O SONHO POSSÍVEL DE UM ESTADISTA BRASILEIRO
Quando surge aquela sensação de que o futuro nos foge aos pés, precisamos nos agarrar, com todas as forças, a um sentimento que se chama esperança. No plano pessoal, poderá ser uma solução até providencial e recomendada, seja pelos que tratam com maior consistência da complexa, delicada e etérea estrutura que se chama alma humana, seja sob o prisma das ciências do cérebro, ou no campo transcendente das religiões.
Todavia, quando o que está em causa é o destino de um país, aí, então, a esperança teria de transformar-se num sonho coletivo, algo que acontece raríssimas vezes na vida dos povos. O sonho da libertação do opressor, o sonho da paz, o sonho da liberdade, da justiça, da fraternidade corresponde a momentos raros, que a História registra com parcimônia.
Entretanto, é preciso sonhar.
E, nessa conjuntura, qual o sonho que caberia acalentar em relação ao Brasil? Com certeza, dirão todos, seria aquele em que coubesse toda a dimensão das nossas melhores expectativas e incluísse, também, uma escolha certa a ser feita nas urnas dos que irão nos governar.
Teria então, segundo o sonho, surgido uma liderança que conseguisse galvanizar as energias da Nação, superando dificuldades, nos devolvendo o otimismo, apaziguando os conflitos, racionalizando as controvérsias. Na presidência teríamos a figura de um Estadista, não de um “salvador” apenas, alguém imbuído dos melhores sentimentos do povo brasileiro e que fosse capaz de realizá-los, sem tumultos, autoritarismos ou insensatez.
Estadista é o político que comanda uma Nação carregando aos ombros o peso dos seus problemas, convicto de que a sua missão única será tentar resolvê-los com sabedoria e equidade, por isso, não poderá nunca ser alguém que dissemina ódios, que cresce acirrando conflitos, que se faz portador de sentimentos de revanche, que se move sobre o terreno frouxo da sociedade fragmentada por extremos inconciliáveis. Um Estadista, nas circunstâncias em que nos encontramos, não poderá dizer, “somos nós contra eles”, nem polarizar o país entre posições de esquerda ou de direita. O Estadista, nesse turbilhão de desencontros e de decepções, teria de ser, em primeiro lugar, um semeador da paz, um pragmático pesquisador de fórmulas possíveis, e encontráveis em todas as vertentes ideológicas, desde que saiba filtrá-las no laboratório do bom senso.
Aquele que sair das urnas desenhando para si mesmo o papel de um Estadista, logo depois de empossado, deveria fazer dois convites. Um, para que Lula, se ainda preso, saísse da cadeia, com permissão da Justiça e, sem escolta, fosse ao Palácio do Planalto para uma conversa reservada sobre o Brasil com o novo presidente. O outro convite seria dirigido ao capitão Jair Bolsonaro, para uma conversa da mesma natureza.
Com isso, estaria aberto o espaço para o diálogo, na medida do possível sem ódios e sem ranços, que incluiria todos os representantes de diferentes setores da sociedade, intelectuais, trabalhadores, empresários, artistas, religiosos, pobres e ricos, extremados e moderados; além disso, o indispensável elo de ligação com as instituições republicanas.
Preparado o ambiente de distensão, o Estadista convocaria a Nação para trabalhar, pensar, fazer, descobrir, inovar, produzir, gerar riquezas, planejar como distribuí-la da forma mais equitativa, no âmbito das leis que, para isso, já existem.
Cumprindo a sua tarefa, o Estadista brasileiro sonhado poderia até imitar José Mujica, o notável presidente que o Uruguai teve a sorte de eleger. Findo o mandato, ele voltaria, com a consciência limpa e sem gerar escândalos, a ser apenas um homem simples e sem a polícia ao seu encalço.
Mujica, um ex-guerrilheiro Tupamaro, para fazer o Uruguai avançar socialmente, progredir livre de tumultos, aplicou uma fórmula à qual atribuiu o sucesso. Na presidência, dividiu suas atenções voltadas para três setores: os pobres, o mercado e os produtores rurais, a classe mais poderosa e conservadora do país.
