Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
PEDRO PARENTE NÃO ERA O XIS DE TODA A QUESTÃO
02/06/2018
PEDRO PARENTE NÃO ERA O XIS DE TODA A QUESTÃO


PEDRO PARENTE NÃO ERA O XIS DE TODA A QUESTÃO

          Afamado como gestor quase milagroso, Pedro Parente foi chamado, logo ao iniciar-se a era Temer, para ser o homem do novo governo à frente da PETROBRÁS. A estatal, como se sabe, atravessava um período de agonias. Era assolada por três fatores críticos: gestão temerária, queda vertiginosa nos preços do petróleo e cofres afetados pela simbiose entre duas organizações criminosas, uma política, outra empresarial.

               Acrescente-se a esses fatores adversos um outro, pontual, todavia demolidor: era a campanha contra a imagem da estatal movida pelos interesses girando em torno do impeachment e articulados pelo maior beneficiário dele, o vice Michel Temer. O hoje presidente Temer, como evidenciam os fatos, colocou o seu dedinho mafioso em tudo o que aconteceu na petroleira, desde o organizado marketing da desmontagem, até o assalto mais organizado ainda. Em tudo estavam os ativíssimos integrantes da organização criminosa, segundo afirmação da Procuradoria Geral da República.

               O ex-presidente da PETROBRÁS, Parente, ao que se sabe até agora, não era integrante dessa organização. Ele pertence a uma outra, muito mais sofisticada e não criminalizada, que se chama mercado, no caso dele, o financeiro ou “cassino global”. No “cassino global” joga-se, ou especula-se, com um só objetivo: o lucro. Tudo bem, se aí não tivéssemos que acrescentar: a qualquer custo, de vidas até, ou da estabilidade de um país. Os trilhões de dólares que circulam pelo mundo, à margem da economia produtiva, surgem gerados por algo como se fossem polvos, com as ventosas dos seus longos tentáculos alcançando todos os rincões do planeta, onde sugam riquezas e formam a economia parasitária. O senhor Pedro Parente aplicou um desses tentáculos na PETROBRÁS e, a partir da política de aumento diário dos combustíveis, suga, exaure a economia brasileira. As bolsas sobem, as ações se valorizam, os investidores nacionais ou estrangeiros sorriem.

               Sem esse artifício que se junta a uma outra prática de encolhimento da empresa, com demissão de pessoal, corte de investimentos, venda ou sucateamento, como é o caso da nossa FAFEN e da sua similar baiana, recuo no pré-sal, supressão de projetos tecnológicos, a petroleira, altamente endividada, não estaria distribuindo portentosos dividendos. Beneficiada pela alta do petróleo e produzindo mais, a PETROBRÁS se reergueria, mas, sem fazer brilhar os olhos dos grandes acionistas. Parente, o “mago de Wall Street” fez vitoriosa a sua pérfida alquimia, que ia exercitando à custa da devastação do país. Ele caiu, mas o outro que vier, descobrirá um meio menos traumático para continuar servindo a interesses que não são exatamente aqueles do Brasil.

                O preço do botijão de gás, agora a quase um décimo do salário mínimo, e esse calendário insensato de aumentos quase diários nos preços dos combustíveis são práticas somente admissíveis num governo sem a mínima noção da realidade brasileira.

             Parente, o alcandorado personagem do mundo financeiro, fez a sua alquimia perversa de gerar lucros, ao tempo em que desmontava a empresa. E teve sucesso, até quando os caminhoneiros descobriram que estavam quebrando para sustentar o aparente êxito do mago com a sua fórmula de Wall Street, que é, aliás, a própria essência desse governo apátrida.

               Dolarizado é o preço do petróleo que a PETROBRÁS exporta, e importa também, mas a conta nessa transação é favorável à petroleira. Parente foi apenas um eficaz e ousado agente dessa política de desnacionalização, responsável pela liquidação da nossa, antes florescente, indústria naval e, nisso, levou ao desemprego mais de duzentos mil trabalhadores. Sem dúvidas a PETROBRÁS reduziu custos, engordou lucros, mas à custa, também, da liquidação de uma atividade essencial para o país, a construção naval, cujos avanços na competitividade foram travados antes, por isso, os nossos estaleiros, retomando atividades, ainda não podiam competir com os chineses, japoneses ou coreanos, mas a PETROBRÁS, mantendo durante mais algum tempo o chamado “conteúdo nacional”, teria tornado sustentável um setor que é estratégico. O Brasil já foi, é bom lembrar, o terceiro maior produtor de navios do mundo. Juscelino criou a indústria naval, que sempre foi alvo de investidas, voltou a fortalecer-se no governo Geisel e, novamente, lhe aplicaram um golpe. A desindustrialização no Brasil faz com que estejamos gerando empregos cada vez mais no exterior e a PETROBRÁS, além de outros aspectos estratégicos, era também um ponto de apoio forte para frear esse processo de demolição de empresas brasileiras.

