Geddel, o homem dos 51 milhões voltou à prisão em regime fechado. Terá de explicar agora de onde veio àquela dinheirama toda, escondida como se fosse coisa inservível num apartamento de um prédio residencial, sem nenhuma segurança. Geddel, o homem da estrita confiança do presidente, estava absolutamente despreocupado. Aquilo, o valor total dos reais e dólares somando pouco mais de 51 milhões em moeda nossa, seria algo desprezível diante da montanha de dinheiro que ele, e a quadrilha da qual faz parte, devem ter guardado por ai, em outros lugares semelhantes. A roubalheira é tanta que chegaram até a fazer pouco caso de parcelas assim, ínfimas, de apenas 51 milhões.
Geddel Ferreira Lima tem biografia bastante conhecida. Ele é larápio sem máscara, que todo mundo identifica. Temer, Lula, Dilma, o valorizaram muito, e o fizeram um dos homens mais importantes dessa República por eles avacalhada. O núcleo principal de uma das mais diligentes facções criminosas abrigadas no PMDB seria formado por Temer, Eduardo Cunha, Henrique Alves, Moreira Franco, Romero Jucá, Elizeu Padilha e Geddel. Eduardo Cunha, que Temer ajudou a tornar-se presidente da Câmara e comandou o impeachment contra Dilma está preso; Henrique Eduardo Alves, ex- Ministro de Temer e de Dilma também preso, Geddel Ferreira Lima, ex- Ministro de Temer, ex- Ministro de Lula, ex-diretor da Caixa Econômica de Dilma, já dorme na Papuda.
Quando Joesley Batista esteve com Temer para aquela conversa noturna mafiosa, Geddel já havia caído em desgraça pela força das circunstancias, que Temer, seu amigo, padrinho e parceiro não conseguiu controlar, então, Joesley perguntou a Temer quem viria a ser o substituto de Geddel naquela tarefa indecente da arrecadação de dinheiro. Temer indicou Rocha Loures e o promoveu: ele é da minha ¨estrita confiança¨. Poucos dias depois Loures aparecia naquela trapalhada da mala com 500 mil reais. Do núcleo da Confraria do Peculato resta intocado o Alí Babá até quando a dignidade afrontada de um país não o enxote. Jucá, senador, responde a 16 processos, quase o mesmo acontece com Padilha, e Moreira tem contas a ajustar com a Justiça.
Os brasileiros que saíram às ruas, exigindo a deposição de Dilma, clamando por moralidade pública, aqueles que redigiram a denúncia, peça fundamental do impeachment, devem estar agora imaginando-se iguais a aqueles bonecos de patos amarelos que a FIESP, hoje apenas uma casa de todas as tolerâncias, fez espalhar pelo Brasil acompanhando as enormes manifestações. Um trabalhador ganhando salário mínimo levaria mais de 4 mil anos para chegar ao valor dos 51 milhões, jogados no fundo de um apartamento como se fossem as sobras de uma assombrosa orgia de cafajestes.
Constata-se agora, muito claramente, que o processo de impeachment liderado por Temer, foi apenas um episódio resultante da briga feia, travada intramuros por duas facções criminosas, desentendidas sobre a partilha do que roubavam. A ideia de moralizar seria apenas a farsa e o cinismo, escondidos sob o manto falso que disfarçava o esgoto, onde todos se misturavam.
TEMER E O CRIME MAL ORGANIZADO
Temer, há quase dois meses foi ao Rio anunciar que as forças armadas as polícias federais e a força federal entravam em cena no conflagrado estado, e dariam combate implacável ao crime organizado. Foi leviano ao anunciar êxitos imediatos com a redução do roubo de cargas nas estradas fluminenses.
Agora, constata-se que os resultados obtidos estão muito aquém do que era esperado com gastos no emprego de efetivos tão numerosos. Desprezaram as criteriosas observações feitas pelo general Vilas Boas, comandante do Exército, e outros comandantes. Desencadearam a apressada operação com o nítido intuito de reduzir a devastadora impopularidade, anátema da sociedade a um governo destituído de ética e de valores fundamentais.
