Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
O JULGAMENTO QUE NÃO HOUVE E A DETERIORAÇÃO DA POLÍTICA
07/07/2018
O JULGAMENTO QUE NÃO HOUVE E A DETERIORAÇÃO DA POLÍTICA



O JULGAMENTO QUE NÃO HOUVE E A DETERIORAÇÃO DA POLÍTICA

                Não seria por falta de motivos que mais de sessenta por cento dos eleitores sergipanos, e brasileiros, afirmam que não irão votar para a eleição de deputados e senadores e a avaliação que fazem dos parlamentos anda beirando os índices de rejeição do malfadado Michel Temer.

                Uma manifestação assim, quase avassaladora, de mal-estar social em relação à atividade política seria motivo suficiente para uma reflexão por parte daqueles que são os atores principais no palco da vida pública.

                   A decisão tomada pelo TSE em Brasília em relação aos deputados e ex-deputados sergipanos, que estavam sendo julgados, ocorreu de tal forma escorada numa filigrana jurídica, que em nada contribuiu para a reabilitação pública dos que estavam sendo acusados. Todos estão agora aptos a se tornarem candidatos e outra vez pedirem votos aos sergipanos. Mas a polêmica está criada, a corrosão da imagem da atividade política, agora, ainda mais se acentua.

                    Houve, sem dúvidas, o erro de colocar todos num mesmo tacho, quando, ao que alegou o próprio Ministério Público, haveria crimes cometidos por alguns e equívocos ou omissões relacionadas a outros. Por outro lado, houve a lentidão como costuma operar a Justiça, dando margem para que se ampliasse o clamor popular. Assim, o linchamento público se antecipa ao veredito final, que, quando ocorre, já está contaminado pelo clima de suspeitas e desconfianças.

                  Na Assembleia, as coisas começaram a desandar no auge do confronto que o grupo liderado pelo homem de negócios e político Edvan Amorim sustentava, passando a fazer oposição ao governo de Marcelo Déda.

                   Tendo perdido posições que ocupava nos governos federal e estadual, Edvan estabeleceu o seu quartel general no Legislativo sergipano onde, agindo de fora, manipulava as decisões, isso por ter assegurado à então presidente da AL, Angélica Guimarães, que ela dali sairia diretamente para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas. E cumpriu a palavra, retribuiu, com a manipulação institucional desvirtuada, o pacote de benefícios políticos e pessoais que recebera.

                     Criou-se uma maioria parlamentar que sufocava o governo, enquanto abriam-se as torneiras para a cooptação de deputados. As facilidades oferecidas, as verbas sob forma de subvenções colocadas à disposição de todos, para que fortalecessem as suas bases eleitorais, foram usadas sem que a direção do Legislativo estabelecesse regras de controle e fiscalização. Por sua vez, Edvan irrigou fartamente a sua rede de emissoras de rádio através de um generoso contrato sem licitação, nem sequer a indispensável contrapartida em serviços prestados. Coisa de compadrios entre compadres e comadres e dinheiro público rolando fácil.

                  O empresário político que se tornou figura influente desde quando se fez genro do então governador João Alves, soube construir uma rede de interesses convergentes e essencialmente patrimonialistas. A partir do pedestal de poder onde se instalou, ele traçou o roteiro para levar ao governo o seu irmão, que já conseguira conduzir ao Senado Federal, a partir de uma surpreendente e insólita aliança com o PT, para derrotar o ex-sogro.

                   As consequências devastadoras desse roteiro, afetaram mais duramente o Poder Legislativo, desabando depois sobre cada deputado a tempestade pelo uso de uma verba que antes já existia, todavia, em proporções mais modestas.

 

O DEPUTADO VENÂNCIO, EVALDO E HENRY CLAY

                     Do deputado Venâncio Fonseca não se poderá dizer que haja deslustrado qualquer um dos sucessivos mandatos que tem exercido.  

                     Viu-se envolvido, todavia, nesse inquérito abrangente que alcançou quase todos os integrantes do poder legislativo sergipano. Um fato, aliás, incomum na nossa Assembleia, que sempre manteve um certo comedimento e, assim, evitava escândalos. A ruptura desse comportamento afetou reputações individuais e, também, mais duramente ainda, o conceito do legislativo.

