O SENADOR ROGÉRIO E O
TRIBUNAL DE NUREMBERG
No tribunal de Nuremberg alguns eram a própria escória humana, mas, nenhum foi chamado de lixo
Talvez na história deste planeta, povoado por tanta gente que dá margem e até torna indispensável a aplicação da Justiça, não tenha havido um Tribunal tão famoso como o de Nuremberg.
A Segunda Grande Guerra terminara na Europa em maio de 1945, após uma carnificina e hediondos crimes, dos quais, em proporção menor, até mesmo os vencedores mereceriam cadeira de réus em improvisados tribunais.
Mas ao vencedor os louros, ao perdedor as favas, já citava aquele que se igualaria à fama literária de um Balzac ou Tolstoi, não houvesse sido brasileiro, o nosso Machado de Assis.
Antes da rendição alemã, os três grandes, Roosevelt, Churchill e Stalin, já haviam acordado sobre as ações do pós-guerra, e, entre elas o julgamento dos genocidas ( o termo só entraria em voga em 1948) maiores representantes da hierarquia funesta do nazifascismo.
A França resistente e já liberada da ocupação alemã, aos três se uniria depois com De Gaulle.
Foram selecionados 24 entre os mais preeminentes e notórios hierarcas da carnificina hitlerista. Uns, seriam condenados à prisão perpetua, outros, cumpririam penas mais leves, e somente onze enfrentariam a forca, da qual na undécima hora livrou-se o mais enfatuado de todos o marechal- do-ar Herman Goering. Ele era comandante da Luftwaffe, a aviação de guerra, saqueador de obras de arte, toxicômano e hedonista. Escapou de ficar pendurado à corda, engolindo uma cápsula de cianureto, que, suspeita-se, tinha escondido na sua adiposa cavidade anal.
Depois dessa rápida passagem pela história, o que pretendemos ressaltar é a indispensável liturgia que deve prevalecer nos tribunais, ao julgar notórios assassinos, ou, mais ainda naqueles ambientes como CPIs, onde são feitas inquirições, envolvendo pessoas nem sequer pronunciadas pela Justiça. Tal como ocorre agora nessa CPMI, inventada por parlamentares ligados ao bolsonarismo, que pretendem transformar o episódio triste na nossa história o 8 de janeiro, numa inocente e ingênua manifestação de patriotas bem intencionados.
A CPMI não é exatamente um Tribunal, ou uma tribuna para acusadores, mas , tão somente uma Comissão de Inquérito, na qual estão investidos de poderes os seus integrantes. Ali prevalecem regras escritas. Como o respeito à Constituição, e às próprias regras que disciplinam as oitivas, onde não se admite o constrangimento dos inquiridos, que nem são réus. Não podem acontecer ofensas, muito menos deboches a eles dirigidos.
O senador Rogério não é exatamente um cidadão afeito às praticas da moderação, e mesmo da civilidade. Isso, bem demonstram suas atitudes agressivas, e mesmo afrontosas, expostas em vídeos onde ele profere palavras de baixo calão contra os próprios companheiros de partido. Houve ocasiões em que a agressão física esteve bem próxima. Parece, ele tenta de todas as formas demonstrar: ao lado do político necessariamente maneiroso, existe o ímpeto indomável de um homem valente, corajoso e desafiador.
Aqui, nem precisamos recorrer aos chavões recorrentemente citados envolvendo a obra de Sigmund Freud, aquele, que proporcionou através da psicanalise, um passeio pelos desvãos da alma humana.
Um tenente- coronel do Exército, efetivamente cometeu o crime nefando de incitar um golpe de estado, sem atentar para as consequências desastrosas de um governo de exceção, que inauguraria o tempo de barbárie e violências, como ficou claramente demonstrado no que em Brasília cometeram os vândalos “patriotas”.
Este oficial compareceu para depor na CPMI. Poderia ter sido duramente submetido a um rigoroso interrogatório, jamais , ser insultado.
Isso, independente de patentes ou prestígios deve ser uma norma baseada até nos direitos humanos, que o senador Rogério proclama defender e praticar.
Assim deveriam ser tratados tanto um oficial-general, como um ministro, um magnata ou um morador de rua.
