Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O Sintese, a deputada e o povo sem escola
18/03/2017
O Sintese, a deputada e o povo sem escola

São democraticamente saudáveis todas as manifestações, sejam contra ou a favor de atos do governo, mais autênticas ainda, se forem contra, tanto aos atos, como em relação ao próprio governo, ao cidadão ou cidadãos que o representam. Na última quarta-feira, dia 15, houve manifestações por todo o País. Eram todas contrárias à forma como está sendo anunciada a reforma da Previdência e também externando repúdio ao governo Temer. Exatamente o que começou a ocorrer, faz dois anos, nas ruas, quando multidões imensas exigiam o impeachment da agora ex-presidente Dilma. Aquelas, foram manifestações bem maiores e, tanto a presidente, como o PT erraram, redondamente, quando minimizaram o que estava acontecendo, desqualificaram os manifestantes e até os apelidaram de “coxinhas”. Seriam, no entender um tanto arrogante da companheirada, burguesinhas ou burguesinhos incomodados com a ascensão social do proletariado.

Essa visão era demasiado estreita para alcançar a dimensão dos fatores psicossociais que emergiam a partir do aprofundamento da crise econômica e da indignação, cada vez mais ampliada, na medida em que eram revelados novos episódios da roubalheira, que, aliás, não era sintoma a ser encontrado em um só partido, mas, como se revela agora, uma epidemia espalhada por todos os estamentos do Poder.
O fato é que os “coxinhas” nas ruas foram determinantes para o impeachment, palavra anglo-saxã, docemente acolhida pelo vice Michel Temer, que a incorporou, ansiosamente, como alvo fixo das suas consultas, muito além do acervo que formou ao longo da sua carreira de jurista e professor-doutor em Direito Constitucional.

Em Sergipe, como não poderia deixar de ser, houve manifestações na mesma linha daquelas registradas nos quatro cantos do Brasil. Dessa vez com a companheirada e muita gente mais a elas se juntando, inclusive desencantados “coxinhas”, trocando o Armani pelo macacão.

Por aqui o SINTESE, aquele sindicato que, segundo afirma vaidosa e irônica a deputada Ana Lúcia, já fez o enterro simbólico de todos os governadores e seus Secretários da Educação, mas Jackson e Jorge Carvalho ainda nem foram “enterrados”. Por conveniência política, ou remorso, a deputada fez a ressalva de que o “enterro” de Déda ocorreu quando ele ainda não estava doente. Nisso, a parlamentar e líder sindical  tão afeita a esse ofício soturno de coveira virtual, errou, equivocou-se, mentiu. Há um farto material comprovando, se não bastasse a memória coletiva, que a aziaga procissão de penitentes da morte, aconteceu enquanto Déda entrava na reta final da sua agonia, mas conseguiu ver, no  celular, as imagens do seu “sepultamento” que foram postadas nas redes sociais. Pode-se imaginar o efeito que tiveram aquelas imagens, onde Ana Lúcia destaca-se ao lado do “caixão”, na mente e no corpo de um paciente terminal, que levava com ele a crença profunda na dignidade humana, na solidariedade entre as pessoas, numa sociedade justa e fraterna, exatamente os sonhos que foram a motivação maior da sua militância política.

A piedade, a solidariedade humana, a atenção aos feridos, aos doentes, o cuidado com os seus companheiros da tribo e até com os animais eram características dos primitivos habitantes dessa terra, mesmo que fizessem banquetes antropofágicos, como relata o artilheiro alemão HansStaden, que por aqui esteve ainda nos primórdios do partejar da nação.

