invenção externa que parece mesmo ter vindo para ficar. Na verdade os taxissistas são vitimas mesmo é do poder público municipal. E isso não acontece apenas em Aracaju. Por todo o país, mesmo antes da chegada do UBER, os táxis já viviam em crise. Há em Aracaju um excesso de táxis.

As licenças foram sendo concedidas por interesse político, e agora, com a crise e a chegada do UBER, os táxis perdem terreno, sofrendo ainda a concorrência dos taxis–lotação, dos clandestinos, e dos moto-táxis. O UBER oferece um serviço mais eficiente, moderno, e a preço menor, mas, os que aderiram ao sistema já reclamam, porque a empresa está, segundo eles, licenciando um numero excessivo de automóveis, e em breve, com o mercado pesadamente afetado pela crise, os uberistas estarão na mesma situação, ou, pior ainda do que os táxis tradicionais. 

ALMEIDA LIMA UM ALUGUEL E O TRATOR EM MOVIMENTO

Os que gostam do ex- senador Almeida Lima, mas fazem algumas restrições à forma como ele age, dizem  que o agora Secretário da Saúde assemelha-se a um trator em movimento. O conselho que lhe transmitem, é  que seja   atento ao caminho para não provocar atropelos, e prejudicar o avanço. Em resumo: continuar trator, mas com alguma delicadeza, ou,  sem perder a ternura. Essa metáfora do trator em movimento, quem a faz é um deputado, aliás, do mesmo grupo de Almeida.

Não se pode negar, contudo, que o "trator", até agora, contabiliza ações positivas. No caso do aluguel das instalações de uma empresa comercial que encolheu, houve muitas acusações, Almeida, exibindo cifras, desfaz todas.

Vejamos os números: Os alugueis de 5 unidades esparsas que a Secretaria usava, para nelas instalar diversos serviços, custavam 240 mil reais. O aluguel da nova e única instalação, custa  150 mil reais. São 6 mil metros quadrados de área coberta, e 125 mil para estacionamento. Em um só local, o que representa racionalidade,  principalmente logística, ficarão o  Almoxarifado e o SAMU, a garagem, um depósito, e serviços burocráticos que ocupavam 10 andares do edifício Maria Feliciana.

Só esse setor custava 40 mil reais, a mensalidade do condomínio. O edifício pertence ao estado, que nele irá instalar outros serviços, ou alugar o espaço. Foram também transferidos dois depósitos em Socorro, e um almoxarifado que funcionava no chamado Palácio Serigy, onde ainda está  a sede da Secretaria. Almeida transferirá seu gabinete para o novo espaço, e para o Serigy já tem um projeto ligado à serviços médicos.

Pelo que se observa, o método trator vai dando resultados, e poderá calibrar o escape, para fazer menos barulho.

CODEVASF: UM SINÔNIMO DE FRACASSOS

Carlinhos, ex-prefeito de Brejo Grande, se diz espantado com o avanço do mar sobre o Velho Chico. A redução da descarga para 600 m³ por segundo, agravou drasticamente a situação. Os perímetros irrigados onde se cultivava arroz, agora salinizados, serão readaptados para a criação de camarões. É  iniciativa dos próprios produtores que lutam pela sobrevivência. Todo o sistema Betume, onde se luta para continuar plantando o arroz, vive uma crise antiga e sistêmica que a CODEVASF nada fez de concreto para mudar.

A alegação é que não há recursos. Por todo o vale do São Francisco acumulam-se os erros e as omissões, isso, ao longo de décadas. Não há um só sistema de esgotamento sanitário construído pela  estatal que funcione. O perímetro Jacaré–Curituba, foi iniciado por Albano, que levou ao presidente FHC, o líder do MST João Daniel, e o Frei Enoque. Surgiu o primeiro projeto de irrigação destinado ao MST. 

O projeto sofreu avanços, paradas e recuos, mas todos os governadores se empenharam para que fosse finalmente instalado. Hoje, o Jacaré–Curituba continua à beira do desastre. A CODEVASF alega que a sua tarefa foi feita com a conclusão do projeto, e ao INCRA caberia administrá-lo, por sua vez, o INCRA diz que não tem dinheiro para assumi-lo. O governo estadual antes dessa crise devastadora, pagava a conta de luz, que é alta. 

Para o projeto Betume, continua levando sementes de arroz para o plantio. Agora,  a conta de luz se acumula, ainda não foi cortada pela ENERGISA porque  existe uma liminar, que, se  for derrubada haverá o corte. Mais de 500 famílias de agricultores, todos com baixíssima renda, perderão o que plantam. Ficarão na miséria completa e o sistema entrará em colapso. Sabe-se que grande parte do dinheiro que seria destinado à CODEVASF já foi torrado na  compra de deputados. Só do Ministério da Integração saíram 70 milhões para 12 honoráveis parlamentares.