                Agora, depois do tsunami arrasador dos caminhoneiros, um castigo de proporções astronômicas, talvez o brasileiro acorde para buscar um projeto de Brasil que represente, efetivamente, o interesse de toda a Nação.

 

ENTREVISTA

BELIVALDO: OS RESTOS DE UM MANDATO NÃO VALEM MAIS DO QUE 204 MILHÕES DE BRASILEIROS

              Antes de viajar a São Paulo para uma dermatoscopia digital, que não é feita em Sergipe, e transmitir o cargo ao desembargador Cezário Siqueira, o governador Belivaldo Chagas respondeu às perguntas que lhe formulamos. Na curta entrevista firmou posições, inclusive sugerindo a renúncia do Presidente Temer, talvez o primeiro governador do país a se manifestar dessa forma.


A ENTREVISTA:

LEC Qual a relação hoje existente entre o Governo de Sergipe e o presidente Temer?

BELIVALDO – “O presidente Temer fez Sergipe sangrar. Aqui, não faço nenhuma alusão à atitudes vampirescas, refiro-me, apenas, à procrastinação proposital do empréstimo que, ainda no governo Jackson Barreto, foi negociado com a Caixa Econômica Federal.

Quando todos os caminhos burocráticos já haviam sido percorridos, as exigências por parte do Governo de Sergipe atendidas, o presidente, numa atitude nada republicana, atrelou a assinatura do empréstimo aos votos que a bancada de Sergipe deveria garantir para a aprovação da reforma previdenciária. Jackson ouviu do próprio presidente essa imposição, que poderemos, até, classificar como chantagem, coisa que desmerece o conceito de governança equidosa e voltada ao interesse público. É bom lembrar que a relação entre o Congresso e o Executivo ocorre no plano federal, para isso, o presidente tem os seus líderes, encarregados de assegurar a base de apoio. Se o presidente perdeu essa base de apoio, não seriam os governadores que iriam reconstruí-la.

O então presidente da Caixa Econômica, Gilberto Occhi, sempre solícito, foi claro ao afirmar que, no âmbito da Caixa, a negociação estava concluída e aprovada, mas recebera a determinação de transferir ao presidente a decisão final. Jackson e eu fizemos inúmeras viagens à Brasília e, cada vez, o que se afirmara antes era desconsiderado e novas exigências inventadas. Jackson, em Brasília,  quase repetiu o gesto de humildade por amor a Sergipe que teve o nosso inesquecível Marcelo Déda, já doente terminal, quando, em meio a um emocionado discurso e apelo, sem conter as lágrimas, prometeu ajoelhar-se aos pés de Eduardo Amorim, para que aquele senhor, seu irmão, que controlava, sem ser deputado, a Assembleia Legislativa, finalmente autorizasse a contratação dos recursos do PROINVESTE, para a execução de projetos que ele não mais os veria, mas, beneficiariam os sergipanos. Não fosse o PROINVESTE, mesmo tendo sido diminuído, não teríamos investido em obras fundamentais, algumas ainda em execução e gerando empregos.

Infelizmente, os corações em Brasília são ainda mais duros, ou talvez, sem receio das consequências na opinião pública, porque, afinal, Sergipe é um estado pequeno, com população reduzida e eles estão longe, nos seus palácios, onde não chegam os nossos gritos. Por tudo isso temos que gritar sempre mais alto. E uma coisa eu prometo aos sergipanos: Grito agora e vou continuar gritando quando nos desprezarem e nos fizerem injustiças.

Repito, o presidente Temer fez Sergipe sangrar e prejudicou, não somente ao Governo, mas ao estado, aos sergipanos, porque tivemos de engavetar um amplo projeto de recuperação e ampliação da nossa malha rodoviária, que já deveria estar em andamento desde o verão do ano passado. Nessa crise que a cada dia mais se acentua, estaríamos com empresas trabalhando e gerando empregos. Mas a forma de fazer política em Brasília é, de fato, algo deprimente.”

 

LEC – O senhor disse que a Polícia de Sergipe não seria usada para reprimir caminhoneiro e que quem provocou o embrulho, que o desembrulhasse?

