Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O mar avança e o Velho Chico recua (1)
31/12/2016
O mar avança e o Velho Chico recua (1)

Dos cinco estuários de Sergipe, um só era formado por grande rio que se encontrava com o mar e o empurrava por algumas milhas. Era o São Francisco, quando chegavam à sua foz mais de 2.000 m³/s de água doce. Há depoimentos de antigos navegantes referindo-se à coleta de água para beber que fizeram, em pleno oceano, onde a água salgada do mar recuava, empurrada pela força impetuosa de descarga do rio. Agora, acontece ao contrário: o rio recua e o mar avança.

Dizem, pescadores nas águas escassas da outrora portentosa corrente, que o maior sinal de marés avançando rio a dentro é a chegada de siris até as praias de Brejo Grande, Ilha das Flores; também, já sendo vistos, no lado alagoano, até em Pão de Açúcar. Carlinhos, ex-prefeito de Ilha das Flores, teme, que sendo reduzida ainda mais a descarga, chegando, como já antecipam, até menos de 800 m³/s, sejam alcançados pela salinidade os perímetros irrigados do Betume e do Platô de Neópolis. Na DESO, sem fazer alardes, já elaboram projeções para a hipótese do avanço da salinidade até a captação da extensa adutora que abastece Aracaju.

Há sinais de melhoria nos reservatórios, desde Minas à Bahia, chuvas têm caído naquelas regiões, mas, o que se desconfia dessas surpreendentes mudanças climáticas, é que tudo parece tratar-se de um fenômeno que teria vindo para ficar.

A morte anunciada do rio não é previsão alarmista, trata-se, de uma realidade perfeitamente constatável. É uma tragédia enorme, que a realidade do dia a dia comprova.

Reverter esse processo, ou pelo menos tentar reduzir a velocidade da degradação, deveria ser objetivo comum de todos os estados que integram a bacia do Velho Chico, mas, nem do governo federal, nem dos governos estaduais surgiu, até agora, qualquer ideia consistente para ser transformada num projeto viável de salvação do Velho Chico.

A “REPÚBLICA” DE BABETE

A Festa de Babete é filme cult, desses que não enchem salas de projeção, nem são habitualmente exibidos pelas emissoras de TV.
Com excelente e criativa fotografia, tem locação quase única e se tornaria por isso, até cansativo, não fosse o inusitado das situações, a sutileza dos diálogos, o desempenho dos atores (Ivan Valença, nosso cinéfilo maior, por competência e primoroso decano jornalista, por imposição do tempo, que nos corrija).

Babete é francesa, ex-chef famosa de famoso restaurante parisiense, o Café des Anglais. Tendo atravessado tragédias pessoais, ela deixa o emprego, empobrece. Encontra apoio em um amigo que facilita o seu desejo de sair de Paris, para viver em outro lugar. O amigo, um maestro, que vivera numa região litorânea da Dinamarca e lá dera aulas de canto lírico a uma bela jovem, filha de um rigoroso pastor protestante, pela qual se apaixonou, mas não foi correspondido, sugere que Babete vá viver na Dinamarca e procure, na pequena comunidade de pescadores, a casa da família da jovem aluna de canto e entregou-lhe uma carta de recomendação. Babete chega à casa numa noite tempestuosa. É recebida por duas senhoras, uma bem idosa, a viúva do Pastor, e a sua filha, também envelhecida. É aceita na casa para trabalhar, todavia, sem remuneração.

Pouco tempo depois Babete faz uma fezinha e ganha na loteria um dinheiro que lhe permitiria a velhice tranquila. Então, organiza um jantar e pede às patroas que convidem pessoas importantes. Todos chegam, um tanto desconfiados, e são surpreendidos com a riqueza das porcelanas, das pratarias, do ambiente. Logo surge o interminável desfile de finíssimas iguarias, vinhos e champagnes raros, sobremesas fantásticas. Babete, anônima, do fundo da cozinha, tudo prepara e a tudo observa e acompanha, para tornar a sua festa irretocável. Um general, exibindo o colorido e medalhado uniforme, relembra dos seus tempos parisienses, das maravilhas da cozinha perfeita do restaurante Café des Anglais e da paixão que viveu com a famosa chef.


A festa termina, Babete permanece incógnita, as donas da casa recebem todas as homenagens dos convidados que se retiram em estado de êxtase.