Aquele ritual fúnebre de desdém pela vida, tão a gosto do SINTESE e da sua líder, parece revelar a incorrigível prática dos banquetes antropofágicos, onde devoram até as esperanças da sociedade. Uma dessas acalentadas esperanças, era a de que as greves repetidas e tão irresponsavelmente conduzidas, já fossem uma prática sensatamente arquivada. Os pais de família, os alunos da rede pública alimentavam essa esperança agora desfeita, porque o SINTESE e sua líder deputada estão anunciando para bem depois da manifestação de quarta-feira dia 15, uma greve de protesto por tempo indeterminado, que por sinal começou logo, na quinta-feira. Isso acontece exatamente quando se faz um grande esforço para colocar em operação este ano 26 escolas da rede pública funcionando em tempo integral, quando se inauguram cinco grandes escolas modernas, equipadas, como no caso de uma em Nossa Senhora das Dores, para a difusão da tecnologia de alimentos.

Quando mais são necessárias as presenças dos professores, quando mais se precisa da  Escola para superar a vergonha do analfabetismo funcional,  o SINTESE sai de uma manifestação política justificável para anunciar uma injustificável greve sem fim, afrontando as famílias, agredindo os mais pobres, que não podem pagar o que cobram as escolas particulares. Talvez para o “avanço social” do SINTESE e da Deputada, uma multidão de estudantes frustrados, de pais de família indignados, seja a massa de manobra que desejam para se manter catando votos, dos ainda, por desinformação ou ingenuidade, seduzidos por um discurso rançoso que a esquerda sobrevivente e ainda ganhando força em todo o mundo, já sepultou, como anacrônico e fora do contexto.

O SENADOR VALADARES ESCLARECE

Num atencioso zap o senador Antônio Carlos Valadares faz um esclarecimento sobre a nota que semana passada aqui publicamos e diz: “Alguém lhe deu uma informação equivocada de que eu teria me referido ao prefeito Edvaldo Nogueira chamando-o de Edvaldo Nojeira numa entrevista na Fan – FM. Não tem o menor fundamento essa informação. Para comprovar, estou-lhe passando uma postagem que passei para o radialista George Magalhães e sua resposta”.

NOTA DO ESCREVINHADOR: Nem precisaria o senador buscar comprovações, para que fosse aqui publicada a correção sobre o equívoco. Bastaria a própria palavra de Antônio Carlos Valadares, ou a de George Magalhães, e o escrevinhador aqui logo desfaria o equívoco. O que disse efetivamente na citada entrevista, o senador Valadares, foi que as políticas de Jackson Barreto e Edvaldo Nogueira eram nojentas. Usou, como ultimamente tem feito, abundantemente de adjetivos, todavia, sem substantivá-los.

EMANOEL FRANCO E A ESTIAGEM PREVISTA

Diante da calamidade de escassez hídrica que atravessamos, remexem-se arquivos, gavetas, estantes, em busca de velhos e guardados escritos do agrônomo professor e pesquisador Emanoel Franco. Ele costumava tirar algumas conclusões, ou mesmo fazer antecipações de fatos, gerando, entre especialistas, uma certa descrença, principalmente nos meios acadêmicos, onde o rigor científico é sempre exigido. Mas Emanoel, além do conhecimento que ele adquirira afanosamente desde os tempos de estudante do curso primário e assim continuou pela vida, tinha uma curiosidade enorme e um instinto de pesquisador, desafiando até as metodologias vigentes. Com isso, adquiriu uma vasta experiência e tinha, ao lado do saber científico, a capacidade de juntar práticas empíricas. Pois Emanoel num daqueles artigos ou ensaios que escreveu, antecipou a calamidade que agora vivemos. Segundo ele a progressiva redução do despejo no mar das águas do São Francisco, provocaria um fenômeno meteorológico localizado, que afetaria especificamente a Sergipe, Alagoas e, provavelmente, partes de Pernambuco e Bahia. Pois então estaríamos agora a viver exatamente o fenômeno previsto pelo prolífico Emanoel Franco, que tanto escreveu e tanto pesquisou sobre Sergipe, abrangendo história, geografia, geologia, meteorologia, e por aí vai...