BELIVALDO – “Eu não usei exatamente esses termos, mas é inegável que o presidente Temer permitiu que a insatisfação se generalizasse e o seu governo não teve a sensibilidade necessária para enfrentar o problema, pontualmente, na sua origem. Para isso o governo federal tem um sistema de inteligência. Problema social não é caso de polícia, é oportunidade para o exercício do diálogo, principalmente, quando esses problemas são consequências do desleixo, da pouca importância que governos sem sensibilidade ou arrogantes permitem que se acumulem e, depois, se encolhem por trás da força, quando perdem o controle. Então, a explosão ocorreu, não só em consequência do caos nas estradas, mas, pela insatisfação enorme, hoje, agravada pelo governo Temer e pela classe política em geral. A roubalheira e a indiferença em relação aos sentimentos da sociedade, infelizmente, geraram esse clima de descrédito e revolta. Estamos precisando, com urgência, reformular as nossas estruturas políticas.

Além do mais, cabe ao gestor, ou seja, ao político no exercício do mandato, dar bons exemplos, não se deixar envolver em falcatruas, não desmoralizar o cargo que ocupa. Quando um gestor público é acusado de corrupção, responde a inquéritos, a autoridade se perde, se esvazia. Honestidade no exercício do cargo público não é virtude, é apenas uma obrigação fundamental, indispensável.

Um país não pode viver permanentemente com a população duvidando da honestidade dos que o governam e a exigência de honradez deve ser espalhada pelos estados, as prefeituras, as assembleias, Câmaras e por todas as instâncias dos poderes.”

 

LEC – Faltou polícia em Sergipe para garantir o abastecimento de combustível?

BELIVALDO – “Eu montei rapidamente um Gabinete de Crise. E as ações foram de pronto iniciadas. A Polícia foi acionada para assegurar a manutenção de uma reserva estratégica que tem garantido os serviços essenciais e assegurando a distribuição, evidentemente racionada, do combustível aos postos por todo o estado, dividido em regiões, numa escala econômica e social de prioridades.

No estado vizinho de Alagoas, a crise no abastecimento foi menos sentida, porque, lá, o transporte se efetua das refinarias por via marítima, até o porto de Maceió. Em Sergipe, o nosso porto não permite ainda esse tipo de operação e tudo nos chega por via rodoviária. Antes, tínhamos uma ferrovia, embora precária, mas ela foi desativada há mais de vinte anos, quando privatizaram a Leste Brasileiro e o adquirente prometeu reativar a estrada de ferro, nunca cumpriu a promessa.

São coisas dessa natureza que estamos colocando em pauta para discussão, todavia, projetos dessa importância, como a transformação do nosso modal de transportes, só poderão ser equacionados quando tivermos um governo federal movido por um sentimento republicano, pelo respeito à nossa concertação federativa e que não esteja tratando, exclusivamente, da sua própria sobrevivência.

Com relação ao bloqueio das estradas, o que aconteceu fora do nosso território nos afetou mais pesadamente. Agora, a nossa preocupação maior se volta para a garantia dos gêneros alimentícios e da ração animal. Tivemos bloqueios em Luiz Eduardo Magalhães (BA) de onde nos vem a soja. Temos aqui um estoque de 500 toneladas de ração animal na CONAB, solicitamos a liberação emergencial desse estoque e já fomos atendidos.”

 

LEC – No seu entender qual a solução para  a saída dessa crise ?

BELIVALDO – “Acho que a crise teria sido evitada se tivéssemos um governo federal diligente. Mas, quando tudo já configurava a tempestade social, o presidente Temer estava em São Paulo arrodeado por meia dúzia de personagens, indiferentes ao que se passava pelo país afora, fazendo o lançamento da candidatura a presidente do ex-Ministro Meireles, que abandonou o seu posto para alimentar uma ambição desarrazoada. Depois, o presidente ainda em São Paulo, consumiu o seu tempo reunindo-se com advogados para cuidar da sua periclitante situação em face da justiça. E, assim, o país caminha, ou melhor, nem caminha, tal o angustiante estado de coisas em que mergulhamos.

Essa política de preços adotada pela PETROBRÁS poderá render enormes lucros para os seus acionistas, mas isso se processa à custa de uma extorsão contra o povo brasileiro. Em nenhum lugar do mundo se reajusta combustível todo dia, a depender do dólar. O problema é que o senhor Pedro Parente tem a cabeça nas Bolsas, no mercado financeiro, e não leva em conta outros fatores, que, por não terem sido considerados, geraram essa tempestade perfeita. E a “solução” calamitosamente imperfeita que a ela deram, apenas para que o governo se segurasse na corda bamba em que balança, transferirá, para os brasileiros todos, a conta gigantesca; e o PIB deste ano, que já era duvidoso, ficará muito abaixo das projeções do governo. Dentro dessa linha de raciocínio dolarizado é que Pedro Parente quer sucatear a nossa FAFEN e a FAFEN baiana.  O pior disso tudo é que o governo se torna refém dessa política suicida, que até poderá agradar a certos setores, mas afronta a dignidade do povo brasileiro. No meio dessa crise, o senhor Parente, indiferente a tudo, já autorizou aumento da gasolina, que chegou ligeirinho às bombas. 

