"Se foi o comandante.” Com essa expressão que até parece lamento, os cubanos receberam a notícia da morte do líder de uma Revolução que já chega aos 67 anos. Desses, Fidel esteve no comando por quase 60, tendo o privilégio raro, entre ditadores, de transferir o governo ao irmão e morrer tranquilamente na cama.
Fidel Castro, no tempo em que a América Latina era tratada como um “USA backyard”, quintal dos Estados Unidos, ousou desafiar a potencia mundial hegemônica, apenas a 150 quilômetros. Começou uma política externa independente, expropriou propriedades de americanos e declarou-se marxista-leninista. Por muito menos os “marines” já haviam desembarcado em muitas praias caribenhas, e implantado nas chamadas “Banana’s Republics”, ferozes ditadores, obedientes ao Pentágono e a United Fruit.
Naquele dia 1º de janeiro de 1959, quando os barbudos, liderados por Fidel, chegaram a Havana e encontraram o Palácio presidencial vazio, porque o ditador Fulgêncio Baptista já havia fugido, deixando atrás de si assassinados, 25 mil mortos. Houve uma sensação de júbilo que percorreu as Américas desde a Patagônia, ao sul, e ao Rio Grande, ao norte. O que os latino-americanos em festa não sabiam é que a CIA ajudara os guerrilheiros vitoriosos, enquanto eles estavam na Sierra Maestra, enfrentando os mercenários de Batista.
Fidel, filho ilegítimo de um rico usineiro e senhor de terras, porém reconhecido e criado com luxos, começou a fazer a reforma agrária pelas extensas terras da própria família; proibiu os jogos de azar e fechou cassinos. Cuba era o prostíbulo onde reinavam absolutas as máfias de Chicago e Nova York. Ao mesmo tempo a palavra “paredón” ganhava o mundo, para uns, o expurgo social que se fazia através dos fuzilamentos sumários. Criar “paredóns” por todo o mundo passou a ser o sonho de uma grande parte da esquerda, que via na revolução armada o único caminho a ser trilhado.
O paredón, estimulado por Chê Guevara, que pessoalmente comandou pelotões de fuzilamento, “sin perder la ternura”, foi o divisor de águas entre as esquerdas democráticas e as outras, que aceitavam a violência, a feição totalitária do poder conquistado, em suma, o que existe de pior em Marx, o ilusionismo teórico da “ditadura do proletariado”, na sua prática mais repugnante do desprezo à vida e sufocamento completo da liberdade de pensar e divergir.
Os absurdos criminosos que os americanos cometeram na tentativa de esmagar a revolução cubana, mais aproximariam as massas da Revolução, e do seu líder maior. Fidel não foi um ditador corrupto e desregrado, durante o seu governo com mão de ferro, Cuba conquistou posições em termos de qualidade de vida, que, em alguns casos, superam as invejadas cifras de países altamente desenvolvidos. Mas cometeu o grave erro de estatizar tudo. Não há notícia, no mundo, de economia bem sucedida sem a presença do empreendedorismo, da livre iniciativa.
Quando preso, em 56, após a tentativa frustrada de tomar o quartel de Moncada, disse Fidel aos seus julgadores: “A História me absolverá”.
Os atos finais do sepultamento de Fidel foram assistidos por centenas de turistas americanos, que hoje percorrem a ilha, após a lúcida atitude de Obama, reaproximando os dois países.
O troglodita Trump quer dar uma volta no correr da História. Poderá retornar ao tempo em que aviões clandestinos pagos pela CIA, despejavam bombas incendiárias sobre os canaviais cubanos.
Afinal, não é à toa que ele anuncia a nomeação para a Secretaria da Defesa de um general fascista, famoso pelo apelido de “Cachorro Louco”.
O TRIO MARAVILHOSO REGINA
Lá pelos anos 50 e 60, havia no rádio, uma propaganda que era adocicada aos ouvidos.
Ocorria uma acirrada competição entre os fabricantes do que então era denominado “artigos de toucador”, cosméticos, perfumaria, etc...
Uma indústria, na propaganda com suave fundo musical que fazia, exaltava o casamento perfeito entre os seus três principais produtos: a água de colônia, o sabonete, e o talco, o Trio Maravilhoso Regina.