                   A chegada de Luciano Bispo à presidência, marcou o início de um período de progressiva recuperação dos danos sofridos. Essa recuperação deveria agora preocupar mais ainda cada parlamentar, isso antes de qualquer demonstração de euforia ou jubilo com o resultado alcançado na justiça eleitoral, em relação ao qual não houve grandes protestos e, muito menos, aplausos. Vivemos um clima de apatia quase letárgica ou de uma providencial indiferença comodista.

                    O deputado Venâncio é um parlamentar experiente, tem um comportamento respeitoso com os adversários, sem perder a verve que o caracteriza. Ele não chegou a demonstrar euforia, mas externou o natural alívio diante do veredito do TSE, cuja fragilidade reside, exatamente, no fato de não ter sido julgado o mérito da questão. Essa característica, como seria esperado, motivou a pronta reação do Ministério Público Federal, como ainda ensejou comentários, demonstrando o inconformismo de vários setores da sociedade.

                  Duas dessas manifestações partiram do professor e procurador federal aposentado Evaldo Campos e do advogado e presidente licenciado da OAB-SE, Henry Clay, pré-candidato ao Senado Federal. Os dois não perderiam a oportunidade e repetiram o que já se torna um mantra na boca de todos os brasileiros, que é a indignação com os ilícitos e a impunidade.

                   A reação do deputado Venâncio não foi a mais adequada para o momento. Todos os deputados cujas candidaturas estavam a depender da decisão do TSE, estarão aptos a concorrer na próxima eleição, salvo ocorram fatos supervenientes. Livres para o registro de suas candidaturas para a disputa pelo voto, assim, serão julgados pelos eleitores e, pelas características próprias da nossa política, todos, ou quase todos, serão reeleitos.

                     O mais apropriado que os parlamentares livres da condenação agora poderiam fazer seria aproveitar o momento tão conturbado para uma séria reflexão sobre o episódio lamentável das subvenções, para que, nesse período de alívio, construíssem um consenso sobre a necessidade de ser definitivamente suspensa aquela tão polêmica subvenção, inspirada pela cabeça fértil daquele homem de negócios e político, quando foi de fato o presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe.

 

HELENO E ANDRÉ AGORA NUMA ROTA DE COLISÃO

                   Não andam boas as relações entre os novos aliados, Heleno Silva e André Moura. Motivo: Heleno, esperto, entendeu que o grande cabo eleitoral ao inverso chama-se Michel Temer. Com 95% de rejeição, a simples referência ao nome desse malfadado presidente, faz, invariavelmente, saírem da boca do mais simples e pacato cidadão esconjuros que talvez ele não os fizesse, caso, num beco escuro, desse de cara com o capiroto em pessoa e soltando fogo pelas ventas.

                       Heleno segue por onde vai a maré montante do descontentamento popular e faz de Temer o seu alvo preferido. Por sinal nessa quinta-feira, dia 4, o gás de cozinha subiu mais uma vez.

                      Com isso, Heleno já vai sendo tirado da agenda acompanhando André Moura e Eduardo Amorim, porque seu discurso não os deixa felizes. Eles mesmos evitam referir-se ao nome do presidente, mas, como ocupam cargos no plano federal, e dele são aliados, entendem que no seu grupo não se fale bem do nosso “capiroto” usando a faixa presidencial, mas, pelo menos, que não o agridam.

O PRESIDENTE CAPIROTO ABALANDO RELAÇÕES


 

UM ALMOÇO QUE VAI DANDO O QUE FALAR

                  Ainda não foi encontrada uma explicação, ou melhor dizendo, a tradução política para o gesto essencialmente político do almoço onde partilharam a mesma mesa o governador Belivaldo Chagas, candidato à reeleição, e o ex-prefeito de Nossa Senhora do Socorro e ex-deputado José Franco. Zé Franco, aliado dos Amorins, explicou risonho que a sua amizade com Belivaldo vem dos tempos em que os dois eram colegas na Assembleia Legislativa.

                   Então, tá explicado!

