O SONHO DO BERÇO ESPLÊNDIDO E O ACORDAR DE UM PESADELO
O nosso hino, aquela metáfora de ufanismos ilimitados, se fez adequado ao tamanho enorme de todas as exuberâncias, aquelas que a “terra mais garrida”, magnanimamente, oferece aos filhos amados, desde que, entretanto, seguindo o dístico da positivista bandeira verde-ouro-anil, garantam a ordem e, assim, façam fluir o progresso. Tudo muito bonitinho, tudo muito certinho e a pátria amada, salve, salve, seguiria em frente fagueira, lépida, impoluta.
“Não verás no mundo país como este”, já cantava o poeta, naquele tom de ufano-nativismo acoplado nas cartilhas que o Ministério da Educação espalhava, para criar, nas escolas, um vago sentimento de brasilidade, sustentado na exaltação da natureza dadivosa, prodigalizando a pátria amada com um repertório fabuloso de infinitas riquezas.
Os brasileiros, bem-aventurados, eram únicos herdeiros de um quase Jardim de Éden, a terra imensa que dormitava “ao som do mar e à luz do céu profundo”. Seriam eles, então, os beneficiários únicos de tudo aquilo que a terra “mais garrida” oferecia e, assim, usufruindo com exclusividade dos nossos rios, das nossas matas, de tudo o que a pátria lhes proporcionava, seriam, para sempre, habitantes satisfeitos, ou apenas acomodados, de um país cuja realização plena era remetida ao futuro.
E dessa forma construiu-se a nossa fraudulenta História Oficial, ou oficialesca.
A estrutura de poder e mando mudando de trajes, ou seja, se adequando ao tempo, apenas a aparência modernizada, fez o trânsito desde a Colônia para o Império, onde mais enfatuou-se, enchendo-se com os atavios de nobreza, tendo, bem ali, a Corte mais por perto. Entrou, República a dentro, sem perder a simbologia dos baronatos, e empoderou-se, mais ainda, com as estrelas da Guarda Nacional, presenteadas para hierarquizar a organização, com patentes de coronel aos grandes senhores de terra, postos de major até a intelectuais, que se faziam solícitos na construção da narrativa conservadora, uma espécie de “deixe como está para ver como é que fica” ou “se mexer o caldo desanda”.
Mas a trajetória não foi assim tão quieta, nem o povo tão submisso, como desejariam aqueles a quem Raymundo Faoro espelhou na definição sempre atual do seu livro “Os Donos do Poder”, leitura que deveria ser exigida nas nossas escolas, tão amorfas em face do pensamento.
CAPA DA EDIÇÃO COMEMORATIVA DE 50 ANOS DO LIVRO “OS DONOS DO PODER: FORMAÇÃO DO PATRONATO POLÍTICO BRASILEIRO”, ENSAIO FUNDAMENTAL PARA A COMPREENSÃO DA FORMAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA BRASILEIRA.
Fala-se na espada de Caxias a sufocar revoltas separatistas ou sociais. Duque de Caxias, o chefe militar que virou adjetivo nas casernas, e fora delas, foi, de fato, fundamental para que o Brasil tivesse, hoje, essa geografia, tal como outros heróis esquecidos, tanto no uso inevitável da força, como na arte da diplomacia, ou na supremacia do argumento, em cortes internacionais.
A própria geografia física do Brasil é uma conquista, quase sem armas, um diferencial de habilidades em relação a outros países, como por exemplo os Estados Unidos, que esmagou o México para acrescentar mais estrelas à sua bandeira, simbolizando terras conquistadas, Texas, Novo México, Califórnia e por aí vai.
Sempre fomos infensos às vozes da mudança ou a elas aderimos de forma equivocada, como acontece agora com a audiência conferida ao vozerio radical, seja de bolsonaristas, seja de lulistas, estes últimos tomados de um certo desespero diante do desmoronar da figura ícone, que poderia ser também um ícone da nossa história como país, não houvesse capitulado, aderido e se misturado aos “300 picaretas” que ele mesmo, quando deputado federal, denunciou, horrorizado com as entranhas dos podres poderes, com as quais passou a conviver, ao frequentar, faz tempo, o nosso agora inteiramente desmoralizado Congresso, como desmoralizado está o Executivo e desmoralizando-se, a cada dia, o Supremo Tribunal Federal.