Chega-se agora ao centésimo segundo policial assassinado no Rio por bandidos. Dessa vez o Cabo PM Júlio Cezar de Oliveira. A lista aumentará já nos próximos dias, ou horas. Os tiroteios ocorrem repetidamente, as facções permanecem donas de territórios e ampliam seu raio de ação, balas perdidas matam inocentes todos os dias, escolas, comercio, fábricas, fecham com frequência, e a bandidagem continua exibindo seus fuzis nas ruas da cidade. Sem planejamento, sem coordenação entre as Policias, o Ministério Público e uma coordenação federal, através do EMFA, as ações isoladas e pontuais serão sempre ineficazes.
Mas há algumas ações positivas, como a varredura feita nas penitenciárias pelas tropas federais. Interrompidas as ligações dos líderes presos com os seus comparsas soltos, ocorre uma quebra na cadeia de comando que custa tempo a ser refeita. Mas as leis favorecem os bandidos, os de baixo coturno, e mais ainda os de colarinho branco.
TEMER E O CRIME BEM ORGANIZADO
O que nos ameaça muito mais agora é outra espécie ¨nobre¨ de crime organizado, aquela turma com quem o presidente encontrou-se no Planalto, assim que retornou do Rio, onde foi a pretexto de combater o crime cometido por bandidos vulgares.
Os bandidos de elite, os bandidos de punhos de renda, os bandidos que desfrutam de regalias, que desafiam a Justiça, foram levados pelo presidente para compor o seu ministério, ou formarem o corpo dos assessores da ¨minha mais estrita confiança¨, como ele antes tanto repetia.
Essa corriola, com gente respondendo a mais de dez processos, outros, presos ou usando tornozeleiras, é algo inédito na história da República. A Confraria do Peculato, que agora, afinada e em conjunto, age para desmontar a Polícia Federal, desmoralizar o Ministério Público, subjugar o Supremo, onde já conta com um ativo e ousado advogado, o Ministro Gilmar Mendes. O Ministro da Justiça, escolhido exatamente para ¨domesticar¨ a Polícia Federal, antecipa, com ousadia, que vai mudar o comando da PF, vítima preferida para o castigo dos cortes no orçamento.
Agora, aparece a enormidade de dinheiro, os CINQUENTA E UM MILHÕES DE REAIS. Estavam jogados no chão de um apartamento que Geddel pediu a um amigo para ¨guardar documentos do seu falecido pai¨. Esse amigo é Sílvio Antônio Cabral Vieira, empresário de duvidoso conceito. Quando Geddel era ministro de Lula, deu a Sílvio Antônio uma obra para executar. Era uma barragem que nunca concluiu, e que gerou um processo.
Essa imagem de uma sala cheia de dinheiro roubado por um ex-ministro de Temer, ex-ministro de Lula e ex-diretor da Caixa Econômica com Dilma, é arrasadora para a imagem do Brasil no exterior. Aqui, é apenas outro escândalo, patrocinado mais uma vez pela mesma organização criminosa, com quartel general no Palácio do Planalto, sedes nos Ministérios, na Câmara, no Senado, e até na Justiça, e é muito mais poderosa do que se imaginava.
SOBRE VERMES, FACÕES E PUNHAIS
À crêr na teoria da evolução das espécies, todos nós agora humanos, um dia, no alvorecer da vida sobre a terra, seríamos parte de um processo que se iniciava nas primitivas formas orgânicas pululando nos pântanos mornos, com movimentos próprios, mexendo-se no lodaçal. Decorreram uns dois bilhões de anos. Então, do verme ou ameba inicial haviam evoluído os vertebrados. Nos seres vivos já se podia fazer a caracterização entre racionais e irracionais.
Entre os símios, surgiram aqueles humanoides, mais parecidos com o que somos hoje. Usavam só as pernas para caminhar, e com braços livres manejavam o fogo, cozinhavam, manipulavam pedras e paus que faziam as vezes de ferramentas ou armas. Começava a Revolução Cognitiva, e dela participavam o Homo Neandertais, o Homo Erectus, o Homo denisova, mas, um entre eles destacou-se, se impôs, exterminou os outros, dominou sozinho o planeta: era o Homo sapiens, nosso primevo ancestral. Cogito ergo sunt-penso, logo sou-definiria depois, já no século XVII o cientista e filósofo René Descartes. O Homo sapiens enfrenta um dilema não resolvido: Como preservar a razão, evitando os surtos esporádicos de retorno à irracionalidade. Beethoven compôs a Nona Sinfonia, Hitler, seu compatriota, mandou construir câmaras de gás para exterminar os judeus e todos os que o desagradassem. Matou mais de 6 milhões de seres humanos, só daquela forma.