Aqui, não se faz uma critica direta aos gestores locais, a doença incurável está na própria  empresa, que  já deveria ter sido absorvida pela EMBRAPA, que poderia profissionalizá-la, utilizando um quadro funcional que não é ruim, isso, desde que não haja interferência politico-eleitoral. Uma observação: O Jacaré-Curituba, certamente estaria bem melhor hoje, se fosse adotado o sistema misto: empresarial-agricultura familiar, na época da instalação recusado.

ZVEITER, OU A POLÍTICA  HONRADA

Sérgio Zveiter pertence ao PMDB, mas, como deixou bem claro, não faz parte da quadrilha. O PMDB dele, explica, é o do Dr. Ulisses Guimarães, a mesma frase que por aqui repete, todo dia, o governador Jackson. Zveiter foi insultado grosseiramente por integrantes do núcleo assalariado de Michel Temer.

Um deputado, chamado Perondi, cujas feições denunciam a hemorroida cerebral fascista, que o faz odiento, usou um jogo de palavras para destilar seu preconceito. Zveiter é judeu. Perondi deveria perder o mandato. Zveiter, junto a outros não vendidos, salvaram a dignidade que resta ao Parlamento. Ele é um jurista, pertence a honrada família de juristas, foi presidente da OAB- RJ.

Zveiter, segue o judaísmo, religião também do seu pai, que é desembargador, e os dois são maçons. Insultado pelo fascista Perondi, um homem das trevas, Zveiter, deve ter lamentado a escuridão, e lembrado que a luz é símbolo, tanto do judaísmo como da Maçonaria. Continuou a ler o seu relatório tentando clarear o nebuloso ambiente, inspirado, talvez, em Provérbios 6.23: "Pois o preceito é uma lâmpada e a instrução é uma luz".

¨CULTURA PUNITIVA¨ CULTURA DA IMPUNIDADE

O criminalista Antônio Mariz esclareceu, com absoluta clareza, o que deseja mesmo a Confraria do Peculato, além da tarefa imediata que será salvar o mandato de Temer, cujo governo é o refúgio e abrigo onde se homiziam os seus integrantes.

Disse Mariz: "É preciso acabar a ¨Cultura Punitiva".  Expressou exatamente o que toda a Confraria queria ouvir. Mariz, tão afoito em desafiar o bom senso e os valores que ainda nos restam, tocou a música que embala os sonhos de uma impunidade eterna.

Não temos uma "Cultura Punitiva" ainda sedimentada, mas é preciso que ela exista, não no sentido da vingança, da perseguição política, mas, como reação à  cultura da impunidade que sempre entre nós foi dominante, por isso, suspeitando-se que só "pobre, preto e prostituta", iam para a cadeia. Houve, sem dúvidas, excessos dos Procuradores, houve desnecessários exibicionismos e ações desastradas, todavia, preservou-se a vontade de fazer, finalmente, um caminho para a Justiça equânime.

A Cultura da Impunidade tornou possível o assalto à PETROBRAS, aos Fundos de Pensão, o Mensalão, e gerou o descrédito dos Poderes, levou o Estado a tornar-se cúmplice de bandidos. Finalmente,  transformou a República nisso que aí está: o lupanar de Michel .

A CIDADE E AS CHUVAS

A Prefeitura de Aracaju não esperou que as chuvas acabassem por demolir a pavimentação das ruas. Estão sendo feitas obras emergenciais, mesmo com o inverno prometendo continuar até agosto. Isso é um bom sinal, mostra que melhor do que o desalento de aguardar o fim do inverno, é evitar que as chuvas completem a destruição.

O BANESE  VAI AO SERTÃO

Técnicos do BANESE foram a Canindé do São Francisco. A missão: explicar, principalmente aos produtores do Perímetro Califórnia como eles poderão  ampliar suas atividades com o crédito a juros razoáveis que o banco está oferecendo para o semiárido. Há dezenas de agricultores já interessados e elaborando seus projetos. Fernando Motta, o presidente, quer agilizar a nova linha de crédito para uma região que está saindo da pior seca da história dessa calamidade nordestina.

A DEFESA DAS CAUSAS PERDIDAS

Samarone, médico, sanitarista, professor, mais do que isso, um propagador de ideias, e que faz surgirem polêmicas, o que é construtivo,   corresponde à ideia virtuosa que se faz do intelectual. Quem pensa, lê, olha, e interpreta o mundo, a realidade, não pode manter-se quieto, comodamente indiferente.

Samarone admira a garra contestadora do filósofo Slavoj Zizek, e divide as preocupações que ele expressou no livro a que deu o nome: Em Defesa das Causas Perdidas, onde, remanescente marxista, propõe: "não defender o terror stalinista, mas tornar problemática a tão facilzinha alternativa democrático–liberal". É estimulante ler nas redes sociais os textos de Samarone, a sua defesa das causas perdidas.

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