Os estados e municípios foram penalizados por decisões do Governo central que, apenas, mais ainda fragilizam a nossa já fragilizada economia, evidentemente com reflexos negativos sobre a receita. Estamos calculando o impacto em consequência da queda das atividades econômicas e da garfada que Temer já deu na parte que seria dos estados e municípios, quando fez as concessões com a faca afiada dos caminhoneiros no seu vulnerável pescoço. Preciso ter segurança, para conseguir pagar, sem atrasos, a folha, cumprir as obrigações do estado com os fornecedores, manter, saúde, segurança e educação em pleno funcionamento. Logo agora, quando já acabamos as filas e a aglomeração de pacientes na entrada do HUSE. E isso custou mais dinheiro, que estamos transferindo ao Cirurgia para ampliar o atendimento.

 Sinceramente, eu acredito que hoje a crise se chama Michel Temer. Ele teria um ato de grandeza diante dos brasileiros se renunciasse ao seu mandato, seria a única saída legal possível, porque absolutamente não compactuamos com medidas fora da Constituição que nos rege. Esta é uma crise, mas outras virão, porque um presidente com mais de noventa por cento de rejeição e, hoje, sem base parlamentar, sendo investigado pela Polícia Federal, torna inviável o seu governo. E qual a resposta que daremos aos milhões de desempregados, às empresas que estão fechando as portas, ao colapso que nos ameaça? Os restos de um mandato valerão mais do que 204 milhões de brasileiros?

Apesar de tudo, é preciso que tenhamos esperanças. Aqui em Sergipe, felizmente, ainda há motivos para mantê-la. Um exemplo apenas: Nesse começo de junho estarão chegando as enormes turbinas que irão gerar energia na Usina Térmica em construção na Barra. No entorno da geradora, o governo do estado elabora o projeto de um parque industrial. Ele será possível com o gás vindo do exterior (mais barato do que o nosso), para mover a térmica, e poderá abastecer outras indústrias. As turbinas, transportadas em enormes balsas oceânicas, entrarão pelo estuário do rio Sergipe, aqui em frente à nossa capital. Faço um convite aos sergipanos para que cheguemos à Rua da Frente no dia que será divulgado, para assistirmos a complexa operação logística, uma cena que será marcante para o nosso futuro.

GOVERNADOR BELIVALDO CHAGAS

O ARCEBISPO LUCIANO, O HOMEM, A BIBLIOTECA

                  Meados dos anos cinquenta, a Atalaia Nova, um povoado de casas de palha de pescadores e de algumas de taipa e telha dos veranistas. Por lá, começou a ir nos verões um jovem padre. Na casa do seu irmão Carlos Duarte, havia na frente um areal branquinho. Ali ele armou uma rede e costumava jogar voleibol com jovens veranistas.

                  Havia uma praça e, no centro, uma deteriorada capelinha. O jovem padre tomou a iniciativa de ampliá-la. Conseguiu recursos e as obras andaram rápidas, com ele sempre fiscalizando. No fim do verão, em fevereiro, houve a missa inaugural. Um menino veranista andava apegado a um grosso livro de álgebra, escrito pelo coronel professor Sinésio de Farias. Era preciso aproveitar a luz do dia, não havia luz elétrica, mas a Petromax a querosene alumiava a sala, onde o pai ficava a matraquear à noite toda uma Remington, e isso o desconcentrava.

                No fim da tarde foi a igreja. Havia muita gente, e ele ficou sobre a calçada em frente à porta principal, aliás, única. Nunca assistira aquele padre celebrar, mas a homilia o encantou, ou melhor, o fez extasiar-se. O padre discorria, em tom quase coloquial, sobre o que move uma coletividade e a semelhança desse movimento com a fé. A união de todos resultara na construção daquela igreja, fruto da solidariedade e da fé. Lembrava que das suas casas de palha e chão batido de areia, as pessoas saíram para colocar a pedra, pavimentando o chão da “casa de Deus” e pedia que esse ato de desprendimento se transformasse, também, numa força coletiva para mudar a vida de todos, para que também pudessem um dia pavimentar um chão e fazer paredes. Uma réstia clara de um sol encaminhando-se ao poente, penetrou por uma das frestas do telhado e esbateu-se na testa larga do padrezinho, esfogueado pela fé. E ele parecia envolvido de luz. Uma senhorinha ao lado murmurou baixinho: “Tá vendo? É o Espírito Santo! Esse padre vai ser um Papa”.

