Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
SOB OS ESCOMBROS DO EDIFÍCIO, UMA DAS TRAGÉDIAS BRASILEIRAS
06/05/2018
SOB OS ESCOMBROS DO EDIFÍCIO, UMA DAS TRAGÉDIAS BRASILEIRAS

  SOB OS ESCOMBROS DO EDIFÍCIO, UMA DAS TRAGÉDIAS BRASILEIRAS

          Talvez não por inteira desgraça, mas pela graça da reflexão que suscitam, as nossas tragédias brasileiras começam a ganhar corpo no indispensável debate político, agora intensificado pela proximidade das eleições. Sob os escombros do edifício incendiado e desmoronado, além da comoção pela amplitude do desastre, revelou-se a face de uma calamidade social, que a megalópole paulistana incorporou, sem nenhuma cerimônia, ao seu cotidiano, como se fosse algo normal ter milhares de seres humanos sobrevivendo precariamente em edifícios, inclusive públicos, abandonados e que, como ficou fatalmente demonstrado, às vezes, são consumidos pelo fogo, desabam e matam os seus moradores.

ENTENDENDO A TRAGÉDIA

          Depois de consumada a tragédia, divulgam-se, agora, os números de uma realidade devastadora, talvez, guardados despreocupadamente nos escaninhos burocráticos. São Paulo, a cidade, tem cerca de 300 edifícios abandonados, públicos ou particulares, na maioria, ocupados por quem não tem onde morar. São Paulo, o estado, teria uma carência de mais de um milhão de moradias. Sobre moradores de rua, os cálculos oscilam entre limites largos de dez a cinquenta mil.

BOMBEIRO TRABALHA NOS ESCOMBROS
Foto: Thales Stadler/AE

          Tudo isso na cidade féerica, trepidante, onde estão as sedes das grandes corporações industriais, financeiras, comerciais, as imensas fortunas, os megaempresários, onde existem as mais conceituadas instituições científicas, os centros acadêmicos de primeira linha.

          Há, em São Paulo, todo um aparato de conhecimento científico, tecnológico, a sofisticação do pensamento econômico e social, enfim, uma rede disponível de conquistas humanas, para que se formulem ideias e se apliquem as soluções.

          Apesar de todas essas referências, que apontam para a quase excelência, São Paulo é a fotografia mais nítida das imperfeições brasileiras e a mais constrangedora, porque ali se faz a imagem ampliada das nossas desigualdades; no caso paulistano, o abismo mais profundo da distância entre a riqueza portentosa, as vezes até ostentatória, e a mais aviltante miséria, sem recatos exposta.

DESIGUALDADE SOCIAL NO MORUMBI, EM SÃO PAULO

          O que mais assusta em tudo isso é que o tamanho do abismo social, exemplificado pela tragédia e onde sobressai o desmazelo dos poderes públicos, parece ser um tema impróprio, que deve dar lugar a uma interpretação mais simplista, como, por exemplo,  a criminalização dos movimentos sociais pró moradias.

          O janotinha enfatiotado João Dória, que fingiu, fraudulentamente, administrar São Paulo como gestor que levava ao mais alto grau a resolutividade, diante da noticia do desastre, logo, capciosamente, o diagnosticou a distância: “No prédio instalou-se uma facção criminosa”.


JOÃO DÓRIA, EX-PREFEITO DE SÃO PAULO

          Típico representante da picaretagem que invade a política, Dória se fantasiou, quase à perfeição, como o “messias salvador” bem nascido na “manjedoura” reluzente, onde os restos do banquete são incinerados. Assim, não chegam à boca do faminto, fazendo-o perigosamente supor que a mesa da fartura poderia ser menos injusta do que é, restrita a uns poucos comensais.

          Então, se há miseráveis mofando em prédios públicos abandonados, mais cômodo seria então criminalizá-los.

          Aos ouvidos seletivos que se fazem moucos ao vozerio dos espezinhados, ainda soa, como suave e inspiradora música, a frase dos rancorosos passadistas: “Problema social é caso de polícia”.

