Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
PT, Zé Alencar e Michel Temer
06/01/2018
PT, Zé Alencar e Michel Temer

(O ex-vice presidente da República, José Alencar)

Quando Lula partiu para o que seria a quarta tentativa de chegar ao Planalto, já tinha garantido na sua chapa a presença do empresário mineiro José de Alencar. Ele o conhecera há pouco tempo. Impressionou-se com a simplicidade do homem pobre que montara um poderoso complexo de indústrias têxteis, e demonstrava ter a visão moderna de um capitalismo com viés social.

Com Alencar sendo candidato a Vice a chapa petista aliviava o vermelho amedrontador das ruas, e levava tranquilidade ao conservadorismo da FIESP, que ainda não se tornara a prostituta capaz de deitar-se com todos os interesses escusos, fornicando nas camas para aonde lhe leve o proxeneta político Paulo Skaf.

Zé de Alencar, além de tudo, era um homem que cultivava os rigores hoje tão esquecidos da dignidade pessoal. Sobre aquele empresário mineiro, um outro grande empresário e político sergipano, Augusto Franco, nos anos setenta já dizia que se tratava de um cidadão a quem se podia vender sem precisar de cheque ou duplicata, ou dele comprar, sem antes conferir o produto. Uma das fábricas de Augusto Franco vendia tecidos para as lojas de Zé de Alencar, que começava também a instalar as suas primeiras fábricas têxteis.

Como vice de Lula, ele atravessou, sem suspeitas de deslealdade, todas as turbulências do “mensalão”. Naquele instante ele poderia ter imaginado um impeachment, buscado apoio nos meios empresariais, mas, com certeza, se por outro motivo qualquer viesse a substituir Lula, não levaria com ele pessoas indignas para o Governo.

O lameiro nele não salpicou, e assim, sacrificando a saúde já devastada por um câncer indomável, Zé de Alencar topou a reeleição, renovando a Lula o aval que o fortalecia no instante em que o tapete do poder quase escorria aos seus pés. O segundo mandato foi um passeio franco pela popularidade. Lula consolidava a imagem interna e externa de acionador virtuoso das turbinas do desenvolvimento econômico com inclusão social.

Os ricos ganhavam fortunas maiores, e os pobres o direito comer todo dia. Mas a crise agravada pelos rombos da corrupção e insólitas facilidades, já toldava o horizonte. Meireles, o mesmo ¨salvador¨ de hoje, instalado no Banco Central, nem se deu conta do desmazelo. Veio a imponderável Dilma, uma aposta pessoal de Lula a favor do impossível. E para ganhar a aposta ele foi buscar, na irrelevância de poucos votos, o deputado federal paulista Michel Temer, todavia poderoso, inigualável manipulador chefe dos múltiplos interesses dos Geddeis, que povoavam a sólida estrutura eleitoral do maior partido brasileiro, o PMDB. Na eleição, consagramos a incompetência e escapamos da ousadia do gangster das Minas Gerais.

Sem Temer e o PMDB dos ¨Geddeis¨, Lula perderia feio a aposta. As afinidades eram sólidas, bem lastreadas. Geddel foi ministro, Padilha, Jucá, Moreira Franco, Henrique Eduardo Alves, estiveram no topo dos governos petistas. Diante da fraqueza inerte de Dilma, encontraram na possibilidade do impeachment o momento da metamorfose coletiva. Geddel foi visto nas ruas bradando contra a corrupção, indignado com o assalto aos cofres públicos. Sua macilenta papada balançava de indignação cívica.

Eram os velhos camondongos virando coelhinhos de Páscoa.

Dessa falseada metamorfose surgiu o governo do vice que se tornou presidente.

Passará à História como um Vice que substituiu uma presidente inepta para repartir o poder entre os integrantes de uma organização criminosa.

CALAMIDADE DA CHESF NO BAIXO SÃO FRANCISCO

Erro de operação da Chesf na usina de Xingó causa calamidade no baixo São Francisco. Sem aviso prévio seis comportas foram abertas as duas horas de hoje. Rapidamente as águas subiram abaixo da barragem invadindo as margens em Canindé e Piranhas. Afundaram barcos, invadiram bares e quiosques. O empresário Manoel Foguete avalia os prejuízos e diz que vários equipamentos do seu Eco Parque em Poço Redondo foram afetados, mas o fluxo turístico não será comprometido.

O prejuízo teria sido muito mais grave se o pescador e guia turístico Muau não houvesse dado o alerta. Até agora a Chesf não se pronunciou sobre o grave acidente. O nível do rio continua baixo e não houve melhora no Lago Sobradinho dessa forma permanece a ameaça de colapso no abastecimento de água agora agravado com o enorme e danoso desperdício. Há, contudo quem afirme que a liberação foi proposital para atender pedidos políticos tendo em vista a procissão fluvial que acontece hoje em Penedo Alagoas o que tornaria mais grave a irresponsabilidade cometida propositalmente.

DE UM SAXOFONE NA BARRIGA A KAFKA NO BANCO DO BRASIL

Ezequiel Monteiro era um intelectual inquieto, uma cabeça fervilhante. No Sergipe del`Rey miudinho, atrasadinho, o pasto extenso onde também existiam canaviais e engenhos, pensar adiante do bacharelesco convencional, ou do conservadorismo cheirando a ranço e mofo, era coisa que só os ousadamente desafiadores faziam.

