Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
PRENDEMOS OS CHINESES E ESQUECEMOS DO ESSENCIAL
09/01/2019
PRENDEMOS OS CHINESES E ESQUECEMOS DO ESSENCIAL

Quando houve o golpe civil-militar, ou vice versa, de março de 1964, desencadeou-se em seguida uma onda de prisões, uma acirrada “caça às bruxas”, e as “bruxas” eram facilmente identificadas como os “subversivos”, depois apareceram também os “corruptos” mas esses sempre espertos estavam quase todos do lado dos vencedores.

Estava no Brasil há poucos meses uma delegação comercial da China Comunista. Tratava de fazer negócios com o Brasil e distribuía folhetos e revistas, todas em espanhol, sobre a economia chinesa, os sucessos alcançados pelo regime, as poesias e os textos do líder do povo chinês Mao Tse Tung, objeto de um desarrazoado culto à personalidade. Essa era basicamente a atuação dos chineses, que estavam no Brasil de forma legal. Na onda de “pega comunista” não poderia haver troféu maior do que prender os agentes comerciais chineses, os identificando como perigosos agentes de Mao, que estavam dando apoio a uma revolução comunista no Brasil. Não havia nenhuma prova concreta, apenas a distribuição publicamente feita de material de propaganda da China. Foram condenados a 15 anos de cadeia e denunciou-se na época que haviam sido submetidos a torturas e humilhações.

A China daquela época tinha mais de 700 milhões de habitantes, mas já possuía a bomba atômica e um gigantesco exército e começava a industrializar-se. Seu PIB era inferior ao brasileiro o que significa dizer que diante do tamanho da sua população, a miséria teria de ser descomunal.

A China na prática acabou o comunismo, instalou um capitalismo de Estado agressivo, abriu-se a investimentos, estimulou o surgimento de empresas, adotou a iniciativa privada e formou cientistas, dedicou-se a desenvolver a ciência, a tecnologia. Hoje a China supera o Brasil em quase tudo. A China começa a dominar o espaço. Tem um poderio militar gigantesco, e reservas fabulosas para investir pelo mundo afora. Seu PIB supera em mais de dez vezes o brasileiro e fez pousar agora um robô de exploração no lado oculto da lua transportado por um foguete que viajou mais de dez dias até o alvo.

Nós, sequer temos um foguete de fabricação própria capaz de lançar um satélite de comunicação ao espaço onde a China já tem dezenas deles.

Onde erramos?

DETALHE: Os chineses “subversivos” foram soltos dez anos depois e retornaram ao seu país. Cumprimos uma exigência do governo chinês antes de celebrarmos o retorno das relações diplomáticas e comerciais com a China.

O presidente general Ernesto Geisel desafiando a reação interna e superando a submissão ao que ordenava os Estados Unidos, reatou as relações. Meses depois teve de, numa operação de guerra, exonerar o seu ministro do exército, general Sílvio Frota, líder de um grupo civil-militar obscurantista, incapaz de enxergar a posição que o Brasil deve ter no mundo.


 

 


 

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