O senador Rogério, quando cheira ou fareja uma oportunidade de aparecer, de brilhar sobre os holofotes da mídia como um bravo e atuante parlamentar, faz pouco caso daquela coisa que se denomina “ liturgia do cargo “que exige, em primeiro lugar, a manutenção da compostura.
Em que prerrogativa se baseia o senador em transe de arrogância, para classificar um ser humano como lixo ? O militar em questão é um brasileiro, um cidadão, que tem família, filhos, esposa, irmãos, amigos, talvez pai e mãe idosos, e como se sentirão eles assistindo a cena do filho sendo vergastado por impropérios, aliás de maneira também covarde, proferidos por um cidadão que ocupa o elevado cargo de Senador da República. Rogério foi mais longe, usando o mesmo “lixo” para atingir um homem do qual se pode ter suspeitas de desnecessários envolvimentos em áreas fora da sua competência como general, mas, tem uma biografia que o credencia, pelo menos, a ser respeitado, máxime agora, quando se encontra de forma digna, aguardando a morte que o espreita há mais de cinco anos. E já não fala, nem se movimenta.
Quando estamos a necessitar de bons e virtuosos exemplos de respeito humano, de tolerância, de apego irrestrito às praticas civilizadas e retorno à convivência harmoniosa e pacífica entre os brasileiros, após a devastação promovida pelo ex-presidente, surge a bestialidade feroz de um destemperado ocupante de um cargo que sempre foi sinônimo de sabedoria , de experiencia, equilíbrio e moderação.
Citemos aqui, um exemplo de um réu e dos seus comedidos acusadores, exatamente no Tribunal de Nuremberg, onde em torno estavam os escombros, e ainda se sentia no ar, os miasmas de cadáveres, e, por isso, o sentimento de vingança poderia superar a moderação.
Hjalmar Schacht, foi considerado o mago da economia alemã, ocupando o cargo de Ministro da Economia, desde a República de Weimar em 1923, ao III Reich de Hitler, que o convidou a permanecer no cargo em 1933, quando assumiu o poder na Alemanha.
Schacht, aplicando fórmulas keynesianas freou a astronômica inflação, venceu a depressão econômica, e montou esquemas para contornar as dividas de guerra, estabelecidas pelo tratado de Versailles . Foi responsável pelo extraordinário crescimento da economia alemã, até ser considerado traidor e preso por ordem de Hitler em 1944. Um ano depois foi libertado do campo de concentração pelas tropas americanas, mas, em seguida preso e colocado entre os réus do Tribunal de Nuremberg, onde foi o único absolvido.
Na biografia intitulada Setenta e Sete Anos de Minha Vida escrita em 1953 ele conta um episódios vividos no tribunal de Nuremberg.
Um dos acusadores lhe pergunta, ( tratando-o como senhor réu ) por que ele em 1932 ( antes de Hitler) teria ido à Itália negociar um acordo com o ditador fascista Mussolini.
E ele responde: ” Fui a convite da Academia Real de Ciências para um congresso cientifico . Já havia em 1924 negociado com a Itália em nome do governo de Weimar.”
O acusador continua:” Mas agora queria renovar o contrato ?”
“Não era necessário”, responde o réu.
“Então por que foi a Roma,” prossegue o acusador.
E o réu: “ Fui para ficar oito dias à custa do governo italiano.”
O acusador: “Não é motivo, diga francamente porque foi a Roma ?”
O réu: “Porque queria ver Roma.”
No dia seguinte o acusador fala : “Tenho uma comunicação a fazer ao Tribunal. Constatamos que o acusado já conhecia Roma, portanto deve ser considerada uma falta de respeito ao Tribunal.”
Em outro episódio o acusador pergunta: “Senhor acusado, afirma que nunca escreveu ou falou pelo Partido Nacional Socialista ( Nazista) antes de 1933?”
O réu responde: “Ainda afirmo, nem antes nem depois de 1933.”
O acusador rebate: “Tenho aqui um livro intitulado A importante questão da politica demográfica, publicado em 1932 pela editora Eher. O autor é o Dr. H. Schacht. O Sr. Conhecia o livro há muito tempo.”
E o réu irônico: “Senhor acusador, infelizmente tenho de decepcioná-lo. O livro não é meu, mas sim de um homônimo que desconheço totalmente, cujo prenome começa com H.”
No dia seguinte o acusador retomou a palavra:” Devo comunicar algo ao tribunal.