Ezequiel era um desses avant-garde correndo disparado na frente do seu tempo. Queria inovar na literatura, nos costumes, até, durante certo tempo na indumentária. Advogado, submetendo-se às exigências de terno e gravata nos tribunais, chegou certa vez ao foro sobraçando uma volumosa quantidade de processos, com paletó e gravata impecavelmente compostos, e uma bermuda lhe chegava um pouco abaixo dos joelhos. Não se poderia dizer que não cumpria às exigências. Aos 16 anos foi preso e trazido de Laranjeiras até a Capitania dos Portos em Aracaju, onde o radical almirante Penna Boto comandava em 1952, uma operação repressiva contra tudo onde ele enxergava comunismo. Ezequiel, trazido amarrado nos fundos de um Jeep, entrou na Capitania cantando a Marselhesa, o hino francês. Foi o bastante para o almirante concluir: ¨Estão vendo, tão jovem e já doutrinado pelos comunistas¨ E tome pau. Note-se que em 1952, o regime era democrático.

Ezequiel, jornalista, era também primoroso ficcionista, e escreveu um conto a que deu o nome de O Saxofone. A trama: uma mocinha moderna, que amava os Beatles e os Rolling Stones, adorava também o jazz, e passava longas horas estirada na cama ouvindo a música nascida nas comunidades negras do sul dos Estados Unidos, e que ganhou o mundo. Engravidou, não sabia exatamente quem poderia ser o pai da criança. Aos nove meses fez um parto cesariano. Surpresa: pariu um saxofone.

Nesse tempo, Ezequiel era leitor voraz de Franz Kafka e Merleau Ponty, não parando de recomendar a todos que lessem o francês Ponti e o tchecoeslovaco Kafka.

Semana passada, um sujeito foi ao Banco do Brasil para solucionar velha pendenga de um empréstimo rural, novela iniciada na agencia do Siqueira Campos, onde houve uma intervenção saneadora para detectar um monte de irregularidades. As primeiras parcelas do pagamento foram temporariamente suspensas, até que se investigasse a licitude de todas as operações contratadas.

O caos fora gerado por pecuaristas em conluio com funcionários corruptos, mas as consequências recaiam sobre quem nada tinha a ver com as tramoias. Vivia-se o tumulto financeiro do governo Sarney. Depois, veio o Plano Collor, e estabeleceu-se o absurdo. Por fim, a dívida que as circunstancias vigentes no próprio banco impediram de começar a ser liquidada, rolava do banco para outros setores, e moldava-se a tantas formas e fórmulas, cada vez aumentando mais.

Finalmente, tudo resolvido, o sujeito recebeu de um atencioso funcionário do banco o cálculo final e razoável do conturbado débito. Emocionado, o devedor agora com a alternativa de por fim a uma interminável pendenga, disse ao funcionário que se sentia após 28 anos percorrendo labirintos, passando por constrangimentos, decepções e ameaças ao patrimônio, como aquele senhor K, personagem central do livro O Processo, de Franz Kafka. O funcionário cuja formação não indicava que fosse um apreciador de literatura, ainda mais de um autor tão hermético, disse que já havia lido vários livros de Kafka, entre eles, A Metamorfose, Carta ao Meu Pai, mas, nunca lera o que consagrara Kafka, O Processo. O devedor tornado adimplente, disse que tinha o livro, e iria trazê-lo para que ele o lesse. No dia seguinte chegou ao BB, e na recepção pediu a uma atendente que fizesse a gentileza de entregar ao funcionário que nominou um livro que, além de O Processo, condensava mais dois outros da obra do escritor Tcheco. A moça olhou a capa e disse que gostava de Kafka, mas não lera tudo, uma outra atendente junto, disse que dos três gostara mais de A Metamorfose, por considerar sensacional a história daquele cara que dorme gente, e acorda mosca.

Quem imagina que o Brasil é só esse pesadelo de um governo que libera quase 900 mil reais da Lei Rouanet destinada ao apoio à cultura para que Sérgio Malandro faça, pelo país afora as suas calhordices, ou que supõe que um Deivinho Novaes representa o gosto musical do povo, esses, sem dúvidas, irão quebrar a cara.

No tempo em que Ezequiel descobria Franz Kafka, só ele, Alberto Carvalho, Jackson Silva Lima, e no máximo uns 200 sergipanos aqui na província, sabiam de quem se tratava.

Nos horizontes cinzentos é possível sim, enxergar alguma luz. Nesses trópicos caniculares, surgiria uma aurora boreal?

DOS COMUNISTAS NA PONTE AO ANIVERSÁRIO DE PRESTES

(Luiz Carlos Prestes)

Depois do golpe em 1964, o governo militar dissolveu os partidos após a fragorosa derrota que sofrera em Minas Gerais e no Rio de Janeiro a primeira experiência eleitoral que fizera após o 31 de março. Criaram então a ARENA governista e o MDB, com direito restrito a fazer alguma oposição. Desde que fosse ¨construtiva¨, evidentemente. Em Sergipe o jovem deputado federal recém-eleito, José Carlos Teixeira batia em todas as portas tentando encontrar quem se dispusesse a filiar-se ao MDB. Tarefa ingrata numa época de medos e forçadas acomodações.

No dia da fundação do MDB em Sergipe, reuniram-se no cine-teatro Rio Branco, pouco mais de cem pessoas.