As duas senhoras vão à cozinha contar a Babete sobre o sucesso do jantar e perguntam-lhe o que ela pretenderia fazer, dali em diante, com o dinheiro que tinha. E ouvem a resposta surpreendente: Não tenho mais dinheiro gastei tudo com a festa.

E Babete conclui: Para um artista o dinheiro nada significa, o essencial é a sua capacidade de criar.

Mas o que tem a ver a Festa de Babete com a República de Babete?

Apenas, uma ligeira similaridade entre a escolha de Babete pelos pratos sofisticados e as compras dispendiosíssimas de requintes gastronômicos, para suprirem as despensas dos luminares das nossas instituições, assim como se fossemos uma República de Babete. Os hóspedes dessa República estão deformados pelo engano de se imaginarem príncipes herdeiros de uma monarquia, embora falida, onde eles se acham com o direito de viver à tripa forra, mas, ao contrário de Babete, gastando dinheiro que não é o seu e, pior ainda, sem revelarem criatividade alguma que justifique o privilégio.

MEMÓRIAS DA POLÍCIA E DE VELHOS “CORONÉIS”

Foi no governo de Lourival Baptista (1967-1970) que se adotaram fortes medidas para retirar as policias, civil e militar, do comando, de fato exercido, pelos “chefes políticos”, “coronéis” remanescentes.

Os policiais militares designados para destacar no interior, teriam de se apresentar ao “chefe político” do governo ou ao prefeito, se também fosse governista.  Diante deles, batiam continência em sinal de submissão ou subserviência.

No Império, eram conferidas patentes militares aos grandes proprietários de terras, que não alcançavam o baronato, mas, sentiam-se agraciados e satisfeitos com os postos de majores ou coronéis da Guarda Nacional. Eles formavam suas milícias, por vezes, custeavam fardamentos, armas e tinham a vaidade acariciada, podendo exercer o poder de polícia, esmagando adversários, garantindo o regime escravocrata, ajudando em guerras, como no caso da conflagração com o Paraguai. A República acabou os barões, mas tolerou a Guarda Nacional, nascida no Império. Continuou distribuindo fartamente as patentes militares, até que os coronéis de verdade e mais ainda os generais, se mostraram insultados com o fortalecimento das milícias.

Em Sergipe houve poucos barões, nenhum conde, marquês ou duque. Nosso “sangue azul” era um tanto ralo. Tornavam-se “coronéis” e “majores”, os senhores de terra. Mas havia algumas exceções, e profissionais liberais também podiam integrar a Guarda Nacional. O avô paterno desse escrevinhador, Luiz José da Costa Filho, recebeu do presidente Rodrigues Alves o posto de major, mas, como não era afeito às armas, sendo um intelectual, professor, advogado e jornalista, a patente de pouco lhe valeu, quando se tornou alvo de balas, algumas certeiras, mas que não o mataram.

O hábito herdado do coronelismo com reduzida intensidade, ainda chega até hoje, num tempo em que as velharias comportamentais e políticas, estão sendo descartadas pelo anseio da modernidade, do civilizado, numa democracia que, pelos recursos tecnológicos, se torna cada vez mais direta, com a abertura total para a livre manifestação das ideias, das críticas, das insatisfações.

Exatamente quando somem os “coronéis”, um político, que conquista pela forma simples de proceder, pela afabilidade revelada com aliados e adversários, que ajudou a pacificar um município, pois esse político, Orlandinho Andrade, antes mesmo de ser empossado, tomou ares de “coronel” e foi exigir a exoneração de um coronel de verdade, do posto de comandante do Batalhão de Polícia na região sertaneja que abrange Canindé, onde ele, pela terceira vez, e com uma consagradora votação, elegeu-se Prefeito. Quer a exoneração do coronel, depois, a do delegado. Os dois formam a mais eficiente dupla policial que já se instalou na região e são muito bem avaliados pela sociedade.

Se procedimentos assim forem tolerados, com a submissão da polícia, melhor seria conferir a prefeitos que aspiram o coronelato, o comando de batalhões e das delegacias, dando-se a eles o título de “coronelíssimo”, da mesma forma que se chamavam em alguns países, de “generalíssimo”, os chefes militares que tinham o comando supremo da guerra. Mas, no  caso que aqui tratamos, o superlativo nem cairia bem. Vejam só:  coronelíssimo Orlandinho Andrade?