Fizemos, aqui, um comentário a que demos o título: Do facão de Gualberto ao punhal de Ana Lúcia. Era uma referencia ao confronto entre os deputados Chiquinho Gualberto e Ana Lúcia, no qual a deputada professora, líder do Sintese, atacou o colega petista, lembrando o suposto episódio de um facão por ele usado num embate verbal com Nivaldo, combativo líder sindical.
Daquele episodio nos veio a alusão ao punhal, emblemática arma a caracterizar a traição, a solércia, a maldade, a vileza, isso, depois do constrangimento e dor ao assistir os vídeos de manifestações do Sintese, nas quais a deputada era uma das principais protagonistas. Tudo, uma trágica e desgraçada palhaçada fúnebre, e nela aparecia a placa onde estava escrito: ¨dele nem os vermes irão lembrar¨. Era uma alusão ao governador Marcelo Déda que naqueles dias atravessava a última etapa da sua agonia final, já vencido pelo câncer devastador.
O que mais preocupa e deveria suscitar uma indispensável reflexão, é exatamente o fato de serem protagonistas daquela cólera morbus de odiosidade alguns professores (a grande maioria não compareceu) e uma representante do povo, também professora. Qual o exemplo construtivo, qual a mensagem de democracia e tolerância, qual a sintonia com os valores humanos que aqueles professores poderão transmitir nas salas de aula aos seus alunos?
O que teriam a dar como exemplos, esses professores que atribuem memória à vermes para com eles tripudiarem sobre a dignidade da vida e a inevitabilidade da morte?
(Fotos: Arquivo site Lagartense)
RICARDO VENDE TUDO E VAI MORAR NOS STATES
Ricardo Barreto Franco, filho do ex-governador Albano Franco e da ex-ministra Leonor Barreto Franco será mais um brasileiro que deixa o país para viver nos Estados Unidos. Claro, ele não é um brasileiro qualquer tentando, nos States, realizar o ¨american dream¨, acreditando na sorte para desfrutar das oportunidades oferecidas na maior economia do mundo. Ricardo, com uma montanha de dólares, será imigrante pisando em tapete vermelho, cercado de deferências. Nos estados Unidos é bom que se frise, empresário com dinheiro para investir ou aplicar é sempre acolhido sem discriminações, nem rigores dos órgãos de segurança.
Ricardo e Leonor venderão o complexo de comunicação, e também o laticínio SABE. As aplicações continuam aqui, enquanto forem mais rentáveis. Outras, já estão no exterior. Tudo legal e sem aborrecimentos, Ricardo despede-se, e vai viver com esposa e filhos em algum lugar nos Estados Unidos. Leonor, desde a separação vive entre Londres e os netos no Brasil. Ricardo desistiu do Brasil e especialmente de Sergipe, onde, até estimulado pela mãe, ensaiou uma possível candidatura ao governo. Realista, constatou que nem entre o empresariado teria apoio, os políticos não simpatizam muito com ele, e o povo sequer o conhece. Herdeiro feliz, teve sucesso administrando os negócios paternos, começando pela Coca-Cola, Ricardo imagina que no ambiente empresarial americano terá mais espaço para ampliar as potencialidades que imagina ter.
Por aqui ficará o pai, sócio minoritário que foi vencido, e sem a satisfação que tinha em administrar a TV Sergipe. Continuará em algum gabinete a receber amigos para agradáveis conversas, e cultivando pelo Brasil e pelo mundo as boas amizades que soube fazer ao longo de uma vida marcada pela cordialidade e compreensão. Há quem o estimule a voltar à vida pública candidatando-se a deputado federal.
Os tios de Ricardo, seus numerosos primos, estão envolvidos nos negócios segipaníssimos, continuando a tradição do pai e do avô, Augusto Franco, que aqui tudo investiu, e venceu. Os filhos de Antônio Carlos Franco, Marcos, e Osvaldo, tocam o complexo formado por empresas têxteis, um jornal e um Shopping em conclusão, e cultuando a memoria do pai criaram o Grupo ACF.
ROGÉRIO E OS SEUS PROJETOS
O ex-deputado Rogério Carvalho, agora presidente estadual do PT, apesar dos revezes que o partido nacionalmente sofre, não arquivou suas ambições políticas. Perdeu a eleição ao Senado dizendo que concorria ¨contra uma cadeira vazia¨, aquela que era ocupada pela senadora Maria do Carmo, candidata à reeleição.