O patriarca da família Teixeira, o empresário Oviêdo, foi o corajoso financiador das despesas, e o segundo a assinar, depois do filho José Carlos, a filiação ao MDB. Os outros filhos, principalmente Luiz e Tarcísio, se encarregariam de viabilizar o partido durante os anos seguintes, inclusive cobrindo os custos das eleições de quase todos os candidatos. Não era tarefa fácil, nem destituída de riscos para empresários da construção civil, que dependiam em grande parte de financiamentos da Caixa Econômica.

(Aqui, cabe o parêntese para uma observação: Não houve vetos dos militares aos financiamentos da Caixa à NORCON, que, com trabalho e competência cresceu muito naquele período. Fazemos esse parêntese para lembrar que hoje, na democracia inaugurada pela dupla MARUN-TEMER, o governo federal interfere na Caixa Econômica de forma acintosamente inconstitucional, chantageando governadores do nordeste, inclusive o de Sergipe, que foram impedidos de receber os créditos já contratados com a Caixa no curso de uma chantagem escandalosa que a Justiça já começou a por fim).

Os comunistas, lembra o ex- militante Marcélio Bomfim, não apareceram no Rio Branco para não causar embaraços ao partido que nascia sob férrea vigilância. Eram poucos os recentemente saídos das cadeias que por aqui ainda estavam. Os outros caíram na clandestinidade ou foram morar em outros estados, livrando-se do ¨dedo- durismo¨ que por aqui os acompanhava. Ficaram então na Ponte do Imperador, Marcélio, Milton Coelho, (que em 1976 seria torturado e ficaria cego) e Serivaldo Pereira. O deputado federal Doutel de Andrade, que viera para o ato de fundação em Aracaju, avisou a José Carlos que queria conversar com o pessoal do proscrito PCB. Finda a solenidade, lá pelas dez da noite, José Carlos levou Doutel no seu carro até as proximidades da Ponte do Imperador. Ele desceu e encontrou-se com os militantes que não estavam na clandestinidade, mas eram muito vigiados.

Tantos anos depois, no último dia três, os remanescentes do PCB reuniram-se no restaurante Confraria, para comemorarem a passagem do aniversário de nascimento do ¨Cavaleiro da Esperança¨, (ele faria 119 anos) o capitão Luiz Carlos Prestes. Líder da Coluna combatente à qual foi dado o seu nome, Prestes, junto com tantos outros que teriam grande projeção depois na política brasileira, como os generais Cordeiro de Farias e Juarez Távora, fizeram, percorrendo o Brasil à frente de uns mil e quinhentos soldados, a maior marcha militar da história, (mais de 25 mil quilômetros) combatendo e sublevando o povo, sem êxito, contra o governo central de Artur Bernardes.

Prestes tornou-se comunista depois, já no exílio em Buenos Aires. Quando o ex-companheiro de jornada Siqueira Campos foi convidá-lo para liderar a revolução de 1930, Prestes já dominava a filosofia de Marx e Engels, tendo lido o pacote de livros que lhe foi levado por Astrogildo Pereira. Disse então a Siqueira que não participaria de uma revolução burguesa e voltaria ao Brasil para comandar a ¨verdadeira revolução popular e socialista¨. Siqueira Campos, decepcionado, retornou ao Brasil. Na volta o avião caiu ao mar, num ponto onde avistavam-se as luzes de Montevidéu, a capital uruguaia. Era um excelente nadador, mas supõe-se que tenha sido atacado por tubarões.

Na Confraria estavam, entre outros, Marcélio Bonfim, Welington Mangueira, professor Afonso Nascimento, Margarida Rollemberg, Antônio Samarone, Delmo Naziazeno, Margarida Azevedo.

Marcélio traduz o sentimento dos velhos companheiros como um misto de decepção e alguma esperança. Decepção pelos caminhos ínvios por onde se meteram as esquerdas, não só no Brasil, mas no mundo todo. Esperança, numa retomada de rumo, com a ideia clarificadora de que não vale fazer política tendo como objetivo final uma ditadura, seja ela de qualquer natureza, como descobriram, ainda na década dos anos 60 os partidos comunistas europeus que renegaram a ideia da ditadura do proletariado. Inaugurando por lá o chamado ¨eurocomunismo¨, aqui tão combatido como desvio burguês, inclusive por Prestes, ainda um estalinista não conformado com a desconstrução da imagem do ¨guia genial dos povos¨, como era exaltado no auge do culto à personalidade dominante na extinta União Soviética.

Caberia certamente às esquerdas pensar sobre o Brasil, sobre uma nova formatação de ideias e programas, na linha da sua responsabilidade histórica que sempre foi à busca de uma sociedade mais justa. Todavia, entendendo que o campo da democracia não poderá restringir-se a uma só vertente ideológica, e que o leque perfeito, virtuosamente democrático, sempre será formado por esquerda, centro, e direita, cabendo à esquerda o papel de vasculhar, ao longo do tempo, toda a poeira que o conservadorismo deixa acumulada como legado de desatualização e atraso.

Hoje, a complexidade da pós-modernidade faz com que em muitos pontos a esquerda e a direita, que não são estagnadas, se descubram em algumas sintonias, e devem até juntas buscar soluções híbridas, para problemas como a segurança pública, a corrupção institucionalizada, a manutenção do Estado laico, a dimensão do Estado, entre outros temas objeto agora de investidas desarrazoadas, saídas dos extremos da ignorância pura ou de fanáticos de todos os naipes. Para que possam dialogar no espaço da tolerância que é preciso construir no Brasil em crise e agora devastado pelo governo Marun-Temer, a direita deveria evitar o atrelamento à incivilidade fanática de um Bolsonaro, enquanto a esquerda que sai facilmente a apoiar excentricidades amalucadas de gente como o venezuelano Maduro, só porque ele se diz anti-imperialista, deveria criar juízo.

