Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
PRIVATIZAÇÃO BEM SUCEDIDA E A VALE UMA DESGRAÇA BRASILEIRA (1)
18/12/2018
PRIVATIZAÇÃO BEM SUCEDIDA E A VALE UMA DESGRAÇA BRASILEIRA (1)

Não se pode afirmar, generalizando, que as privatizações desde o governo FHC tenham sido prejudiciais ao Brasil. Há o caso das desestatizadas telefônicas, das distribuidoras de energia, entre outros, sem dúvidas positivos. A telefonia no Brasil evoluiu, o telefone é hoje um bem de facílimo acesso, e democratizado. Antes, o telefone fixo, (só o que existia) era coisa de privilegiados, conseguir uma linha, um labirinto burocrático, e a posse de vários telefones representava patrimônio valioso, porque alcançavam alto preço no mercado paralelo. É verdade, houve o caso da OI, um rombo que não se sabe quem vai tapar.

Entre ENERGIPE e ENERGISA, assunto aqui, sergipano, há uma visível diferença em termos de gerenciamento, tecnologia, o que resulta em eficiência.

João Augusto Gama, então Prefeito de Aracaju, deu sólido argumento ao governador Albano Franco, que entrava na privatização tucana, segurando o BANESE, o que foi ótimo, mas vendendo a ENERGIPE, o que foi bom. Ele encontrava sérias resistências, e Gama, um remanescente da esquerda, fuzilou: ¨A ENERGIPE só serve mesmo para empregar rapariga de político¨.

A partir de então os contrários à privatização evitaram ter problemas domésticos.

A ideia de manter e acelerar a concessão dos aeroportos e rodovias, será uma providência sem dúvidas modernizadora. Estamos, aqui no trecho sergipano da BR-101, nos arrastando há mais de 20 anos, numa infindável e polêmica duplicação. Já o aeroporto, sob a INFRAERO, nem conseguiu instalar os fingers que chegaram no governo de FHC, e foram devolvidos, por incompetência. A INFRAERO não cuida sequer da extensa calçada do lado norte do aeroporto, cheia de mato, e sobre a qual, do deteriorado muro de segurança, vez em quando desaba um pedaço.

Mas há um lembrete: Acreditando na promessa da construção de um novo aeroporto pelo governo federal, Déda começou a fazer o acesso viário, o desmonte do morro da cabeceira oeste, parcelas iniciais do projeto. Jackson concluiu quase tudo, haveria ainda alguns retoques que Belivaldo estaria providenciando. E então, esse investimento saído do depauperado cofre de Sergipe seria reembolsado, quando houver a concessão?

Mas, chegando ao que essencialmente nos interessa que é a venda da VALE DO RIO DOCE na ¨bacia das almas¨, e o descomunal e único pacote possível no mundo, que foram as fantásticas jazidas de ferro e outros minérios, ¨doados¨ pela benemerência do governo ao grupo econômico que recebeu o presente, no caso, pela desprezível quantia de uns 3 bilhões de dólares. No cálculo feito de forma claramente facciosa pela Merryl Lynch, para fixar o valor da venda pelo fluxo de caixa da empresa, não entraram as quase oito mil concessões de jazidas de minérios, numa extensão territorial quase do tamanho do estado de São Paulo, espalhadas principalmente pela Amazônia. Entre elas está a maior jazida de ferro do mundo, a dos Carajás no Pará. Essas reservas de ferro estima-se que possam ser exploradas, no ritmo de hoje, por mais de 4 séculos. Não existe no planeta terra nada parecido. Somem-se a isso as jazidas de quartzo, mineral altamente estratégico, e se poderia avaliar um tanto aleatoriamente, esse patrimônio, duvidosamente brasileiro, em algo capaz de gerar uma quantia fantástica, acima da casa dos trilhões de dólares. Mas há ainda o nióbio, o vanádio, o tungstênio, o alumínio, o estanho, etc.

Não se pode dizer que essas jazidas estejam sob o controle do governo brasileiro, tanto assim que o contrabando é gigantesco. A evasão fiscal absurda. E a Vale não seria indiferente a isso.

O que a Vale provocou, aquela, que foi a maior tragédia ambiental do mundo, o rompimento da barragem em Mariana (MG) e a transformação do rio Doce numa torrente de lama venenosa, cortando o Espírito Santo da divisa com Minas até o mar, não é nada comparável à quebra da soberania nacional sobre o seu maior patrimônio estratégico, único no mundo, e que está hoje sujeito às manipulações do sistema financeiro global, apoiado aqui, internamente, pelo restrito clube de investidores, não são mais de 400 manipuladores do cassino financeiro, e que controlam mais de 70% da poupança nacional.

Desnacionalizar, ou deixar à margem do controle estratégico do Estado, o patrimônio incomensurável representado pelas nossas jazidas minerais, pelas reservas de água doce, pela biodiversidade, é um dos objetivos do cassino global. Por isso, exportamos milhões de toneladas de ferro, ou de quartzo, ou de outros minérios, que retornam depois, importados, sob a forma de trilhos, vagões, máquinas, navios, automóveis, ou de equipamentos de alta tecnologia, com um quilo, as vezes, valendo até mil vezes mais do que o preço da tonelada do minério bruto.

Um dia, Lula, que não é apenas o cara do sítio ou do tríplex, chamou ao seu gabinete o dirigente da VALE, Gianni Agneli, e lhe disse que ao Estado brasileiro, maior acionista da empresa, todavia não majoritário, interessava que houvesse investimento em aciarias, em indústrias de última geração, e não somente manter aquela política antibrasileira de exportar minério bruto. Queria que Agneli desse uma reviravolta nos projetos exportadores de minério bruto da VALE, e intensificasse a industrialização, agregando-lhes valor.

Pouco tempo depois Agneli deixava a presidência da empresa, e em mais alguns anos morreria, com toda a sua família, num acidente nunca devidamente explicado, em um avião moderníssimo, que era um protótipo, todavia, com várias unidades em operação, que nunca tiveram problemas. A tragédia ocorreu após a decolagem, o momento mais propício para sabotagens, feitas até por indivíduos com baixa qualificação técnica. (A seguir: Reestatizar a VALE, um desafio para o Estado brasileiro).

 

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