O berço esplêndido se tornou espinhento, o sonho virou pesadelo e os brasileiros, infelizmente desesperançados, fogem agora rumo a Portugal, onde até o fado já se livrou daquela chatice lacrimejante, algo a ver com os tempos sem graça e sem alegria do rabugento Oliveira Salazar.
PORTUGAL - CARTA AO PAIS IRMÃO BRASIL
OS QUE FAZEM AS LEIS E OS QUE APLICAM AS LEIS
Num episódio poucas vezes registrado na história sergipana, o Tribunal de Justiça condenou dois deputados estaduais. Receberam uma pena que poderá ser de doze a dezessete anos. O julgamento ficou inconcluso, como se sabe, por ter um desembargador pedido vista aos processos. Mas retornará nos próximos dias e, não havendo mudança de votos, a condenação será confirmada. O ocorrido é um registro dos tempos que vivemos. Há um forte ativismo judicial, uma forte tendência a aplicar penas, a determinar o encarceramento.
SEDE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SERGIPE
A opinião pública ocupa o cenário, numa dessas raras ocasiões em que o brasileiro troca o hábito de xingar juízes de futebol, para xingar juízes togados que absolvem. E daí nasce o debate, tanto com motivação oportunista, como também de uma grave preocupação com os rumos das nossas instituições, se é que elas ainda existem.
O poder derivado das urnas esvaziou-se, esvaiu-se no descrédito ou na indignação popular.
A farra indiscriminada aos cofres públicos, da qual, gostem ou não gostem dela, a Lava Jato identificou e criminalizou os seus mais destacados protagonistas, não acabou, apesar de tudo, e, agora, menos ostensivamente continua, principalmente naqueles locais onde exista menos ativismo do MP, menos presença do fator cidadania.
Nessa conjuntura, não se poderá dizer que exista a prevalência de um poder. Ocorre, apenas, o preenchimento de um espaço institucional esvaziado. Sem esse protagonismo judicial andaríamos mais acelerados em direção ao caos que nos espreita.
O Poder Judiciário, por sua vez, não escapa imune. Há forte críticas, insatisfações, geradas principalmente a partir da distância que separa os níveis salariais e faz com que os de cima sejam vistos como privilegiados, sentimento que mais se aguça em face dos penduricalhos acrescentados aos vencimentos.
Mas a opinião pública também não se conformaria com um poder judiciário omisso ou, o que seria muito pior, conivente com tudo o que se identifica sob a forma de ilícitos, fraudes, malandragens.
Evidentemente, as ruas não devem pautar as ações do Judiciário, mas é inevitável a busca de uma sintonia com os gemidos ou os gritos saídos daquilo que há pouco tempo se chamava, depreciativamente, de povaréu, populacho, patuleia, gentalha, chusma, plebe e, até, escória. A revolução francesa colocou em cena os “sans-culottes”, o povo, quase andrajoso, derrubando as muralhas da Bastilha.
UM TÍPICO "SANS-CULOTTE", GRUPO DE HOMENS TRABALHADORES QUE APOIARAM A REVOLUÇÃO FRANCESA.
QUADRO: Louis-Léopold Boilly.
Desde que Ortega Y Gasset escreveu A Rebelião das Massas, o pensamento liberal começou a dar espaço menos preconceituoso para “aquilo”, hoje, cerimoniosamente tratado como opinião pública.
Mas, sintetizando tudo: A partir de uma denuncia bem formatada pelo Ministério Público, de um relatório consciencioso e alinhado aos códigos, elaborado pelo desembargador Roberto Fonseca Porto, e mais a acusação em plenário incisiva e convincente do Procurador Geral Roni Almeida, o pleno, mesmo com a sessão suspensa, praticamente já condenou os deputados estaduais Augusto Bezerra e Varzinhas a uma pena de doze anos, que a desembargadora Iolanda Guimarães entende que deverá ser de dezessete.