Rogério travou um duro embate com os companheiros na renhida luta pelo controle do partido. Acabou vencendo, mas restaram feridas. Não é bem do estilo de Rogério, que, aliás, é médico, ter a preocupação de curar feridas, mas fez isso, saiu a dirimir suas diferenças com os quase inimigos, embora sob a mesma sigla. Restabeleceu relações com o médico Gilberto dos Santos, petista, cujo filho, também médico, Thiago de Souza Santos é o prefeito de Nossa Senhora das Dores. Ele concorreu com o prefeito João Marcelo Montarroyo que pretendia a reeleição.
João Marcelo é filho do desembargador Alberto Gouveia Leite. Rogério, por razões óbvias, não querendo desagradar o desembargador, teria se recusado a apoiar e ajudar financeiramente o filho do companheiro Gilberto. No esforço de rejuntar o PT Rogério parece ter tido pleno êxito. Agora ele teria a certeza de que, candidato ao governo, o partido fecharia questão sobre o apoio ao seu nome. O difícil para ele seria ampliar alianças, mas estaria acreditando até na possibilidade de convencer o governador Jackson Barreto de que a eleição dele ao Senado se fortaleceria muito com o apoio completo dos petistas.
Essas conjecturas de Rogério foram elaboradas antes da devastadora delação feita por Antônio Palocci. De agora em diante se reduzem consideravelmente as chances de Lula vir a disputar a presidência. Rogério esperaria suporte financeiro para sustentar a campanha, contaria ainda com o apoio de empresários e de fortes relações em São Paulo.
A rejeição que sofre e não é pequena, seriam, segundo seus apoiadores, desfeitas no decorrer de uma polarizada campanha, o que não acontecerá com Lula fora da disputa.
MACHADO: BOLSONARO NÃO
O ex-prefeito e ex-deputado Jose Carlos Machado faz política sem radicalismos, entendendo que a função maior do político é amenizar conflitos e buscar consensos. No momento que vive o Brasil Machado acredita que é preciso exercitar o diálogo e conter os ímpetos.
Por isso, considera nociva à democracia e ao país alguém como Bolsonaro, e até adverte aos que, talvez desavisados, poderiam votar nele: procurem conhecê-lo melhor, logo desistirão da ideia de apoiá-lo.
Machado foi colega de Bolsonaro na Câmara e não o enxerga como bom parlamentar, muito menos com capacidade para se tornar um administrador eficiente, entre outras coisas por ser radical, intolerante e extremista.
A HISTÓRIA DE DEREK BLACK (uma leitura para bolsonaristas)
O jovem americano Derek Black, apesar do nome, era um supremacista branco e raivoso que defendia a segregação de todos até que se extinguissem com a impossibilidade de procriar, fazendo surgir a América só para os brancos. É filho do atual líder da Ku-Klux-Klan, a sinistra organização que queima cruzes simbolizando a execução de negros, e muitos assim já assassinou.
Derek era a vítima de um lar onde o ódio e a intolerância dominavam. Entrou para a Universidade e foi isolado pelos colegas que rejeitam o racismo, têm nojo da Ku-Klux-Klan. Um deles, peruano, resolveu aproximar-se de Derek. Ficaram amigos e começaram a trocar ideias.
Um judeu ortodoxo convidou Derek para almoçar com outros colegas na casa dele. Ele foi, começou a viver num mundo diferente, arejado, de ideias modernas. Retornou várias vezes, descobriu que o racismo é estupidez. Hoje, Derek é um ativista contra os supremacistas brancos, e a Ku-Klux-Klan, a organização terrorista do pai.
Moral da estória: quem dialoga vence a intolerância e a estupidez. Desde que seja inteligente.
JACKSON E ALCKMIN
O governador Jackson Barreto vai a São Paulo. Já está recuperado da cirurgia de catarata que fez num dos olhos, e viaja nesse domingo. Com ele irá o presidente da DESO engenheiro Carlos Melo. JB vai agradecer ao governador Geraldo Alckmin o atendimento rápido à solicitação que fez, para empréstimo ao governo de Sergipe de bombas flutuantes, usadas para retirar água do volume morto da represa da Cantareira, durante a crise hídrica que São Paulo viveu.
Essas bombas por sugestão do engenheiro Carlos Melo serão colocadas na captação de água do São Francisco em Telha, onde começa a adutora que vai até Aracaju, uma distancia de 92 quilômetros.