             A velhinha errou a profecia, mas acertou ao avaliar a grandeza, a força transformadora, daquele padre, que não sentaria no Trono de São Pedro, mas percorreu todos os caminhos possíveis do seu tempo, sendo um peregrino de ideias, de ações, de mudanças, de evolução cultural, de aperfeiçoamento da sociedade, que desejava justa, entendendo que a isso se chegaria pela fé, pela razão, pelo conhecimento, jamais por revoluções.

                 O padre, o bispo, o arcebispo, o intelecto mais potente e mais operoso do seu tempo, não atravessaria uma época de conflitos e dissensos, sem deixar, bem nítidas, as suas convicções. Isso o fez vítima de alguns equívocos, desses inevitáveis, quando se esfarelam os laços que harmonizam a convivência. Mas, em 64, o então Bispo Auxiliar de Aracaju foi ao quartel do 28º BC, onde estavam, infelizmente, e para nunca mais, encarceradas pessoas, estudantes na maioria, pelo crime de pensar. Celebrou uma missa, onde falou sobre ideias e o trânsito delas através da história, e sobre a solidariedade que deriva do sentimento cristão. O implícito significado daquela missa não chegou a ser devidamente avaliado.

              O conservador corria na frente do seu tempo. Fez isso, quando criou a PROCHASE, início da reforma agrária em Sergipe. Fez isso, quando na JUC, Juventude Universitária Católica, evangelizava e formava pessoas dignas para exercerem seu papel na sociedade. Em duas pessoas, a professora Carmelita Pinto Fontes e no conselheiro Juarez Alves Costa, caracterizamos a dimensão humana de todos os que passaram pela JUC.

                Fez isso, também, quando, numa atitude invulgar, rompeu a barreira de preconceitos e desinformação que separava a Igreja Católica da Maçonaria, visitando a Loja Simbólica Cotinguiba e fazendo um histórico discurso. Era venerável da Cotinguiba Carlos Teles Sattler. Ali, nasceu uma parceria e um convênio entre a Arquidiocese e a Loja Cotinguiba, para a implantação do primeiro projeto de reforma agrária em Sergipe. O advogado e líder maçônico José Francisco da Rocha deu forma jurídica ao acordo e à PROCHASE e lembra sempre, com muita emoção, da presença e da força de Dom Luciano.

                   Muitos anos depois, o menino que assistiu a missa na igrejinha da Atalaia, estava no Instituto Luciano Duarte, para, de Carminha Duarte, guardiã do acervo cultural do irmão Arcebispo, a quem sempre carinhosamente chamava de padre, receber a tarefa que consistia na seleção de livros da imensa biblioteca, para doá-los à diferentes instituições.

              Na biblioteca, na coleção de músicas, nos objetos e fotografias recordações de tantas viagens, havia a síntese do homem, do religioso, do intelectual sobretudo. Da Suma Teológica ao O Capital, de Lutero a Trotski, de Sartre a Bernanos, de Teillhard de Chardin ao Aiatolá Khomeini, lá, em diversas línguas, estava, na sua variedade e na sua abrangência, a parte do conhecimento, do existir humano, pelos quais transitara o privilegiado cérebro do padre, que, na igrejinha da Atalaia Nova, estava envolvido em luz. E ele foi uma luz da razão, que agora perdemos.

MORRE, AOS 93 ANOS, DOM LUCIANO CABRAL DUARTE, ARCEBISPO EMÉRITO DE ARACAJU

SOME O PRESIDENTE, SURGE O NÁUFRAGO

                  De execrável, o presidente Temer torna-se também patético. No dia em que surge, revelada pela Polícia Federal mais uma das suas tramoias, ele vai a uma igreja evangélica e se diz “iluminado por Deus”. Os seus ministros sobem o tom e, até, colocam no mesmo nível a baderna, a anarquia e o direito à livre manifestação. Querem agora reinventar o termo “subversão” e já colocam entre os seus alvos até manifestações políticas. O que é grave e tem o cheiro ruim de autoritarismo. Com a imagem e a autoridade devastadas pela incompetência e a explicita improbidade, Temer tenta agora apoiar-se em baionetas. Vai sair ferido.

JOSÉ CARLOS TEIXEIRA, O HOMEM E A MÚSICA

                    Era mês de junho, já próximo do São João. Nas noites quase bucólicas de Aracaju, naquela década dos cinquenta, espoucavam vez por outra foguetes, e o som era ouvido por toda a cidade.