SURGE A MAIOR DAS NOSSAS EMPRESAS: A PECULATOBRAS

          Está aí lançado um desafio aos doutorandos em fase de escolha de um tema para a tese de doutoramento. Peculato, ou seja, o avanço de personagens públicas sobre os cofres igualmente públicos, é coisa que vem dos primórdios da evolução humana, desde que o chefe de uma horda se tornou guardião de alimentos acumulados no canto de uma caverna, a salvo da fome das feras, mas não de quem os guardava, que decidiu deles se apropriar sem consultar os outros, que o escolheram, confiantemente, para guardá-los.

          O peculato evoluiu tanto, sofisticou-se a tal ponto, que se fez acompanhar de uma equipe de especialistas, que tecnificaram os comportamentos, agora não mais de um simples ato isolado de roubar, mas, de forma bem mais ampla, o movimento, em escala global, do volume amealhado pelas quadrilhas de engravatados, invariavelmente portadores de mandatos, ou de sinecuras outras, que os levam diretamente aos cofres.

          Essa operação Câmbio-Desliga, que a Polícia Federal apenas inicia, é a entrada, talvez inédita, no mundo particularíssimo dos operadores de dinheiro escondido, todos interessados em manter a salvo o resultado vistoso das ousadias, para fazê-lo emergir como patrimônio apresentável aqui, ou alhures, preferencialmente em Miami, cidade mais ao gosto de tal gênero mafioso.

ENTENDA AS OPERAÇÕES DE “DÓLAR-CABO” USADAS PARA ESCONDER DINHEIRO DE PROPINA
Foto/Infográfico: Juliane Monteiro/G1

          Eis que entram em cena os doleiros, que sabem de tudo e parecem dispostos a contar tudo o que sabem. É uma eletrizante série de revelações, começando na década dos oitenta, chegando até agora, até ontem, melhor dizendo.

          A amplitude da Organização Criminosa é impressionante e mais impressionante ainda é a fartura de nomes famosos e poderosos que a integram, com destaque para os que passaram a operar com muito maior desenvoltura nos últimos anos.

          Calcularam os federais, fazendo as primeiras contas, que a coisa ultrapassa um bilhão e meio de dólares, quase cinco bilhões de reais. “Cale-se tudo o que a antiga musa canta”, como versejou o poeta lusitano Luiz de Camões, “que um valor mais alto se alevanta”.

          Esqueçam, “petrolões”, “mensalões” do PMDB, do PSDB, do PP, do PT, do PTB, de tudo o mais, “mensalinhos”, Cabrais, Cunhas, Geddeis, Moreiras, Padilhas, Aécios, Coronéis Limas, Advogados Yunes, esqueçam, até, do presidente Lulia, porque agora se revela o Conjunto da Obra. E a obra é portentosamente vistosa, impressionantemente ousada, descaradamente ostensiva, e, também, vergonhosamente vulgar, nojentamente repulsiva, mais ainda.  

          Surgirão empresas, muitas empresas, até o antigo caso do Banestado, aquele lá do Paraná, está sendo revisitado. Haverá bancos no exterior, criados especialmente para imprimir o “carimbo de lavado”, ao dinheiro percorrendo os mercados do mundo.

          Então, fica o desafio para a prospecção acadêmica sobre as consequências da roubalheira e o conjunto da economia brasileira; as suas marcas enxergadas no PIB, o nosso Produto Interno Bruto, ou, melhor dizendo, o PNB, Produto Nacional Bruto, mais abrangente ainda. Mas não imaginem fazer apenas cálculos de redução, será indispensável avaliar os efeitos multiplicadores desses capitais desterrados, internacionalizados, ou repatriados, assumindo a forma de ações adquiridas em variadas bolsas, de novas empresas, de imóveis urbanos e rurais, de organizações sem fins lucrativos, de redes de comunicação, de redes de lenocínio, de contrabando, tráfico, jogatina. É a soma do “trabalho” conjunto de tantos peculatários reunidos, todos, do mais alto nível social, nos mais elevados postos do poder. Conjuntamente, contribuem para a formação do imenso bolo, que circula por fora da economia formal.

