Dia 22 de agosto de 2010 na plataforma de lançamento de Alcântara, Maranhão, um foguete VLS produzido no Brasil, fazia o seu último teste antes da partida que seria no dia seguinte. Houve um acionamento intempestivo dos motores. O aparato fixo na torre de lançamento explodiu. Morreram vinte e uma pessoas. Com as mortes de tantos cientistas e tecnólogos desfalcou-se, irreparavelmente, a expertise, o conhecimento de que dispunha o Brasil na área espacial.
VLS significa Veículo Lançador de Satélites.
Já lá se vão seis anos de completa paralização do nosso acanhado programa espacial. Para este mês estava programado o reinício. Seria o lançamento, em Alcântara, de um foguete que levaria ao espaço o primeiro satélite brasileiro, capaz, efetivamente, de nacionalizar o nosso sistema de informações, até agora fornecidas por satélites americanos, dos quais dependem as nossas forças armadas. Ou seja, nossa independência é muito relativa, talvez, ainda, no mesmo nível de quando o general-presidente Ernesto Geisel, num corajoso gesto, anulou o chamado Acordo de Cooperação Militar Brasil-Estados Unidos, através do qual os americanos nos forneciam sucatas bélicas e sabiam, até, quando um tanque, um jato ou uma corveta, ligavam os seus motores.
Em termos estratégicos continuamos na mesma dependência. Esse satélite que nos dará autonomia é nacional, mas o veículo lançador é indiano. Desde o acidente em 2010, a nossa canhestra “corrida espacial” ficou travada. Estamos retardados em uma área tecnológica indispensável para o crescimento econômico e a defesa nacional.
O nosso programa nuclear é sistematicamente sabotado. Quando, ainda o general-presidente Geisel, fez o acordo de cooperação com a Alemanha, que nos possibilitaria a instalação de usinas atômicas e construir um submarino nuclear, as pressões americanas sobre a Alemanha foram tais, que o acordo acabou suspenso. Temos um arrastado projeto de expansão de Angra, a nossa, até hoje, única geradora de energia nuclear. Isso já vai além de 40 anos e também o projeto do submarino continua emperrado. Uma das nossas maiores autoridades em energia nuclear, o almirante Otto Alencar, era o superintendente de Angra e da construção da usina Angra-3. Ele foi preso ano passado, acusado de ter recebido propina. Se recebeu ou não, a Justiça irá decidir, mas o seu afastamento tornou-se mais um empecilho no acidentado percurso até alcançarmos a capacidade de gerar e utilizar plenamente toda a potencialidade da energia nuclear.
Tínhamos, até pouco tempo, quatro ou cinco construtoras que se projetavam no mercado internacional, em condições de igualdade com as maiores empresas do mundo. Todas estão agora à beira da falência e, nos países onde operavam, as suas lacunas são preenchidas por construtoras multinacionais, que querem também dominar o mercado brasileiro. Uma coisa é prender ladrões, outra, é impedir o funcionamento de empresas das quais dependem milhões de brasileiros. Retornam ao Brasil trabalhadores que estavam empregados em obras dessas construtoras em diversos países, somando-se aos que aqui, há tempos, estão de mãos abanando após a paralisação de diversos projetos.
Só de Sergipe mais de dois mil trabalhadores estavam ocupando postos em outros estados e no exterior. Voltaram, com a perspectiva cinzenta de um longo período de desemprego.
Surge a Operação Carne Fraca, dirigida exatamente contra outro setor onde o Brasil conseguiu projeção internacional. São mais de 150 países para os quais exportamos. O mercado é competitivo e há concorrentes interessadíssimos em barrar a expansão brasileira. A Austrália acaba de nos tomar um boa fatia no mercado chinês.
A PETROBRAS venceu a duras penas, num tempo em que as “Três Irmãs”, o grande cartel anglo-americano-holandês, controlava, a ferro e fogo, o mercado mundial do petróleo. Fruto da pertinácia do povo brasileiro a PETROBRAS avançou na complexa tecnologia da extração do óleo e gás em águas profundas. Foi fragilizada pelo assalto de quem por ela mais deveria zelar. Agora, está na UTI de uma quase pré-falência, reduziu atividades, vai desfazer-se de grande parte dos seus ativos.
O maior complexo cervejeiro do mundo a brasileira AMBEV, pode ser a próxima a entrar na linha de tiro. Na rede social já colocam insistentemente uma massa pastosa escorrendo em um canal, pombos nele pousando e sendo tragados pela corrente. Há legenda revelando que aquilo ocorre numa fábrica da AMBEV e a massa engolidora de pombos é cevada, com a qual se faz a cerveja. E há a explicação: o filme foi feito por um funcionário que alertou os donos, mas eles disseram que deixasse como estava, “era mais proteína”.