A CAIXA ECONOMICA PRÓDIGA E O VETO À MIXARIA DE SERGIPE

(O governador Jackson Barreto)

Jackson volta à Brasília. Desta vez espera deixar finalmente assinado o contrato de financiamento com a Caixa Econômica, nos moldes daqueles também em vias de contratação por mais 6 estados nordestinos. Esses empréstimos foram condicionados pelo ministro Carlos Marun, a cooptação pelos governadores de votos favoráveis dos deputados à reforma da previdência.

O que Sergipe quer tomar são 570 milhões de reais. Se destinariam à conclusão de estradas em andamento, recuperação da rede viária, e utilização em alguns outros setores da infraestrutura. O governo Marun-Temer teria recuado diante da reação dos governadores nordestinos, e da constatação de que, se o caso for judicialisado como já fez a Bahia, a vitória dos estados é quase certa. O pleito total dos governadores não chega a 4 bilhões de reais, recursos que a Caixa tem disponíveis, sem afetar o colchão de segurança exigido pelas normas do sistema financeiro. Quase uma ¨mixaria¨ diante dos gastos que o governo tem ultimamente feito para aquietar a avidez da sua base. E, frise-se, não é recurso que sai do cofre do governo, é dinheiro emprestado, numa negociação licita e clara com um banco estatal, que não difere dos outros privados, e esse tipo de operação independe da boa ou da má vontade do presidente da República.

Mas a Caixa receberá agora um vultoso aporte de recursos, 15 bilhões de reais, quantia que, segundo os cálculos do hoje mandatário do Planalto, Carlos Marun, dará para cobrir plenamente todo o complicado custeio das campanhas de todos os candidatos atrelados ao governo Temer. Mas como? Esse dinheiro será liberado para obras públicas realizadas pela União, governos e prefeituras?

Marun já mediu e calculou tudo. O grupo Temer, Marun, Jucá, Padilha, Moreira, Geddel, Eduardo Cunha, terá também os seus candidatos à Presidência, aos parlamentos aos governos dos estados. E nesse desgaste enorme que sofrem, os candidatos apoiados pelo Temer terão de ¨superar¨ muitas dificuldades.

Desses 15 bilhões sairão, pelos mesmos métodos tão conhecidos, e que não param de acontecer, algo que poderá chegar a um bilhão e meio de reais. Assim, os candidatos do governo não irão queixar-se de que ficaram à míngua de recursos, mesmo que acabem todos à mingua de votos. A dupla Temer-Marun, ou vice versa, planeja lançar candidatos próprios, tanto a presidente como a governadores, senadores e deputados. Os 15 bilhões que serão retirados do Fundo do Trabalhador, representam, apenas, o primeiro passo desse esforço de sobrevivência política e pessoal, do grupo palaciano.

Afinal, todos, a começar pelo presidente irão parar nas mãos de Juízes federais que já os esperam, assim que perderem o foro privilegiado. A manobra inclui também outras ações muito mais heterodoxas, que, aliás, estão em curso, ou já foram concretizadas, como a desoneração tributária de todas as petroleiras estrangeiras que virão explorar o pré-sal.

A desnacionalização da EMBRAER e a consequente liquidação de projetos essenciais para as nossas forças armadas, será, para o grupo do Planalto, uma forma indireta de obter uma enormidade de recursos.

Agora, é o dólar ou a vida.

Em Sergipe a dupla Marun-Temer já tem candidato ao governo: Será o deputado federal André Moura.

DA " MINISTRINHA DO PAIZÃO" AO PROSTÍBULO DO DEPUTADO

(Roberto Jefferson e sua filhinha ministra)

Presume-se, ou melhor, presumia-se, que para alguém chegar ao elevado cargo de Ministro de Estado, deveria exibir uma biografia impecável, notório saber, experiência administrativa, moral ilibada.

Tudo isso, além de demonstrar afinidade e respeito à natureza das atribuições com as quais terá de lidar. Daí, ser inimaginável que a um delinquente ou a um contraventor se entregue um Ministério da Justiça, a um devastador de florestas, um Ministério do Meio Ambiente. Nessa linha lógica de raciocínio, será que seria admissível nomear para um Ministério do Trabalho justamente uma pessoa condenada pela Justiça do Trabalho?

Mas, nesses tempos de desconstrução de valores o que se tem assistido é a indicação de ratos para protegerem depósitos de queijos suculentos.

Os Ministérios se transformaram em comitês eleitorais e em poderosos centros de captação de recursos para os seus ocupantes.

Não é por outro motivo que se tornam tão disputados. Seriam as joias da coroa, se isso aqui já não fosse à sonhada república dos malfeitores. O homem que divide com Jose Dirceu a ¨glória¨ de ter impulsionado o ¨mensalão¨, o ex -presidiário Roberto Jefferson, foi recebido com honras no Palácio do Jaburu, onde um outro ex-presidiário Valdemar Costa Neto, há dias lá estivera, ambos merecendo as mesmas deferências.