                  No Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, a Sociedade de Cultura Artística, SCAS, promovia um concerto realizado por um pianista polonês. Era um extraordinário intérprete de Chopin, seu conterrâneo, tocava uma Polonaise, quando se ouviu um foguete. O pianista tremeu as mãos, embaralhou-se, depois outro foguete e ele agitou-se como se estivesse em transe. O professor Felte Bezerra foi socorrê-lo, o auditório estava lotado e as pessoas ansiosas se perguntavam o que teria ocorrido.

                 Um jovem levanta-se da primeira fila onde estava, pede silêncio e começa a explicar o que sucedera. As pessoas ficam sabendo, então, que o pianista era um traumatizado pela guerra e poderia ter tido aquele acesso em consequência dos estouros. Pediu muitas desculpas e anunciou que o espetáculo estava suspenso e as pessoas receberiam de volta o que pagaram. O jovem era José Carlos Teixeira, que já se dedicava ao prazer de toda sua vida: a música clássica. Talvez, sendo um melomano que não tocava nenhum instrumento, resolveu então manejar o grande instrumento da política, para realizar um outro sonho: ser protagonista de transformações.

                   José Carlos foi um referencial na política em dois tempos: na democracia e no autoritarismo. Na democracia, empenhado em promover o avanço social, em contribuir para retirar da letargia a morosa economia sergipana. No autoritarismo, se colocando corajosamente a combatê-lo, a denunciar os abusos, as violências, as perseguições. Um exemplo: deputado federal e até ameaçado de cassação, José Carlos denunciou, em Brasília, as violências cometidas em Sergipe, contra adversários do regime. Isso em 1976, quando havia censura e as torturas que eram aqui praticadas não chegavam a ser notícia nos jornais. A ação de Teixeira evitou que as barbaridades continuassem, ao que se afirmava na época, praticadas por setores extremados militares, que queriam exagerar a influência da esquerda, para dar pretextos ao maior endurecimento do regime e prolongar a ditadura, quando já se anunciava a distensão.

                A melhor definição sobre José Carlos foi dada, ao pé do túmulo, pelo advogado, ex-deputado federal e ex-vice-governador, Benedito Figueiredo, um dos fundadores do MDB sergipano: “José Carlos Teixeira foi o pai de todos nós, de toda uma geração de jovens que ele acolheu no partido e neles despertou o entusiasmo pela vida pública e a intransigente defesa da democracia”.

                  Como deputado federal, Prefeito de Aracaju, Secretário de Estado, Vice- Governador, José Carlos foi sempre, em todas as etapas da sua vida, um devotado à cultura, com ênfase sempre na música e, assim, ele construiu uma vida de protagonismo marcante em diversos setores e, na política, deixou o melhor dos exemplos: a honradez pessoal.

                  José Carlos fez da vida uma ópera que ele compôs em diversos atos, sempre majestosos.

JOSÉ CARLOS TEIXEIRA, EXEMPLO DE HONRADEZ, MORRE AOS 82 ANOS

PALAVRAS APENAS AO VENTO OU A CRÍTICA DA VORACIDADE

              Em Itabaiana, nasceu um grupo econômico, resultante da visão e da coragem empreendedora de uns irmãos. São os Peixoto, onde também há um padre, mas só dedicado ao seu sacerdócio. Os irmãos empreendedores montaram uma cadeia de supermercados que se expandiu por cidades do interior, os Supermercados Peixoto. Em Itabaiana, inauguraram recentemente, nesses tempos de crise e recessão, o segundo Shopping Center no interior, o primeiro foi em Socorro, na grande Aracaju.

               Em Itabaiana, inaugurou-se recentemente um grande supermercado, o Assaí, um dos ramos do conglomerado Pão de Açúcar. Instalou-se uma concorrência acirrada. Até aí tudo normal, coisa corriqueira e necessária no regime capitalista, onde a competição atua como reguladora dos preços.

             Mas entre concorrência e prática do dumping, ou seja, a baixa artificial de preços para esmagar a concorrência, vai uma grande diferença, porque quando triunfa o dumping, logo se constrói o monopólio. E quando o monopólio se torna dominante, o preço sobe e o direito do consumidor encolhe. Pois é assim, o Assaí, com o enorme suporte do grupo gigantesco de que faz parte, age para liquidar os pigmeus que o cercam, e talvez o incomodem.  O Assaí pode praticar preços abaixo, até, do custo da mercadoria, mas os outros, evidentemente, não podem, se o fizerem, em pouco tempo quebram. Já o Assaí tem gás para aguentar o que faz por tempo indeterminado.