Entre os candidatos que aparecem até agora na disputa pela presidência dá para retirar uns dois apenas, que, pela experiência, capacidade de diálogo e conhecimento do país, poderiam, se eleitos, dar um passo à frente das nossas atuais mesquinharias e desalentos, encarnando, então, o papel de um Estadista.
Não será fácil, mas faz bem sonhar, o sonho enternece e dá asas à esperança.
PEPE MUJICA, EX-PRESIDENTE E SENADOR DO URUGUAI
DO INCÊNDIO À MARCA JCPM
Corria o ano de 1959 e era começo de uma tarde de verão. No largo galpão vizinho ao Iate Clube, Praia 13 de Julho, onde estava instalado um almoxarifado do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis (DNPVN), tocou o telefone. Um trabalhador que desempoeirava alguns equipamentos espalhados pelo chão, chamou o gerente, o topógrafo José Silva, que fazia uma revisão em um bote usado para o trabalho de batimetria, e não o escutava. Então, gritando esticadamente as sílabas, o homem ao telefone advertiu: “É o cheeeefe e está com pressa”. Zé Silva, hoje um contador e topógrafo aposentado, assíduo maçom integrante da Loja Simbólica Cotinguiba, veio correndo, tão rápido como jogava futebol no time do Cotinguiba Esporte Clube.
O chefe era o engenheiro João Aragão, que autorizou a entrega de todas as bombas hidráulicas disponíveis (eram apenas duas) para serem transportadas numa caminhonete, que logo chegaria para levá-las à avenida Otoniel Dória, em frente ao rio, no trecho entre o Mercado e a esquina da praça General Valadão. Aragão pedia muita pressa, porque havia um incêndio num dos antigos sobrados onde funcionava um armazém de secos e molhados, como eram denominados na época.
Mal a camionete saía, transportando bombas e mangueiras, tudo em péssimo estado, explosões começaram a ser ouvidas. Zé Silva e um jovem universitário que, recém nomeado, se improvisava como “auxiliar de topógrafo”, e os dois marinheiros do bote, foram aos fundos do galpão, colado ao rio Sergipe, e de lá já avistaram a coluna imensa de fumaça escura, que, na ausência de vento, subia quase na vertical e se fragmentava, espalhando-se, sacolejada pelas explosões. Ao lado, no píer do Iate, o professor Alcebíades Vilas Boas, Comodoro do clube, começava a acionar sua lancha e, gritando, informou que o incêndio era no armazém de Pedro Paes Mendonça e ele iria até o local para tentar ajudar.
O navio Capela, ancorado no cais do Trapiche do Lima, começava a se deslocar avançando uns trezentos metros rio acima, para esguichar sobre o fogo a água bombeada do rio. Mas foi tudo em vão. O fogo consumiu tudo. No dia seguinte, ao redor de escombros ainda quentes, juntava-se gente para recolher o que sobrara da fogueira e amontoar a tralha em pilhas sobre o calçamento coberto de cinzas. Não havia saque, somente solidariedade. Orientando o salvamento inútil, estava o jovem filho de Pedro Paes Mendonça, João Carlos.
Descapitalizado, mas merecendo crédito, Pedro transfere-se a Propriá, onde tenta reiniciar a vida. Era deputado estadual e, além das querelas políticas, houve outros problemas. Resolve fixar-se no Recife, instalando um mercadinho no bairro de Casa Amarela.
Quando teve a ideia de instalar Caixas Registradoras, fazendo surgir o Supermercado, João Carlos Paes Mendonça nem imaginaria que ali estava nascendo a sigla JCPM, marca de um grupo que, hoje, está entre os maiores do Nordeste.
Nesse dia 23, João Carlos comemora oitenta anos e recebe amigos na sua Quinta portuguesa, agora grande produtora de vinho do Porto. Passando em revista a sua vida, o sucesso empresarial, a responsabilidade de gerar empregos para milhares de pessoas no seu conglomerado de empresas, certamente lhe dará uma sensação imensa de satisfação pelo trajeto percorrido. Ainda mais, lhe enternecerá a alma, a presença da família, dos amigos e a certeza de ter cumprido plenamente o seu papel social, com a criação da portentosa Fundação Paes Mendonça, ao pé da serra sergipana onde nasceu e, depois, uma outra que leva o seu nome, quase uma imposição da família para homenageá-lo.
