Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
SOBRE AS PENITENCIÁRIAS, MENORES TURBULENTOS E HOSPITAIS LOTADOS
31/05/2019
SOBRE AS PENITENCIÁRIAS, MENORES TURBULENTOS E HOSPITAIS LOTADOS

(Sem notícia de rebelião, nem corredor cheio)

Em qualquer parte do país o portador de um celular, torturado pela clamorosa ineficiência das telefônicas, se vê agoniado ainda mais, todo dia, por chamadas que chegam de cidades paulistas, de Curitiba, de Fortaleza, e outras. Quase todas, é sabido, são geradas em Penitenciárias, há muito tempo transformadas nos centros de comando de um sofisticado esquema instalado pelo crime organizado.  

A grande maioria dos que manipulam o esquema, desde os presídios, é formada por  semianalfabetos. Existe, contudo, à disposição deles,  um sistema digital que utiliza   algoritmos fornecendo a chave para a abrangência ampla das suas ações, daí, a insistência como ocorrem as repetidas chamadas, que resultam num vasto espaço de possibilidades para  as ações criminosas. Asseguram especialistas  que,  em alguns casos,  basta o simples atendimento da chamada, e logo se tornam vulneráveis  dados pessoais, que são usados, e as consequências disso serão sempre desastrosas para as vítimas. 

Esse poder imenso que os bandidos conquistaram, exatamente no espaço dos presídios, traduz, do lado do Estado brasileiro, uma assustadora ineficiência. 

Todos, ou quase todos os eventos criminosos de maior repercussão, ocorrem dentro das cadeias. Morticínios, fugas, e o que é ainda pior são os planos arquitetados lá dentro, para as ações externas dos bandidos em liberdade. São os assaltos aos bancos, sequestros, o terror deflagrado nas cidades, como acontece com as queimas de ônibus, a mais recente delas em Natal e Fortaleza. 

Temos, instalado no país, um poder paralelo ao do Estado. Antes, era formado só de bandidos, reconhecidamente bandidos, agora, a esse poder somam-se os milicianos, certamente mais perigosos ainda, porque resultam da deterioração do poder do Estado.  

Nessa última carnificina registrada numa penitenciária de Manaus, constatou-se que dirigentes do presidio eram parceiros da facção dominante, e facilitavam as suas movimentações. 

O quadro da segurança agrava-se continuadamente, e uma parte da população, agoniada, começa a acreditar que a solução estaria nas armas colocadas à disposição de quem tenha suficiente dinheiro para comprá-las. 

Um fuzil T–4, de repetição, não automático, mesmo assim, nas mãos de um atirador experiente, pode disparar mais de cem tiros por minuto.  Evidentemente é uma arma de guerra, mas o “cidadão de bem” poderá adquiri-lo. Os milicianos agradecem, porque irão recebê-lo das mãos de ricos e poderosos extremados em suas posições políticas, que desejarão dispor da força das milícias. Terroristas também poderão começar a voltar os olhos para o Brasil, onde armas estarão bem ao seu alcance. 

Desconstrói-se o conceito de civilização em nome de uma pretensa segurança. 

A Segurança e a Saúde Pública quando não correspondem ao mínimo que a sociedade espera, são os fatores que mais contribuem para a criação de um clima de descrença generalizada, que corrói os fundamentos da convivência democrática.  

E a supressão da democracia não será remédio eficaz contra os males que nos afligem. 

Doses cada vez maiores de civilidade, tais como educação, cultura, integridade no setor público, visão social no setor privado, serão sempre os principais fatores para revigorar países doentes. E o Brasil está profundamente afetado por uma série de males, onde avulta o devastador câncer da insensatez. Veja-se como exemplo mais recente o Ministro da Educação, Abraham  Weintraub, debaixo de um guarda-chuva escuro, numa sala fechada e cinzenta, fazendo um ameaçador pronunciamento ao país, e revelando que nem o português ele sabe falar. Assemelha-se a uma Demares usando cueca.  Nas mãos desse ser esquisito foi colocada a educação brasileira. Por exigência do psicopata Olavo de Carvalho. 

O desleixo administrativo, a ausência de comando, a incompetência, levaram alguns estados brasileiros a uma situação de calamidade no que se refere à segurança. 

O Rio de Janeiro, vítima de sucessivas quadrilhas, é o exemplo maior do desmonte do Estado, o desleixo também pode ser apontado na origem de problemas como esse, que acontece agora, no sistema carcerário do Amazonas. 

Pode ser até que nos próximos dias ocorra uma rebelião em alguma das penitenciárias de Sergipe, pode ser até que recomecem as fugas de menores apreendidos em locais de ressocialização.  