BELIVALDO E ZÉ FRANCO, ALMOÇO EM NOME DOS VELHOS TEMPOS

 

“ALÔ, AQUI É DO IPES SAÚDE”

                    O aposentado estava em casa, deixando o tempo passar e o celular toca.

                    Atende e uma voz feminina em tom suave diz: “Boa tarde senhor, aqui é do IPES SAÚDE”. O aposentado leva um susto, se recupera e imagina: “isso deve ser trote, ou então uma má notícia. Será que vão cancelar meu benefício?”. A moça ao telefone continua: “Por gentileza é o senhor ........................?”

                O aposentado confirma e pensa: “agora tô ferrado, lá vem merda”.  E a moça continua: “senhor, perdoe o incômodo, eu desejo lhe informar que a sua consulta com o doutor......................, marcada para amanhã, quarta-feira, às dez horas, foi transferida para quinta-feira, depois de amanhã, à mesma hora. O senhor concorda?” O aposentado quase grita concooordo, mas, foi comedido e disse apenas: “sim”. E a moça concluiu: “O doutor que iria atendê-lo está adoentado e será substituído pelo doutor ......... O IPES Saúde pede desculpas, pelo imprevisto”.

                 O aposentado balançou a cabeça para ter certeza de que não sonhava ou delirava. Mas estava, de fato, diante de um exemplo de serviço público que precisa ser alcançado por todos os que lidam diretamente com a população.

IPES SAÚDE, UM EXEMPLO DE SERVIÇO PÚPLICO A SER SEGUIDO

 

BELIVALDO GOVERNADOR E O PLANO PARA O CANDIDATO

             Com a visão de governo que formou a partir do comando da Secretaria da Educação, depois, como vice-governador e Chefe da Casa Civil, Belivaldo, ao substituir Jackson Barreto, entendeu que era indispensável mostrar a face de um novo governo, pois essa sempre é a expectativa da população. Fez isso tratando de coisas emergenciais, como a saúde e a segurança, e reformulando o sistema de arrecadação, principalmente para conter a sonegação, um crime que, tolerado, constrange aos contribuintes que são pontuais.

                A legislação tributária é um dos absurdos brasileiros, mas a sonegação é um desrespeito aos contribuintes pontuais. Sendo candidato ao governo Belivaldo terá de formular ideias para que sejam incorporadas ao debate na campanha eleitoral. Aos que começam a trabalhar nesse plano Belivaldo tem levado ideias que nascem a partir da sua experiência como gestor, e recomendado que nada se faça como promessa, mas, sobretudo, como diretrizes, porque no clima de política turbulenta, de aguda crise econômica e de ingovernabilidade no plano federal, não se pode ter um horizonte claro para a previsibilidade.

                Belivaldo e Jackson, antes da transição, combinaram que era preciso segurar, como reserva estratégica, uma parte dos recursos do PROINVESTE, para usá-los em ações emergenciais geradoras de emprego, caso, como previram, surgissem obstáculos políticos para a obtenção do empréstimo na Caixa, o chamado FINISA, que Temer terminou mesmo impedindo.

                Isso explica, segundo Jackson, a sucessão de ordens de serviços que Belivaldo tem assinado para obras, que, no total, poderão gerar algo em torno de mil empregos.

                Com esse exemplo, Belivaldo justifica porque planos de governo não podem ser apresentados fora das circunstâncias existentes, para não se transformarem, depois, em uma imensa frustração.

               Na semana passada, quando percorria o local do desembarque e transporte por terra de turbinas geradoras para o complexo energético da CELSE, na Barra dos Coqueiros, Belivaldo afirmava que ali estava um fato concreto, resultado de uma longa articulação iniciada por Déda, mantida por Jackson e ele, para viabilizar a localização em Sergipe do empreendimento de mais de cinco bilhões de reais. Belivaldo exemplificava porque, no seu plano de governo, a matriz para uma cadeia produtiva industrial será a CELSE e o potencial da oferta de gás que a geradora colocará à disposição de empresas interessadas, ou seja, o excedente para uso próprio do que será transportado via marítima desde o Qatar em navios gigantes.