Entre os amigos sergipanos que irão abraçá-lo, Albano Franco, que dele se declara irmão, e lembra que o conheceu na época pré-incêndio, quando dirigia um caminhão e transportava açúcar da Usina Pinheiro, do seu pai Augusto Franco, e o comprador era seu Pedro, pai de João Carlos. O ex-governador que se cuide, porque o também seu amigo, mas em menor grau, Michel Temer, na solidão da presidência esvaziada, faz inúteis ameaças a empresários graúdos que teriam manipulado a recente greve e poderá enxergar, nele, Albano, algum viés caminhoneiro. Por lá, também o engenheiro e empresário pernambuco-sergipano Antônio Dutra, antecipadamente em Portugal para o abraço forte ao compadre, e, ainda, o médico, a quem João Carlos confia o coração octogenário, Dr. Souza.
JOÃO CARLOS PAES MENDONÇA
UMA VISÃO DO CANTEIRO DE OBRAS E O FUTURO PRESENTE
Percorrer, na Barra dos Coqueiros, o canteiro de obras da CELSE, a Centrais Elétricas de Sergipe, além da surpresa com o avanço da enorme construção, serve também como lenitivo, ou talvez até remédio mesmo, para os sintomas crescentes de pessimismo derrotista gerados nesse ambiente de crise, que se desdobra em diversos e cada vez mais surpreendentes capítulos. Não há como ser pessimista em face do montante daquele investimento privado, ultrapassando cinco bilhões de reais, e pelo potencial que tem a termoelétrica para formar, no seu entorno, um dinâmico polo industrial.
A história do desenvolvimento econômico de Sergipe tem o seu capítulo fundamental na década dos anos sessenta, com o inicio do aproveitamento dos nossos recursos minerais a partir da fabricação do cimento, em seguida, a descoberta de petróleo em Carmópolis, que se tornou o segundo campo produtor no Brasil, depois, a transferência da região de Produção da Petrobras de Maceió para Sergipe e, na sequência, petróleo e gás na plataforma marítima, a primeira vez jorrando no Brasil.
Nessa segunda década do século e do milênio, o marco exponencial é justamente a instalação da termoelétrica, que abre novas fronteiras para a utilização do gás natural, vindo do Emirado do Qatar, para mover a usina e ser oferecido em quantidades ilimitadas, sendo, assim, o diferencial da possibilidade de novas formas flexíveis de contratos, o que fará mais atraente ainda a localização de indústrias em Sergipe.
Os executivos da CELSE e da G-Power, uma subsidiária da transnacional General Eletric, anunciaram a chegada das turbinas, completando um ciclo do cronograma de obras, através de uma complexa logística de transporte por via marítima, fluvial e terrestre. Os aracajuanos poderão começar a assistir à passagem das enormes barcaças entrando pelo rio Sergipe, transportando os equipamentos desembarcados no Terminal Marítimo da Barra e indo fundear no Pomonga, onde entram em ação as carretas.
No próximo ano, chegará ao litoral sergipano, e ficará fundeado em frente à térmica, o navio gigante de armazenamento e regaseificação, que será permanentemente reabastecido por navios tanques, os chamados metaneiros.
No início do ano 2020, a usina entra em funcionamento. O pool de investidores que toca o projeto, deverá, este ano, participar de um novo leilão de energia. Saindo vencedor, iniciará a segunda unidade de geração de energia térmica, provavelmente no município de Santo Amaro. Pela forma como o grupo conduz o atual projeto em andamento, seria desejável para Sergipe, que o mesmo consórcio fosse o vencedor dessa nova licitação.
Na obra, trabalham agora cerca de duas mil e seiscentas pessoas, das quais mais de dois terços são sergipanas.
