Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O MARKETING POLÍTICO E AS DERRAPAGENS DO BOM SENSO
13/09/2024
O MARKETING POLÍTICO E AS DERRAPAGENS DO BOM SENSO

NESTE BLOG

1) O MARKETING POLÍTICO E AS DERRAPAGENS DO BOM SENSO

2) A AUTORIDADE AMBIENTAL E O BRASIL RACHADO NO MEIO

3) ASSASSINO NÃO PODE RECEBER AQUELAS INDULGENCIAS DA LEI

 

 

O MARKETING POLÍTICO E AS DERRAPAGENS DO BOM SENSO

Zé Paulo, Niully, Luiz Roberto, Danielle, Yandra, Emilia, Candisse, Felipe Vilanova.

Todos os candidatos demonstram compromisso com o respeito humano.

 

A partir da entrada em cena da televisão, o marketing passou a ser considerado uma ferramenta essencial, definindo vitórias e derrotas nas disputas eleitorais. Com os candidatos entrando ao vivo “sem pedir licença” em todas as casas e a TV acoplando som e imagem, mudaram os conceitos da comunicação. E quando eles se apresentaram ao vivo e a cores, um novo mundo de virtualidades se apresentava, a desafiar a criatividade dos “strategos”, aqueles artífices da argumentação, do convencimento e da percepção da psicologia das massas. Começava o tempo dos marqueteiros. Entre eles, pipocaram gênios e também escândalos.

Aquele episódio nos Estados Unidos, o embate onde se confrontaram o jovem senador democrata John Kennedy e o republicano Richard Nixon, foi prelúdio de uma nova era. Pela primeira vez, a TV transmitia um debate entre candidatos à presidência da república. Menos de trinta por cento dos lares americanos dispunham de aparelhos de TV. O rádio era a mídia amplamente dominante, e levou a todo o país, em tempo real, o grande momento da democracia americana. O democrata era alto, convincente, charmoso e fluente. Sentou-se sobre uma mesa apoiando-se numa das pernas, enquanto a outra permanecia esticada até o chão, o que lhe dava uma imagem imponente. Nixon parecia encolhido, suava muito e a maquiagem lhe escorria pela face ensebada. A imagem na televisão selou a sua derrota, que antes parecia impossível. Kennedy ensaiou antes com os seus assessores, sintonizados com as virtualidades da nova mídia. Surgiam os marqueteiros.

Em Sergipe, os marqueteiros apareceram junto com a TV-Sergipe, a pioneira. Um deles, estreante e ainda hoje atualizado e requisitado, Theotonio Neto, desesperou-se ao perceber, na primeira transmissão em Sergipe de um debate entre candidatos (as cenas eram todas ao vivo), que o candidato Leandro Maciel não seguia as orientações. Já idoso, ele abordava temas antigos, da sua preferência, como as duas barras do rio Japaratuba. Suas mãos tremiam constantemente. Ao seu lado, o jovem e inteligentíssimo médico Gilvan Rocha era um opositor sem chances de vitória. Representava uma oposição esmagada, apenas permitida por uma “generosidade” da ditadura. Gilvan aproveitou a situação e foi implacável com o líder político, atacando exatamente a exposta fragilidade do idoso. Entre os aracajuanos, já com relativo acesso à TV, a cena foi decisiva, e aqui ficou selada a derrota do aparentemente imbatível Leandro Maciel.

Nos Estados Unidos, o pai do senador Kennedy era o patriarca John, multibilionário que preparou o filho para tornar-se presidente. Tinha a fama de ter feito negócios nebulosos durante o período da “Lei Seca”. Idoso e sexualmente voraz, ele fazia festivas noitadas com a nata das atrizes famosas de Hollywood. Um dos assíduos frequentadores, convidado pelo “velho John”, era o playboy brasileiro Jorginho Guinle. Ele o conhecera quando hospedado no Copacabana Palace, o famoso hotel criado em 1922 pela sua bilionária família. E o apresentou a uma socialite carioca, com a qual o “velho John” engatou um buliçoso affair. Nos mais destacados jornais americanos surgiram comentários sobre o debate, e um jornalista culpou Nixon por não ter feito referências desairosas ao pai do jovem candidato. Houve uma chuvarada de protestos, todos considerando que Nixon comportou-se com dignidade, evitando utilizar-se da imagem real, ou suposta, do patriarca, para torpedear a candidatura do filho. Todos, quase unânimes em considerar que, se Nixon aplicasse o golpe sujo, até os republicanos ficariam indignados, e Kennedy teria vencido por uma margem mais ampla. Os novos “cabos eleitorais”, os marqueteiros, passaram a lidar com a pós-modernidade e anteciparam a era da pós-verdade.