Com aquelas bombas flutuantes, se poderá acompanhar o São Francisco até onde ele for recuando, e assim garantir o abastecimento.
UCHOA E OS HINOS
O reitor da UNIT professor Uchoa integra a Academia Sergipana de Letras, e lá costuma levar ideias. Ele entende que o Hino de Sergipe deveria ser modificado, e essa sugestão o levou a um confronto desagradável com a professora e acadêmica Aglaé Fontes Alencar.
Que o hino é chato, disso não restam dúvidas, que é um plágio musical da ópera Italianas em Argel não há quem discorde. Que a letra é horrorosa, isso é evidente. O autor Frei Santa Rita, excessivamente barroco, foi buscar na palavra jucundo o melhor sinônimo para belo. Pode haver beleza em algo jucundo?
Mas, por reverenciar os hinos, entendendo que modificá-los não seria improprio, Uchoa, publicou o livro do paraibano Amarylio de Albuquerque, A História do Hino Nacional Brasileiro. O autor tinha ligações com Sergipe. Sua irmã, Marina de Albuquerque Maciel era esposa do engenheiro Leandro Maciel, líder político que foi governador do estado.
Na apresentação do livro, Uchoa registra a observação do autor sobre o processo de evolução estética até o Hino chegar à sua forma atual.
A VALE E OS SEUS BURACOS
Após quase 40 anos de atividade a mineradora VALE encerra suas atividades, fecha a mina de potássio e vai embora. Tivemos mais sorte do que Minas e o Espírito Santo onde a desastrada e desastrosa empresa causou a hecatombe ambiental, talvez a maior do mundo. Para demérito da Justiça a VALE não foi obrigada a cobrir inteiramente todo o prejuízo que causou.
Em Sergipe a VALE foi sempre uma empresa ausente. Não teve aqui nenhum protagonismo em áreas como o meio ambiente, a cultura. Sergipe não existiu para a VALE. Aqui, a VALE só lucrou e pouco nos devolveu em benefícios. Nos deixa tuneis gigantescos nas entranhas da terra a 400 metros e resíduos espalhados por vasta área, enorme passivo ambiental que teria de pagar, ressarcindo o estado e os municípios.
VINTE E CINCO ANOS DEPOIS
O advogado Gilton Garcia é ex-muitas coisas: secretario de Estado, governador do Amapá, Procurador, deputado federal, deputado estadual, presidente da OAB-SE. Ele tem recebido homenagens que chegam, não propriamente atrasadas, mas depois de muito tempo, e isso ainda mais lhes acresce valor. Recebeu de volta, simbolicamente da Assembleia o diploma de deputado estadual que lhe foi arrebatado com a cassação pelo regime militar.
Agora, recebe o Título de Cidadão Amapaense, estado que governou por um ano durante o período de transição de Território Federal para Estado, integrante da Federação brasileira. Isso faz vinte e cinco anos. A Assembleia amapaense por unanimidade aprovou o projeto da deputada Edna Auzier, concedendo a cidadania. A entrega do título será nesse próximo outubro.
O MUNDO EM TRANSE
Terremoto no México quase no último grau da escala Richter, que mede a intensidade dos tremores. Destruição enorme e mortes sendo registradas às dezenas. Nos abalos que replicam, a possibilidade de alongamento da tragédia. Mêdo de tsunami. Perto, no Caribe, três furacões com ventos soprando a mais de 300 quilômetros por hora arrasam ilhas paradisíacas, daqueles mares de esmeralda.
Descobrem-se, assim, coisa quase ignorada, que restam possessões diversas dos antigos impérios coloniais da França, Inglaterra, Holanda ou Países Baixos. Há também o Império americano, anexando Porto Rico, e botando o pé em outras ilhas menores. As possessões pedem socorro, mas até agora só chegaram vindos da França, Holanda e Inglaterra. Trump nem se moveu, estaria talvez esperando para avaliar o efeito dos furacões sobre o território continental americano para então dizer se poderia ajudar, Ele aliás não é o tipo de ser humano sensível ao sofrimento dos outros.