O CANTEIRO DA CELSE CRESCE DIA A DIA
Foto: CELSE
A REMADA ECOLÓGICA NO FEDORENTO POXIM
O que acontece no rio Poxim é uma calamidade de descuidos, desleixos e ausência de civilidade. De uma comunidade miserável, precariamente sobrevivendo em barracos à beira do rio, não se pode esperar que lide convenientemente com o lixo que produz e não pode ser recolhido, ou com os dejetos, sem terem instalações sanitárias. Assim, o destino de toda a sujeira é mesmo, e sempre, o leito do rio.
Mas, dos bairros ocupados pelas classes com médio ou alto padrão de vida, se poderia esperar procedimentos mais compatíveis com o nível de educação que devem ter tido nas boas escolas que frequentaram, ou nas observações feitas quando viajam à Europa ou aos Estados Unidos, onde, apesar de Trump, o meio ambiente ainda é objeto de cuidados e onde, também, costumam ser bem severas as punições aos que violam a eficiente legislação ambiental. Aqui não nos falta legislação, mas sobram os desrespeitos e se perpetua a impunidade. Ao longo do riacho Tramanday, afluente do Poxim, as ligações clandestinas nem chegam a ficar disfarçadas, despejam direto no rio a sujeira, ou a soltam na rede de águas pluviais, o que termina sendo a mesma coisa, ou até pior, por estender a fedentina por áreas mais amplas.
Os remadores que ainda resistem e praticam o esporte, constatam, todo o dia, a repetição dos mesmos crimes ao longo do Poxim e veem, de perto, assolados pelo ar putrefato, o Tramanday, a grande cloaca, despejando a carga de podridão.
Saiu então, desses remadores, a ideia de mais uma vez protestarem, oferecendo um primoroso exemplo. No próximo dia 16, sábado, se juntarão todos num mutirão de limpeza. Nos barcos irão recolher lixo boiando, pelas margens, recolhendo também lixo depositado, principalmente onde há os mangues. O prefeito Edvaldo Nogueira, solicitado a colaborar, disse que estudaria uma sugestão recebida para fazer o recolhimento do lixo, às margens e nas águas do Poxim.
Foi-lhe sugerido que contratasse canoas para criar, com elas, uma forma permanente de recolhimento do lixo inicialmente ao longo do Poxim. Ampliando os objetivos da ação ecológica, foi também sugerido ao prefeito Airton Martins, da Barra dos Coqueiros, que iniciasse nas águas e nas margens dos rios que percorrem o município, no caso o Pomonga e o Sergipe, um trabalho idêntico de recolhimento utilizando canoas. Tanto Edvaldo, como Airton prometeram analisar a ideia. No caso do município de Aracaju, a limpeza poderia estender-se depois até os rios Vaza Barris e do Sal.
A ação se completaria se houvesse idêntico trabalho das prefeituras de Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Santo Amaro das Brotas, todas na bacia do maltratado Sergipe. Mas a conscientização do povo, a educação, ainda são os requisitos indispensáveis. Por isso os remadores procuram dar o seu exemplo de civilidade.
OS REMADORES ANTES DO SOL
CANOA HAVAIANA, UMA MODA QUE ESTÁ PEGANDO, MUITO BOM PARA TODAS AS IDADES
QUE PENA, HAMILTON DESISTIU
Poucas vezes uma escolha feita por um governador foi tão festejada, como a que fez Belivaldo Chagas, ao convidar o médico José Hamilton Maciel para assumir a Secretaria da Saúde. Posse acertada, a sociedade médica em clima de regozijo por ter sido escolhido um dos seus, e dos mais qualificados. A saúde nas últimas semanas passou por transformações e renovação de métodos e comportamentos, o que resultou no feito sempre posto em dúvida: a desocupação dos corredores e do salão de entrada do HUSE, onde se aglomeravam, diariamente, dezenas de pacientes a espera pelo atendimento, alguns acomodados no chão mesmo, por falta de macas, outros sobre elas estirados.
Hamilton já iria encontrar um caminho desobstruído, mas os obstáculos ao longo da sua jornada seriam enormes e dele seria exigido ter uma energia fundamental e forte para enfrentar outros inúmeros desafios, que, com certeza, iriam surgindo. Hamilton já ultrapassou a idade em que se pode ficar disponível para atender um chamado ao telefone a qualquer hora na madrugada. É um homem ético e avaliou também as injunções que poderiam surgir pelo fato de ser o dono de um Hospital psiquiátrico, que mantem contratos com o estado e prefeituras.