UM EPISÓDIO DA BOA POLÍTICA

Digam o que quiserem os detratores da política, ou os que a reduzem apenas à mesquinharia das enganações, das espertezas, do apego exagerado ao poder pelo poder, ao tome lá dá cá, maior característica do nosso arraigado patrimonialismo. Digam o que quiserem os que entendem política como um permanente entrechoque de grupos, imaginando tão somente a própria sobrevivência. Digam o que quiserem os saudosistas que hoje sentenciam: “No tempo em que havia partidos de verdade, no tempo da UDN e do PSD, o encontro de dois adversários como Jackson Barreto e André Moura, jamais aconteceria. Isso seria considerado vergonhoso”.

Pois saibam os saudosistas assim tão acerbamente, marcando com ódio o exercício da política, que grandes líderes sergipanos de ontem, como o foram dois adversos, Leandro Maciel e Leite Neto, quando estavam em pauta os interesses de Sergipe, reuniam-se no Rio de Janeiro, então capital, e conversavam, acertavam os ponteiros, principalmente na época em que era necessário participar da elaboração do orçamento. Essa questão de discrepâncias odiosas, afastando políticos e deixando de lado o interesse público, foi uma invenção de um cidadão que fez o trânsito desastrado do mundo dos negócios para o mundo da política. Essa mania de criar contendores inconciliáveis sem levar em conta o interesse coletivo, é coisa criada por aquele empresário que se fantasiou de liderança política, exatamente o Edvan Amorim. Basta lembrar do que aconteceu na Assembléia, depois que ele formou, Deus sabe como, uma maioria parlamentar para fustigar Marcelo Déda e, em consequência disso, Sergipe não teria hoje os recursos do PROINVESTE, que estão gerando obras e criando empregos.

Foi de Deda a iniciativa de dizer em ato público talvez na mais eloquente e emocional peça da sua oratória magnífica, que se ajoelharia, se preciso fosse aos pés de Edvan, do seu irmão senador, se isso viesse a beneficiar Sergipe. Depois disso, com a pressão da opinião pública, de vozes sensatas como a de um outro oposicionista, João Alves, de Albano, do senador Valadares, pesadamente criticando Amorim, de Jackson Barreto afiando a língua sempre para esse tipo de embates, do empresariado, dos sindicatos, ainda mais a comoção diante do estado crítico de Déda, aprovou-se o PROINVESTE, com muita redução do que seria possível. Basta dizer que Alagoas conseguiu mais de um bilhão. Nós ficamos com a metade e ainda com os contingenciamentos que Jackson decididamente resolveu eliminar, com apoio restabelecido na Assembléia. Por isso nos canteiros de obras mantidos pelo estado estão, nessa crise de desemprego mais de 2 mil  sergipanos trabalhando.

Esse tempo em que se considerava que a oposição deveria esmagar o governante e inviabilizar o governo, sem que o interesse de Sergipe prevalecesse, foi felizmente curto.

Existe a política civilizada que é essencial, existe a política amesquinhada que é desastrosa. André Moura e Jackson Barreto deram um passo largo rumo à afirmação da civilidade e do espírito público na política e entre os que a fazem.

Agora, uma observação que a historia revela. Quando em 1965, o general-presidente Castelo Branco, (aliás, general não, marechal. O puxassaquismo do Congresso embalava a vaidade dos generais mais influentes) resolveu fazer uma “reforma política” sob pressão da “linha dura” que ameaçava depô-lo, por ser “indeciso e conciliador com subversivos e corruptos” baixou o Ato Institucional nº 2. Extinguiram-se os partidos e surgiram dois, a ARENA, que deveria dizer amém, e o MDB da oposição que deveria dizer sim senhor. Em Sergipe José Carlos Teixeira, seu pai, Oviedo Teixeira e outros, como Guido Azevedo, Tertuliano Azevedo, Baltazar Santos, Jackson Barreto, Jaime Araújo, João Augusto Gama, Benedito Figueiredo, Leopoldo Souza, Otávio Penalva, Núbia Macedo e mais uns poucos, foram para a oposição consentida. Os udenistas e pessedistas, mesmo detestando-se entre si, foram parar na ARENA. E aí não deu certo. Quando Leandro foi candidato a senador em 1974, o MDB lançou sem esperanças o médico Gilvan Rocha, também candidato ao Senado. Gilvan ganhou, porque era bom candidato, bom orador, Leandro já estava velho e todos os antigos pessedistas da ARENA não votaram nele. Preferiram o opositor ao regime.