               O Terminal Inácio Barbosa na Barra dos Coqueiros e a área disponível do retroporto formarão, segundo o plano que está sendo concatenado, um outro núcleo para fortalecer a atividade comercial e de serviços.

PRIMEIRAS TURBINAS DA CELSE, COM A TECNOLOGIA MAIS EFICIENTE DO MUNDO, SEGUNDO O GUINESS BOOK, JÁ ESTÃO EM SERGIPE

Foto: Lúcio Chagas

 

UM JURI SEMPRE LEMBRADO

Edmilson Domingos, radialista da Xingó-FM e produtor de eventos, já participou como jurado de vários juris populares em Canindé do São Francisco, mas, há um do qual nunca esquece e sempre relata o acontecido.

No banco dos réus sentava um homem que cometera, por motivo fútil, um assassinato. O jovem promotor Etélio Prado fazia uma acusação contundente e bem fundamentada. O calejado Defensor Público Galdino Carvalho começa a sentir que o seu despossuído cliente não escaparia da cadeia e resolve apelar para o emocional. Começa a desenhar com tintas vivas de tragédia, sofrimento e abandono, o que ele denominava o “inferno dos nossos presídios” e a deformidade maior que o castigo extremo causaria naquele cidadão, que já sofria as agruras da existência miserável. E termina: “Senhor representante do Ministério Público, Vossa excelência é um jovem idealista que busca a Justiça, mas eu lhe faço um desafio: Doutor Ételio, experimente passar um dia que seja, numa dessas nossas prisões, ou masmorras, depois, então, consulte sua consciência, que eu sei que é justa, e o senhor então pensaria duas vezes se é mesmo um ato de justiça mandar um cidadão para viver no inferno em vida dos nossos calabouços”.

O Promotor Etélio calmamente ouve e incisivamente retruca:

“Doutor Galdino, o senhor me fez um desafio e eu lhe faço outro: vá ficar no lugar onde está a pessoa que este homem assassinou e me diga se ele merece mesmo permanecer solto”.

O réu acabou condenado.

PROMOTOR DE JUSTIÇA ETÉLIO PRADO

Foto: Gerfesson Santana

 

“A BÉLGICA BRASILEIRA”, O QUE SIGNIFICA ISSO?

               “Belíndia” foi a expressão criada por um economista para definir os contrastes de um país desigual, o Brasil, que teria uma parte assemelhada à industrializada e rica Bélgica e uma outra pobre, atrasada, que seria a própria imagem da Índia.

                    A expressão ganhou notoriedade, viralizou, como se diz hoje. Mais de trinta anos decorridos depois que o neologismo se tornou sinônimo acadêmico, político e midiático da contraditória realidade brasileira, houve transformações que descaracterizaram o termo, ou, no mínimo, o tornam impreciso.

                   Vejamos: No Brasil, a parte Bélgica mistura-se agora com a parte Índia, enquanto a parte Índia melhor se caracterizaria, agora, como Haiti ou, talvez, Somália. A Belíndia, ou o Brasil real, empobreceu, tem mais de 13 milhões de desempregados e cerca de cem mil morando nas ruas das maiores cidades. Já a Índia, em tudo nos ultrapassou, tem hoje uma sofisticada elite científica, cresce a taxas elevadas e reduziu expressivamente a sua gigantesca quantidade de habitantes vivendo abaixo das taxas mínimas da pobreza.

                        Mas o que vem a ser mesmo a Bélgica Brasileira?

                        Era Sergipe, que assim começou a ser denominado a partir da década dos anos trinta, no século passado.

                   Talvez, tenha sido muito presunçosa essa comparação, mas, de fato, naquela época, Sergipe começava a ter um significativo parque fabril. Havia indústrias têxteis, algumas delas já movidas à eletricidade, em Aracaju, São Cristóvão, Estância, Maruim, Neópolis e Propriá. Tínhamos, ainda, rudimentares fábricas de beneficiamento do coco, do algodão e criamos, assim, um proletariado, uns cinco mil trabalhadores, que começavam a entender-se como classe nos sindicatos que se formavam ou tendo as suas angustias traduzidas nos romances de Amando Fontes, na poesia de José Sampaio.