Depois de todas essas avaliações e da insistência da mulher e dos filhos, também de alguns amigos, resolveu desistir da posse, mas, elegante, disse à Belivaldo que poderá ficar sendo um assessor informal, e não remunerado, para o que ele precisar na área da saúde.
Um novo Secretário da Saúde, o médico Valberto Lima, já foi nomeado. O nome foi bem aceito pelos colegas.
BELIVALDO E O MÉDICO JOSÉ HAMILTON MACIEL
Foto: Marcelle Cristinne/ASN
BELIVALDO COM O NOVO SECRETÁRIO DA SAÚDE, O MÉDICO VALBERTO LIMA
Foto: Marcelle Cristinne/ASN
UM TEMPO DE DESATINOS E COM CHEIRO DO MOFO
Cada dia que passa, mais some o governo Temer e mais se aprofunda a crise econômica. Desmoralizado, com a autoridade dissolvida, o presidente hesita, ou erra. No bojo dessas novas etapas da investigação da Polícia Federal, todo o entorno do presidente foi atingido e já se tem, bem nítida, a atuação de Temer à frente da organização criminosa. Aparecem as contas no exterior, as mesadas milionárias, surge a pista dos “laranjas” e o que parecia sólido, logo dissolveu-se. Acuado e sem saída honrosa possível, Temer sai em busca de inimigos, e os identifica entre os donos de postos de gasolina, e os ameaça e tenta a manobra desesperada do controle político dos preços. Parece que estão de volta os tempos sem rumo de Sarney e o Brasil aproxima-se de uma tragédia de venezuelização. No ar brasiliense respira-se um cheiro de mofo, oriundo de coisas velhas. Ou seria o odor cadavérico da República apodrecida e a espalhar miasmas?
Nos círculos íntimos do Planalto, já se admite a ideia de que Temer, chegando ao fim do mandato, no mesmo dia, tome um avião em Brasília para desembarcar na Europa. Chegando ao primeiro aeroporto, lá mesmo, tomariam, ele, Marcela e Michelzinho outro avião e desembarcariam em Beirute, capital do Líbano. Temer tem dupla nacionalidade, brasileira e libanesa. Assim, ficaria a salvo de qualquer pedido de extradição formulado pela justiça brasileira. Viveria então num apartamento confortável, ao sol e ao calor mediterrâneos, desfrutando de bela paisagem e tranquilizado por vistosa aposentadoria e ainda mais pelos milhões de dólares e euros acumulados em suas contas abastecidas fartamente através do sistema de propinas, manipulado pela quadrilha, à frente da qual sempre esteve. Coisas assim, como as malas de Geddel ou a malinha do arisco Rocha Loures.
FAMÍLIA TEMER
Foto: Beto Barata/PR/Fotos Públicas
CLEOVANSÓSTENES DE AGUIAR, O MÉDICO E O “PEDREIRO”
Indicado para governar Sergipe, o engenheiro Paulo Barreto, que cuidara de estradas e prédios, do Batistão, do Maria Feliciana e de tantas obras no acelerado governo de Lourival, seu “padrinho”, na escolha feita pelo general presidente Médici, procurava, antes da posse, formar uma equipe técnica de nomes reconhecidos pela probidade e, ainda mais, sem suspeitas de tendências “subversivas”.
O ano era 1970, o auge dos resultados autoritários que o Ato Institucional nº 5 consagrara, para dar ao Brasil uma paz de cemitérios. Escolher essas pessoas era tarefa delicada e exigia consultas prévias aos órgãos de segurança, que bisbilhotavam até a vida privada e davam ouvido também para maledicências e insinuações, as vezes perversas, que passavam a constar na folha corrida das pessoas, guardadas pelos órgãos de segurança.