Daí ninguém espere André e Jackson no mesmo palanque. O ano está só começando. A eleição está longe, André, pelo que se sabe, se mantem fora da disputa majoritária, mas tem muito empenho em ser o candidato mais votado para a Câmara Federal e tem aparecido muito ao lado de muitos prefeitos. Do entendimento entre Jackson e André, com certeza, Sergipe será o beneficiário.

SABE O QUE É GRAGERÚ?

Se perguntarem a cada um aracajuano se saberia o que vem a ser gragerú, quase todos logo responderiam: é um bairro da zona sul da cidade. Se complementassem a pergunta, assim: e qual é a origem do nome do bairro? Talvez poucos respondessem certo. Os mais velhos poderão ainda lembrar daquela frutinha vermelha, que tinha um caroço grande, aliás era quase só caroço, recoberto por uma polpa muito alva. Não era saborosa, mas havia algum prazer em comê-la chegando-se quase a raspar o caroço. O gragerú é uma arvoreta com folhas de um verde intenso, macias e suculentas. Parece prodígio, mas esses arbustos cresciam até sobre o areal das dunas que ainda existiam em Aracaju. No local onde nasceu o bairro, era o que se chamava Apicum, uma terra entre manguezais, e ali os gragerú era abundante.

A frutinha com as quais se faziam cachos suportados por taliscas de folhas de coqueiro, era assim vendida nas feiras, mas ninguém lhes dava muita atenção. Hoje, o gragerú desapareceu, deve estar quase extinto nas restingas sergipanas invadidas todas pela febre imobiliária. É inevitável, a cidade cresce, precisa ocupar espaços. Mas se houver alguma preocupação em impedir que a massa compacta de asfalto e cimento forme uma grande bolha de calor, afaste as chuvas, torne irrespirável o ar, cause inundações, é preciso providenciar novos parques, novas áreas verdes, onde o gragerú possa ser preservado, mas não só ele. O mesmo destino de extinção pode alcançar outras espécimes das praias, dos apicuns, das restingas, dos mangues, tais como o araticum, o ingá, a maçaranduba, o murici, o cajuí, e até a mangaba. Mas a mangaba é fruta especialíssima e cheia de exigências. É meio de vida para muita gente. As comunidades das coletadoras de mangabas, se formaram, criaram forte identidade, lutam contra a devastação, preservam a árvore, cada vez mais rara, porque é difícil o seu plantio, é difícil retirá-la do seu habitat natural que são os trechos de terras arenosas e quase inférteis, quase sempre no litoral.

Mas agora há uma boa notícia que sai da EMBRAPA, esse exemplo de estatal produtiva. O dirigente da empresa em Sergipe, Manoel Moacyr Macedo, anuncia a breve introdução em Sergipe de uma espécie de mangaba, mais fácil de cultivar. Se conseguirem que a fruta mantenha o mesmo sabor exótico, terão feito um gol de placa. Sergipe precisa plantar mais mangabas, que, aliás, deveria ser a nossa árvore símbolo, embora não se destaque pelo porte. Mas é charmosa e tem algo que a diferencia, mesmo entre muitas outras. A mangabeira, sendo dessa forma, é algo assemelhada com a mulher. Com as que se destacam, certamente.