          O desafio do trabalho de doutorado, seria, exatamente, quantificá-lo e medir o grau de influência que teria o “bolo” no nosso Produto Nacional Bruto. Quem se fizer candidato a tal empreitada, comece pedindo permissão ao Ministério Público Federal para frequentar as duzentas horas de “aulas” que os doleiros delatores irão dar aos procuradores, como parte da pena aliviada a que serão condenados, na condição de delatores. Essas aulas de “doutores do crime” serão essenciais para que se tenha a radiografia perfeita de como opera a PECULATOBRAS, sem dúvidas, a maior entre as transnacionais brasileiras, operando em 52 países.

          Quanto orgulho deve haver da nossa parte, até por saber, como revelam agora os doleiros da extensa quadrilha, que o presidente Temer é um dos acionistas da PECULATOBRAS.

 

O INSS E O HOTEL PALACE, OS DOIS PRÉDIOS ABANDONADOS

          Ganha relevância maior a questão dos prédios públicos abandonados, depois do que ocorreu em São Paulo. É aquela estória do fechar a porta depois de roubado.

          Há, em Aracaju, dois edifícios símbolos dessa forma de perigoso descuido. No caso do estado, o Hotel Palace de Aracaju; no caso da União, o prédio, quase enorme, do INSS. O primeiro está, como se diz, “largado às traças há muito mais tempo”. O caso do Hotel construído em 1962, que durante dez anos foi a nossa única hospedagem de qualidade, é mais complexo, porque, como aqui já destacamos antes, os seus dois primeiros andares na base mais larga do edifício, são ocupados por particulares, que mantêm em uso aquele espaço, enquanto a torre de oito andares e o terceiro andar da parte mais ampla estão fechados. Foram vedadas com alvenaria as suas portas e janelas, assim, o prédio ficou a salvo de invasões, mas a deterioração é enorme.

HOTEL PALACE DE ARACAJU

          Já o INSS é coisa mais recente. O prédio é amplo, de boa qualidade e, não se sabe porque, restou desprezado, indo o INSS abrigar-se precariamente em outros locais. Em casos assim, se houvesse sensibilidade e vontade política, logo se trataria de adequar o prédio para ser usado por famílias, que necessitam de moradias. O mesmo se poderia ter feito no caso do hotel. Mas permeia entre nós o recorrente, todavia mal disfarçado preconceito, que responde pela interdição das áreas centrais ou mais valorizadas da cidade aos pobres. Afinal, manda o velho protocolo da exclusão, que classe A e B não se podem misturar com a C e muito menos com a D.


ANTIGO PRÉDIO DO INSS

          Na Atalaia, Marcelo Déda quebrou esse falso paradigma, desfazendo uma favela e não remetendo os seus moradores para as lonjuras dos conjuntos habitacionais fora do município. Substituiu as palafitas degradantes sobre a maré e fez casas sólidas e decentes ao lado de uma avenida que abriu contornando o mangue. Na área convivem todas as classes e confirma-se o que disse um favelado mandado para um conjunto distante. Ao ser perguntado se estava feliz na sua casinha de alvenaria, lá pelos lados da Taiçoca, ele respondeu: “Não estou, lá eu fico sem trabalhar, o senhor já viu pobre cercado de pobre dar certo?”.

          O governador Belivaldo volta as vistas para o caso do Hotel Palace, quer encontrar, com a iniciativa privada, uma forma de recuperar o prédio.

AOS DEPUTADOS UM MEIA VOLTA VOLVER

          Que ninguém se assuste, não se vai por os parlamentares a cumprir uma ordem unida, ouvindo as determinações do sargento, comandando a instrução.  O “meia volta volver” dos senhores legisladores pátrios, será o retorno, ou remessa deles, à primeira instância, perdendo o foro privilegiado, que mantinha em Brasília os seus processos. Deverão retornar, João Daniel e Adelson Barreto. O mesmo acontecerá com André Moura, já condenado aqui, em primeira e segunda instãncia, quando Prefeito de Pirambú e sem mandato, subindo depois ao Supremo, quando tornou-se deputado federal. Se o senador Eduardo Amorim efetivamente ainda estiver sendo investigado pelo Supremo, coisa que ele nega, também teria seu caso remetido a Sergipe.