Capitais, qualquer cidade com mais de 200 mil habitantes, ou estância hidromineral, determinara o regime, não teriam eleições para prefeito, que seria indicado pelo governador e, também por ele, podendo ser demitido. O prefeito era assim uma espécie de secretário. Paulo teria de substituir, na Prefeitura de Aracaju, o economista Aloísio de Campos, que se dedicara a planejar, tanto financeira, como urbanisticamente, a cidade. Lhe falaram sobre um cidadão cheio de virtudes, que tinha um nome um tanto estranho: Cleovansóstenes. Médico, homem de vida pacata, dedicado inteiramente às suas atividades, sobretudo um humanista, era funcionário do SESP, um serviço de saúde pública federal que funcionava com eficiência. Era também professor da faculdade de Medicina da UFS.
Sobre Cleovansóstenes, diria depois Paulo Barreto, que, durante sua garimpagem em busca de qualidades e defeitos, dele nunca ouvira uma só palavra desabonadora. Foi a Riachuelo, onde o médico trabalhava, porque desejava ter uma alongada conversa com ele. Chegando ao SESP, lhe informaram que o doutor saíra para visitar uma obra da Campanha de Educandários Gratuitos, da qual era também dirigente. Hoje, essa campanha em nível nacional tem dois dirigentes sergipanos, o professor, advogado e agora principalmente Padre, José Lima, e o semeador de cultura cearense-sergipano, Domingos Pascoal. Pois então, chegando ao local, Paulo Barreto encontrou o Dr. Cleovansóstenes empunhando uma colher de pedreiro. Ajudava a construir as paredes de um ginásio. Não teve mais dúvidas, voltou a Aracaju e anunciou o nome do futuro prefeito da capital.
Prefeito, Cleovansóstenes mantinha o hábito de passear de automóvel, ao fim da tarde, com a esposa e os filhos pequenos e cruzava a João Pessoa, a principal artéria onde, na Sorveteria Chic, a política se fazia a meia voz, afinal, só há pouco tempo, a Assembleia Legislativa saíra do recesso forçado que durara quase dois anos, mas havia políticos descontentes por estarem preteridos e surgiu a insinuação maldosa que Cleovansostenes não gostava de trabalhar.
Ele era extremamente organizado, chegava à Prefeitura por volta das seis, fiscalizava obras e a limpeza da cidade nos fins de semana, dirigindo seu próprio carro. Fez uma administração correta, cuidou bem da saúde, da educação e, coisa quase milagrosa, terminou seu mandato transferindo ao sucessor na Prefeitura, o engenheiro João Alves Filho, as finanças do município rigorosamente equilibradas.
Aos noventa e um anos de uma existência simples, rica de virtudes e de exemplos, morreu o professor, o médico sanitarista, o ex-prefeito de Aracaju Cleovansóstenes Pereira de Aguiar. Ah, se todos fossem assim, como ele foi.
CLEOVANSÓSTENES PEREIRA AGUIAR, UM EXEMPLO A SER SEGUIDO
A FORÇA DO “CORAÇÃO”
O coração tem forças que o senso comum até desconhece e quando o coração é bem cuidado, aqueles que dele cuidam se tornam merecedores de todas as reverências. Um dia alguém precisará quase com certeza de um cuidador de corações, um cardiologista.
Quando o cuidador de corações é, ao mesmo tempo, um ser humano de coração imenso, ele logo se faz um ícone para o qual convergem, agradecimento, carinho, admiração. Em Sergipe, Antônio Carlos Sobral de Souza, o Dr. Souza, é um desses ícones. Isso ficou claramente revelado na afluência enorme de amigos, que convergiram para o almoço comemorativo de mais um aniversário do Dr. Souza, festa de amizade, organizada pelo engenheiro e empresário Luciano Barreto. Sobre a recepção, promovida por Luciano no seu hotel Quality, a ex-vereadora Mirian Ribeiro disse, parafraseando a colunista Thaís Bezerra, que lá estava Sergipe em peso, de A a Z.
O Dr. Souza, professor e pesquisador de novas técnicas no campo da sua especialidade, será o próximo imortal da Academia Sergipana de Letras. Já recebeu declarações de votos que se aproximam da unanimidade.