Não é uma situação confortável para os dois parlamentares. Augusto, já tendo percorrido uma longa carreira com mandatos sucessivos, e Varzinhas exercendo o segundo. Há espaço ainda para respiros, o que não falta nessa nossa justiça predominantemente recursal, e que, por isso, como tanto insistia o desembargador, agora aposentado, Pascoal Nabuco, se torna ineficiente, retardatária e, nisso, se desgasta.
DEPUTADOS CONDENADOS PELO TJ SE, AUGUSTO BEZERRA E PAULINHO DAS VARZINHAS
FOTOS: Maria Odília e César de Oliveira/ALESE
Uma batata quentíssima, a ser colocada sobre a mesa do deputado presidente da Assembleia, Luciano Bispo, que tem, desde iniciado o seu período na presidência, agido com habilidade e muito diálogo, buscando superar o pesado clima no Legislativo, surgido desde que nele se introduziu um empresário político sem mandato, mas, com muita capacidade de envolvimento e sedução. Tudo o que acontece agora, o tempo punitivo, tem sua origem naquele incomum instante da influência de uma força estranha e externa sobre os rumos do Legislativo.
LUCIANO BISPO, DEPUTADO PRESIDENTE DA ALESE
FOTO: César de Oliveira/ALESE
AVENTURAS OU DESVENTURAS DE UM PEQUENO EMPRESÁRIO
Lula Pedreira é um pequeno empresário. Ele é baiano. Os Pedreira formam uma família grande da região da chapada, terra de muitos coronéis e muitas contendas. Lula foi cedo para Salvador. Inteligente, “fazedor de amizades”, não se contentou com o curso universitário, preferiu a aventura, no Brasil nada auspiciosa, de ser empresário.
Empreender, entre nós, é verbo novo, tão difícil de ser conjugado no presente, que até faz surgir a ideia pessimista de que, no futuro, conjugá-lo será pior ainda. Empreender não é apenas uma coisa difícil, é quase uma atitude heroica. Mas, naquele tempo, virada dos anos oitenta para noventa, quem tivesse algum capital disponível era tentado a aplicá-lo no overnight e ter um rendimento surpreendente, desde que não parasse para contar o dinheiro, porque, ao fim, ele já ter-se-ia desvalorizado. Lula, pessoa cheia de relações, pensou investir na noite, frequentada pela sua roda de amigos. Instalou uma boate e começou a fazer sucesso.
LULA PEDREIRA, EMPREENDEDOR E PEQUENO EMPRESÁRIO EM SERGIPE
Bom negócio, na época, era sempre aquele onde entrasse dinheiro na hora e todo dia. Isso acontecia nas boates e restaurantes, onde a remarcação dos preços de comidas e bebidas, se fazia diariamente. Lula, com algum dinheiro, o aplicava no Banco da Bahia. Ângelo Calmon de Sá o poderoso banqueiro, ex-ministro, frequentava sua boate, era seu amigo. Lula aplicava suas economias, fazia toda a movimentação financeira no Banco Econômico da Bahia, que parecia super sólido, até quando foi fechado, em meio à inúmeras peripécias. Lula, o empreendedor iniciante faliu, encerrou o negócio. Foi ser gerente de boates que sobreviviam na noite movimentada soteropolitana. Conheceu Albano Franco e logo veio o convite para que ele fosse trabalhar no turismo sergipano. Lula aceitou e, na EMSETUR, fez um excelente trabalho, principalmente na Bahia, que é o maior polo emissor para Aracaju.
Um dia, no aeroporto de Salvador, que ainda se chamava Dois de Julho, estava Lula com um amigo, esperavam conexão para São Paulo. Lula avistou o ex-banqueiro e ex-ministro Calmon de Sá na fila, num portão de embarque ao lado. Comenta com o amigo: “Veja só, o ‘deus’ desceu ao chão, não vai de jatinho, nem está no embarque VIP. Que milagre!”. Calmon o avista, e aproxima-se afável: “Lula Pedreira, como vai? Como estão seus negócios?” E Lula, sem titubear, responde: “Não tenho mais negócios, ministro, quebrei, perdi tudo no seu banco”. A conversa ali acabou.
