(Petrolina)
Entre o que se faz na agricultura em Petrolina, semiárido pernambucano, e aquilo que é feito na pecuária leiteira em Santa Rosa do Ermírio, sertão mais seco de Sergipe, a grande diferença é a escala, o porte físico, a dimensão econômica dos dois empreendimentos. Aos fatores geográficos e à ação correta do poder público criando a infraestrutura e assegurando a assistência técnica, juntou-se, em Petrolina, a capacidade empresarial dos que acreditaram em plantar uvas e fazer vinho no calor do tropico, e produzem também uma grande variedade de frutas, assegurando espaços no mercado externo que o Brasil nunca tivera antes.
Se existem milagres feitos pelos humanos, o agronegócio em Petrolina é um deles, e não foi excluída a participação da agricultura familiar, que ali encontrou espaços próprios.
Quem visita Petrolina, sob o impacto que nos aflige da complicada realidade brasileira, com o desemprego aumentando, a economia travada, e a política se desencaminhando aos extremos, observa, sem necessitar de muita argúcia, que a crise ali quase some no dia a dia, onde as preocupações fundamentais voltam-se para o plantar, o colher, e ter êxito na comercialização dos produtos. Isso acontece porque o ambiente de negócios é dinâmico, o desemprego é mínimo, e quem trabalha está confiante nos resultados favoráveis.
O que causa sobressaltos é o rio que agoniza, aquele Velho Chico que tudo possibilitou, e não consegue mais manter a Barragem de Sobradinho em níveis com boa margem de segurança.
Em outro ponto do semiárido, bem distante, no município de Poço Redondo em Sergipe, fica o povoado de Santa Rosa do Ermírio. Nada que se possa comparar à pujança de Petrolina. Naquela localidade, todavia, acontece um outro milagre no semiárido: o êxito alcançado na produção leiteira, que só faz reforçar a crença de que o meio adverso não derrota o homem, e é possível tirar proveito do ambiente hostil.
Petrolina fica às margens do São Francisco, e construíram na década dos anos sessenta Sobradinho, o maior lago artificial do mundo. Houve então agua farta para molhar as extensas terras planas e áridas.
O governo fez a infraestrutura, os empreendedores fizeram o resto. A EMBRAPA, com suas pesquisas, indicou o caminho do milagre. E surgiu a uva adaptada ao clima, e se fez um bom vinho, pela primeira vez bem próximo ao Equador, apenas dez graus ao sul, quando se afirmava com absoluta certeza de que vinho de qualidade no hemisfério sul, só bem abaixo do paralelo trinta, o que, para nós brasileiros, seria apenas uma ponta do Rio Grande do Sul.
E para o sertão pernambucano foram chegando gaúchos, japoneses, portugueses, italianos, uniram-se aos nordestinos, e juntos foram espalhando por milhares de hectares os seus plantios. Enriqueceram, geraram empregos em profusão, e a renda per capita elevada multiplicou o comércio, os serviços.
Já em Santa Rosa do Ermírio tudo foi muito diferente. Numa área onde a precipitação anual nos últimos anos mal chega aos 300 milímetros, famílias de pequenos pecuaristas que criavam um minúsculo rebanho para engorda, foram aos poucos se transferindo para o leite. Do governo, nunca receberam qualquer forma de apoio, inclusive assistência técnica durante vários anos, mas cresceram, foram aos bancos, ou melhor, ao BNB e ao BANESE. Assim, alcançaram a cifra para as circunstancias impressionante de 200 mil litros diários. Depois de seis anos sucessivos de estiagem completa houve perdas, mas foram colocados em prática alguns programas, como o fornecimento de silagem a custo zero, uma parceria entre o governo federal o governo estadual e municípios, e evitou-se a mortandade que sempre acontecia.
Em Santa Rosa do Ermírio agora existe estrada asfaltada, construída no governo de Marcelo Déda, e se faz, ainda de forma incipiente um projeto de melhoria genética, começado no governo de Jackson e mantido por Belivaldo, que o coordenou quando vice.
O gravíssimo problema ali é o fornecimento de água. Governo, estadual, federal, prefeituras e exército, fizeram um bom trabalho durante a longa estiagem, mas a pecuária leiteira não pode depender de água levada por caminhões. Uma vaca adulta em período de lactação consome, por dia, mais de 60 litros. Isso dá uma ideia do que seria dessedentar milhares delas.
No começo deste mês a estrada asfaltada rompeu. Uma chuva de mais de 100 milímetros caindo subitamente, provocou o rompimento.
O novo Secretário da Infraestrutura engenheiro Ubirajara Barreto Santos providenciou o conserto, e foi acompanhar o trabalho de perto. Saiu de lá convencido de que se tivéssemos como acumular uma parte daquela água, as vacas de Santa Rosa do Ermírio poderiam durante muito tempo consumir seus 60 litros diários. E assim, os empreendedores, perseverantes e criativos, que fizeram uma bacia leiteira onde não tem água e quase não cresce o capim, poderiam, a médio prazo, duplicar a sua produção.
Mas para isso é preciso fazer açudes, barrar rios intermitentes, introduzir uma série de tecnologias que estão disponíveis, e perfurar poços, onde for possível encontrar alguma água, mesmo com algum teor de salinização, o que até é bom para os rebanhos.
Água para animal beber deve ser fornecida a custo zero, ou quase isso, o que não acontecerá com o projetado Canal de Xingó que ninguém sabe quando será feito.