Os dois comandam partidos. Roberto Jeferson consumado mestre na arte da desfaçatez e do cinismo exigiu de Temer a nomeação da sua filha deputada federal para o Ministério do Trabalho. Naquele ministério já estiveram nomes ilustres e lapidares da vida pública brasileira. Isso, quando a República ainda era cuidada com algum respeito.

A ¨ministrinha do paizão¨ é uma deputada apagadíssima, medíocre, sobre a qual pesam acusações diversas, e é vezeira em desrespeitar a legislação trabalhista, e os direitos dos seus empregados.

O suplente que assumirá em seu lugar é irmão do ex-governador fluminense Anthony Garotinho, que faz pouco tempo saiu da cadeia com a esposa também ex-governadora, liberados pelo Ministro Gilmar Mendes. Assim, entrará na Câmara Federal mais um bandido. Sua Excelência, o nosso mais novo legislador foi condenado a sete anos e quatro meses de cadeia por crime de lenocínio. Era o proxeneta chefe de uma rede de prostituição integrada por mocinhas com menos de dezoito anos.

A ETHOS EM ITABAIANA E O DESAFIO DE INOVAR

(Edson Passos, empresário e arquiteto)

Diante da conurbação e consequente desumanização das cidades, a busca por novos modelos, novas formas de morar, tornou-se uma quase obsessão na indústria da construção civil.

A tendência para os que têm recursos foi o afastamento das cidades, e o refúgio em condomínios distantes, marcados, todos, pela excessiva sofisticação. Agora, em busca da solução de Cingapura, que se tornou exemplo, se quer também encontrar a fórmula para trazer o trabalhador para mais perto da cidade, e assim eliminando um outro problema, a mobilidade urbana, Cingapura não tem espaços fora do Estado-Cidade, assim, as diferenças sociais se reduzem, com a proximidade de todas as classes. Os problemas urbanos se interligam com as questões sociais e isso gera um debate que vai além do mercado e se estende ao terreno especifico das políticas públicas.

Em Itabaiana o empresário e arquiteto, Edson Passos, através de projetos singulares que vem fazendo a sua empresa, a ETHOS, coloca no mercado uma proposta que vem mexendo com os paradigmas tradicionais do setor imobiliário. O que ele faz é reformular o conceito de morar, construindo condomínios onde o luxo ou o tamanho do investimento em cada residência é substituído pela amplitude de espaços verdes, de equipamentos à disposição, a segurança e a valorização do ambiente, o tratamento adequado de esgotos, proteção do solo, áreas de absorção, que evitam enchentes, em consequência, a ampliação do conforto que não se obteria apenas com a suntuosidade, digamos assim, de cada unidade habitacional.

A inovação tem se revelado um poderoso fator de vendas.

Edson também tem uma outra característica que mais ainda o deixa sintonizado com a modernidade. Ele desenvolve iniciativas na área social que, se fossem imitadas por todas as empresas, em maior ou menor escala, certamente reduziriam a mancha da pobreza que ainda nos envergonha como cidadãos.

DRONES ¨VENDO¨ CANOS E UM INSTITUTO AMBIENTAL

(Carlos Melo, diretor-presidente da DESO)

Carlos Melo, o presidente da DESO quer ampliar a frota de Drones da empresa para que os equipamentos voadores e espiões de tudo possam ser utilizados noutros setores do governo, como a Polícia, o DETRAN, o Corpo de Bombeiros, as Secretarias da Fazenda, do Meio Ambiente dos Transportes e até chegaria a ir mais longe, colocando-os a serviço da iniciativa privada. Tudo dependerá de ideias que ainda está colocando no papel, ou melhor, no computador. Mas os Drones da DESO já estão voando. Fiscalizam as redes urbanas, as adutoras, flagram possíveis piratarias, localizam vazamentos. Com isso a eficiência da DESO no controle das perdas de água poderá ampliar-se consideravelmente.

Andando na linha ambiental da empresa que foi inaugurada virtuosamente pelo ex-presidente o engenheiro Luiz Carlos Rezende, ainda nos anos setenta, o engenheiro Carlos Melo quer, no decorrer deste ano reflorestar nascentes, arborizar áreas de captação de água e criar na represa do Poxim, um parque e um núcleo de pesquisas ambientais e de preservação da água.

A DESO tem uma parceria com o Instituto Vida Ativa, instalado em Canindé do São Francisco, que fornece mudas gratuitamente. Nos últimos anos, com essa parceria, já foram plantadas mais de trinta mil mudas, inclusive na recuperação das matas no entorno da barragem do Poxim, um planejamento efetuado pela geógrafa Lílian Wanderley, quando esteve à frente da diretoria ambiental da empresa. Carlos quer iniciar a arborização em março, com o plantio de seis mil mudas nas margens do São Francisco em Telha, onde fica o sistema de bombas e a captação de água para a adutora, Telha-Aracaju.

ENTRE O RISCO DO FRACASSO E O PLANEJAMENTO SEGURO

(Turismo sergipano em alta)

Um motorista de Uber comemora os resultados de um verão aracajuano onde hotéis estão lotados de turistas, e a lei seca faz os que querem passar uma noitada sem restrições ao álcool deixarem seus veículos em casa, recorrendo ao Uber ou aos táxis. Isso gera segurança, reduz o numero de acidentes, evita tragédias. E taxisistas e uberistas só têm assim o que comemorar.