Pois então, passado tanto tempo, Calmon de Sá não é mais banqueiro, e hoje está “pobre”, deve ter uns quinhentos milhões de dólares, e ainda move ação contra a União, a quem culpa pelo colapso do Econômico. Ex-banqueiro, ele transita pelo mundo das facilidades exclusivíssimas, pelas regalias dos poderosos.
ÂNGELO CALMON DE SÁ, EX MINISTRO E EX BANQUEIRO CONDENADO POR GESTÃO FRAUDULENTA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
Já Lula Pedreira é, de novo, empreendedor. Mantém, faz uns oito anos, uma lavanderia moderna, ali no entorno do farol da UNIT. Perdeu o medo de bancos, entende que agora o sistema está mais confiável, mas as dificuldades para o pequeno empresário, assegura ele, só fizeram aumentar. Diz isso e retira do bolso um papel com a anotação de todas as obrigações que tem de cumprir, todas onerosas e que demandam tempo. As obrigações e os custos são desproporcionais para a dimensão do seu negócio. Lula é apenas um, entre os milhões de micro e pequenos empresários brasileiros que fazem mágicas e vão sobrevivendo. Sem eles, o desemprego, hoje de doze por cento, estaria em torno dos vinte e as ruas das grandes cidades seriam praças de guerra.
A MÁQUINA DA VIDA E O PACIENTE FRUSTRADO
A hemodiálise é a única esperança para os pacientes que têm os rins paralisados. A máquina, à qual se atrelam duas, três vezes por semana, significa para eles a possibilidade de viver ou a morte chegando rápida. A hemodiálise não pode ser interrompida, retardada. O tratamento aos pacientes renais é um dos procedimentos mais delicados e depende do bom funcionamento de uma máquina, que é cara e exige manutenção especializada, cuidados permanentes, principalmente no que se refere à assepsia.
MÁQUINA PARA HEMODIÁLISE
A Central de Nefrologia, anexa ao HUSE, o Hospital João Alves, funcionava de forma precária, os pacientes faziam a longa espera numa sala em que, à tarde, o sol batia forte e o calor era insuportável. O Secretário da Saúde Almeida Lima reformou o prédio, adquiriu novas máquinas e o governador Jackson Barreto, que se despedia do governo, quis inaugurar a Central. Aconteceu o ato, a placa foi descerrada, a sala visitada onde estavam as máquinas. Faltou dizer, porém, que a Central só funcionaria, efetivamente, no dia 20, portanto, 15 dias após a inauguração. As máquinas teriam de ser testadas, alguns trechos da obra concluídos.
GOVERNADOR JACKSON BARRETO E O SECRETÁRIO DA SAÚDE ALMEIDA LIMA NA INAUGURAÇÃO DO CENTRO DE NEFROLOGIA DO HUSE
No dia seguinte, uma inspeção verificou que as máquinas não estavam mais no lugar e isso, evidentemente, gerou um escândalo, levou Sergipe desprimorosamente a ser notícia no Jornal Nacional. O governador Belivaldo Chagas, que acabava de assumir, não gostou nada daquilo e do que viu, de um modo geral, no HUSE. Sobre Almeida e mais ainda sobre Jackson começou o inevitável bombardeio da crítica. Não poderia ser de outra forma, ainda mais agora, quando quase já vivemos clima de campanha eleitoral. O site do senador Valadares que o diga.
Belivaldo tem seu próprio estilo de governar e costuma cobrar, com muita ênfase, que haja eficiência, para que resultados sejam apresentados, então convocou Almeida Lima. O Secretário explicou que efetivamente acontecera um erro, por não ter sido explicado, divulgado intensamente, que as instalações somente estariam prontas para atender ao público quinze dias depois da cerimônia de inauguração. As máquinas não eram fake, existiam, mas estavam ainda sendo testadas. Belivaldo deu-lhe um prazo para por em funcionamento a Central de Hemodiálise. O prazo é o dia vinte, sexta-feira. Na visita surpresa que fez ao HUSE, Belivaldo não gostou do que viu, exonerou o diretor, nomeou outro, o médico Darcy Tavares, que dirigia o Hospital de Itabaiana, mostrando resultados positivos.