                Mas estávamos, de fato, muito distantes do país europeu ao qual queríamos nos comparar. Aqui, o analfabetismo chegava aos oitenta por cento, a mortalidade infantil alcançava cifras de calamidade, chegando, em alguns locais menos salubres, como Aracaju, por exemplo, a mais de 400 óbitos por mil nascimentos, como registra Josué de Castro em sua Geografia da Fome. A fome nos devastava mesmo. Então, as similitudes com a Bélgica acabavam por aí.

                      Mas então, a Bélgica nos expulsou da Copa do Mundo, liquidou as nossas pretensões a um hexa, do qual, a cada dia, nos distanciamos. O nosso futebol gira em torno de vaidades, interesses de grupos, também, da mesma roubalheira comum em tantos outros setores. Fica difícil imaginar que dirigentes como os que temos na CBF e nas suas ramificações estaduais, quase todas contaminadas pela mesma doença, possam conceber e por em prática um projeto de seleção como o que fez a Bélgica. Aquilo é o resultado de um país culto, organizado, que tem e obedece a valores, que absorve o que existe de mais avançado em experiências educacionais, científicas, sociais, esportivas também, que interage com o mundo.

                     A Bélgica, só para dar um exemplo, compra o chocolate bruto que aqui produzimos e também de países africanos. Desde o século dezesseis começou a manipular o chocolate, aprimorou sabores, confeccionou produtos à base da semente do cacau e tornou-se o segundo maior exportador de chocolate industrializado do mundo. Assim como no chocolate, no futebol temos muito a aprender com a Bélgica.

CHOCOLATE BELGA, FEITO COM MATÉRIA PRIMA BRASILEIRA E AFRICANA E ESTÁ ENTRE OS MELHORES DO MUNDO

 

 

ACABOU A EMBRAER AGORA É A BOEING

                   Por trás desse nebuloso negócio,  do qual a americana Boeing sairá com o controle da EMBRAER, que ficará reduzida a inexpressivos vinte por cento das ações, existem interesses tão difusos, ou até explícitos quando complexos, envolvendo desde o xadrez caprichoso da geopolítica em escala global, à ânsia por lucros sempre maiores de investidores estrangeiros, a maioria, com a plena concordância da minoria, representada pelos investidores nascidos no Brasil, apenas por um acidente da sorte ao qual eles não atribuem maior importância.

                   Há ainda outros interesses, estes, dos embuçados articuladores do negócio, que ajudam a mão direita, ou esquerda, de Temer a por, com a assinatura, sua autoridade malsinada, “legalizando” tudo que enxovalha a honra nacional.

                 Argumentam que a compra de 80% das ações pela Boeing será feita para fortalecer a EMBRAER. Qual EMBRAER, aquilo que resta? Vinte por cento das ações, sem poder de voto, sem presença gerencial? A sede da Boeing fica em Seattle, nos Estados Unidos e de lá virão todas as decisões, inclusive, se quiserem, a de transferir para o país sede, toda a tecnologia, todo o know-how que a EMBRAER acumulou, em parceria com o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, o icónico ITA.

                 Tudo isso com muito aporte de recursos do governo brasileiro, dos impostos que pagamos. Aqui, ficarão 18 mil desempregados, desaparecendo um projeto que alcançou dimensão global, consumiu alguns bilhões de dólares para ganhar corpo e importância e perdeu-se pela ousadia descarada de uns poucos e a covardia decepcionante de muitos.

 

O LONGO AMANHECER DE UM PROJETO PARA O BRASIL

              O Brasil pode, assim mesmo no afirmativo, tornar-se a terceira maior potência econômica do planeta, superando Japão, Índia, Alemanha, Inglaterra, França, Rússia, ficando atrás, apenas, da China e dos Estados Unidos. Isso, num prazo entre vinte e vinte e cinco anos.

                Sonho, loucura, delírio ufanista? Nada disso.