Mas o uberista do qual falamos faz observações sobre o turismo. Ele diz que na noite de quinta-feira fez somente na Orla da Atalaia, atendendo turistas que se deslocavam de um ponto para outro, oito corridas. Os turistas eram na sua maioria de São Paulo, Paraná, e Rio Grande do Sul, e houve um argentino. O detalhe que o deixou impressionado: Todos os turistas referiam-se a Aracaju com muita simpatia e até entusiasmo. Diziam-se encantados e surpreendidos com a cidade, limpa, mais segura do que os seus locais de procedência, com áreas verdes, a Orla da Atalaia. Referiam-se ainda alguns à Orla do Pôr do Sol e à visita que haviam feito ao Museu da gente Sergipana, ao Oceanário, ao Cânion de Xingó, às instalações turísticas do Carrancas, em Canindé. O que nos falta para que comecemos a deslanchar na área do turismo? Sobretudo o planejamento continuado, mais hotéis, se possível, o desengavetamento de um projeto da CVC que pretendia instalar um resort com seiscentos apartamentos na foz do Vasa Barrís. Faltam-nos um Centro de Turismo para que Aracaju se firme como cidade ideal para eventos. Mas, enquanto isso, muito poderemos fazer na área de eventos esportivos. Por que não criar uma maratona de praia? Campeonatos variados de esportes náuticos? Este ano voltarão as baleias, é preciso organizar grupos para ir vê-las de perto. O aeroporto, o aeroporto, o que será feito daquele desmazelo que a INFRAERO tão mal administra?

Mas da Prefeitura e do Governo do estado se poderá esperar mais entrosamento, planejamento prévio, para duas festas que não podem sumir do calendário, mesmo apesar da crise. O São João deve começar a ser planejado já a partir deste mês, e o Réveillon, logo quando o São João terminar. Este ano, entre incertezas, marchas e contramarchas o Réveillon terminou sendo realizado, e foi muito bom, mesmo tendo apenas artistas locais, o que é positivo.

Já o São João ano passado resumiu-se ao que faz, e muito bem, o governo do estado, que é coisa em proporções limitadas na Orla da Atalaia, um encanto para os turistas. A Prefeitura poderia reeditar o grande Forrócaju. Mas para isso tudo terá de começar com muita antecedência, buscando parcerias, recursos, O Natal terá de começar já em novembro, com uma decoração fugindo ao convencional e sem ser rica, mas esbanjando criatividade, se possível. Os grandes bancos em Aracaju não poderiam colaborar, mesmo se apenas iluminando feericamente as suas fachadas? Ganham tanto dinheiro e se lixam para a comunidade.

O BANESE que não é grande está presente em tudo. O show pirotécnico poderia ser realizado na Ponte da Barra, a Construtor João Alves, até lá já estará inaugurado o complexo de bonecos sergipanos nas águas do Sergipe, na Rua da Frente, e nele haverá muitas luzes, boas ideias que saem da cabeça do esteta arquiteto-poeta Ézio Déda.

No primeiro dia do ano, lá pelas quatro da tarde quando a ressaca vai acabando se poderia montar uma programação especial na Orla ou na Sementeira, onde se apresentariam Orquestras Sinfônicas. Temos a de Sergipe, a de Itabaiana, corais, orquestras de Câmera. Seria o Festival do Ano Novo em Aracaju, com música que atenda a um outro gosto, ou até para educar quem não se sente agredido ouvindo alguma coisa assim tipo, ¨dono de bar me bote outra cerveja¨ do insólito ou insolente aos ouvidos, Deivinho.

FATURAR COM A MACONHA OU CORRER ATRAS DE MACONHEIRO?

Na Califórnia, o mais rico estado americano, resolveram parar de correr inutilmente atrás de maconheiro, de quem vende e planta a erva. Vários estados americanos já haviam liberado a maconha para uso ou apenas para efeitos medicinais, e a Califórnia também agora liberou geral.

Mas faz isso organizadamente, com ordem, com profissionalismo. Planeja o próspero negocio da erva, faturar este ano na Califórnia mais de sete bilhões de dólares. Sem falar na economia que será feita com a Polícia deixando de perseguir maconheiro e concentrando-se na perseguição aos bandidos.

Isso pode até espantar algumas visões não acostumadas com a naturalização de um hábito ainda considerado criminoso, coisa de marginais, mas, todavia, não se espantam com o cigarro, o álcool, vícios devastadores que causam milhões de mortes no mundo. A droga sob forma de remédios ou anabolizantes está sendo vendida nas farmácias, em todo lugar onde haja festa ou concentração de pessoas.

Não se faz aqui a apologia da desgraça da droga, mas apenas o reconhecimento de que a repressão nada tem resolvido, e não há no horizonte qualquer perspectiva de que o combate à maconha vá diminuir o numero de maconheiros. Então, por que não imitamos a Califórnia, descobrindo uma formula de afastar o bandido, o traficante, e criando um negocio regulamentado, legal e gerando empregos? Por acaso criminaliza-se quem vende cigarro, quem entope as pessoas de álcool para depois elas saírem dirigindo e matando, ou morrendo?

Hipocrisia poderá enganar, mas nunca trará soluções.

UM HOMEM EXCEPCIONAL

(O Reitor Jouberto Uchoa)

De Jouberto Uchoa, que acaba de instalar a sua UNIT nos Estados Unidos em parceria com uma grande universidade americana, disse o economista, escritor, acadêmico e saxofonista Marcos Melo, sob aplausos do médico e acadêmico Hamilton Maciel: ¨Trata-se, sem dúvidas, de um homem excepcional¨.