O CENTRO DE NEFROLOGIA DR. LUCILO DA COSTA PINTO COMEÇARÁ A FUNCIONAR NO PRÓXIMO DIA 20
Almeida Lima, após a recomendação do Tribunal de Contas para que não exerça cargos simultâneos, deverá deixar a presidência da polêmica Fundação de Saúde. Não procede a informação de que o governador Belivaldo já teria convidado um outro nome para ocupar o lugar de Almeida. Belivaldo irá estabelecer regras e vai cobrar resultados práticos, tais como a realização de centenas de cirurgias eletivas, que estão numa demorada fila de espera e estabelecer um padrão de atendimento no HUSE, compatível com a dignidade humana.
ALBANO E SUAS ANÁLISES POLÍTICAS E DIPLOMÁTICAS
Jozailto Lima, no seu blog, fez uma longa entrevista com Albano e uma introdução que é quase uma biografia do entrevistado. Mesmo alongando-se, o texto de Jozailto sempre faz agradável o seu percurso, ele maneja a narrativa com engenho e arte. Jozailto fez o trânsito para a rede virtual, depois de afastar-se do jornal Cinform, que recentemente encerrou a fase impressa, recorrendo ao mundo das telinhas. Nesse processo de “globalização da aldeia” foram precursores Diógenes Brayner, emérito professor de jornalismo, e os cívicos gladiadores, Cláudio Nunes e Adiberto de Souza. A tendência dominante agora é aderir à telinha, mas será um dia triste, principalmente para aqueles com vida mais espichada, quando acontecer a última leitura do último jornal impresso.
JORNALISTAS JOZAILTON LIMA, DIÓGENES BRAYNER, CLÁUDIO NUNES E ADIBERTO DE SOUZA
Mas, retornando à entrevista do garimpeiro de concordâncias, Albano Franco, o ponto fundamental para o momento político foi uma certa dúvida ou suspeita que ele, ao seu jeito, teria deixado no ar. Albano quis efetivamente dizer que a oposição em Sergipe se dissolveu, quando o senador Valadares resolveu criar uma terceira via. Diplomático como sempre, ele não quis externar preferências, ressaltando, todavia, aquela que há muito vem declarado em relação a André Moura. Albano diz um tanto constrangido talvez, que não acredita num processo amplo de rejeição ao líder de Temer no Congresso. Ele não costuma fazer declarações prévias de voto, mas, no caso de André, ele já dissera antes que o apoiaria como candidato ao governo do estado, agora, preferiria vê-lo como candidato ao Senado. André tem uma reeleição certa e a opção pelo Senado certamente envolve riscos de derrota, com todas as suas consequências, inclusive a de perder o manto do foro privilegiado.
ANDRÉ MOURA E ALBANO FRANCO
A HISTÓRIA DE UM GENIAL SERGIPANO
Comecemos transcrevendo um e-mail:
“Oi professor Valdenberg,
Eu escrevo para lhe contar que o CNS (Conseil National de Recherche Scientifique) acabou de anunciar o resultado do concurso para 6 vagas de Directeur de Recherche, o cargo final na carreira, e eu ganhei uma delas.
Obviamente, eu tenho de agradecer ao senhor por tudo o que me ensinou, dentro e fora da matemática, e nada disso teria acontecido sem a sua generosidade para comigo.
Abraços para o senhor e dona Luiza,
Mateus”
Explicando: o Conselho Nacional de Pesquisa Científica é a maior instância da ciência francesa visando a aplicação prática do conhecimento no campo das ciências exatas. O concurso para preenchimento das seis ambicionadas vagas, foi disputado por cientistas franceses e estrangeiros.
Mateus é um jovem senhor matemático, que vive em Paris há uns dez anos.
Ele é sergipano, nascido e criado na rua Rio Grande do Sul, Aracaju. Filho de pais professores, Mateus estudava na Escola Dona Carlota, um colégio particular instalado na avenida Barão de Maruim, nas proximidades da Praça Camerino. Mateus desinteressou-se pelas aulas, chegou a dizer mesmo que queria sair da escola e abandonar o ensino formal. Tinha então 12 anos.