Logo ele, um cidadão tão arraigadamente civil!

Custou muito, até que se conseguisse manter as instituições policiais a salvo das interferências dos “coronéis” de mentira.

Houve um tempo infeliz que terminou, felizmente, em intervenção e prisões, quando em Canindé um prefeito arrogante e truculento, dizia que ali ele era governador, desembargador, juiz, promotor, conselheiro, delegado, coronel, padre e pastor. E sabe-se bem no que deu.

Orlandinho foi testemunha de tudo isso e opositor ao tal prefeito.

Heleno Silva, que encerra o mandato, nunca “exigiu” a substituição de um só soldado.

Ali, onde se exige demissão de autoridades policiais, é, como se sabe, uma região de divisas interestaduais, área estratégica, repleta de perigos, tendo por perto valhacoutos de bandidos bem armados que se preparam para assaltar bancos e a violência da droga se instala. Tudo isso é sabido e avaliado, não passa desapercebido à inteligência policial.

Ali, precisa-se de competência, de informação sobretudo, nunca de militares ou civis submissos a uma autoridade que lhes é estranha, só intrometida. Se a polícia ceder, então, que pague o preço a ser cobrado no futuro.

FEUDO E CAPITANIA DE SERGIPE DEL REI

O senador Valadares vai perdendo as características de homem cordial. Isso ocorre no desgraçado instante em que, a cordialidade, marca fundamental do caráter brasileiro, segundo Sérgio Buarque de Holanda, vai sendo sufocada pela radical intolerância.  O político que era afeito ao diálogo, sensato e comedido, parece agora extravasar raiva, ódio. Não se sabe exatamente qual o processo mental que gerou essas transformações.

Raiva e ódio são a hemorroida e a prisão de ventre da alma.

Talvez as mudanças o tenham feito assim, beirando a intolerância com os adversários de hoje, que eram seus amigos e nele votaram até ontem. O senador muito prestigiado nesse regime presidencialista-congressual que vivemos, tem ocupado posições. Não parece satisfeito ainda e não tem tido tempo para fazer avaliações sobre o desgaste do bate-boca que alimenta. Seria bem mais produtivo se o senador Valadares, sem imaginar-se “donatário da Capitania ou Feudo”, viesse a se concentrar sobre problemas que afligem o Brasil, o nordeste, o nosso Sergipe Del  Rei.

CANDIDATURAS POSTAS OU COGITADAS

Para o Senado e governo, há nomes cogitados desde que acabou a eleição.  Esperava-se que o senador Amorim, derrotado para o governo, fosse outra vez candidato, mas ele parece tender para a busca da reeleição. Já o deputado André Moura está mesmo construindo a sua candidatursa ao governo. Perderá uma parcela do poder que hoje ostenta, deixando de ser, nesse novo ano, líder do governo, mas,  teve tempo suficiente para conquistar aliados, com verbas liberadas e projetos prometidos.

A prisão de Eduardo Cunha, foi, para André, algo demolidor, mas Cunha poderá ajudá-lo, mesmo de dentro da cadeia. Há quem, estando preso, comanda até facções criminosas.  Ajudar numa eleição é mais fácil. Jackson teria decidido, até por imposição do PMDB e do seu grupo, tornar-se candidato ao Senado, isso praticamente definiria a candidatura de Belivaldo ao governo. O deputado federal Mitidieri e o estadual Mitidieri pai analisam caminhos a tomar. Por certo, permanecerão no governo, tentando vaga majoritária, não conseguindo, Mitidieri tentará voltar à Câmara, o que parece ser caminhada fácil, porque ele tem sabido fazer política de forma republicana e também com resultados eleitorais. O deputado Laércio Oliveira é outro postulante a cargo majoritário.

O problema dele seria o espaço partidário das coligações onde se acomodaria. Fábio Henrique já teria desistido do Senado e seria candidato à Câmara, agora com sua ida certa para a Secretaria de Turismo substituindo seu indicado Saulo Eloi, que vem tendo um bom desempenho. Fábio é experiente como político e gestor. Heleno Silva, saindo da prefeitura de Canindé, tendo conseguido o que parecia impossível, que foi colocar em dia os salários, inclusive o 13º, e pago a fornecedores, tem pretensões, mas poderia acomodar-se no objetivo de retornar à Câmara Federal. Nesse páreo entra agora uma força imensa que é a candidatura do jovem Wagner a deputado federal, ele é neto do empresário e engenheiro Luciano Barreto, filho do médico e empresário Wagner Oliveira, os dois, pessoas influentes e bem relacionadas. Luciano tem uma obra social portentosa.