ANTÔNIO CARLOS SOBRAL DE SOUZA, O DR. SOUZA
CARLOS LYRA, COMO CHEGAR AOS 80 E SEM ENVELHECER
Carlos Lyra não aceita que digam que ele, aos oitenta, tem a aparência de um sexagenário bem conservado. Mas, atribui o bom estado físico à maneira, sempre morigerada, como conduz a vida, isso em todos os aspectos. O fato é que a motivação ao trabalho, nele permanece da mesma forma como quando iniciou a vida empresarial, final dos anos cinquenta, no ramo farmacêutico, instalando, com o irmão Paulo, a farmácia Isis, que ficava no centro da cidade, cruzamento das ruas João Pessoa com Laranjeiras. Passou depois a atuar no comércio de veículos e em consórcio de vendas, por ele criado, o Lyscar.
Nunca indiferente ao que se passa pelos quatro cantos exteriores, ou seja, pela sua coletividade, pelo país, pelo mundo, Carlos Alberto Lyra se faz protagonista de ações e as exerce, principalmente, através da entidade maçônica a que pertence há mais de 50 anos, a Loja Simbólica Cotinguiba, e também nas entidades empresariais às quais pertence. Nesse sábado, dia 9, Carlos Lyra estará rendendo graças pelos 80, numa missa celebrada na Igreja da Atalaia, às dezessete horas, ao lado da esposa Ana Maria Teixeira Lyra, dos filhos, dos oito netos e dos numerosos amigos.
CONVITES:
CONVITE PARA A CERIMÔNIA ALUSIVA À BATALHA NAVAL DO RIACHUELO
CONVITE PARA A PALESTRA "O BRASIL E O MAR NO SÉCULO XXI"
NAS REDES SOCIAIS:
TEXTO DO PROF. DR. JORGE CARVALHO DO NASCIMENTO SOBRE A PROFESSORA ADA AUGUSTA CELESTINO BEZERRA, QUE TRANSCREVEMOS COMO UMA HOMENAGEM A ELA:
ENCONTROS E DESENCONTROS COM A PROFESSORA ADA AUGUSTA
Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento
Acabei de receber a notícia da morte da professora Ada Augusta Celestino Bezerra. Viúva de Elizeu Silva, deixou dois netos (Pedro e Dimitri), dois filhos (Elizeu e Elisângela) e três irmãos (Augusto Bezerra, Augusto Junior e Fabiano). A sua irmã mais velha, Heloísa, assistente social, morreu alguns anos antes. Nascida no dia 25 de abril de 1949, com brilho intelectual invulgar, Ada marcou o cenário do debate educacional em Sergipe durante 47 anos consecutivos como professora, gestora educacional e pesquisadora.
Ada Augusta ingressou no ensino superior em 1968, na primeira turma do curso de Pedagogia da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Colou grau em 1971. No seu primeiro ano como estudante do ensino superior testemunhou a incorporação da Faculdade de Filosofia pela Universidade Federal, implantada no mesmo ano do seu ingresso. Na sua turma, conviveu com nomes que marcariam o cenário intelectual da vida sergipana. Jovens que, como ela, estavam matriculados naquela primeira turma: Angélica Vieira Donald, Ana Maria Soares, Clara Angélica Porto, Evanda Maria dos Santos, Ester Alves de Oliveira, Ione Pais, Gerson Vilas-Bôas, Janice de Oliveira Sales, Judite Oliveira Aragão, Lílian Leal do Lago, Luci Ferreira de Andrade, Luíza Nascimento Costa, Manoel Messias Porto, Maria José de Almeida Soares, Maria das Graças Tavares, Maria Ivanda Bezerra de Sant’anna, Maria Lúcia Souza Ramos, Nádia Fraga Vilas-Bôas, Vera Lúcia Sobral e Vera Lúcia Fontes. Essa turma teve como professores nomes igualmente importantes: Juan José Rivas Pascua, João Costa, Cacilda de Oliveira Barros, Maria Thétis Nunes, Dom Luciano José Cabral Duarte e Maria Olga de Andrade.
Depois de colar grau, Ada trabalhou como Professora da Faculdade Tiradentes, ministrando a disciplina Metodologia da Ciência. A partir de 1974, tomou posse como Técnica em Assuntos Educacionais na Universidade Federal de Sergipe, ingressando no quadro docente da mesma instituição na condição de professora de Administração Escolar, no curso de Pedagogia. Depois de aposentada trabalhou como professora visitante da Universidade Estadual de Feira de Santana e por último como professora e pesquisadora dos cursos de Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Tiradentes.