No cenário político sergipano formou-se, faz pouco tempo, uma espécie de Trio Maravilhoso Regina. Os seus componentes perfeitamente afinados e sintonizados nos mesmos objetivos, desenvolviam um projeto que transcorreria em bases cooperativas, até porque, estaria reservado um espaço suficiente para abrigar as ambições de cada um. Assim, a aliança seria aquilo de mais oportuno e prático, que se teria feito nos últimos anos na cena politica sergipana. Juntaram-se os senadores Antônio Carlos Valadares e Eduardo Amorim. O deputado federal André Moura completou o trio. No triunvirato, foi gestada a candidatura de Valadares Filho à Prefeitura de Aracaju.
O projeto parecia imbatível. Valadares pai, sendo eleito o filho, encerraria a sua alongada carreira. Mas isso da boca pra fora. Valadarizinho Prefeito, o pai colocaria em marcha sua candidatura ao governo. Acomodaria, tanto a André e Amorim, colocando-os na disputa pelas duas vagas no Senado, teria a vice, para atrair novos aliados, também cooptados com posições na Prefeitura de Aracaju. Com a derrota, tudo mudou. Pai e filho querem ficar, um no Senado, outro na Câmara. Amorim considera-se candidato natural ao governo. Pretensão que também abriga André Moura, que se acha no ápice do prestigio político no plano federal e entende que dispõe de instrumentos fortes para consolidar a sua candidatura. André diz que agora a oportunidade é dele, e não se deixará atropelar.
Pode ser que a conjuntura que estiver prevalecendo em 2018, provoque encontros, reencontros, ou também desencontros.
O tempo dirá. Mas o fato é que o sonho azul do Maravilhoso Trio Regina dissipou-se. O Tiunvirato amargou a derrota, diante de um Jackson Barreto que já davam como carta fora do baralho.
A BLITZ NO SERTÃO E O PAPAGAIO NO ARMÁRIO
Dentro de um armário estava escondido um papagaio. Não é piada. Havia, de verdade, um papagaio no armário, enrolado cuidadosamente com panos macios, o bico, preso com uma fita adesiva. Malvadeza com o emplumadinho verde? Nada disso. O bichinho de estimação, há 19 anos parte de uma família humana, estava escondidinho pela sua amorosa dona, senhora idosa, para que não o visse levado por homens que estavam invadindo as casas do povoado Curituba, em Canindé. Mas os homens chegaram, insolentes, e procuraram o papagaio debaixo da cama, o bicho soltou o bico e chamou agoniado pela dona. Foi levado como glorioso troféu. A dona passou mal, desmaiou, agora, está doente, de tristeza.
Os homens, numa outra casa, encontraram 40 cágados. Lá se foram com os cascudos, enquanto o papagaio gritava, ou palrava, nome exato para a voz dos pássaros falantes.
Sabem para que são criados os cágados? Na Semana Santa é hábito arraigado entre os habitantes de Canindé, Piranhas, em Alagoas, Santa Brígida, na Bahia, colocarem à mesa as “cagadas”, moquecas de carne de cágado com côco ou dendê. As famílias se reúnem no ritual sagrado que substitui o peixe.
Os Ministérios Públicos que quase recriam aquele clima de medo nos tempos de Lampião, certamente farão um relatório dos seus “sucessos”. Espera-se que neles, sejam lembrados o papagaio do armário, os cágados, as bombas de aspersão levadas do perímetro Califórnia, usadas para aplicar defensivos agrícolas; as cargas de carvão apreendidas, a tonelada e meia de queijo confiscada, os caminhões-pipa impedidos de levar cargas de água para gente e bichos sedentos, os bares, restaurantes, queijarias, fechados sumariamente, a quantia de multas aplicadas numa gente que mal consegue colocar o mínimo sobre a mesa.
Deveriam, também, acrescentar ao relatório, o sentimento mudo de indignação e vergonha, que agora existe consumindo a noção de honra que têm os sertanejos, com suas casas invadidas, para que delas fossem retirados bichos de estimação, ou, que perderam seus negócios, seus empregos. Essas pessoas, honestas, com a dignidade ferida, que se comportam com aquela crença na Justiça que têm os simples, sentem vergonha de chegar à porta e serem vistas pelos vizinhos. Consideram-se afrontadas, humilhadas, e até avaliam se seria melhor comportarem-se como bandidos, que assaltam, matam, e contra eles não se arma um esquema repressivo, do porte daquele que sequestrou papagaios; enquanto pelo sertão há menores abandonados, crianças que se prostituem, pessoas que passam fome, milhares de desempregados e falidos.