E há outra vez pairando a ameaça de um conflito nuclear, que seria a última das guerras. É apenas uma hipótese distante e improvável, mas uma guerra localizada e até com emprego de artefatos nucleares poderá ocorrer. Desconfiando da sanidade de Trump os militares criaram uma Junta que governa os Estados Unidos, quando se trata de segurança nacional, e dará a ultima palavra sobre um ataque à Coreia do Norte. Governado por um ditador insano, o miúdo país onde milhões passam fome, tornou-se um prego no sapato, tanto dos Estados Unidos como da China e Rússia, que o ajudaram a montar o brinquedinho mortal do gordinho, para fazer pirraça aos americanos, mas, não esperavam que ele fosse tão longe, detonando bomba de hidrogênio em testes subterrâneos próximos às suas fronteiras.
Se os americanos atacarem, terão de agir de uma só vez, usando bombas atômicas táticas, menores dos que as lançadas sobre Hiroxima e Nagasakí. São artefatos destinados ao uso eventual em alvos específicos, para que não aconteça muita liberação de materiais radioativos, que, no caso, poderiam alcançar a China e a Rússia, também a Coreia do Sul e o Japão, aliados. Essas bombas teriam o objetivo de neutralizar as bases de lançamento de foguetes, e as instalações nucleares do norte, bem como concentrações de artilharia e foguetes de curto e médio alcance, próximos à Coreia do Sul, além das bases navais da Coreia do Norte.
Teria de ser tudo de forma rápida, fulminante e devastadora, com a esperança de que Kim Jong Un não tenha tempo de disparar seus misseis contra a Coreia do Sul e a base militar americana na ilha de Okinawa. Mas, mesmo assim, seria impossível evitar que petardos da artilharia pesada norte-coreana e foguetes, não atingissem Seul, a capital da Coreia do Sul, e seu principal núcleo industrial. Há ainda a extrema capacidade dos hackers norte coreanos que poderiam gerar prejuízos inimagináveis. Tem ainda a hipótese, catastrófica, de haver tempo para o gordinho sinistro disparar foguetes com ogivas nucleares. Ai, seria o inferno.
Por tudo isso é de se esperar que apesar da loquacidade ameaçadora e guerreira do boca de chupa ovo, uma saída diplomática já esteja em andamento.
A MASTURBAÇÃO VIRA MANCHETE
Envolvido naqueles trajes negros, o padre cabisbaixo com a testa apoiada sobre a mão, e o cotovelo resvalando numa perna, estica um olhar disfarçado de curiosidade sobre o menino ao lado do confessionário que titubeante e amedrontado cumpre o ritual forçado da Primeira Comunhão. De dentro da caixa de madeira escura envernizada onde o padre acomoda-se sobre um banquinho, aproximando-se de uma janelinha gradeada, sai, em quase murmúrio a primeira pergunta:
- Quantos anos você tem?
- Onze seu pade.
- Você é bom aluno, tem boas notas?
- Tem boa e tem ruim, seu pade.
- Você vai à Missa?
- Vou não seu pade.
- Você reza?
- Rezo seu pade, o pade nosso
- Isso é bom reze quando acordar e for dormir, peça a Deus pelos seus pais.
- Me diga, você já fez coisa feia com as mãos?
- O que é isso seu pade?
- É ficar pegando pra cima e pra baixo naquilo que faz xixi.
Com todos esses circunlóquios, cautelas e desfaçatez tratava-se de algo natural, normal, biologicamente perfeito e saudável: o surgimento do sexo no adolescente, logo amaldiçoado como pecado, que exigiria o desfilar de muitas Ave Marias e Pai Nossos.
Quase em frente ao antigo cacique Chá, no Parque Teófilo Dantas, numa banca de revista e cadeira de engraxate, seu Custódio vendia, com as precauções de quem estivesse a cometer uma transgressão, as revistas Seleções Sexuais, envolvidas num papel espesso onde estava escrita a advertência: Proibida para menores de 18 anos.
A revista era um amontoado de sandices e tratava o sexo como pecado. Médicos, americanos, quase sempre, advertiam sobre as graves consequências da masturbação, e relataram o caso grotesco de um jovem que de tanto masturbar-se ficou tuberculoso e morreu, mas antes tornou-se priápico e sobre o cadáver não pôde ser baixada a tampa do caixão, até que dobraram, com muita força, aquela exuberância viril post-mortem.
Masturbação, o recurso último dos solitários ou dos iniciantes tímidos, por ser uma prática incompleta e até frustrante, às vezes se torna sinônimo de irresolução, e por isso, no caso do masturbador perigoso psicopata ou canalha absoluto, que ejaculava sobre mulheres escolhidas como suas vítimas, o ato criminoso mistura-se a uma outra espécie de masturbação, dessa vez com todas as pompas exigidas, torna-se sinônimo das irresoluções hermenêuticas, ou seja, a interpretação da lei segundo o alvedrio de cada julgador.