                Para chegarmos lá, a ferramenta essencial seria um Projeto de Brasil que atravessasse governos, que o seguiriam criteriosamente, começando pelo próximo, agora, em 2019. Esse projeto teria de descartar radicalismos ideológicos e buscaria encontrar-se com a essência da nossa gente para despertar as virtualidades conjuntas do povo e da terra, o nosso potencial para criar, inventar, descobrir, dar um jeito, um jeitinho, gerir, empreenderMe produzir resultados: na educação, na civilidade, na consciência ambiental, na área científica, na capacidade tecnológica, para agregar valor ao que a natureza nos oferece, com uma prodigalidade maior do que em qualquer outra parte do mundo.

              Um projeto desse porte não se alcança sem enfrentar obstáculos externos. Isso não significa que teremos de guerrear ou estabelecer inimizades. O Brasil deve ser sempre um país disseminador da paz, um articulador de soluções regionais, e até globais, se tanto nos permitirem o engenho e arte de exercer uma diplomacia com independência, espalhando uma cultura de paz, sem descurar de que existem ameaças imprevisíveis e teremos de montar um aparato de defesa, que nos ampare pela capacidade de dissuasão, e relações internacionais habilidosamente construídas.

               O amanhecer desse projeto, nunca perfeitamente delineado, ensaiou-se com a tenacidade de Floriano, depois, com a ousadia dos tenentes, que terminou por levar ao poder um ditador, Getúlio Vargas. Este, de fato formulou e executou em boa parte um o projeto de Brasil, mas, por ter optado pela ditadura, transformou adversários em inimigos e fraturou a Nação, o levou ao suicídio quando retomava, num mandato democrático, o projeto antes iniciado.

             Depois, veio o maior de todos: Juscelino Kubitschek de Oliveira, este, transformou o país, mas a mediocridade das nossas elites, o radicalismo rabujento de vários setores, inclusive militares, impediram um segundo governo de JK, quando ele poderia ter completado a segunda etapa do projeto. Jânio Quadros, tinha a visão de um Brasil maior, mas era um ébrio que se perdeu em sucessivos porres, num dos quais renunciou.

           No período militar houve Geisel, mas outra vez o radicalismo colocou as unhas de fora e Geisel escapou de ser deposto pelo ministro do exército que ele escolhera, o general Frota, um primitivo e ambicioso que enxergava comunismo na ruptura do humilhante acordo de cooperação militar Brasil-Estados Unidos, na verdade uma submissão nossa ao grande país do norte.

          Frota deu chiliques denunciava um conluio de Geisel com os comunistas, porque ousara até estabelecer relações comerciais e diplomáticas com a China. Naquela época, há pouco mais de 40 anos, a economia chinesa era menor do que a brasileira. Mas já seguia um projeto de nação e hoje disputa a hegemonia com os Estados Unidos. E nós aqui, mergulhados em mediocridades.

             Lula, com sua extraordinária capacidade intuitiva, desenhou um Projeto de Brasil, que foi logo deturpado e prostituído, quando José Dirceu preferiu montar um projeto de poder exclusivista, baseado na cooptação de aliados através da escancarada dilapidação dos cofres públicos.

            Finalmente, chegamos à organização criminosa, descrita pela Procuradoria Geral da República, que avilta a Nação e desfaz todos os elementos estratégicos dos quais poderíamos dispor para montar um Projeto de Brasil, no qual a EMBRAER, com todo o entorno de avanço tecnológico, de atualização da defesa nacional, de incorporação de conhecimento em diversificadas áreas, é um instrumento essencial, que perderemos por obra e desgraça da quadrilha chefiada por Michel Temer.

 

EDVALDO E A DISPUTA PELO VOTO ARACAJUANO

                 O prefeito Edvaldo Nogueira será peça importante na eleição em Aracaju. Faz uma administração bem avaliada, tem sabido chegar à periferia da cidade e não desapontou a classe média. Faz obras nos bairros onde são maiores as carências e chega agora à Atalaia, área de classe média por essência e, mesmo concentrando a maior parte do aparato turístico da cidade (quase todos os hotéis e restaurantes, a Orla), tem quilômetros de ruas com muita poeira no verão e lama no inverno. A urbanização chegando, com asfalto e outras melhorias, atende à uma expectativa de quem ali mora, paga IPTU elevado e esperava por essas obras faz muitos anos.