No relatório por certo ufanista, seria recomendável acrescentar que pássaros apreendidos morreram torrados pelo calor, dentro do veiculo em que eram transportados, que ficou ao sol enquanto os seus ocupantes, humanos, almoçavam num restaurante.
O sertão continuará com os seus sofrimentos do dia a dia, agora acrescentados pela operação insensata, que chegou trazendo mais desenganos e o que é pior: um sentimento triste de descrença e revolta.
P S.: Este escrevinhador considera relevante o trabalho do Ministério Público, até por ser filho de um Promotor Público, que residia na Comarca, Maruim. Por isso, nascido em 1940, num parto difícil, com o auxílio de parteira, em casa modesta, onde não havia luz elétrica, nem água encanada, novidades com as quais só veio a conviver, quando, quase aos 4 anos, o pai, Paulo Costa, foi transferido para Aracaju.
Talvez, por isso, sinta uma dolorosa decepção ao ver o Ministério Público, agora com a força, o prestígio e a responsabilidade que lhe conferiu a Carta de 1988, tornar-se algoz, ao invés de protetor, sensato e eficaz, da coletividade, dos humildes, que mais precisam da lei e, também, da compreensão, sensibilidade e bom senso, daqueles que agem em nome dela.
O DUELO: GUALBERTO X AMORIM
O deputado Francisco Gualberto é um vigoroso defensor das conquistas sociais, e denunciante de tudo o que ameace essas conquistas. Nisso, segue, como parlamentar, a trajetória exata daquilo que fez como sindicalista, sempre na linha de frente dos seus companheiros. Gualberto, que criticou o senador Amorim, sentiu-se afrontado pela acusação de ser infiel aos seus princípios. E aí começou o duelo. Agora, o deputado diz que o Senador não tem a exata noção do cargo que ocupa, por isso, seria muito menor do que ele. E por ai vai o confronto, uma característica desses tempos radicalizados, que infelizmente descaracterizam a virtuosa arte da política.
UMA COMÉDIA OU TRAGÉDIA DE ERROS
Não é exatamente uma comédia de erros esse desnecessário confronto entre poderes. Nele, não há nenhum vestígio da criatividade Shakespereana. Trata-se, apenas, de uma tragédia deslustrada de equívocos amesquinhados. Erraram os procuradores, quando imaginaram que através de ameaças públicas, poderiam constranger o Legislativo. A classe política, sem duvidas, está desmoralizada, mas é necessário que os poderes sejam preservados, respeitados, e com espaço indispensável para que possam agir livremente. Cabe ao Congresso legislar. Se o faz certo ou erradamente, há recursos que a Constituição prevê.
Erram os procuradores quando apelam para as ruas. Não é essa uma atitude sóbria, sensata, compatível com as características da função constitucional que lhes cabe. As sugestões de medidas anticorrupção que foram enviadas ao Congresso, têm, no seu bojo, algumas medidas que, se adotadas, afrontariam o Estado Democrático de Direito. São marcadamente inspiradas no totalitarismo fascista, nas derrapagens de uma esquerda que um dia atrelou-se ao carro sinistro, puxado pelo soturno Stalin. Deu no que deu.
Precisamos impedir que o radicalismo contamine, de vez, a cena política brasileira, e nela Michel Temer venha a se transformar numa Dilma Roussef de terno e gravata.
Restabelecendo-se o diálogo civilizado, poderão, Judiciário, Ministério Público e Polícia, continuar o seu trabalho, sem a ameaça absurda de virem a ser punidos, caso venham a interpretar a lei deixando margem a outras interpretações. Seria melhor suprimir das grades curriculares das Faculdades de Direito a Cadeira de Hermenêutica.
Basta que se acrescente ao texto aprovado na Câmara, a sugestão lúcida oferecida pelo Juiz Sérgio Moro, de uma nova redação em um dos seus itens, exatamente o mais polêmico.