A coisa é ridícula, grotesca, mas há quem acredite e até aplauda se for feita uma operação na empresa.
Como diria o espanhol desconfiado: “Yo no lo creo em las brujas, pero que las hay, hay”.
LUZES, CAMERAS, AÇÃO
O Brasil deve ser o único país onde as sessões plenárias da Corte Suprema são transmitidas ao vivo pela TV. As sessões deveriam ser assim abertas pelo Presidente do Supremo: Luzes, Câmeras, Ação.
Os senhores ministros consciente ou inconscientemente terão um olho na lei, outro nas câmeras.
Se esse fascínio pela exposição que gera a fama, até para quem já famoso é, imagine o que não passará nas cabeças de quem, humanamente vaidoso, tem pela frente a rara oportunidade de cair no gosto popular, até na idolatria da sociedade e surgir na mídia com a imagem do cavaleiro da esperança de um povo descrente. É algo irresistível. Mas a ânsia persecutória, o delírio personalista de tornar-se instrumento único da própria Justiça, isso, gera irremediáveis sequelas no processo democrático.
Acabou-se aquela sensação que era torturante, de que no Brasil só ia para a cadeia pobre, preto e prostituta. Essa nova sensação de que o rico e poderoso pode parar na cadeia, mas a ânsia pela imagem na telinha tem gerado episódios constrangedores, ofensivos à Constituição e à democracia.
Num ato autoritário e de desprezo pela liberdade de informação, o Juiz Sérgio Moro agride os jornalistas, agride a Constituição, ao mandar conduzir coercitivamente o blogueiro Eduardo Guimarães, autor do Blog da Cidadania. O Juiz queria saber sobre vazamentos de depoimentos protegidos pelo segredo de Justiça, dessa forma, ferindo frontalmente a garantia constitucional sobre o direito do jornalista de preservar suas fontes de informação. Repetem-se, todos os dias, vazamentos e a Rede Globo os divulga sem reservas.
O Ministro do STF Gilmar Mendes e o Procurador Geral Rodrigo Janot, travam virulento duelo verbal, motivado, exatamente, pelos vazamentos de informações, que miraculosamente saem fresquinhas das salas herméticas da Policia Federal ou dos Tribunais.
Se nos conformarmos, homologaremos, pela covardia, o Estado policialesco em que se vai transformando o país. No caso da “Carne Fraca” os atraídos pelas câmeras tiveram mais um instante de estrelato, enquanto os brasileiros, por isso, irão penar mais ainda na longa noite da recessão e do desemprego. E por conta da queda maior na receita já prevista, vem por aí mais imposto.
LISTA FECHADA, SERÁ A LISTA DOS MASCARADOS
Querem agora os nobres deputados ficar escondidos do eleitor. Não que eles estejam com vergonha por terem fuçado tanto tempo na lama do grande chiqueiro em que se transformou a vida pública brasileira.
Melados, quase todos estão arquitetando o grande golpe, coisa mesmo do submundo frequentado pelos que precisam de máscaras e capuzes. A máscara ou o capuz dos deputados será a chamada Lista Fechada. Os partidos ou as coligações, ou seja, eles mesmos, elaboram essas listas e o eleitor vota nela de acordo com a sua preferência partidária. Como os partidos estão quase todos desmoralizados e como se sabe que a maioria deles não passa de uma banca para negociatas, então, o constrangimento imposto ao eleitor será ainda maior.
Para reagir contra essa relação de embuçados, basta o eleitor recusar-se a votar na Lista Fechada. Com a abstenção seletiva ficará demonstrado o repúdio da sociedade à Lista dos Mascarados.
DA “CARNE FRACA” À CARNE DE CHERNOBIL
Até no nome a operação começou errada: Operação Carne Fraca. Desqualificava-se antecipadamente a qualidade da carne brasileira.
Mil policiais federais investigaram o processo de produção da carne. Nisso, levaram dois anos. Finda as investigações dispunham de dois laudos técnicos apontando irregularidades. Quais eram? Um pouco mais de amido colocado na salsicha, o fornecimento a uma escola de salsicha de frango, como se fosse de perú. Encontraram também fiscais sanitários que teriam recebido propinas e, ainda mais, como sempre, o rastro de políticos nas malandragens. Para que fossem presos esses malfeitores e ladrões engravatados o escândalo seria perfeitamente dispensável.
