Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
SAUDADES DA PETROBRAS?
11/03/2020
SAUDADES DA PETROBRAS?

(A sede fechada mas as atividades permanecem)

Aquela Petrobras, que aqui  conhecíamos, desde que no  final dos anos sessenta a sua  sede  no nordeste foi transferida para Aracaju, dela, hoje, só deveremos guardar lembranças. A PETROBRAS, definida ufanísticamente como “empresa do povo  brasileiro”, faz tempo, tornou-se uma corporação multinacional, e suas ações negociadas em bolsas de todo o mundo, forçaram mudanças gerenciais com vistas à lucratividade máxima, mesmo contrariando interesses maiores do país.
O chamado “conteúdo nacional", que fez a Petrobras estabelecer critérios preferenciais para contratos com empresas brasileiras, entre outras coisas ressuscitou a indústria naval,  paralisada há muitos anos, isso, num conjunto de ações  que espalharam benefícios por todo o país. Foram dezenas de milhares de empregos gerados, e perdidos depois, com a catástrofe da roubalheira, e, em seguida, o novo modelo gerencial.  Aqui,  a Petrobras opera  há 60 anos. Quando, em 63 Jorrou petróleo em Carmópolis, sem nenhuma dúvida, começava para  Sergipe uma nova era.
Agora, quando a Petrobras anuncia que irá fechar  nos próximos meses a sua sede em Aracaju, de nada adianta choro nem vela, tudo isso já está decidido, e não haverá reversões. Repete-se, o mesmo que aconteceu há dois anos, quando decidiram “hibernar” a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, a FAFEN. 


Ano passado anunciou-se o arrendamento da indústria, o que será uma solução razoável, se efetivamente chegar a concretizar-se, mas, o imenso prejuízo causado a Sergipe não será compensado.
Quando tanto se insistiu para blindar a Petrobras contra as interferências do governo, isso  não  ocorreu em consequência dos  assaltos aos cofres da petroleira, mas, unicamente, visando preservar os interesses  dos fundos de investimentos, principalmente os norte-americanos. 
Então, como fica Sergipe após a retirada da Petrobras?
De fato, apenas se finaliza agora, uma retirada que vem acontecendo há mais tempo, e logo será consumada por inteiro, quando estiverem esvaziadas todas as grandes edificações da rua Acre.
O que Sergipe teria a perder já está perdido.
Argumentos relacionados a coisas assim como problemas sociais, queda de arrecadação, desemprego, absolutamente não sensibilizam mais aquela empresa.
Sergipe, unicamente Sergipe, terá de arcar com o peso de uma brusca reversão de expectativas que, absolutamente, não estavam ao alcance de qualquer projeção pessimista que pudéssemos imaginar.
Mas   os atrativos que trouxeram a Petrobras a Sergipe no final dos anos cinquenta, quando ela era ainda uma empresa  tateando sobre imprecisos mapas geológicos em busca de áreas sedimentares promissoras, ainda existem, e desta vez são gigantescos. Fixada unicamente na busca do lucro, extorquindo o povo brasileiro com o absurdo atrelamento do preço do petróleo ao dólar, a Petrobras não sairá de Sergipe, onde sua presença é forte nos campos do nosso pré-sal. Essa  nova  “guerra do petróleo", de cambulhada com o coronavírus, e mais os nossos tumultos internos, não será uma maldição permanente,  pela própria lógica do mercado financeiro, que manda: amai o lucro acima de todas as coisas.
Então, saudosismo de nada adianta. É fazer o que aliás já começamos: articular  um modelo de negócios voltado para a abundancia do gás e do óleo, que não virão apenas da Petrobrás, também da Exxon, hoje investindo pesado nas nossas águas profundas. 
Agora, em solenidades oficiais, os nomes dos Superintendentes da Petrobras em Sergipe não surgirão mais com todas as honras que lhes fizemos, por tantos anos.
Nem interessa saber quem comanda as atividades locais da empresa, se estão por aqui, em São Paulo ou  Nova Iorque. Deve nos interessar sim , uma estratégia para fazer, das lucrativas atividades da Petrobras aqui, também uma fonte rendosa de mais e mais recursos para as empresas em Sergipe, e para os cofres públicos.
De resto, seria oportuno analisar o tamanho do passivo ambiental, ou herança indesejada da Petrobras, e, conforme for a conveniência, contratar um escritório de advocacia especializado, para mover uma ação que levará tempo, mas, envolverá cifras  de alguns bilhões. O mesmo aliás já se poderia fazer em relação à VALE,  que completou o seu ciclo de saque e devastação de Sergipe.

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SERGIPE E O AMBIENTE DE NEGÓCIOS

(O almoço de posse do Fórum Empresarial)

Costuma-se dizer, até com vaidoso orgulho, que o índice de inadimplência do empresariado sergipano é, felizmente, muito baixo. Não deixa de ser um dado relevante, mas, não é apenas a cuidadosa ou extrema cautela que compõe o arsenal  dos bons procedimentos empresariais. Havendo adimplência, casada com criatividade, inovação, e uma certa ousadia para empreender,  completa-se o  cenário para que ocorram transformações, e o capitalismo se faça parceiro da modernidade.
Há uma certa madorra no nosso tradicional meio empresarial. Com exceção de uns poucos que cresceram com equilíbrio e visão nos últimos anos, o que assistimos foi uma  retirada de cena  de grande parte das nossas empresas mais antigas. 
Diante, agora, do desafio que se abre em decorrência de vários fatores, onde a abundancia das jazidas de gás e petróleo torna-se preponderante, há uma premente necessidade de mobilização do empresariado sergipano, para que não venham a perder a chance rara do corcel vistoso que passa selado à porta de cada um. Nisso, a capacidade de criar e inovar, vale mais, em certos casos, do que a posse do capital.
Há boas iniciativas surgindo, ações permanentes e eficazes de órgãos como o SEBRAE, a Fecomércio, agora, o setor estadual do turismo, aquela área da Secretaria do Desenvolvimento que cuida especificamente  de uma politica para o gás e petróleo; ideias inovadoras vão surgindo na Prefeitura de Aracaju, e entre esses fatores de dinamização, destaca-se  o protagonismo que surgiu a partir da criação do Núcleo de Desenvolvimento. Como o nome sugere, um conjunto de pessoas que fazem nascer ideias, que apontam caminhos, que apresentam sugestões e se relacionam virtualmente, vencem a barreira do tempo e da distância . O responsável pela iniciativa foi o engenheiro sergipano Joaquim Ferreira, que retornou ao seu estado para gerir o projeto de uma usina fotovoltaica em Canindé do São Francisco.   Joaquim tem sido um propagador de boas ideias na área empresarial e na área pública.


Ele assumiu agora a presidência do Fórum Empresarial, que reúne e coordena a maior parte das entidades privadas que atuam no espaço amplo dos negócios.
Pensar Sergipe, além da estreiteza das visões que sempre ditaram nossos comportamentos excessivamente tímidos, é o que de melhor se poderá fazer agora, nesses tempos caracterizados pela velocidade das mudanças.
O capitalismo morre quando não se atrela ao trem da modernidade.

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