Corria a década dos noventa. Naquele tempo, o professor doutor em matemática e física Valdenberg Araújo da Silva era o Diretor do Departamento de Matemática da UFS. Valdenberg, dando aulas de geometria para integrantes de uma Sociedade Lacaniana, ouviu de uma professora um relato sobre o caso do menino Mateus, que não queria estudar, e ela, amiga dos pais dele, estava muito preocupada com a atitude do menino, que demonstrava ter um elevado grau de inteligência. Valdenberg se dispôs a ir conversar com Mateus. Foi à casa dos pais dele e pediu para conversar a sós com o menino. Fez-lhe então apenas duas perguntas (o teor ele nem lembra mais), mas recorda bem que uma era uma espécie de teste para avaliar o grau do raciocínio lógico do aluno inquieto, a outra, especifica para entender melhor o caráter do jovem, algo que passava pelo sentimento de humildade.
PROFESSOR VALDENBERG ARAÚJO DA SILVA
FOTO: Eugênio Barreto/SEED
Surpreso com as respostas, Valdenberg convidou Mateus para estudar com ele matemática, no campus da UFS, desde que ele permanecesse na escola. No outro dia, a uma hora da tarde, Mateus já estava no Departamento de Matemática. Levava caderno lápis e um pequeno vaso plástico, onde estava cuidadosamente cortadas, fatias de melão. É a merenda que mamãe disse que eu tenho de trazer todo dia, explicou encabulado Mateus.
Valdenberg deu a primeira aula, pegou um livro de álgebra do segundo grau, o entregou para que Mateus lesse as primeiras quatro páginas. Na aula seguinte, Mateus chegou dizendo que lera quarenta. Valdenberg fez um teste e verificou que ele aprendera tudo. A partir de então, Mateus foi devorando livros, passou pelos do segundo grau e Valdenberg começou a tratar com ele de matemática do grau superior. Breve, Mateus já transitava pela análise matemática, pelo cálculo.
Valdenberg foi participar de um encontro de matemáticos em Feira de Santana, onde teria de fazer palestras sobre análise matemática. Levou com ele o aluno, que, cada dia mais, o surpreendia. Fez a primeira palestra para uma plateia de uns dez matemáticos. No dia seguinte, um tanto indisposto, perguntou a Mateus se ele poderia substituí-lo. O menino hesitou, mas ele foi incisivo: você vai. Saiu Mateus e, umas duas horas depois, Valdenberg foi até o local do encontro, que era o campus da Universidade Federal da Bahia. Chegou à porta da sala onde Mateus falava e resolvia complicadíssimas equações, assistido por uma plateia de mais de cem pessoas. Vieram, atraídas para assistir a aula do menino gênio.
Resumo da ópera: Com 13 anos Matheus, levado por Valdenberg foi fazer um mestrado no IMPA, Instituto de Matemática Pura e Aplicada, no Rio de Janeiro. O professor Jacó Palis era diretor do IMPA, conheceu Mateus, entusiasmou-se com ele, mas, havia um obstáculo, a lei estabelecia a idade mínima para o mestrado, o professor Jacó resolveu tudo mandando que encontrassem uma lei que permitisse o ingresso do menino. Encontraram e, aos 15 anos, ele já saltara do mestrado para o doutorado.
Um detalhe: os pais de Mateus queriam ir com ele morar no Rio, afinal, Marteus era uma criança. Sendo professores, não poderiam abandonar o trabalho. Era Secretário da Educação o sempre lembrado Luiz Antônio Barreto. Ser humano de qualidades imensas, Luiz entendeu que seria dever do governo assegurar o espaço para o fantástico Mateus. Os pais ganharam, então, uma licença especial remunerada e puderam ir morar no Rio. Por coisas assim, lúcidas, perfeitas, mas que não estariam devidamente enquadradas na imobilidade das leis, talvez Luiz tenha sofrido o que sofreu.
Aos 21 anos, Mateus fazia concurso para professor da Universidade de Paris, onde leciona, já tendo ultrapassado os trinta anos.
Segundo Valdenberg, Mateus não se considera gênio, nem sequer superinteligente, e fica encabulado quando a ele se referem como dotado de uma inteligência incomum.