No Brasil funcionam mais de 4.500 frigoríficos, e, entre eles, estão duas das empresas maiores do mundo na produção de carne bovina, outra, na produção de frangos. O Brasil é o maior exportador, tanto de carne bovina, como de aves. Todos os nossos produtos são rigorosamente inspecionadas pela fiscalização sanitária dos países importadores. São mais de cento e cinquenta.
E a nossa carne é fraca?
A carne que o Brasil produz representa uma parte destacada do nosso PIB, em torno dela gravitam seis milhões de empregos. Quem fizer uma visita ao oeste catarinense terá uma idéia do que significa o negócio dessa carne devastadoramente apelidada de fraca. São milhares de pequenos núcleos de agricultura familiar, dos quais saem frangos, patos, marrecos, suínos, carneiros, perús, coelhos, perdizes, faisões, o milho e a soja para as rações. As indústrias criaram um sistema diversificado de produção, os pequenos criadores foram incentivados com financiamentos. Montou-se uma cadeia produtiva que representa o setor mais dinâmico da região, ou, mais exatamente, quase a única atividade geradora de empregos.
Há três décadas o banqueiro e pecuarista Murilo Dantas, ao criar um grande frigorifico em Propriá, como empreendedor visionário que era, projetou e deu início em Sergipe a uma cadeia produtiva semelhante ao que existe no oeste catarinense. Enfrentou dificuldades no financiamento e a sua morte prematura interrompeu o projeto. Caso houvesse sido bem sucedido o baixo São Francisco sergipano seria menos pobre do que é.
De Santa Catarina nos transportemos ao centro oeste, ao Mato Grosso do Sul, ao Mato Grosso, a Goiás, onde estão as gigantescas boiadas. A pecuária sustenta o vigor da economia e ali estão também as maiores unidades de processamento da carne. Por tudo isso o Brasil tornou-se o maior produtor de proteína animal. Superamos os Estados Unidos, a Austrália, a Argentina, num setor onde um simples deslize no que se refere aos cuidados sanitários coloca tudo a perder.
Nos dias desatinados do Plano Cruzado, onde os “fiscais de Sarney” fizeram o papel de bobos da corte autoritários. Fecharam supermercados, açougues, denunciaram pecuaristas que estariam escondendo boiadas, fugindo do tabelamento de preços, medida idiota que desafia a lógica de qualquer sistema econômico, seja ele estatal, coletivizado ou capitalista. Faltou carne, importamos o produto da Europa. Acontecera a tragédia do vazamento em Chernobil, na então União Soviética, foram contaminadas pastagens européias pela chuva radioativa. Espalhou-se então que estávamos comendo a “Carne de Chernobil” cancerígena, letal. A Comunidade Européia, de onde veio a carne, logo explicou: era proveniente de vacas descartadas, há alguns anos estocada nos frigoríficos.
Os governos da Comunidade subsidiam a produção de leite e carne, como havia excesso de vacas, adquiriram o excedente e armazenaram a carne, para proteger os produtores. Aqui, órgãos de Estado e do Estado, fazem, desastradamente, o contrário.
Os prejuízos são ainda incalculáveis, os empregos perdidos também.
Só um exemplo: o frango é abatido após a engorda que leva aproximadamente 50 dias, depois disso dão prejuízo. As granjas acumulam perdas, da mesma forma os outros produtores de carne de boi, carneiros, suínos, perús, patos, etc...
Esses produtos serão lançados no mercado nacional a preços reduzidos, para que o prejuízo não seja total. Durante algum tempo ganharão os consumidores, mas isso a custa de um desastre econômico, do qual levaremos muito tempo para nos recuperar. E os preços da carne logo depois subirão.
ESCOLA URGENTE, CADEIA NECESSÁRIA
Dizendo que preferiria inaugurar somente escolas, Jackson Barreto, ao lado do Ministro da Justiça Osmar Serraglio, inaugurou a nova penitenciária de Areia Branca. Assim, disse mais, era levado pela urgência ditada pelo crescimento da criminalidade. A penitenciária tem capacidade para 390 detentos. Há uma placa indicando que a obra foi iniciada no Governo Marcelo Déda, quando era Secretário Benedito Figueiredo.