O PREFEITO E OS PROFESSORES

O novo Prefeito de Poço Redondo, o advogado Junior Chagas, chamou os professores e os sindicalistas para uma conversa. Soube que o sindicato planejava uma greve política para a quarta-feira e disse-lhes que não haveria nenhuma restrição, mas a idéia de manter a greve indefinidamente, para ele era um absurdo, um crime que se cometia contra a população pobre do município. Exigiu que as aulas não fossem suspensas sob pena de aplicação do novo dispositivo legal que permite ao gestor cortar o ponto dos grevistas. E afirmou peremptoriamente que os pontos seriam cortados e não haveria depois anistia. Não houve greve.

A ECONOMIA MELHORA E LA VEM A “CARNE FRACA”

A economia brasileira dá agora tímidos sinais de que começaria a sair da estagnação ou, pelo menos, parando a queda vertiginosa rumo a um fundo inexistente de um buraco assustador. Com quase treze milhões de desempregados, milhares de empresas fechando as portas, a notícia de que em fevereiro reverteu-se a tendência de redução dos postos de trabalho e foram criados mais de 30 mil, não deixa de ser um alento. No mesmo dia, um outro episódio demonstrava que investidores internacionais não perderam a perspectiva na viabilidade do Brasil, tanto assim que participaram e venceram, com ágios nas propostas, os leilões para concessão de quatro aeroportos, Florianópolis, que há vinte anos tem um obsoleto, Fortaleza, Salvador e Porto Alegre. No outro dia a Bolsa de Valores despencava com a notícia de que havia uma operação policial contra frigoríficos, entre eles os dois maiores do país.

O Brasil é hoje o segundo maior exportador de carnes do mundo e, se tudo correr bem, nos próximos cinco anos poderá ser o primeiro, ocupando dez por cento do mercado mundial. Aqui criaram-se empresas que se tornaram multinacionais. Vendemos essas carnes para mais de cento e quarenta países. O mercado é altamente competitivo, nos nossos calcanhares andam exportadores norte americanos, australianos, argentinos, uruguaios, todos até assustados com a expansão brasileira. Alcançar um nível de qualidade para que se abram as portas aos produtos brasileiros é um trabalho intenso, que se fez ao longo dos anos. O preocupante é que, em um só dia, esse esforço pode ter sido em grande parte anulado com o escândalo da “carne podre” brasileira levada mundo afora.

Não se quer aqui desmerecer a atuação da Polícia Federal, que cumpre afanosamente o seu papel e tem desmontado poderosas redes de corrupção.

Mas, sabe-se que a operação “carne fraca” é resultado de uma longa e exitosa investigação que durou dois anos. Não só o estrangeiro estava sendo vítima, os consumidores brasileiros também comiam coisas porcas. Assim, a operação evidentemente é mais do que justificável, é meritória. Todavia, a investigação constatou apenas crimes em alguns setores dessas empresas, que têm uma rede ampla de frigoríficos por todo o país.

Mas haveria um aspecto a ser considerado no desfecho do episódio. Seria justamente o prejuízo avassalador à imagem brasileira, o efeito desastroso sobre uma economia fragilizada e a consequência pior: o aumento do desemprego, menor receita nos cofres públicos e mais atraso nos salários de servidores.

As informações antes recolhidas, não poderiam ser levadas institucionalmente às autoridades, para que antes da devastação da notícia, fossem adotadas providências?

Feitas as correções, adotadas as medidas de natureza penal, porque os funcionários cúmplices das molecagens, das quais não poderiam estar ausentes os moleques da política, desta vez do PP e PMDB, já estavam identificados, em seguida, o Governo brasileiro trataria então de comunicar, com toda a transparência, o que acontecera aos importadores e à população brasileira. Assim, a catástrofe que já se desenha para as exportações brasileiras teria sido evitada.