Na UFS, o professor Valdenberg continua o seu trabalho voltado para dar uma base de proteção e acesso ao ensino a jovens que se mostram vocacionados para a matemática. O resultado desse trabalho é revelado em tantos outros “Mateus” que agora são professores ou pesquisadores em universidades brasileiras e de outros países. Um deles, Ítalo Raoni, no Silicon Valley na California, é matemático da equipe do facebook.
Esta semana o Departamento de matemática da UFS recebeu seis jovens mineiros, são eles, Laiz Dias Lima, 17 anos, de São João do Paraíso; Zenildo da Silva Souza, 18, de Indaiabira; Farlene Antunes Amaral, 17, de Berizal; Evelyn Mendes Pereira, 17, de Berizal; Lilian Rocha Silva, 18, São João do Paraíso; e Alexandro dos Santos, 18, de São João do Paraíso. São municípios do norte de Minas Gerais. Eles fazem parte de um programa nacional de incentivo à matemática. Vão estudar aqui em Aracaju e farão o vestibular.
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA DA UFS
TRUMP ACOSSADO FAZ GUERRA PARA DISFARÇAR
Ninguém acreditaria que Donald Trump estaria a bombardear a Síria, motivado pela humanística causa de deter os ataques com armas químicas, que o feroz e inquebrável Bashar al-Assad faz contra seu próprio povo. Nem se sabe, com certeza, se os gases venenosos teriam mesmo sido usados ou se tudo não passa de uma farsa para encobrir outros propósitos. Algo idêntico à barbaridade que fez George Bush em relação ao Iraque.
PRESIDENTE DA SÍRIA BASHAR AL-ASSAD
FOTO: Sana/REUTERS
O que espanta, em tudo isso, é a adesão da França a uma estupidez desse tamanho, saída da cabeça de um ególatra perigoso. Da Inglaterra, o apoio não chega a ser incomum, pois a subserviência de Londres a Washington é uma inversão histórica das antigas relações de poder entre a Metrópole e a Colônia.
EMMANUEL MACRON, PRESIDENTE DA FRANÇA, ACOMPANHADO POR DONALD TRUMP, PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS, E THERESA MAY, PREMIER DO REINO UNIDO, ALIANÇA MILITAR RESPONSÁVEL PELOS ÚLTIMOS ATAQUES A SÍRIA
FOTO: Stephane de Sakutin/AFP
Trump não se dará por satisfeito enquanto não levar o mundo a uma catástrofe. Na Síria estão fortes contingentes da Rússia. Qualquer erro de pontaria, levará o mundo à beira do precipício. O fim do clima pós-guerra fria era uma exigência do complexo militar-industrial, que dá as cartas nos Estados Unidos. Para o Estado Militarista, que o general Dwight Eisenhower denunciou, ao sair da presidência, a paz significa prejuízos.
UM DETRAN SERVINDO COM MAIS AGILIDADE
Qualquer coisa relacionada aos serviços que o DETRAN presta ao público, fica a depender de uma extensa e labiríntica rede burocrática. É, quase sempre, um tormento resolver problemas relacionados a veículos e a quem os dirige.
Na presidência do DETRAN, pela primeira vez uma mulher, a advogada Luciana Cândida Deda de Melo Menezes, espera-se que ela possa, finalmente, vencer a barreira do atraso e fazer do DETRAN um apêndice reformado e modernizado, no conjunto da máquina estatal, que, deploravelmente, se define como burocrática.
A ADVOGADA LUCIANA DÉDA É A PRIMEIRA MULHER A FRENTE DO DETRAN/SE
O CAPITÃO OLIVEIRA E A REAÇÃO AO DESAFIO
O capitão Oliveira, comandante do Pelotão da Caatinga, era o símbolo maior de uma unidade policial, cujo simples nome causava, na bandidagem, um respeito misturado com o medo. No clima de dissolução de todos os valores que o país desgraçadamente atravessa, abre-se um espaço enorme para a ousadia dos criminosos. O confronto, no Rio de Janeiro, com as facções, entre elas a milícia, a mais perigosa, porque é bem treinada e bem armada e age sob algumas proteções, demonstra que o modelo “politicamente correto” se torna obsoleto, incapaz de vencer o que é, de fato, uma guerra.