                Edvaldo se firma com potencial de votos a transferir para os candidatos que apoiar. Para governo ele tem definição certa, que é Belivaldo, para o Senado Jackson Barreto e para o segundo voto sua opção poderia já estar construída, segundo indicativos, a partir de uma relação com o deputado André Moura, definida como institucional, que lhe abriu cofres em Brasília e isso lhe permite fazer um considerável volume de obras.

              O professor Bitencourt, um dos quadros mais qualificados do PC do B, o partido de Edvaldo, e seu líder na Câmara de Vereadores, tem uma posição já definida em relação ao pleito de outubro. Ele entende que o seu partido está definido e com opção feita por Belivaldo, como candidato ao governo, e o primeiro voto de senador direcionado para Jackson Barreto. Sobre o segundo voto para André Moura, ele garante que as relações entre Edvaldo e André foram institucionais, que trouxeram benefícios para Aracaju pela influência em Brasília do líder de Temer no Congresso, mas, nada teria sido feito em troca do compromisso de apoio eleitoral; e aí Bitencourt ressalta que André faz parte de outro grupo, de outro campo político-ideológico, bem diferente do seu.

EDVALDO E PC DO B FECHADOS NO APOIO AO GOVERNO E A PRIMEIRA OPÇÃO PARA O SENADO, MAS A SEGUNDA OPÇÃO PARA SENADOR AINDA SEM DEFINIÇÃO E A DISPUTA CONTINUA

 

COMO JACKSON SE DEFINE

              Nas falas, em entrevistas, em grupos, Jackson Barreto repete que veio de família pobre, é hoje um cidadão da classe média, que entrou no governo com patrimônio declarado e saiu com o mesmo que sempre teve. Não fez política para ficar rico, nem se envolveu com negociatas e permanece distante de todas as quadrilhas que operam na nossa vida pública.

                 Na vida pública brasileira, dizer isso depois de estar na política desde quase menino e, hoje, com 73 anos, é uma condição que se vai tornando rara.

JACKSON, UM CASO RARO NA POLÍTICA

 

HENRI CLAY, UM ENSAIO DO SENADOR VALADARES

                A candidatura do advogado Henri Clay ao Senado pelo PSB pode ter sido um hábil balão de ensaio, lançado pelo senador Valadares. Henri Clay é presidente da OAB/SE e um nome prestigiado pelos colegas, aliás bastante numerosos, e tem ainda um bom trânsito em diversos setores da sociedade. Teria por isso de representar um bom percentual de votos. As primeiras pesquisas realizadas, mostraram isso que se imaginava. Então, Valadares assim, já tem escolhido o nome a convidar para compor sua chapa como suplente: o do, hoje, pré-candidato ao Senado Henri Clay.

PRÉ CANDIDATO AO SENADO, HENRI CLAY

Foto: Tássio Andrade/G1

 

UM COLOMBIANO DUAS VEZES TRISTE

                Eduin Yulian Arango Goez ou professor Arango é um colombiano que, faz mais de dez anos, chegou ao Brasil. Veio esperançoso, pretendia aqui jogar futebol, já teria um contrato com um time. Descobriu logo que tinha sido enganado por um desses “empresários” malandros que andam por aí. Mas não ficou decepcionado nem com o Brasil, nem com os brasileiros. Foi fixar-se em Canindé. Para sobreviver, ensinava futebol, xadrez, fazia bicos e pagava a faculdade. Formou-se em Letras e Educação Física. Casou, tem duas filhas, já é brasileiro naturalizado e, sobretudo, de coração.

               Começando a Copa, torcia pelo Brasil e pela Colômbia. Nos jogos dos dois reunia torcidas em sua casa. Brasileiros torceram muito com ele quando a Colômbia foi eliminada pelos ingleses. Sexta-feira torciam todos pelo Brasil e Arango chorou com a derrota, mais ainda, quando começou a receber o consolo de tantos amigos e familiares que deixou no seu país de origem, que lhe enviavam mensagens enfeitadas com bandeirinhas colombianas e brasileiras.

                    Pois é, país continental, cercado de tantos irmãos latinos, parece que deles estamos mais distantes do que da Europa ou da Ásia.



 

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