          Já Rogério Carvalho permanece sendo julgado em Brasília. Não teve direito a foro especial por estar sem mandato, mas recorreu da condenação aqui. No caso de Heleno Silva, ele assegura que o seu julgamento no STJ, por ter recorrido e sem mandato, está interrompido, segundo ele, com a caducidade do processo a que responde, no caso dos Sangue Sugas, quando foi deputado federal. Agora, possivelmente livre da Justiça, “o meia volta volver” de Heleno é de outro gênero. Desgarrado da igreja, sem saber ao certo se ainda é pastor, ele continua à procura de suas ovelhas votantes, agora, em um novo campo ao qual começa a adaptar-se, mudando o discurso governista exercitado ao longo de vinte anos, para estrear na oposição.


          Começou dando um tiro no próprio pé. Numa emissora de rádio em Itabaiana, criticou o governo, dizendo que, nesses últimos anos, não se conseguiu trazer para Sergipe nenhuma nova empresa. Deve ter desgostado ao advogado Chico Dantas, que, por ele sendo indicado, e ali representando uma parte do quinhão do PRB no governo, ocupou por três anos, justamente a pasta que trata do assunto: a Secretaria da Indústria Comércio Desenvolvimento Ciência e Tecnologia. Hoje, Chico é presidente da ADEMA. Heleno, atualmente é Chefe do Escritório de Sergipe em Brasília, setor que sempre exerceu algum protagonismo na atração de investimentos. Em Canindé, o criticam por não ter conseguido levar, no decorrer de quatro anos como prefeito, uma só empresa, por miúda que fosse, e de ter perdido a grande oportunidade de instalar, no município, a Universidade AGES, de Paripiranga (BA), cujo Reitor, o professor visionário José Wilson dos Santos, pretendia iniciar o campus canideense com quatro faculdades, inclusive, uma de engenharia elétrica. A AGES, em Paripiranga, tem um número de alunos maior do que os habitantes da sede municipal. É a mola que dinamiza a economia de Paripiranga, com efeito em vários municípios vizinhos. Em Lagarto, depois de terem chegado a bom termo as providencias adotadas pelo então prefeito Lila, a AGES já está funcionando.


UNIVERSIDADE AGES, EM PARIPIRANGA (BA)

          O ex, ou ainda, pastor, Heleno Silva, quer ser Senador da República, diz que é um sonho que acalenta desde criança. Resta aos eleitores transformarem em realidade o universo onírico do menino Heleno. O ex-deputado é agora aliado ao PSC, do poderoso líder do governo Temer, André Moura. Junto com ele, Heleno disputará uma das duas vagas existentes no Senado e votará em Eduardo Amorim para governador.

 

O FÓRUM MAÇÔNICO E O TEMA ADOÇÃO

          O tema adoção é ainda um tanto ignorado, mas, envolve um aspecto humano da maior importância: a criança que precisa do amparo de uma família carinhosa e protetora. Disso, depende o futuro de muitas, esperando nos orfanatos por quem apareça e lhes retempere a esperança de viver.

          Desse tema adoção cuida, faz alguns anos em Sergipe, a organização social que recebe o sugestivo nome de ACALANTO. Todos os anos a Loja Simbólica Cotinguiba, um espaço maçônico, realiza um Fórum voltado para assuntos de relevância. Este ano, o venerável da Loja, Carlos Bittencourt, com a aprovação de todos os obreiros, resolveu tratar do tema adoção. Procurou uma parceria com a Acalanto e logo encontrou pleno apoio no entusiasmo sempre revelado pelas dirigentes da entidade. O reitor da UNIT, professor Uchoa, juntou-se na parceria e dia três, quinta feira, realizou-se o Fórum no auditório Padre Melo, campus central da universidade.