CAPITÃO MANOEL OLIVEIRA, COMANDANTE DO PELOTÃO DA COMPANHIA ESPECIALIZADA EM OPERAÇÕES POLICIAIS EM ÁREA DE CAATINGA (CEOPAC), ASSASSINADO.
O problema é definir os limites, até onde poderá ir o protagonismo policial sem ferir os direitos e a tranquilidade do cidadão e, nessa palavra, bandido armado, evidentemente, não pode ser incluído. O Pelotão da Caatinga é uma unidade que age com força e disposição, daí o sucesso que alcança. O assassinato do capitão Oliveira, efetuado no modelo mais cruel e traiçoeiro da guerrilha, é um alerta de sangue, que terá de ser enfrentado, indo-se um pouco além dos métodos, digamos assim, convencionais. Não se vence pelo convencimento, quem porta um fuzil R-15 ou uma metralhadora Uzi.
O governador Belivaldo deparou-se com o desafio no seu primeiro dia de governo, e já traçou rápido um plano firme para enfrentá-lo.
No anúncio das novas medidas, estavam ao seu lado o Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Cesário Siqueira, o Procurador Geral de Justiça Roni Almeida, o Poder Legislativo, representado pelo Deputado Garibaldi Mendonça, o Presidente da OAB-SE, Henri Clay Andrade e, evidentemente, todo o aparato policial, tendo à frente o Secretário da Segurança, Delegado João Eloy, a Superintendente Delegada Katarina Feitoza, e o Comandante da PM, Coronel Marconi.
REUNIÃO PARA ANÚNCIO DAS NOVAS MEDIDAS E INVESTIMENTOS PARA MELHORIA DA SEGURANÇA PÚBLICA DE SERGIPE
Para que se tenha uma ideia da extensão do novo plano de segurança, basta que se observe a ordem dada por Belivaldo ao Coronel Eduardo, Chefe da Casa Militar: “Transfira oitenta por cento do efetivo da PM, que faz a segurança, no Palácio e a minha pessoal, para que eles voltem a se engajar na luta direta contra o crime. Deixe que Deus, fique tomando conta de mim”.
OS OSSOS DESPREZADOS E O JURISTA ESQUECIDO
Andavam desprezados os restos mortais do grande jurista sergipano Gumercindo Bessa. Ele foi efetivamente um personagem de primeira linha na área do Direito, na época em que viveu, que não é distante. No Cemitério Santa Izabel, o túmulo de Gumercindo era quase uma ruína. Por lá andou Francisco Rollemberg, para conferir tudo com os próprios olhos. Chico é sempre um referencial em inúmeros setores da vida sergipana. Foi político exemplar, é médico-cirurgião com lugar entre os maiores do país, é escritor e historiador, a quem se deve uma obra que valoriza a gente sergipana. Homem culto, acadêmico, militante de todas as boas causas, Chico Rollemberg entendeu que era preciso honrar a memoria de Gumercindo. Mobilizou a Academia, onde recebeu, de pronto, o apoio do presidente Anderson Nascimento, enquanto ao projeto incorporou-se o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Cesário Siqueira, um homem de gestos sempre generosos às boas ideias, sobretudo, porque, além de jurista, é um intelectual refinado. Assim, foi inaugurada, no prédio da Justiça que leva o nome do jurista, uma Herma, que não é apenas uma memória fúnebre, mas, em primeiro lugar, um Memorial, a exaltar a vida do grande sergipano.
REPRESENTANTES DA ACADEMIA SERGIPANA DE LETRAS NA SOLENIDADE DE INAUGURAÇÃO DA HERMA DE GUMERCINDO NO FORUM QUE LEVA O SEU NOME
CONVITES:
NAS REDES SOCIAIS:
NO BLOG DE SAMARONE
EM DEFESA DAS CAUSAS PERDIDAS
E por falar em Prêmio Nobel?
Uma questão me incomoda. Por que o Brasil nunca ganhou o Prêmio Nobel? A Academia Sueca premia anualmente, desde 1901, pessoas que se destacam em seis modalidades: física, química, medicina, economia, literatura e paz. Por que nenhum brasileiro fez por merecer esse prêmio? Fui esmiuçar e comecei pela medicina.
segue...
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