(Cabeças poluídas república em transe)
É a terceira maior tragédia ambiental registrada no país em menos de três anos. A primeira, e a segunda, foram aquelas causadas pela ainda impune e sempre criminosa VALE. Esta, de agora, tem autor ainda desconhecido. No cenário de poluição política que vivemos, um desastre de tamanhas proporções não poderia deixar de servir como pretexto para que se acionem os gatilhos da insensatez e do absurdo.
O nordeste enfrenta uma calamidade anunciada, cujos efeitos devastadores pareciam pré-agendados. Sabia-se da existência da mancha enorme de óleo sobre o oceano, são bem conhecidas as correntes, tanto quando a direção dos ventos, então, seriam possíveis as ações preventivas, ou mesmo o recolhimento do óleo ainda distante das praias. Não se trata, sem dúvidas, de uma tarefa fácil. As manchas negras divisadas um pouco abaixo da superfície, seriam mais difíceis de conter, mas, poderiam ser reduzidas, existem equipamentos disponíveis na PETROBRAS e na Marinha com capacidade para realizarem essa operação.
Pelo menos, então, que a prevenção ocorresse antecipadamente nas praias. Modelos matemáticos tempestivamente elaborados, apontariam a data aproximada e o local mais provável onde o óleo chegaria. A Marinha do Brasil, a PETROBRAS, os órgãos ambientais, os cientistas brasileiros, teriam de ser convocados, e, juntos, buscariam traçar metas para a redução dos impactos.
Nada disso foi feito. A ciência brasileira está debaixo de ataques, desde que assumiu o novo governo, da mesma forma os órgãos ambientais, que foram desestruturados.
Quando as manchas começaram a chegar, o presidente e sua prole turbulenta, hoje, a própria Presidência, começaram a disparar nas redes sociais: "O óleo é venezuelano, aí tem o dedo do ditador Maduro”.
E daí?
O que importava saber se o óleo seria de Maduro, de Trump, ou dos diabos que os carreguem?
Importava sim, junto com a investigação do caso, buscar meios de contê-lo, e acionar a Marinha e a Polícia Federal para que identificassem o, ou, os responsáveis pelo derramamento criminoso.
E assim a tragédia tão anunciada aconteceu.
Em meio à lambuseira do óleo fedorento e danoso, o ministro do Meio Ambiente, que detesta ambientalistas, e enxerga os partidos verdes como sucursais perigosas do comunismo, com seu ameaçador QG instalado em algum ponto da Terra Plana, repete: “O óleo é venezuelano, do ditador Maduro". E volta a ecoar as tuitadas do presidente e sua entourage caseira, sempre em estilo belicoso, e investindo contra inimigos e conspiradores. Entre esses inimigos, os governadores nordestinos foram incluídos, e selecionaram os mais perigosos, que são os de Pernambuco e da Bahia, ofendidos e maltratados.
Deve haver um parafuso a menos nas cabeças tumultuadas da entourage familiar instalada no Planalto. Ali, nada se faz sem uma enorme trapalhada, sem um disparar de agressões, derrapando quase sempre para a mais contundente baixaria.
Dedicam-se mais a acirrar conflitos do que à busca racional de soluções possíveis.
Resta ao país aguardar, esperançoso, que a ala racional e pragmática do governo supere a facção “olavista" onde imagina-se que, nesta “terra plana”, é possível cavalgar acima da lógica e do bom senso, deixando um rastro de demolição de tudo o que se construiu de civilidade ao longo da nossa história.
Felizmente, a ala civilizada do governo vem preponderando sobre o foco extremista formado pelos diletos alunos do psicótico Olavo de Carvalho, o guru debochado que se foi refugiar ao lado de supremacistas brancos, que sonham em nazificar os Estados Unidos.
Sem envolvimento nas batalhas que se travam nas arenas da insanidade, chegaram ao nordeste os Ministros da Defesa, da Marinha, e alguns outros, bem diferentes do empavonado Sales, aquele, do Meio Ambiente.
Vieram para ver, enxergar, avaliar, planejar e agir, e para isso dialogaram com os governadores, buscaram integrar esforços, facilitar o trabalho.
Ao mesmo tempo, assumiu a presidência, interinamente, o Vice Hamilton Mourão, e trocou-se a devastação do combate pela trégua, criando-se o clima propício para a reconstrução dos elos federativos, tão desprezados por quem não atenta, sequer, para a reverencia permanente que deve haver em relação à República, e à liturgia do seu mais relevante posto.
Com a viagem do vice Mourão e do presidente da Câmara Rodrigo Maia, chega agora, ao nordeste, na chefia da República o Senador Alcolumbre, presidente do Senado Federal. Ele tem dado provas de equilíbrio e comedimento, e, junto com Rodrigo Maia, se fizeram fiadores da governabilidade, buscando equilibrar as instituições.
A conclusão simples que se pode retirar de tudo isso: mentes contaminadas pelo extremismo poluem muito mais do que o petróleo ou a lama da Vale, porque paralisam e tumultuam os poderes.