          Para mais de 250 alunos, professores, pais de crianças adotadas e interessados outros, falaram o Juiz de Direito Haroldo Luiz Rigo da Silva, que tratou do tema Aspectos Jurídicos da Adoção, a professora doutora Marilzete Maldonado Vargas deu à sua palestra o título: O Triângulo da Adoção: Uma Abordagem Psicológica e a professora, mestra, psicóloga e presidente do Projeto Acalanto Sergipe, Célia Maria Machado Vieira abordou o papel dos grupos de apoio à adoção. No final houve uma Mesa Redonda, para debates e esclarecimentos.

Para levar ao Fórum da Cotinguiba a demonstração de apoio de todas as Lojas do Grande Oriente, esteve presente o Grão-Mestre Lourival Mariano de Santana.


GRÃO-MESTRE ESTADUAL MAÇÔNICO LOURIVAL MARIANO DE SANTANA

O SINDICATO DOS DELEGADOS E  A CARTA SEM DESTINATÁRIO

          O Sindicato dos Delegados da Polícia Civil de Sergipe emitiu uma nota fazendo restrições, quase totais, ao plano para a segurança pública anunciado por Belivaldo. Não há, certamente, ninguém mais credenciado a falar, emitir opiniões sobre segurança pública, do que, evidentemente, os delegados de polícia. Por isso foram aprovados em concurso público, por isso exercem sua profissão e adquirem um somatório precioso de experiências, na medida em que se sucedem os dias de atividade e o contato permanente com o crime, e com o aparato que o combate, do qual o delegado é parte fundamental. A nota foi caracterizada como Carta Aberta, por conseguinte sem endereço específico,  dirigida à toda a sociedade. Isso é bom, gera transparência e maior interesse da sociedade pela questão que, hoje, se transforma em um tormento, aquela sensação horrorosa de que, logo ali na esquina, se poderá ser assaltado ou, até, crivado de balas pelo assaltante.

           O Secretário de Segurança, João Eloy, é delegado de polícia, a superintendente, igualmente uma delegada, Katarina Feitosa, e os dois estão, de forma permanente, dispostos ao diálogo. Quando anunciou a elaboração do plano, o governador Belivaldo Chagas pediu a participação de todos os setores das polícias civil e militar. Diante das circunstâncias da crise que vivemos, diante de uma situação de agravamento da ofensiva da criminalidade em todo o país, seria, certamente uma fórmula mais construtiva, a participação do sindicato na elaboração do plano de segurança, oferecendo suas sugestões, apresentando ideias e, então, no caso de não haver espaço para as propostas que fizeram, revelar à opinião pública que também pretenderam contribuir para a elaboração do plano de segurança estadual, mas, a sua colaboração fora rejeitada e, por isso, protestavam.

SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA, JOÃO ELOY, E SUPERINTENDENTE DA POLÍCIA CIVIL, KATARINA FEITOSA

A CULTURA “RENTISTA” E A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA

          Em Sergipe o latifúndio improdutivo quase não mais existe. Com reduzido território, aqui, a conformação fundiária se fez de forma mais repartida e eram contadas aos dedos as propriedades com mais de dez mil tarefas, uns três mil hectares. Em algumas regiões a reforma agrária se fez naturalmente, como, por exemplo, na área citrícola em torno de Boquim, no agreste, tendo como polo Itabaiana, onde predomina a agricultura familiar. Mesmo a atividade pecuária é exercida em propriedades médias e é difícil encontrar-se, em Sergipe, um criador com um rebanho de mais de cinco mil cabeças.

          O MST acelerou o retalhamento das propriedades, mas, no caso do semiárido, o fez de uma forma que não assegura a sobrevivência a quem está sobre um lote de terra ressequida, com apenas sessenta tarefas. O modelo adotado terá de mudar para melhor, mas isso somente seria possível através do sistema cooperativo, o que exige uma gestão cuidadosa e técnica e uma cultura favorável a essa relação de produção, que, entre nós, não alcançou muito sucesso onde foi tentada.