Lá se foi o masturbador preso em flagrante pela Policia e levado à delegacia, depois, o pedido de prisão chega ao Juiz, e é aí que as masturbações se misturam, uma delas, sem nenhuma ejaculação. Decide o Juiz soltar o indivíduo que tinha 16 entradas na Polícia por repetir o mesmo vício incomum, certamente psicótico, além de três crimes muito mais graves de estupros.
Assim, a masturbação ganhou as manchetes, aquela real e criminosa do maníaco, a outra a masturbação da inépcia de um magistrado baseado na sua hermenêutica talvez muito exclusivista, e esqueceu-se do dever maior de proteger a sociedade. O masturbador, solto, repetiu o ato, e finalmente foi preso preventivamente.
Esse tipo de ¨masturbação¨ deteriora o conceito de Justiça, diante de uma sociedade cada vez mais descrente, e fortalece a ação dos criminosos de colarinho branco interessados em somar pequenas falhas, pequenos erros, para assim desmoralizar a Justiça, emparedarem o Ministério Público, e numa terra sem lei darem sequencia aos seus crimes permanecendo impunes.
Parece, todavia, que existem magistrados que teimam em fornecer argumentos aos interessados na demolição do judiciário. Assim fez um ex-presidente do Judiciário paulista quando, numa entrevista televisiva justificava as vantagens acrescidas aos salários dos magistrados, e desferiu um tapa na cara da sociedade e da sensatez. Disse que um Juiz precisa ganhar muito bem porque tem de ir periodicamente a Miami, comprar os seus ternos, camisas, gravatas, sapatos. Em que mundo estaria esse desavisado cidadão togado.
ASCENSÃO E QUEDA DE UM MITO
É pena, é lamentável e triste que assim tenha acontecido. No momento em que mais precisávamos de um exemplo a exibir com orgulho. Seria então a vida de um nordestino pobre que passou fome, sofreu os rigores da seca, migrou para São Paulo num caminhão pau-de-arara, viveu num barraco dentro de uma favela paulistana, onde a chuva descia pelas frestas do zinco e molhava todos, inclusive a mãe da família que logo morreu.
Depois o nordestino pobre tornou-se sindicalista, envolveu-se nas lutas populares, abriu o diálogo entre as montadoras de automóveis e seus trabalhadores, denunciou a ditadura, pediu liberdade e democracia. E o nordestino tornou-se presidente, abrindo novos horizontes para o país, demonstrando a força de uma democracia saudável onde um filho do povo, um operário, envergava a faixa de presidente. Falou, tocou com força e capacidade de denunciar num problema que era tabu: a fome.
Fome, assunto proibido até que o grande Josué de Castro começou a descobrí-la e revelá-la, no Brasil e no mundo. Tínhamos uma enorme faixa de excluídos, o presidente operário reduziu o tamanho daquela purulenta ferida social. Como encheríamos o peito hoje para gritar: Volta Lula. Mas isso não é mais possível.
O operário desprezou suas origens, esqueceu-se da sua história e misturou-se, misturou-se com a escória da nossa politica, com a escória de uma elite patrimonialista, ávida pelos favores e benesses dos cofres públicos. Não há mais duvida, o operário de quem nos orgulharíamos, agiu da mesma forma que aqueles a quem um dia chamou de 300 picaretas, e melou-se no caldo sujo, todavia atraente, quase irresistível, da vida faustosa, que exige aparatos a satisfazer a vaidade e o hedonismo.
Não há duvidas agora de que a imagem do operário que poderia ter sido virtuosa, que poderia ter sido exemplo agora, e depois, para a juventude tão decepcionada deste país, apenas amplia hoje a decepção, apenas fortalece a falsa tese de que a politica é o palco de todas as ignominias, e todos os que frequentam aquele palco são farsantes ou encapuzados e sorrateiros.
Um dia, disseram de Getúlio que ele era o pai dos pobres e a mãe dos ricos, a imprecação não seria no caso inteiramente verdadeira, mas em relação a Luiz Inácio Lula da Silva agora, perfeitamente a ele se ajusta.
Pátria Minha (Vinicius de Moraes)
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."