A economia continua em queda, a indústria apresenta cifras decepcionantes, o desemprego cresce, e o país não pode perder mais tempo com essas crises forjadas por um clima de confronto, que deve ser urgentemente superado.
O ANARQUISTA ESPANHOL CHEGANDO A UMA PRAIA
Há aquela estória do anarquista espanhol que, salvando-se de um naufrágio, chegou à praia de um país desconhecido. Dirigiu-se então a um grupo de pescadores e lhes perguntou: “Hay gobierno?”. Um deles respondeu: “Sim”. E o anarquista: “Soy Contra!”.
Imaginem se esse anarquista chegasse a uma incerta praia e perguntasse se haveria governo, recebesse a confirmação e em seguida começasse a saber de coisas assim: Há, neste país, bancos e cartões de crédito cobrando juros que se aproximam dos 500 % ao ano. Existe, neste país, onde morrem assassinadas por ano mais de 60 mil pessoas, uma diferença entre o menor e o maior salário no serviço público que, em alguns casos, é superior a cem vezes. E neste país, Juízes mandam para casa marginais perigosos, reincidentes, com dez ou mais entradas na Polícia, carregando nos prontuários a autoria até de crimes hediondos.
Neste país o Estado indeniza a família dos presos e esqueceu-se de fazer o mesmo com a família das vítimas. Agências reguladoras, neste país, onde pequenas empresas pagam mais de 30 impostos diversos, fazem vistas grossas ao caos instalado nas empresas de telecomunicações. Uma delas conseguiu acumular um rombo da ordem de oitenta bilhões de reais. Nem precisaria dizer mais nada. O anarquista em fúria, já com uma bomba na mão, perguntaria: “Que país é este?”.
Repetiria, sem saber, a frase dita por Francelino Pereira, presidente da ARENA, partido que era a maquiagem política suavizadora do rosto castrense da ditadura envergonhada.
Mas afinal, perguntamos nós: “Que país é este?”.
O VLT FUNCIONANDO DE JUAZEIRO PARA O CRATO
O agrônomo Paulo Primo junta-se ao ex-deputado Jorge Araújo, ao vereador poço-redondense Aderaldo, na mesma devoção ao Padre Cícero. Todos os anos, religiosamente peregrinam ao Juazeiro. Outro peregrino é o deputado Jairo de Glória, mas, cumprindo a promessa de fazer o trajeto em bicicleta. Desta vez, Paulo Primo filmou os trenzinhos, o VLT, trafegando entre as cidades bem próximas, do Crato e o Juazeiro. Passam pelos subúrbios, transportam turistas, peregrinos, trabalhadores. Resolveu-se, assim, um grave problema de mobilidade urbana em duas cidades sertanejas cearenses.
Por que não imitar em Aracaju a fórmula cearense, com a utilização de trilhos já existentes? Seria oportuno que Edvaldo Nogueira analisasse a possibilidade técnica e econômica de usar os trilhos da antiga linha férrea que cortam ainda a cidade de norte a sul, para neles fazer correr o VLT adaptado à bitola estreita, trafegando entre Socorro, os bairros mais povoados da nossa região metropolitana, chegando até o Distrito Industrial, atravessando as Avenidas Rio de Janeiro e Augusto Franco. A rede, como se sabe, pertence agora à Vale e está abandonada. Além da linha férrea, existem as instalações amplas da antiga Estação Ferroviária em Aracaju, que poderia transformar-se em movimentado terminal. Seria um começo de solução para o nosso angustiante problemas de mobilidade urbana.
FAZ TRÊS ANOS NESTE DEZEMBRO
Dia 3 de dezembro de 2013 deixou de cintilar a estela Marcelo Déda. Teria deixado mesmo? Naquele dia, sua viúva Eliane disse ao filhinho Mateus: “Papai agora é aquela estrelinha ali no céu”. Quando crescer mais, Mateus nem precisará procurar estrelinhas para descobrir a face do pai. Bastará olhar em torno dele e verá a estrela de Marcelo Déda brilhando por todo Sergipe. Nas obras, nos exemplos, no legado da sua dedicação imensa e virtuosa à vida pública, aos sergipanos.