          Um dos aspectos positivos da eliminação do latifúndio improdutivo, foi o desmoronar da especulação, que elevava artificialmente o valor da terra. Por outro lado, a vocação rentista do atrofiado capitalismo brasileiro deslocou-se do campo e dirigiu-se às áreas urbanas, onde o preço da terra entrou em ascensão.

          O rentismo, ou capital parasitário, é forma deformada de criar segurança para quem não ousa ou apenas tem preguiça e medo. Mas, além disso, responde pela degenerescência do nosso modelo de cidade. Aracaju se tornou vítima desse processo, da mesma forma que outras cidades brasileiras. A criação dos latifúndios urbanos, ou estoques volumosos de terrenos em poucas mãos, é a pior forma de gerar riquezas artificiais e improdutivas, que mais se beneficiam de todo o sistema de infraestrutura, oferecido à custa de recursos públicos, que deixam de ser canalizados em direção às periferias carentes. Assim, acelera-se a exclusão social, que empurra para longe grandes massas de trabalhadores e faz surgir uma valorização desmedida para as áreas reservadas às classes A e B.

          Enquanto o capital dinâmico busca espaços para criar empregos e produzir, o capital parasitário, rentista, encastela-se na especulação e agrava as condições de vida em todas as cidades brasileiras de porte médio e grande. Para que se evitem tragédias como a de São Paulo, onde habitação é sonho acessível a poucos e se fazem estoques especulativos de imóveis, enquanto centenas de milhares não têm onde morar, é necessário outra legislação urbana, diferente da leniência de leis, feitas exatamente para favorecer a especulação. A consequência são as bombas urbanas que já começam a explodir.

 

O CAÇADOR DE CORRUPTOS: APLICATIVO QUE FAZ SUCESSO

          Esse aplicativo que faz surgir o político ficha limpa ou ficha suja, apenas pela exibição do rosto, está alcançando enorme sucesso, nessa época que antecede o início da campanha. Durante a campanha, o aplicativo será instrumento essencial de esclarecimento ao eleitor. Nesta era de redes sociais livres, mecanismos ágeis para a localização de processos judiciais que podem ser exibidos, ou o político se apresenta sem mácula ou não escapará do castigo popular. O Caçador de Corruptos vai completar o trabalho que a justiça deixou inconcluso e, nesse tempo de tanta indignação, ser réu ou investigado por corrupção corresponderá, quase, a uma sentença condenatória nas urnas. Quem aparecer no aplicativo de forma deprimente gastará todo o tempo da campanha a tentar produzir explicações.

          O governador Belivaldo submeteu-se ao teste e já aparece nas redes sociais com o selo da ficha limpa. O senador Valadares e o deputado Valadares Filho fizeram o mesmo e ganharam o aval do aplicativo.  Os deputados federais Laércio Oliveira, Fábio Mitidiere e Sérgio Reis são outros aprovados. Os que podem passar no teste já levam uma vantagem enorme sobre os reprovados.

          O aplicativo, coisa quase revolucionária, será um instrumento eficaz para a higienização do cenário político.

BELIVALDO, FICHA LIMPA

NOSSA SENHORA DA GLÓRIA, ONDE O SERTÃO PROGRIDE

          Humberto de Campos, um grande escritor e político maranhense, passou quase toda sua vida no Rio de Janeiro, mas nas crônicas diárias que escrevia para jornais cariocas, costumava abordar temas nacionais, e dava ênfase à sua sofrida região. Em 1931, ele, escrevendo sobre os flagelos da seca e da lepra, disse que o nordeste era a região condenada por Deus, que os homens não souberam redimir e disse, também, que desejaria viver 200 anos para assistir o fim da então incurável lepra e da seca. Se vivesse, apenas mais trinta anos, ele teria sido contemporâneo da medicação que curou a lepra, mas, se vivo ainda fosse, constataria que a seca não foi vencida.

HUMBERTO DE CAMPOS, POLÍTICO, ESCRITOR E POETA (1886 – 1934)

          Há, todavia, regiões no semiárido nordestino que elaboram seus próprios modelos para a superação do problema climático. Não se pensa mais em vencê-lo, mas, em conviver com ele, sem maiores tormentos ou desesperos.

