Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O TENENTE AURÉLIO MORREU EM VÃO?
20/01/2020
O TENENTE AURÉLIO MORREU EM VÃO?

(O Tenente Aurélio e milhares de outros brasileiros não morreram em vão)

Sobre o tenente-aviador Aurélio Vieira Sampaio já andamos escrevendo no JORNAL DA CIDADE, no JORNAL DO DIA, num semanário já extinto, O QUE, e outras mídias.

Tantos jornalistas, historiadores, intelectuais, escreveram também sobre o jovem aviador, todos lembrando que Sergipe lhe devia um preito significativo de gratidão, o fazendo lembrado, como exemplo de coragem lúcida, numa época em que a civilização se via ameaçada.

Há quatro anos, o governador Jackson Barreto concedeu, post-mortem, a maior condecoração de Sergipe ao piloto de guerra conterrâneo. Houve uma bonita e comovente solenidade no saguão do Olímpio Campos, transformado em Museu da República,  por Marcelo Déda. Toda a família Sampaio Vieira estava presente, pessoas idosas que o conheceram, representantes da Força Aérea, de outras Forças, e de diversas instituições culturais. 

Nessa quarta-feira, dia 22, será inaugurado um busto de Aurélio Vieira Sampaio no Museu da Gente Sergipana, também criado pelo inspirado governador Marcelo Déda, e hoje dirigido pelo seu primo o  criativo arquiteto Ézio Déda.

Cleiber Vieira, presidente da Associação Sergipana de Imprensa, e Anderson Nascimento, que preside a Academia Sergipana de Letras, dois intelectuais dedicados à história de Sergipe e à valorização dos seus vultos, estão convidando para a solenidade às quinze horas naquele Museu.

Vivemos tempos sombrios no Brasil. O bem elaborado tecido social que conseguimos formar ao longo de séculos, para que criássemos um clima de convivência harmoniosa entre os brasileiros, é perigosamente esgarçado pelo destempero agressivo, desrespeitoso e virulento do homem que elegemos para nos conduzir a um melhor destino de paz, de entendimento, se possível de fraternidade, de evolução social e progresso.

Retroagimos no tempo.

Há um ímpeto insano de por abaixo o que se conhece como nação civilizada, ou seja, onde existe a convivência plural, o debate livre de ideias, da liberdade artística e de expressão.

O retrocesso é tamanho que alguns já renegam a ciência e se tornam terraplanistas, contestando a esfericidade absolutamente comprovada do planeta em que vivemos, e dos demais, alguns deles avistados claramente no firmamento. Aristóteles, séculos e séculos antes de Cristo já descrevia a terra como um objeto redondo, comparando-a com quase todos os corpos celestes que avistamos.

O terraplanismo nos faz duvidar sobre a inteligência humana, sem todavia causar males maiores do que o constrangimento, mas, quando um obscurantista com responsabilidade pública, com acesso direto ao presidente da República, que o avaliou para um cargo, após muitas conversas e troca de ideias, comete o gravíssimo crime de exaltar métodos nazistas, aí, ao invés do simples constrangimento, surge a grave preocupação com os rumos do nosso país, cuja imagem já anda devastada no exterior, em consequência de tantas esquisitices ultimamente surgindo Roberto Alvim, o  energúmeno escolhido  para traçar as linhas da política cultural, recebeu, do presidente, as instruções para iniciar um projeto de desmonte do que ele considera “peçonha ideológica” existente na cultura.

O ambiente cultural, na visão do presidente, lhe seria o mais hostil de todos, então, antes de Alvim, ele já imaginava, sem contudo ordenar ideias,- porque é homem de escassas leituras, exatamente aquilo que o Secretário  da Cultura depois anunciou urbi  et orbi, encontrando o paradigma para as suas futuras ações na engrenagem selvagem do Terceiro Reich alemão,   que teve um dos principais artífices no indivíduo que ele plagiou, o sinistro genocida  Joseph Goebbels .  