Um detalhe: Benedito, zeloso guardador de recursos públicos, manteve os 13 milhões destinados à obra aplicados de forma segura. Com os rendimentos auferidos foi construída, pelo DER-SE, o anel e o acesso ao presídio, desde a BR-101. Benedito foi muito citado por Jackson, pelo Secretário da Justiça Cristiano Barreto e pelo Ministro Serraglio, que assegurou mais 45 milhões para a reconstrução da antiga penitenciária de Areia Branca, um projeto da mesma forma deixado por ele, e mais um outro presídio. A Medalha do Mérito Penitenciário, criada por Benedito foi entregue ao guarda penitenciário conhecido como Tonho da Lua. Ele morreu enfrentando bandidos que fugiam da penitenciária de Glória. A medalha foi recebida pelo irmão, Chico do Correio, que é prefeito daquela cidade.
Jackson insistiu na necessidade de educar para não ter que prender.
Logo depois, no auditório Tobias Barreto, um ato público marcava o início do curso de capacitação de professores que irão lecionar nas escolas em tempo integral. Como informa o professor Jorge Carvalho, Secretário da Educação, serão mais 15 este ano. Na outra semana, no mesmo local, haverá o ato de acolhimento de três mil alunos das escolas em tempo integral. As aulas começam dia 10 de abril.
Esse é o melhor caminho para que não tenhamos de continuar criando vagas nas cadeia, suprindo a desgraçada demanda.
O SINTESE e a sua líder, a deputada Ana Lúcia, levados por um sectarismo ideológico que faz a repulsiva mistura de socialismo com fascismo, tentaram impedir essas escolas. Mais uma vez, autoritariamente, desafiam os sergipanos com uma greve sem tempo para acabar. Curtem novo período de “dolce far niente”. E os alunos? Que se lixem.
O PRONTUÁRIO DOS CANDIDATOS
Reforma política de verdade, poucos no mundo político querem.
Haveria, contudo, uma forma prática e eficiente de identificar melhor todos os candidatos. Como são figuras públicas e almejam conquistar, ou continuar em cargos públicos, não seria agressão à intimidade de cada um a revelação das suas transgressões obrigatoriamente anexadas à propaganda eleitoral, impressa ou no rádio e TV. Enquanto eles falassem sobre suas virtudes, haveria um texto e um áudio informando o número de processos a que respondem, as denúncias de que são alvos, delitos cometidos, registros em delegacias de polícia, tais como agressões, violência contra mulheres, manifestações preconceituosas, processos correndo em segredo de Justiça no STF e tudo o mais o que compõe uma transparente biografia, ou prontuário, se for o caso.
O LIVRO INSTRUMENTO DA CIDADANIA
Raramente se faz um evento reunindo mais de 400 alunos e professores para algo que não está na rotina da escola. Mas isso aconteceu no sábado, dia 17, no prédio espaçoso da Loja Maçônica Cotinguiba. Acontecia a festa de lançamento do livro Antologia Literária de número três. Na organização do evento, o venerável Ibrahim Salim, o incentivador do concurso, Jilvan Pinto Monteiro, e mais, entre outros, Carlos Bitencourt, Djalma, Renato, Telmo Tojal, Jackson Torres e Antônio Junior.
Presentes estudantes de vários municípios e os seus professores. Eram escritores e poetas incluídos no livro depois de terem seus trabalhos escolhidos por uma comissão de professores. Eles julgaram milhares de trabalhos apresentados, inclusive de outros estados.
Essas antologias resultam da idéia do maçom e acadêmico Domingos Pascoal. Ele percorreu Sergipe divulgando o concurso, mobilizando alunos e professores.
O valor dessas antologias vai além da simples seleção e publicação de textos, o que na verdade se almeja e se vai conseguindo, é disseminar o gosto pela leitura, o apego à educação, ao conhecimento, à participação. Isso envolve Escola e família. O resultado é o aperfeiçoamento social.
O transporte dos alunos foi assegurado pela Secretaria de Estado da Educação.
EDUARDO CABRAL E A PANATHENAIA
O convite para a festa organizada pela Academia e o mundo jurídico leva esse nome, que é grego: Panathenaia. Teria que ser assim mesmo, com a sofisticação necessária para um ato que se fez na noite de sábado, na Universidade Federal de Sergipe, para homenagear o professor emérito Eduardo Cabral Menezes. O número e a categoria dos organizadores mostra que Eduardo, cidadão há algum tempo aposentado, tem o pleno reconhecimento da sociedade. De fato, ele exerceu com inteireza moral e um largo manancial de conhecimentos os cargos que ocupou no Ministério Público e engrandeceu-se mais ainda como o Mestre nas salas da Faculdade de Direito de Sergipe.
Enfim, houve a acadêmica Panathenaia de Eduardo Cabral, oportuna evocação da festa da cultura, da criação artística, da exaltação à deusa Athena, que a tudo isso inspirava. O que se poderia fazer de melhor para, em vida, jogar flores sobre quem as merece?