          É exatamente isso que Nossa Senhora da Glória tem sabido exemplarmente fazer. Aproveitando o clima menos áspero, retirou a mata e plantou feijão e milho, criou gado e produziu leite. E foi sempre um entreposto comercial ativo.

          Gloria é hoje, efetivamente, a capital do sertão, como os glorienses, orgulhosos, tanto propalam.

          Chico do Correio, o prefeito em segundo mandato, tem sido um contemporâneo proativo desse processo de aparelhamento do município para o desenvolvimento. Lutou e conseguiu o primeiro núcleo da UFS no sertão, especificamente para lidar com tecnologias adaptadas ao semiárido, uma visão adequada, imprimida pelo reitor Ângelo Antonioli, ao seu acampamento catingueiro. Jackson deu plantão no gabinete do Ministro da Educação Mercadante, até que ele lhe garantiu que o campus de Glória será instalado.


FRANCISCO CARLOS NOGUEIRA, O CHICO DO CORREIO, PREFEITO DE N. S. DA GLÓRIA
Foto: Edinah Mary

          Chico do Correio, que antes de ser prefeito semeava o verde, em parceria com o Instituto Vida Ativa, quer agora quebrar a madorrenta aceitação de um absurdo: o despejo de esgotos sem tratamento nos afluentes do São Francisco. Na bacia do rio, o crime se repete, diante da pasmaceira inepta e desatenta da esclerosada CODEVASF. Todos os sistemas, por ela construídos, despejam merda sem tratamento no rio, que a tal companhia, criada para dele cuidar, permite que aconteça. Chico vai instalar um sistema de tratamento, ainda de pequena amplitude, para operar numa área da cidade e a água própria para o reuso que sairá do processo será usada, inicialmente, para irrigar o gramado do Estádio de futebol, que ele deverá inaugurar até junho. Já tem projetos maiores em perspectiva.

 

CARTÃO BANESE COISA DO POVÃO

          São mais de setecentos mil sergipanos que têm o seu cartão Banese nas mãos. Isso corresponde a quase um terço da população sergipana. Nenhuma outra empresa em Sergipe, nem mesmo a Caixa Econômica Federal, tem uma ramificação tão expressiva pelo estado, abrangendo a massa da população, desde a classe A, listada como rica, até a D, que depende do Bolsa Família.

 

A BARRA LIVRANDO-SE DAS SUAS FAVELAS

          A Barra dos Coqueiros tem o destino de ser complemento de Aracaju, o ponto de convergência mais atrativo e mais próximo da capital, que cresce em sua direção. É preciso, contudo, que, mesmo sendo transformada num polo industrial, a Barra não perca inteiramente as suas características naturais. Terra de muitos coqueiros, daí o nome, a Barra é o cenário perfeito para os empreendimentos imobiliários, que são benéficos, multiplicam renda, mas precisam seguir um rigoroso código ambiental. Se não houver um plano diretor moderno, a Barra corre o risco de, em poucos anos, transformar-se numa desolação asfaltada. Aí perderão todos, inclusive os moradores dos condomínios em espaços privilegiados, que esperam poder conviver sempre com a natureza, a praia e o mar em frente, limpos, os arredores verdes, sem perderem os coqueiros, as mangabeiras, a vegetação de restinga, partes do diversificado bioma que a Barra hospeda.


          O prefeito Airton Martins parece estar atento a esses aspectos, e, no que tange aos problemas sociais, tem, em parcerias com o governo do estado, desenvolvido bons projetos de desfavelamento. Acabou a convivência de gente com a lama, desmontando a alongada linha de mocambos que seguia as margens do fétido Canal Guaxinim. Todos estão morando agora em apartamentos, num conjunto de pequenos prédios  e próximos de onde viviam e encontravam ocupação.