             Para os itabaianenses e gente de tantos outros municípios, o esmagamento de um grupo local, de outros menores e do mesmo ramo é visto com preocupação. Sabem todos que, comprando a quem é da cidade, o dinheiro circula por ali mesmo e estimula a economia local. O Grupo Peixoto tem ainda uma presença forte em todas as iniciativas sociais e filantrópicas. Messias Peixoto faz parte da Academia de Letras do município e ele incentiva também a cultura, apoia decisivamente a realização da Bienal do Livro de Itabaiana.

               Já os controladores do gigante que faz guerra de preços, nem sabem onde fica, por exemplo, o Asilo de Itabaiana, uma casa onde idosos recebem tratamento exemplar. E quem doa a alimentação? Os Supermercados Peixoto.

SHOPPING PEIXOTO EM ITABAIANA

GILTON E A BIOGRAFIA DO SEU PAI, LUIZ GARCIA

                 Gilton Garcia é, em tudo, um seguidor do pai. Advogado, foi Promotor como ele, professor como ele, deputado federal como ele, acadêmico da ASL como ele e, até, governador como ele, embora no distante Amapá. O seu tio José, foi governar distante também, no Mato Grosso. Gilton não só imita o pai, faz isso até como forma de cultuar a memória paterna, do homem Luiz Garcia, que, governador, cumpriu um mandato de forma brilhante, inovadora, democrática, tolerante, em um tempo de acirramento político, e cuidou do futuro de Sergipe, planejou o nosso desenvolvimento.

                  Gilton quer agora escrever a biografia do pai, mas não o fará sozinho, imaginando que sobre o homem público deverão ser projetadas visões diversas, além daquela do próprio filho. Dessa forma quer deixar um documento insuspeito para a História.


  

LUIZ GARCIA

UMA ESCOLA NA TERRA DURA

                  A terra dura já foi o bairro mais problemático, mais violento de Aracaju. Melhorou, a violência diminuiu, e isso se fez com ações sociais conjuntas, estado- município, e presença policial. Mas o grande fator de transformação foi a escola. Por lá andou o Ministério Público e deflagrou a ideia e a execução de uma escola, e que escola!

                Edvaldo Nogueira, desde o primeiro mandato, revelou uma preocupação construtiva com a sorte daquele povo, vivendo na pobreza e com a fama nada exemplar, levada a todos em consequência de alguns apenas, que enveredaram pela marginalidade. Edvaldo concluiu agora uma segunda escola de alto nível na Terra Dura. Tem tudo o que possa exigir de uma escola moderna, e vai funcionar em tempo integral. A Secretária da Educação, professora Maria Cecília Tavares Leite, dedica-se agora a cercar a escola de todos os cuidados, para que ela se faça mais um instrumento civilizatório, no bairro que se reconstrói.

O PREFEITO EDVALDO NOGUEIRA E A SECRETÁRIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO, MAIA CECÍLIA LEITE INAUGURARAM, NO DIA 10 DE MAIO, O EMEF JOSÉ SOUZA DE JESUS NO BAIRRO 17 DE MARÇO

ALBANO OUTRA VEZ EM GENEBRA

                  Albano Franco está outra vez em Genebra, Suíça, participando da conferência anual da Organização Internacional do Trabalho, OIT. Ele faz esse roteiro desde quando era presidente da CNI, com poucas interrupções no período em que foi governador, mas, deve ser o sergipano recordista em viagens a Genebra. Disputa esse recorde com Thais Bezerra, ele, em viagens a Genebra, ela, em viagens a Paris.

ALBANO FRANCO

A ESCOLA DO RECIFE

                O escritor e advogado Antônio Porfirio Matos, cidadão que cuida da cultura sertaneja, e para preservá-la instalou um Memorial no povoado Alagadiço, Frei Paulo, foi convidado pelo presidente Anderson Nascimento e fez palestra na Academia Sergipana de Letras. O tema foi a Faculdade de Direito do Recife e a Formação do Direito Nacional. Porfírio, que faz parte do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho, deu destaque à presença, naquela escola, dos sergipanos Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso e Gumersindo Bessa. Por esquecimento, talvez, não incluiu o nome de Gilberto Amado, ou, possivelmente, porque ele operou mais intensamente no campo do Direito Internacional. A ONU realiza periodicamente um seminário sobre a contribuição do embaixador Gilberto Amado para as relações internacionais.