Finalmente, resta a dúvida sobre as reais pretensões do empresário Ricardo Franco. O pai, Albano, não seria ausente no decorrer do processo.

Ricardo, depois da breve passagem pelo Senado, mostrou-se disposto a enfrentar uma disputa para o governo. Os espaços políticos nessa disputa não seriam tão promissores como aquele que o conduziria ao Senado. Há a pretensão clara do senador Valadares de candidatar-se ao governo, ou tentaria manter-se no Senado, num quarto mandato.

A possibilidade de uma chapa ao Senado reunindo Jackson e Ricardo é a hipótese que mais assusta a oposição, tanto assim, que já oferecem o céu, a Ricardo, se ele, em devaneios, o almejar.

TEMER E OS TEMPOS CONTURBADOS

O economista inglês John Maynard Keynes, que era Lord, desafiou o conservadorismo apático do capitalismo que naufragava na grande depressão 1929-1934, indo além da visão exclusiva do mercado traçou o rumo para um protagonismo forte do Estado. Suas ideias foram acolhidas pelo presidente Roosevelt e surgiu o New Deal, que tirou os Estados Unidos e o mundo da bancarrota. Keynes afirmava que em tempo de crise cavar buracos e depois tapá-los era algo positivo porque gerava empregos. Roosevelt não fez e fechou buraco, mas criou três frentes distintas de ação: Auxílio aos necessitados, para que eles se tornassem consumidores, algo como a nossa Bolsa Família, era a clara convicção de que, se o Estado não investe e as pessoas não compram, a economia paralisa (havia então 13 milhões de desempregados) no Brasil já são 12. 

Um programa ousado de obras públicas e de estimulo às iniciativas geradoras de emprego, complementado com um elenco abrangente de reformas econômicas, no sentido de evitar crises futuras.

Keynes diferenciava o “fazer dever de casa”, uma questão de economia doméstica, de outra coisa que é fazer a macroeconomia ser posta a andar. Nenhum país conseguiu até hoje crescer, sem endividar-se.

Temer, que depende do desempenho da economia para sobreviver, precisará livrar-se do dogmatismo financeiro dos banqueiros, todavia, sem imitar aventuras venezuelanas. Do contrário, a economia empaca e tudo o que parece sólido dissolver-se-á.

PARA JB GUARDAR

Amigos de Jackson estão colocando em um quadro para ele botar na parede, aquela notícia na mídia nacional sobre os dois únicos governadores nordestinos que não apareceram na lista imensa da Odebrecht. Além de Jackson só o governador do Ceará não constavam. O governador cearense é politico estreante, JB é fundador do MDB.

Percorreu longa e sacrificada estrada sem melar-se na lama do caminho.

RAIMUNDO BRITTO NO INSS

Há um jornalista e servidor autárquico, Raimundo Brito, agora na superintendência do INSS. É indicação política como todas as demais, todavia, ele não é estranho ao quadro.  É competente e ficha limpa. Seu nome surgiu até de uma sugestão dada por colegas ao deputado Joni Marcos, que errara ao fazer a indicação inicial de um nome que foi rejeitado pelos servidores. Era um estranho no ninho.

ALMEIDA E O LICENCIAMENTO

O ex-senador Almeida Lima, vem agilizando licenças ambientais, corrigindo equívocos, e fazendo Justiça, sem arranhar normas técnicas, ao mesmo tempo prestigiando os técnicos da Casa. Tem sabido conciliar muito bem a visão politica com as exigências ambientais e nisso a ADEMA se fortalece. O andar da economia não se interrompe e o meio ambiente agradece.

ESMERALDO E O FIDA

O secretário da Agricultura Esmeraldo Leal, tem sido muito habilidoso na condução da sua Pasta. Originário do MST, onde é respeitada e propositiva liderança, Esmeraldo, sociólogo, tem visão correta e ampla da nossa sociedade. No caso da aplicação dos recursos do FIDA, um dos programas mais acalentados por Jackson,  o êxito na criação de cadeias produtivas em comunidades as vezes abaixo da linha de pobreza, tem surpreendido os técnicos daquela entidade internacional de financiamento.

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