Informamo-nos junto à editora. O livro mostrado ontem realmente não é do acusado.
Mas, senhor réu, tem de admitir que se o livro fosse seu, teria sido muito constrangedor para o senhor.”
Observa-se, nesses diálogos às barras do Tribunal julgando réus acusados de crimes de guerra, de assassinatos , conspiração, e atos de lesa-humanidade que nenhum deles foi agredido com palavras pelos acusadores. Nenhum os chamou de “ lixo “.
Assim, salvou-se a honra e a dignidade do Tribunal de Nuremberg.
Por lá não havia um boçal inquisidor chamado Rogério Carvalho.
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Em Canindé, acordo em vez de pistola
Licencia-se o prefeito Weldo e assume o vice-prefeito Pank. Uma solução sensata e que ajuda o municipio a ter estabilidade.
Apesar de tudo, Canindé do São Francisco evoluiu. Diante da iminência de um impeachment, os personagens da crise, conseguiam dialogar entre si. Não houve apelos à violência, nem a mínima insinuação de que pistolas voltariam a fumegar. Até porque ninguém anda armado em Canindé, e por lá não mais circulam pistoleiros. E isso já faz tempo.
Com entendimento e harmonia, sem radicalizações nem fúrias, tudo se decidiu em torno de uma mesa. Sai o prefeito Weldo Mariano, num afastamento programado para seis meses, mas que será definitivo. E já empossado Pank, o novo prefeito, que, aí sim, promete na administração radicais mudanças. Nesse aspecto a radicalidade será imprescindível, para que, definitivamente, o município não ocupe mais as manchetes, com impeachments ou intervenções
Com Belivado e sobre canais e forrós
Belivaldo: agora em Aracaju é só forró
Na sede do PSD conversavam na sala do ex-deputado estadual Jorge Araujo, o ex-deputado federal Heleno Silva e um jornalista, quando entra o ex-governador Belivaldo, agora comandante sergipano do partido do qual Jorge é o Secretário.
Conversa vai, conversa vem , e entre políticos o vocabulário é sempre ponteado por política, Belivaldo muda o rumo da conversa para falar sobre os incômodos no dia anterior por uma cirurgia no canal de um dente.
Jorge Araújo o interrompe: Belivaldo, esqueça esses canais de dentes, você agora tem que começar a se preocupar com outros canais, os de Aracaju, por exemplo.
Belivaldo outra vez muda o rumo da conversa, para dizer que naquela noite iria aos dois forrós, o da Atalaia convidado pelo governador Fábio Mitidieri e o do Mercado convidado pelo prefeito Edvaldo Nogueira.
Heleno interfere para outra vez politizar a conversa: Belivaldo o que você está imaginando sobre Aracaju, é preciso começar a pensar.
Resposta de Belivaldo: Não tenha dúvidas Aracaju é só forró....
A biografia de Gilton já no prelo
Uma biografia de Gilton em livro a ser lançado.
Gilton Garcia dá os últimos retoques no aspecto gráfico do livro que é a sua biografia. Escrito por este escrevinhador, esquadrinha as artes e desastres da politica sergipana e nacional, nos tempos leves da democracia e nos pesados e pesadíssimos da ditadura, onde Gilton foi uma das vítimas. Era então deputado estadual e presidente da Assembleia, quando passou a “morar”, compulsivamente, por algum tempo no quartel do 28 BC. Depois, os tempos amainaram, ele foi o primeiro político cassado no Brasil a retornar à vida pública, pelas mãos e coragem do governador Augusto Franco, que o fez Procurador Geral de Justiça. Isso, antes da Constituição de 88 era a norma, e Gilton já fora antes professor de direito na UFS, e promotor público substituto. Depois, chegaria à presidir e OAB sergipana, também a governador do Amapá, a deputado federal e Secretário de Estado da Segurança e Casa Civil nos governos de Albano Franco.
Gilton atuando na defesa, e o estreante Promotor Público Gilberto Vila Nova na acusação , foram os destaques, juntamente com advogados de fama nacional como Eurico Rezende, no mais movimentado júri já ocorrido em Sergipe, onde era réu o deputado estadual Chico de Miguel, que foi absolvido.
O livro Gilton, uma Jornada, estará nas livrarias no final do mês de julho.