BANESE OBTÉM A MELHOR REPUTAÇÃO ENTRE OS PRINCIPAIS BANCOS DO PAÍS

O Banco do Estado de Sergipe (Banese) apresentou nos últimos seis meses um crescimento significativo em sua nota de avaliação no site Reclame Aqui. No período de 1º de julho a 31 de dezembro de 2017, o Banese, numa escala de zero a dez, na avaliação dos clientes no Reclame Aqui, atingiu uma média de 7,14, nota considerada “ótima”, pelo site, e superior às obtidas pelos principais bancos públicos e privados do País.

Considerando o período de julho a dezembro do ano passado, o Banese obteve reputação “ótima”, com 100% das reclamações atendidas e 90,5% de índice de solução das demandas dos clientes através do site Reclame Aqui. Ainda segundo a avaliação, 81% dos clientes que reclamaram do Banese através do site voltariam a fazer negócio com o banco.

Segundo o superintendente de Gestão Estratégica do Banese, Luciano Cerqueira, a experiência do cliente é um dos principais focos estratégicos da instituição. “Estamos trabalhando com foco na experiência do cliente. Prova disso é que nos últimos três anos implantamos diversas soluções que tinham o objetivo de simplificar a relação dos nossos clientes com a empresa, a exemplo do Saque e Pague, nova rede de correspondentes bancários, caixa eletrônico com depósito online, aplicativo para celular e tablet, depósito inteligente, reestruturação de unidades de negócios, captura remota de cheques e alguns outros projetos para melhorar o atendimento das agências”.

Para o gerente de Canais Digitais e Marketing do Banese, Édivam Clinger, a nota apurada pelo site Reclame Aqui é reflexo também de um trabalho integrado de funcionários do Banese com o objetivo de mediar conflitos buscando a satisfação dos clientes. “Manter uma imagem corporativa de um banco próximo dos seus clientes é uma preocupação nossa e a obtenção desse score é motivo de satisfação e responsabilidade para melhorar cada vez mais o indicador”, disse Édivam.

Já o técnico bancário Gilliard Barros de Santana, integrante do núcleo de Relacionamento com Clientes do Banese, acredita que a evolução positiva apresentada pelo banco no site Reclame Aqui é o resultado de uma empresa mais focada nas necessidades dos clientes e também do comprometimento da equipe de relacionamento com clientes e das diversas áreas e agências que, direta ou indiretamente, ajudaram a mitigar toda e qualquer insatisfação que porventura tenha vindo a ocorrer. “Isso tudo é fruto de um trabalho que vem sendo desenvolvido pela atual gestão, que tem o cliente como foco principal, afinal é ele a nossa razão de existir, digno de nosso carinho e acima de tudo respeito”, acentuou.

SANTO ANTONIO FUJÃO (CONVITE)

(Samarone, professor e membro da Academia Sergipana de Letras)

* Texto de Antônio Samarone

As primeiras sesmarias doadas na região de Itabaiana, datam da primeira metade do século XVI. Logo chegaram os colonos. Uma vez estabelecidos, construíram uma pequena capela (igreja velha), no Vale do Rio Jacarecica. Formou-se um pequeno Arraial. Em seguida, pleitearam a transformação do Arraial em Villa. Para tal, era necessário: igreja, cadeia pública e câmara municipal. Antes precisava-se de um terreno público para a instalação da Vila. Criou-se a “Irmandade das Almas” – juntou-se o dinheiro e compraram um sítio a Sebastião Pedroso de Goes, padre de São Cristóvão. Ocorre que o sítio, chamado Caatinga de Aires da Rocha, ficava em local árido, sem água.

Como convencer os colonos a transferirem a capela de uma área fértil, nas margens de um rio, para a Caatinga de Ayres da Rocha, um local inóspito? Só que o padre que vendeu o sítio era o mesmo que celebrava as missas, e não teve dúvidas. Passou a levar o Santo Antonio durante a noite para debaixo de uma quixabeira, no local onde ele queria que fosse a nova igreja, no sítio que ele vendeu. Em seguida o santo era dado por desaparecido, até que alguém o encontrasse debaixo da quixabeira, e para glória do santo, fazia-se uma procissão levando o santo de volta para a igreja velha. Esse fato se repetiu várias vezes. Botava-se o santo na igreja velha e ele a noite fugia para a quixabeira.

Qual foi a versão do padre: gente, Santo Antonio não quer ficar na igreja velha, no Vale do Jacarecica. Não adianta forçar, a gente traz o santo, e pela noite ele foge para debaixo da quixabeira. O jeito é construirmos uma nova igreja ao lado da quixabeira. Assim foi feito, e Itabaiana foi transferida para a sede atual, por insistência de Santo Antonio fujão. Quem escolheu o local definitivo foi o santo.

Essa quixabeira existiu até o início do século XX. Eu conheci gente que conheceu a famosa quixabeira. Não sei quem, mas um espírito de porco qualquer, em nome do progresso, da modernidade, derrubou a quixabeira. Agora, quase cem anos depois, a Associação Sergipanas de Peregrinos, com sede em Itabaiana, liderada pelo engenheiro Ancelmo Rocha, tomou a iniciativa de replantar a quixabeira no mesmo local da antiga, e solicitou autorização ao Prefeito Valmir de Francisquinho. No domingo, esperamos a presença do Prefeito, e das demais autoridades: civis, militares e eclesiásticas.