Bolsonaro tomou conhecimento da fala do seu Secretário da Cultura, e não demonstrou nenhuma contrariedade. Aquele alinhavado de pura estupidez, não o revoltou. Pelo contrário.  Surpreendido, depois, com a ligação que recebeu do Embaixador de Israel, indignado com a apologia ao nazismo, e em seguida com as reações unanimes de repúdio, onde se juntaram os poderes Legislativo e Judiciário, e  os incômodos que aconteceram até dentro do próprio Planalto, como deixou bem claro o general Augusto Heleno na declaração incisiva e coerente que tornou pública, é que assinou, talvez contrafeito, a demissão do tragicômico fanático.

 Mas, muitos outros semelhantes medram na estrutura de um governo que os acolhe e homenageia. Não fosse assim, Abraham Weintraub, o iletrado e gaiato fâmulo, bufão sem nenhuma graça, devastando a Educação brasileira, já teria sido há muito tempo expulso, a ponta-pés de indignação do Ministério, enxovalhado com a sua presença.

Fábio Wajngarten, o Secretário da Comunicação da Presidência da República acolhe a estratégia de propaganda de Goebbels, principalmente a sua crença na mentira repetida mil vezes tornar-se verdade, é, mais ainda, notoriamente corrupto, e o presidente o defende por afinidades ideológicas.

Na verdade, é terrível suspeitar que a Cruz Suástica, símbolo execrado das maiores e mais cruéis ignomínias já registradas, andaria povoando a cabeça, ou os sonhos, de quem dorme no Alvorada.

No decorrer da cerimonia em que estará sendo exaltado um herói brasileiro e sergipano, deve ser relembrado que ele morreu combatendo na Itália a desgraça do nazifascismo. Aurélio era um jovem fascinado pela aviação, entusiasmado com a Força Aérea Brasileira recém criada.

 Vivendo em Aracaju, em agosto de 1942 sofreu o impacto da guerra que começara nas praias sergipanas e baianas, com a agressão do império hitlerista. Cinco desarmados navios de carga e passageiros, foram afundados por um dos submarinos da numerosa frota comandada pelo Almirante Karl Döenitz. Aurélo viu a chegada dos cadáveres, parte dos mais de seiscentos que morreram nos ataques. Decidiu que, declarado oficial, iria combater o nazifascismo, ajudar a extirpar do mundo a barbárie que estendia seus tentáculos de horror e sangue pela Europa, e norte da África, e agora nos alcançavam.

Aurélio estava entre os 43 pilotos de caça brasileiros que chegaram a Livorno em  outubro de 1944, e logo comandariam os P-47, formando o First Brazilian Fight Squadron, combatendo ao lado de três esquadrões americanos.

O tenente Aurélio morreu nos últimos dias da guerra, em abril, atingido pela artilharia inimiga, enquanto realizava ataques a comboios de tropas alemãs.

Quando um brasileiro, nos mais altos escalões da República, e para isso tendo sido nomeado pelo próprio chefe da Nação, faz apologia a criminosos nazistas, ele ofende os nossos mortos na guerra, agride as forças armadas brasileiras, renega a dignidade humana, faz pouco caso das dezenas de milhões de mortes provocadas pelo hitlerismo, entre eles, alguns milhões de seres humanos, judeus, eslavos, ciganos,  opositores do nazismo, chacinados nas câmaras de gás, ou fuzilados à beira das próprias covas,  antes  obrigados a cavar.

Essa marcha insensata para o totalitarismo, terá de ser contida, pelo que existe de sensatez e responsabilidade com o nosso país.

Há pilares de equilíbrio que ainda nos sustentam, inclusive dentro do próprio governo, na Vice-Presidência da República, no Legislativo, no Judiciário, e o forte sentimento na sociedade brasileira de aversão a todas as formas de autoritarismo.

 

 

 

 

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