ANTÔNIO PORFÍRIO DE MATOS NETO, PESQUISADOR DE ASSUNTOS DO CANGAÇO E AUTOR DO LIVRO SOBRE A HISTÓRIA DE FREI PAULO

O DIESEL É COMBUSTIVEL POLUENTE E CONDENADO

                     Desse governo nada de positivo se poderá esperar. Só mais tumulto, novas revelações de escândalos e erros calamitosos reincidentemente acumulados. O Brasil não merecia esse castigo. Para contentar, na marra, os caminhoneiros em rebelião, o governo baixou o preço do diesel, que fizera disparar ano passado com acréscimo de impostos e dia a dia, com a fórmula de Pedro Parente. O diesel não baixa apenas para caminhoneiros, do subsídio concedido também irão se beneficiar os donos de iates sofisticados e de carros de luxo. Estão sendo prejudicadas diversas empresas com o retorno de tributos, os exportadores que perdem competitividade e até do SUS e da Bolsa Família tiraram dinheiro. Neste caso, é o pobre que paga com a vida. Sem contar estados e municípios que terão suas receitas igualmente afetadas.

                      Além disso tudo, fica o rastro do furacão na economia que levará meses, na melhor das hipóteses, para ser compensado. Ou seja, temos pela frente mais recessão, mais desemprego e quase zero investimentos. E, para os empresários, outro castigo a eles imposto por Temer o aumento nos preços dos fretes, autorizado por Temer, usando de um anacronismo ainda existente, que é, de qualquer forma, uma intromissão no princípio da livre concorrência. Esse governo, aliás, é, todo ele, um obsoleto anacronismo.

                 Mas tudo isso girando em torno de uma substância, um combustível do qual o mundo procura livrar-se, o diesel que é o mais poluidor, o que mais lança carbono na atmosfera, envenena as cidades e amplia os efeitos do aquecimento global. O mundo cria alternativas para substituir o diesel, aqui, o estamos subsidiando. Mas o governo se viu naquela situação de ou dá ou desce, tal a ausência de autoridade, tal a ausência de confiança onde despencou.

                  No começo da década dos anos setenta, quando aconteceu a crise do petróleo, que fez disparar o preço do barril de oito dólares para mais de trinta, o Brasil não produzia sequer um terço do petróleo que consumia. Conta petróleo era impossível de pagar e nossas exportações não nos asseguravam divisas suficientes. Veio o racionamento. Posto de gasolina não funcionava à noite nem nos fins de semana. O governo militar demorou a admitir o racionamento, enquanto na Europa todos os países já o adotavam. Mas, em meio à crise, o presidente general Geisel lançou um projeto estratégico. Chamava-se Proálcool. Do BNDES saíram recursos para que as usinas de açúcar fizessem a adaptação para produzirem álcool e surgiram usinas unicamente alcooleiras.

                   Tudo se fez muito rápido. Em dois anos, grande parte da frota de automóveis já usava o álcool e a produção atingiu recordes. O Brasil tornou-se exportador de etanol, o novo combustível. Ganhamos duplamente, em economia e em preservação ambiental. O etanol quase não polui. Depois, o Proálcool entrou em crise. Nos tornamos autossuficientes em petróleo, mas importamos gasolina, mais ainda diesel e quase todo o querosene de aviação. Refino é um dos gargalos da PETROBRÁS. Tivemos também, depois, o sucedâneo do gás, ainda com larga utilização, mas os preços também subiram. Nesse caso do gás é preciso sim, reanalisar o monopólio da PETROBRÁS. Todo monopólio é injustificável e oneroso.

                 Já existe o biodiesel, pode ser obtido através de diversos produtos, que a nossa agricultura produz em quantidade. Cadê governo para lançar um programa de estimulo à produção do diesel não poluente?

EFEITOS DA CRISE EM SERGIPE

                      Ainda não se fez o cálculo completo dos efeitos da greve dos caminhoneiros em Sergipe. O secretário da fazenda e os secretários de finanças de todos os municípios, ao longo da semana vão percorrer cifras, informações e projetarem o que deve acontecer a partir deste mês de junho, que se inicia sob péssimos presságios. Já existem informações preliminares avaliadas pelo secretário da fazenda Aldemário Alves de Jesus sobre a queda na arrecadação nesses últimos doze dias e as constatações não são boas.

                  Houve vertiginosa queda no comércio, também no setor avícola, em muitas indústrias que pararam, uma delas a FABISE, que deu férias coletivas. A FABISE era uma pequena fábrica que foi adquirida há 38 anos pelo empresário Orlando Carvalho de Mendonça, que a ampliou e modernizou. Hoje, emprega mais de 250 pessoas. Pela primeira vez, parou por falta de insumos para manter a produção.

                       Já morreram por falta de ração mais de 200 mil frangos e poedeiras. Há perdas na suinocultura e na cadeia de produção leiteira.

FÁBRICA DA FABISE EM N. S. DO SOCORRO

 

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