PREFEITO DA BARRA DOS COQUEIROS, AIRTON MARTINS

          Na ponta norte da ilha acabou a tragédia da Ilha do Rato, onde bichos de porco deformavam os pés de meninos e ratos roíam crianças. Nos últimos dias de governo, Jackson inaugurou um conjunto praiano para os favelados, que tentam sobreviver, agora, como pescadores artesanais.


RESIDENCIAL PONTAL DA BARRA, DIGNIDADE PARA 150 FAMÍLIAS DA ILHA DO RATO
Foto: Jorge Henrique/ASN

OS EFEITOS DA ALONGADA SECA SOBRE A CAATINGA

          Dizem os especialistas que a seca teria terminado o seu ciclo de devastação no ano passado, quando houve chuvas próximas aos índices de normalidade e colheu-se, em Sergipe, a maior safra de milho da nossa história. Desde o manejar da enxada nas roças de pequena monta, para o plantio rústico do milho conjugado ao feijão, até hoje, quando por aqui o cereal de espiga assumiu ares importantes de um rendoso agronegócio, que se desenvolve junto, e sem conflitos com a agricultura familiar, houve um enorme salto de qualidade na lavoura modernizada.

          Mas essas coisas são possíveis no agreste, onde a crise hídrica não tem a intensidade que se registra no semiárido. A seca, ali, sempre é mais severa e os cinco anos, desde 2012 a 2017, foram mesmo sem gota de chuva. Secaram as barragens, os rebanhos não se perderam, porque houve uma operação muito bem estruturada sob a coordenação do governo do estado, com a presença do governo federal e a ajuda valiosa do exército brasileiro, através do 28º Batalhão, sediado em Aracaju. A Defesa Civil em conjunto com uma Força Tarefa que foi criada, asseguraram o fornecimento, inclusive de alimentos, para os rebanhos e não se perderam reses por fome ou falta de água.

          Todavia, os efeitos ambientais foram de grande amplitude. Secaram rios, por muito tempo, barragens desapareceram e até a resistente caatinga começa a perder a luta contra a aridez que exaure. A caatinga, vegetação xerófila, que se desfaz das folhas, enfia, o quanto pode, as raízes no chão procurando algum vestígio de umidade e também dialoga com o ar nessa mesma busca. Mas tanto o chão, como os ares se desidratam e os hidrômetros insistiam em marcar, todo o tempo, índices de umidade abaixo de 20%, com temperaturas, em algumas regiões no Raso da Catarina e o seu entorno, que abrange o alto sertão sergipano, chegando a impensáveis 50 graus.

          Tudo isso causou, na caatinga, a flora quase única e, na fauna, uma devastação sem precedentes. Agora, tudo está verde, as chuvas retornam de maneira tímida ainda, mas algumas barragens pegaram água, embora todos os rios intermitentes continuem secos.

          Os bichos que voam bateram asas, dos que andam poucos restaram. Um rastreador matreiro conseguirá divisar pegadas de mocós, algumas de guaxinins, surpreendentemente, até de jaguatiricas, mas acabaram-se os veados, os tatus, os tamanduás, os porcos do mato, que já foram abundantes. Nem piam mais as codornas, nem matraqueiam rápidas nambus; as aracuãns, vez ou outra, fazem seus contrapontos estridentes e, nas noites bem escuras, um aparente talo seco, que, todavia, é ave, a coruja Mãe da Lua, talvez ansiosa de luar, flauteia num langor que assusta e, também, enternece.

          Parece que todo o, outrora extenso, bioma da caatinga, pelos sons que emite e, sobretudo, pelo opressivo silêncio que espalha, estaria denunciando uma exaustão, que, até, poderá ser uns sinais de morte.

          Que assim não seja, porque a morte da natureza será a tragédia maior, por antecipar a morte humana.

          Nas fotos que seguem, os cactos, tais como o mandacaru, facheiro, umbeba, quipá, xique-xique, palmas de espinho, caixa-cobrí, o bugio, estão apresentando estranhas doenças, pragas até agora desconhecidas, e já morrem, efeitos da longa estiagem.


CACTOS DOENTES


CONVITES:

 



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