Todavia, os largos espaços policiais na mídia sergipana há alguns anos não registram uma rebelião nas penitenciárias, ou ocorrências muito graves entre as paredes desses presídios. Da mesma forma, na outrora turbulenta     Fundação Renascer, onde não havia um só mês sem tentativa de fuga, sem violência. Faz tempo que aqui em Sergipe não há notícia de coisas assim, frequentes em outros estados. 

Desde que Jackson Barreto colocou na direção da     problemática e aparentemente incorrigível Fundação o advogado, militante político e humanista Welington Mangueira, os meninos violentos se foram aquietando. Aconteceu isso sem punições, sem desrespeitos. Welington, chamado de tio, passa a maior parte do tempo conversando com os menores, ouvindo as suas queixas, compartilhando os seus problemas existenciais. Levou, para auxiliá-lo nessa tarefa de humanização o coronel reformado Luiz Fernando, um policial pacificador. Hoje, o coronel comanda a segurança municipal de Aracaju, mas Wellington não ficou sozinho, tem uma pequena equipe de pessoas que entendem muito bem do que é transmitir compreensão e amor. Welington foi Secretário de Segurança de Albano Franco.  No seu período criou-se a Polícia Comunitária, uma concepção inovadora que deu bons resultados. Até hoje é lembrada nos bairros onde funcionava. 

Nas penitenciárias sergipanas não há ainda uma superlotação degradante, e nelas evitou-se, até agora, a formação dos núcleos de defesa própria e hegemonia de poder, que se chamam facções. São esses grupos que surgem onde o Estado reflui, e assumem de fato o comando dos presídios. Registre-se, nesse caso, a atuação eficiente de Benedito Figueiredo quando Secretário de Justiça, e hoje, o sacrifício pessoal que faz o delegado Cristiano Barreto Guimarães como Secretário de Justiça,  dedicando-se, quase em tempo integral à bomba- relógio, que são as penitenciárias.  Assim, mesmo carente de meios tem conseguindo evitar as explosões. 

O Brasil tem hoje a segunda maior população   carcerária do mundo, com 800 mil presos, em enorme maioria ociosos, e sem instalações que lhes permitam trabalhar com dignidade, mas, obrigatoriamente. As penitenciárias conferem o doutorado no crime, e os portadores do diploma, logo sairão às ruas. 

Sergipe tem se afastado, também, dos primeiros lugares nas sombrias estatísticas da criminalidade. 

Há, na SSP, uma boa e operante equipe comandada pelo experiente delegado João Eloy, que sabe liderar, e pela delegada geral Katarina Feitosa Santana, policial em tempo integral. Há uma sintonia hierárquica bem definida com a Policia Militar, sob o comando do coronel Marcony Cabral, homem de tropa, para dar exemplo, e de gabinete, para planejar, tendo, no comando do interior o coronel Rolemberg, um comedido e tranquilo policial de linha de frente. 

Na Saúde, as notícias repetidas davam conta de desmantelos, tanto técnico-administrativos como éticos. No HUSE, o João Alves, a superlotação de pacientes transforava corredores e varandas em depósito de infelizes beneficiários do SUS. Era um cenário comparável a um fim de batalha, numa cidade medieval. 

Belivaldo enfiou-se no HUSE, enfiou-se no Sistema de Saúde, dedicou metade do seu tempo a tratar do problema, da origem de tudo, das suas deficiências, dos seus gargalos, e sobretudo dos seus esgotos, por onde escorriam os recursos sujos rumo às “lavanderias”. Logo entrou em rota de colisão com o então Secretário, e o demitiu. 

Foi então nomeada uma equipe de profissionais constituída por personagens  discretos, empenhados em mudar para melhor, e sem alimentar ambições eleitoreiras. 

O Secretário, Dr. Valberto de Oliveira Lima  escolheu os  principais auxiliares, colocou em prática seus princípios de humanização, e os corredores do HUSE foram esvaziados, as centenas de cirurgias eletivas atrasadas começaram a ser feitas, e o Hospital de Cirurgia , com  um novo convênio e mais verba estadual,  “sob nova direção”, iniciou a rota   para sair da crônica diária dos desacertos e suspeitas na área da Saúde, onde se relativizara o conceito de ética no serviço público. 

Sobre o Hospital de Cirurgia, garante o médico e secretário Dr. Valberto: “já funciona com racionalidade, tanto no trato com o paciente como no trato dos recursos públicos”. 

Em alguns casos, vamos driblando a crise. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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