Como os antigos gregos, que inventaram “deuses particulares”, o marketing fabricou as suas éticas individuais, tais como os deuses gregos, que, segundo o filósofo Friedrich Nietzsche, acobertavam os “terrores e horrores da existência, para que pudessem viver com a consciência tranquila como um jardim de rosas”.

O surgimento das redes sociais, onde predomina a libertinagem selvagem, ao lado da impunidade frouxa, abriu um espaço infinito para o sumiço conveniente da verdadeira ética. Entre os candidatos que se apresentam em Aracaju, não há nenhum que, nem de longe, possa assemelhar-se a um Pablo Marçal, merecedor de um desses adjetivos necessariamente ásperos quando se trata de definir comportamentos cafegésticos.

Todos os candidatos a prefeito de Aracaju são pessoas que não fazem pouco caso daquele conceito fundamental para a civilização: o respeito humano. Nisso, se assemelham Niuly, José Pedro, Yandra, Luiz Roberto, Emília e Daniele.

Entre todos, a jovem deputada federal Yandra Moura destacou-se pela capacidade de gerar empatia e atrair os eleitores com suas propostas convincentes. Tornou-se, assim, um alvo preferencial para atiradores ansiosos.

Surpreende, e até causa decepção, o que começa a acontecer nos programas eleitorais. Parece uma derrapagem da ética tentar atingir uma candidata com acusações requentadas ao pai dela, o ex-deputado federal André Moura. Quando líder no governo Temer, ele ajudou Sergipe a sair de uma devastadora crise financeira, carreando recursos para as prefeituras de quase dois bilhões de reais. Aquele perrengue que acorrentava o governo foi desfeito pelas ações de Belivaldo, devolvendo a Sergipe o equilíbrio nas finanças. Se hoje é possível contrair empréstimos e pagar em dia, deve-se exatamente a ele, que, sensatamente, não virou caçador de “caixas pretas”. Naquele tempo, André era paparicado e ouviu agradecimentos, aliás republicanos, feitos pelo prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira, que conclui, agora, com pleno sucesso, uma administração operosa.

A frase que usaram num desses programas pode ter sido a estreia deplorável e enojante de um desfile bizarro de baixarias: “Filho de peixe peixinho é”.

Assim, nos aproximamos de Pablo Marçal...

 

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A AUTORIDADE AMBIENTAL E O BRASIL RACHADO AO MEIO

Canuto um sergipano, que pode prestar bom serviços ao Brasil.

 

Caso a humanidade desaparecesse hoje, dia 13 de setembro de 2024, em 2124, apenas um século depois, a casa que deixamos suja e desleixada, este triste cenário de horrores, teria se transformado num esverdeado e apaziguador jardim. O ar estaria límpido. Nos céus diáfanos refulgiriam as estrelas. Teríamos sumido sem viver a nossa história (apenas “algumas horas” na imensidão do tempo cósmico), fruindo no corpo e na mente as delícias do Éden, que tantos “livros da lei”, sagrados por religiões diversas, assinalam como promessa que o Criador teria feito à mais inquieta e devastadora das suas criaturas.

O fim do Homo sapiens propiciaria aos outros seres, todavia “desinteligentes”, o privilégio do Éden que pusemos a perder. Uma pena, um leão nas savanas africanas recuperadas, uma onça no Pantanal brasileiro enxarcado, elevariam suas vistas ao infinito, mas não fariam poemas inspirados numa estrela d’alva. E no alto, sobre eles, passaria algum ainda luminoso satélite, deixado por aqueles bichos sumidos que tanto os atormentaram.

Entendemos as estrelas e fazemos cálculos precisos sobre a mecânica do universo, nisso nos harmonizamos perfeitamente. Mas transformamos em guerrilha ideológica a compreensão do clima, a forma de conviver, a maneira de cuidar do local onde vivemos; esta poeira cósmica onde ocorre o milagre da vida, da inteligência. E racionalidade?

Entre agosto e setembro, o Brasil perdeu, pelo fogo, biomas equivalentes ao tamanho de mais de dez Sergipes. Até para um país gigantesco isso significa um golpe espantoso.

A fumaça tóxica encobriu nossos maiores aglomerados urbanos, entre eles São Paulo, Brasília, Goiânia, Cuiabá, Manaus, Rio Branco e Porto Alegre. Em todos os locais e em todas as direções, a tragédia consumou-se.