Colou grau, mas nunca parou de estudar, fazendo uma rica trajetória de formação. Concluiu o curso de Especialização em Metodologia do Ensino Superior na própria UFS, em 1973; Especialização em Planejamento e Administração de Sistemas Educacionais, pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação da Fundação Getúlio Vargas, em 1974; Mestre em Educação pelo mesmo IESAE/FGV, em 1986; Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, em 1998; Pós-Doutorado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, em 2012.
Conheci Ada quando inciei minhas atividades como profissional de Educação, no final dos anos 70 do século XX. Eu, um jovem professor aspirando a carreira de docente e pesquisador da Universidade Federal de Sergipe, e Ada já profissional consolidada com larga credibilidade e reconhecida competência. Com ela aprendi, dela divergi em diferentes situações. Estivemos de mãos dadas na campanha eleitoral de 1985, após a queda da ditadura militar, quando das primeiras eleições para prefeito das capitais. Fizemos a campanha de Jackson Barreto de Lima. Após as eleições, fui designado Secretário Municipal de Educação, aos 29 anos de idade. Ada fez dura oposição ao meu período como gestor, nos anos de 1986 e 1987.
Em 1989, a situação se inverteu. Wellington Paixão se elegeu prefeito de Aracaju e nomeou a professora Ada Augusta para o mesmo cargo que eu havia exercido: Secretário Municipal de Educação. Ela se investiu no posto com brilho e competência durante quatro anos. Eu era, em 1989, fundador e primeiro presidente do Sindicato dos Profissionais de Ensino do Município de Aracaju – Sindipema. Tinha como companheiros de diretoria importantes nomes como Diomedes Silva, Tereza Cristina Cerqueira da Graça, Rosângela Santana Santos, Betisabel Vilar, José Ítalo Augusto Sobreira Correia e Adelmo Menezes, dentre outros. Fizemos oposição dura e rigorosa a gestão da professora Ada. Lideramos, em 1989, uma greve longa e muito difícil contra a então titular da Secretaria da Educação. Naquele processo Ada deu a todos nós, grevistas, fundamentalmente uma lição de equilíbrio, ponderação e temperança. Aprendi muito.
Em 1995, regressei do meu período de Doutorado Sanduiche, como bolsista na Johan Wolfgang Göethe Universität, em Frankfurt, na Alemanha, onde permaneci por quase dois anos. Fui trabalhar como consultor da Secretaria de Estado da Educação. À época, Luiz Antônio Barreto, o Secretário, montou um grupo especial para desenhar e implementar dois programas importantes: o Programa de Qualificação Docente – PQD e o projeto de criação da Universidade Estadual, com o qual ele sonhava. Do grupo, coordenado pelo professor Luiz Alberto dos Santos, participavam Ada, Consuelo Maia e Eduardo Ubirajara. Eu discutia permanentemente as ideias centrais da gestão com Luiz Antônio e fazia muita interlocução com Luiz Alberto e Ada Augusta. O PQD foi um sucesso e em quatro anos formou em nível superior quase três mil professores leigos da Educação Básica sergipana que atuavam em escolas estaduais e municipais. A Universidade Estadual nunca foi implantada e virou um desses projetos concebidos que nunca se transformam em realidade. Mas, as ideias de muitas pessoas estavam ali presentes. Em tudo era muito visível o gênio de Ada ao lado de outros tantos que nem sempre concordavam com ela, como eu e Luiz Alberto.
Concordando ou divergindo, o fato é que foram muitas as lições do ofício de professor e pesquisador deixadas por Ada Augusta. Ela se impôs diante de todos nós pela competência, pela capacidade de trabalho, pelo modo como sabia formar equipes e liderar. O fato é que, todos os profissionais da Educação que vivemos e trabalhamos em Sergipe temos consciência que ficamos hoje muito mais pobres.
Siga em paz, cara amiga Ada Augusta. Siga em paz, querida mestra. Dos encontros e desencontros, ficam as suas lições, o seu ensinamento.