A solenidade de plantio da quixabeira será no próximo domingo, às 7 horas, defronte à igreja de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, para a qual estão todos convidados. Sei que é de última hora. Mas a muda foi comprada no interior da Paraíba (foto), já chegou, e não pode ficar esperando pela burocracia. Portanto, TODOS CONVIDADOS: Academia de Letras, CDL, Rotary, filarmônica, ambientalistas, e o povo em geral.

Fonte: os livros de Vladimir Carvalho.

LEMBRANÇAS DE UM NATAL

(O historiador Murilo Mellins)

* Texto de Murilo Mellins, membro da Academia Sergipana de Letras

Vez por outra afloram na mente fatos que observei durante a minha já longa caminhada pela vida, e, ao ouvir uma música da época, o sentir de um perfume, a lembrança de uma festa, me exercitam a mnemônica.

Nos idos dos anos 40, estudava eu no Colégio Tobias Barreto, ocasião em que conheci um adolescente de nome Maximino. O aluno mais aplicado da classe, portanto, estimado pelos seus mestres.

Devido seus altos conhecimentos na Matemática prevíamos que ele no futuro seria um grande engenheiro. Nas aulas de Francês, o querido e saudoso professor Portugal adotava o método de mandar o aluno decorar os ditados que eram escritos no quadro negro, para serem memorizados, assuntos de arguição das próximas aulas. Apenas com uma rápida leitura o excepcional Maximino, para admiração e inveja de todos, repetia com todas as palavras os famosos dictés: “La Gare”, “Le Printemps”, “Clair de la Lune” e tantos outros.

Muitas vezes quando eu voltava das festas e passava pela casa do colega, pois morávamos no mesmo trecho, via a luz acesa, janela aberta e ele debruçado sobre os livros.

Tempos depois ele entrou em depressão. Abandonou os estudos, tornou-se antissocial, raramente cumprimentava os amigos.

Passou alguns meses internado no Hospital Adauto Botelho, porém nunca mais voltou a ter a mesma lucidez de outrora.

NOITE DE NATAL:

O Parque Teófilo Dantas todo enganando, repleto de pessoas felizes participando alegremente das comemorações do Nascimento do Menino Jesus. Os brinquedos rodavam apinhados de crianças e adultos. Rapazes e moças bem vestidos e perfumados desfilavam no rinque da retreta, ao som de belas canções românticas, Os bares repletos de famílias e gente de todas as idades, ali estavam bebendo e comendo, cumprimentando-se numa ampla confraternização.

Avistei Maximino que passava ao largo, pachorrento, abatido, ombros inclinados - característica própria do alquebrado. Roupa em estado deplorável, paletó folgado e desabotoado, gravata em desalinho com alguns buracos provocados pelas brasas do seu inseparável charuto. Ele andava no meio daquele povo festeiro, sentindo a solidão dentro do seu pobre coração. Segui com o olhar os seus passos incertos. Condoído com seu lamentável estado, levantei-me da mesa do bar, esgueirando-me entre a multidão dos felizes, procurei me aproximar dele para abraçá-lo e desejar-lhe um bom Natal, como se isso fosse possível. Ele me recebeu friamente com um “alô Melins”, e sem dar atenção ao antigo colega, friamente seguiu em direção do jogo das roletas. Voltei ao bar, melancólico. Comentei com os amigos o ocorrido.

Após assistir à Missa do Galo, ao me dirigir a Rua do Egito, e ao passar pelas mesas das roletas, avistei o solitário amigo, mastigando como sempre sua bagoga, que, absorto fazia anotações em uma velha caderneta. Novamente dele me aproximei e para aguçar sua sensibilidade recitei:

“Au Clair de la Lune mon ami Pierrot/ Prete- moi ta plume pour e’crire un mot. Surpreso, esboçando um pálido sorisso balbuciou:Ma chanlelle est morte je n’ai plus de feu./Ouvre-moi ta porte, pour l’amour de Dieu”.

Ele agora mais receptivo, me animou ao diálogo. Perguntei que cálculos são esses, matemático amigo? São os Cálculos das Probabilidades, respondeu com ênfase, acrescentando: A Roleta de Borboleta, descaída está dando o setor de 16, enquanto da de Luizinho, empenada, em vinte rodadas deu 14 vezes tal setor e por oito vezes o número tal. A de Zica já está na segunda mesa!

Fiz algumas apostas nos prognósticos confidenciados pelo velho colega, e acertei algumas vezes.

Prestes a me despedir, perguntei se queria comer alguma coisa ali no Egito, Ele aceitou. No Bar de Madalena, após a ingestão de uma gordurosa “Sopa de Mão de Vaca” e ao sorver uma Gasosa “Marita”, tinha as têmporas orvalhadas de suor, tal seu estado de fraqueza. Soltou um estrondoso arroto, levantou-se, apertou minha mão e sorridente agradeceu a gentileza.

Saiu pelo fundo do Parque, balbuciando algumas palavras inteligíveis, soltando baforadas do caro charuto “Swerdick” que eu o havia presenteado. Paletó esvoaçando pelas lufadas de vento da madrugada, foi embora, talvez quem sabe, pensando nos números tentadores das reluzentes roletas, e desapareceu dentro daquela noite festiva, sozinho, como tinha chegado.

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