Diante da calamidade, diante da catástrofe, o governo federal imagina, agora, a urgência de uma medida. Seria a criação de uma Autoridade Climática. Quem ocupará este posto, que teria relevante protagonismo aqui e no exterior, onde será imprescindível prospectar apoios e aportes financeiros? Certamente alguém que possa dizer ao lado de cima: “Vocês estão fazendo turismo no espaço, para quem tem milhões de dólares para comprar passagem. Mas, vocês querem também fazer turismo nos rios da Amazônia, querem inteira a floresta amazônica, o nosso cerrado? Então, aportem Dólares e Euros, Yuans e Yens. Formem o Fundo Amazônico, tão badalado e nunca realizado. Um assustador ‘deserto brasileiro’ vai fazer faltar comida para o mundo todo; vai também apressar a morte de outros rios, o Mississippi, o Danúbio, o Amarelo, os modestos Sena e Tâmisa, que foram despoluídos com tanto sacrifício e precisão científica.”

A Autoridade Climática, que não deverá em hipótese nenhuma ser submissa a Ministérios, somente ao Presidente da República, terá de ser resultado de um amplo consenso. Devem sumir esquerda, direita e centro; devem sumir preconceitos contra o agronegócio; devem sumir visões radicalizadas, tanto de eco-extremados como de negacionistas emburrecidos. Deve aflorar somente o bom senso, o entendimento de que a crise climática exige uma concertação global e, aqui, uma pacificação político-ideológica. É tarefa difícil, além dos partidos, isenta de particularismos ou de coisas pré-concebidas. Terá de ser uma ampla viagem por circunstâncias atualíssimas e outras apenas vislumbradas. Será uma espécie de decolagem do presente ao futuro.

E aqui, sergipanamente, aventamos a hipótese de um nome: Otaviano Canuto. Aposentado, intelectual e artisticamente ativo; ele presta consultorias, escreve artigos, debate, dialoga, toca e também canta. Vive entre Washington e os Pireneus franceses. Foi vice-presidente do Banco Mundial e assessor da Diretoria do FMI.

Cosmopolita, o economista e professor Otaviano Canuto tem uma visão atualizada sobre a questão ambiental e suas implicações econômicas, e sabe como transitar entre os centros decisórios do planeta em transe.

 

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ASSASSINO NÃO PODE RECEBER AQUELAS INDULGENCIAS DA LEI

O supremo legisla ou ocupa quando provocado aqueles espaços do desleixo?

 

Enquanto no Congresso avançam, deploravelmente, pautas absurdas e nada significativas diante dos graves problemas que o país enfrenta, o STF toma uma decisão que toda a sociedade brasileira, da esquerda à direita e vice-versa, estava aguardando: o fim das indulgências ou “generosidades” para assassinos ou responsáveis por tragédias, como a da boate que pegou fogo no Rio Grande do Sul, onde morreram centenas de jovens. Os culpados, condenados, permanecem soltos, beneficiados pelas leis frouxas.

Com a decisão do Supremo Tribunal Federal, condenados em júri popular deverão ser imediatamente encaminhados para a cadeia. Presos, poderão providenciar sua defesa e seus recursos. Os ricos terão advogados eficientes para defendê-los, enquanto os pobres contarão com advogados dativos nomeados pela Justiça ou os sempre atuantes defensores públicos. Quem comete crimes cruéis, como feminicídios selvagens, não deve ter a tolerância de aguardar em casa a sentença final, que pode demorar vários anos.

O STF, frequentemente criticado, ganha pontos positivos ao firmar uma jurisprudência definitiva com base em uma ação proveniente de Santa Catarina relacionada ao feminicídio. Enquanto isso, no Congresso, perde-se muito tempo com pautas absurdas e desimportantes, como a liberação de armas, a cassação de mandatos de ministros do Supremo e a concessão de anistia a vândalos extremistas que depredaram os prédios dos Três Poderes. Queriam instaurar uma ditadura, promover um banho de sangue entre brasileiros, com repressão e cavalos pisoteando manifestantes nas ruas. Queriam o caos. Ah, mas entre eles, coitados, há pais e mães de família, e até uma velhinha...

E por que não se lembraram de que estavam levando à morte tantos outros pais de família, jovens e idosos, tudo para atender ao próprio egoísmo, desejando um regime autoritário ou até totalitário no qual se sentiriam realizados e confortáveis? Já pagaram pelo enorme prejuízo causado ao patrimônio público, incluindo raras obras de arte?

Queriam mandar para a cadeia quem se opusesse a eles, mas agora se apresentam como vítimas, estando presos pelos crimes cometidos. E a anistia agora, tão rapidamente, para um crime que afronta a civilização?

É possível que, em nome da pacificação do país, que recomenda a generosidade, Lula, ao final do seu mandato, venha a concedê-la em seu último Natal como presidente, desde que isso não viole dispositivos constitucionais que protejam a integridade do Estado Democrático de Direito.

 

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