Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O PRESIDENTE VAI ÀS RUAS, AONDE? NA VENEZUELA?
22/05/2019
O PRESIDENTE VAI ÀS RUAS, AONDE? NA VENEZUELA?

(Nas ruas lá e cá)

Parece que estamos a querer imitar a Venezuela. O nosso processo de “venezuelização” não será uma cópia do modelo de Chavez e Maduro. As cores ideológicas que pintam o projeto de poder bolivariano, não são as mesmas que estão a mover o cenário politico brasileiro, desde que assumiu o poder o capitão Jair Bolsonaro. São cores até que se definem como antagônicas, e nem podem figurar compondo uma mesma pintura. As duas se repelem mutuamente, para uns, despertam o ódio, para outros o êxtase. Mas são cores aberrantemente agressivas, e que em princípio não se podem combinar.

Mas essas cores antagonistas, conservam uma peculiaridade: as suas características próprias, convergem para uma só tonalidade áspera, então, acontece o fenômeno só provocado pela alquimia política do populismo demagógico, do individualismo exacerbado, que consegue erguer-se no altar do culto irrestrito à personalidade. Sobre esse altar maligno, nasce a mais pútrida das construções, que é o resultado da ausência ou negação da política: o totalitarismo.

O nazismo de Hitler e o comunismo de Stalin, deram-se as mãos, e as cores das bandeiras da suástica e da foice e martelo, misturaram-se, tornaram-se uma só, quando os seus ministros Ribbentrop pela Alemanha, e Molotov pela União Soviética, assinaram, no dia 23 de agosto de 1939, em meio a brindes à saúde de Hitler e de Stalin, o pacto de não agressão. Oito dias depois um milhão e meio de soldados alemães marchavam pela fronteira leste polonesa, e um contingente menor de soldados russos entrava pelo oeste do país, cuja destruição Hitler e Stalin combinaram, e cujos pedaços repartiram.

As convicções ou os espasmos autoritários tanto estão nos apelos às massas venezuelanas para que ocupem as ruas, feitos pelo acuado ditador Maduro, como podem estar, igualmente, nessa exibição de força desnecessária e inconsequente que o bolsonarismo pretende fazer no próximo domingo, “para dar força ao capitão, e livrá-lo do cerco do Congresso, do STF, da Globo e da Folha de S. Paulo”.

Que força seria esta, e o que seria o aludido cerco?

Força, capacidade para agir e fazer, o presidente Bolsonaro já possui. É exatamente aquela que a Constituição brasileira lhe assegura, legitimada pela incontestável vitória nas urnas.

Se estão querendo acrescentar-lhe mais poderes do que os inerentes ao cargo que ocupa, estariam então imaginando mesmo transformar o Brasil numa Venezuela, com outro tipo de Maduro.

Os setores que raciocinam normalmente, dentro, ou no entorno do governo, movimentaram-se para evitar que o presidente ligasse diretamente sua imagem às passeatas, que terão um conteúdo claro de desafio à normalidade institucional. Haverá cartazes pedindo prisão de ministros do STF, e extinção da Suprema Corte, o fechamento do Congresso, e excentricidades absolutistas do mesmo gênero.

Temos um estranho e fatídico hábito de acreditar em salvadores da pátria, e parece que nos deixamos seduzir pelos que enchem seu discurso de exaltações à pátria, ao patriotismo, e à necessidade de uma higienização moral da pátria.

A pátria é muito mais do que simples patriotadas. O sentimento verdadeiro de pátria somente se solidifica, quando a pátria é acolhedora a todos os que nela vivem, quando a pátria se faz solidária aos milhões de deserdados e esquecidos por ela, quando a pátria se transforma, efetivamente, num sentimento coletivo e racional de fraternidade, de respeito e cidadania.

Uma pátria efetivamente amada, não precisa de fuzis espalhados entre os “patriotas” selecionados, e com dinheiro suficiente para adquiri-los. Uma pátria não é amada, nem respeitada, nem sobrevive, se permitir que fuzis venham a armar milícias de “patriotas e cidadãos de bem “substituindo aqueles que em última circunstância devem defendê-la.

O presidente Bolsonaro já teve a sensatez de informar que não irá a nenhuma passeata, e até começou a desarmar os espíritos quando convidou para conversar o presidente do Supremo, quando acenou de forma republicana para o Congresso Nacional.

Por esse caminho ele descobrirá a governabilidade, poderá aprovar as reformas que forem necessárias, e destravar a roda emperrada da economia quase em recessão.

Crescendo a economia, havendo geração de emprego, o resto começará a ser resolvido.

O presidente poderia ser claro, objetivo, desestimulando e condenando a passeata, que poderá estimular um processo perigoso de intolerância e ânsias totalitárias, num país que, segundo o poderoso grupo financeiro alemão Commerzbank, está às voltas com um governo caótico.


 


 


 


 


 


 

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