Como ferramentas do Estado brasileiro, tanto o Ministério Público como a Polícia Federal zelam por ele, dele não são algozes quando investigam e apontam corruptos, quando identificam crimes de toda espécie, mas devem ter, também, ao lado das suas atribuições específicas uma visão estratégica, uma visão capaz de alcançar o conjunto dos objetivos nacionais.

A SAINT GOBIN MAL CHEGOU E JÁ SAIU

A chegada a Sergipe de uma empresa como a francesa Saint Gobin, que carrega a rara tradição de ter levado os seus produtos de vidro, cristal e porcelana aos palácios suntuosos do “Rei Sol” Luiz XIV, foi um episódio justificadamente festejado. Claro, aqui, a Saint Gobin viria fabricar artigos bem mais simples, nada sofisticados, como garrafas e outros, incorporados aos nossos hábitos plebeus. Nada de glamourização, mas, havia além do simbolismo, um outro fator bem consistente, que seria ajoint-venture montada entre a francesa e o grupo sergipano Constâncio Vieira.

Juntavam-se  na vidraceira sergipana situada em Estância, a credibilidade e a capacidade financeira de dois grupos: o francês, com mais de 400 anos, o nosso, já ultrapassando o centenário. Havia o fator locacional importante, com as jazidas próximas e a vizinhança de empresas que consumiriam os produtos da Saint Gobin, a exemplo da Brahma e da Maratá. Além disso a proximidade dos dois maiores mercados nordestinos, o baiano e pernambucano. Formava-se uma virtuosa combinação que tinha tudo para dar certo. De repente, menos de seis meses após a inauguração, o anuncio de que a vidraceira estava fechando as portas.

O que teria havido? Sergipe quer saber.

CHUVAS CAINDO E OS MENINOS DE COPIAPÓ

Faz coisa de uns vinte anos chegou, para morar numa ampla casa na Atalaia uma família de chilenos,o casal e três filhos, idades variando entre três e seis anos. Com os vizinhos ainda não havia estabelecida uma relação de amizade, apenas os formais cumprimentos. Duas ou três semanas depois da chegada daquela família, houve uma sonora e repentina conjunção de trovões e muita chuva. Ainda cedo, por volta das seis da manhã. De repente, saem da casa as três crianças, fardadinhas, já para irem à escola. Tiram as fardas e ficam a pular na calçada sob a chuva. Saltavam como bichinhos enlouquecidos, como se estivessem vivendo um brinquedo fantástico, agitavam os braços, gritavam e tudo aquilo acontecia aos olhos da mãe e do pai, que os contemplavam protegidos pelo telhado da varanda e pareciam participar daquela  incomum alegria, as crianças dançando na chuva.

Alguns dias depois um vizinho que presenciou a cena, sem dúvidas, bonita, porque se tratava do transbordar de uma pura alegria infantil, teve, finalmente, a curiosidade satisfeita, sabendo o motivo de tudo aquilo. O casal e os filhos vieram de Copiapó, cidade mineira no norte chileno, dentro do deserto de Atacama, onde passam dez, vinte anos sem cair gota de chuva. Aquela, era a primeira vista e sentida pelas crianças.
Pois nessa sexta-feira enquanto caiam fortes, benditas chuvas no semiárido sergipano, alguém, de Poço Redondo, postou uma foto nas redes sociais mostrando a resistência de uma criança de três anos a tomar banho sob uma bica de onde corria fartamente a água. A criança estava assustadíssima, era a primeira chuva que via.

Estaríamos nos tornando um deserto?

Como a maior autoridade financeira norte americana diz agora que gastar em programas ambientais é jogar dinheiro fora e o homem mais poderoso do mundo, Donald Trump, evidentemente o apoia, por aqui, só nos resta fazer aquilo que podemos. Vamos plantar árvores e mais árvores e tentar conservar as que ainda nos restam, lembrando que os manguezais são mata, igualzinha também, apenas, vicejam na água salgada.

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