Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O GOVERNO DE FÁBIO MITIDIERI (4)
29/11/2022
O GOVERNO DE FÁBIO MITIDIERI (4)

Não existe produção de leite sem a indústria.

(Um garimpo à cata de oportunidades)

O esboço das intenções no programa do governador eleito Fábio Mitidieri, caracteriza-se por uma continuidade de ações, marcadas, todavia, pela sintonia com a inovação. Para isso, terá de reforçar a busca, ou uma espécie de garimpo de oportunidades.

Programas de governo quase sempre se fazem como uma formalidade a ser cumprida em obediência à legislação eleitoral, e tudo, na verdade, fica a depender das circunstâncias que terão de ser vividas e atravessadas.

No caso de Mitidieri, existe a tranquilidade em relação a um aspecto que é fundamental: o equilíbrio financeiro. Por outro lado, renúncias de receitas resultantes de medidas eleitoreiras do governo federal, eliminando impostos dos combustíveis, terão impacto sobre setores tais como a Educação e a Saúde. Assim, que ninguém imagine uma travessia tranquila sobre um mar de rosas.

No texto anterior, o de número 3,  abordamos o caso da vaca leiteira europeia que recebe subsídios de aproximadamente 800 euros anuais, e a comparamos com nossa vaca dos sertões de Poço Redondo, chegando a 50 litros dia, absolutamente sem subsídios.

Nos seus anunciados projetos, o governador eleito faz uma alusão bem clara à uma ideia que vem girando faz algum tempo: a Adutora do Leite, água retirada do São Francisco e aduzida até o polo leiteiro de Santa Rosa do Ermírio.

Água, é a única coisa que falta para a ampliação da capacidade produtiva daquela que é, agora, a maior bacia leiteira de Sergipe.

E o leite, como temos repetido, é o “petróleo branco” do semiárido, fator determinante da expansão econômica da “capital do sertão”, Nossa Senhora da Glória. A reindustrialização de Sergipe acontece ali, naqueles arredores, nos grandes laticínios, e nas dezenas de outros, pequenos, ou mesmo micros, que se expandem, baseados na confiança de que a matéria-prima essencial que utilizam não lhes faltará.

A  Adutora é um projeto estratégico, que abrirá um horizonte amplo para a nossa economia, reforçando a tendência transformadora que faz nascer na secular pobreza do sertão os novos ricos; uma nova classe média, e trabalhadores com emprego certo e carteira assinada.

O agronegócio não será plenamente realizado enquanto não se associar à industrialização, e o leite é o tipo de produto que pede, que exige, ser industrializado. Nisso, se diferencia dos outros: da soja, dos minérios, das carnes, aquelas chamadas commodities, que rendem muitas divisas, não deixam de ser algo fabuloso, mas, cresceriam de importância econômica, social e até estratégica para o país, se, ao invés de vendidas in natura, fossem processadas, industrializadas. Hoje, vendemos ferro e importamos trilhos, vendemos soja, milho, carnes, e importamos alimentos industrializados.

O leite e a indústria estão associados, são bons e indispensáveis parceiros, e o que se impõe, hoje, é a necessidade de sofisticar a sua utilização como matéria-prima para uma variedade de produtos, inclusive da química fina.

O Estado, como indutor e planejador do desenvolvimento, poderia elencar essas alternativas e oferecê-las aos investidores, como atrativos “presentes”.

Um dia, no governo Marcelo Déda, o asfalto chegou a Santa Rosa do Ermírio, e um obstáculo, que era o transporte do leite por uma precária rodovia foi removido. 

Depois, no governo de Belivaldo surgiram: o projeto de melhoria dos rebanhos leiteiros através da inseminação, e mais uma espécie de subsidio às poucas vaquinhas, daqueles que são pobres, mas, querendo crescer e produzir mais. Está em andamento a construção do Parque de Exposições da Pecuária Leiteira, uma vitrine da prosperidade, e um núcleo gerador de negócios.

Com a água, o crescimento da produção será imediato, e também a ampliação do rebanho, o que exigirá comida, silagem disponível. Além da água para dessedentar o rebanho terá de ser ampliada a produção de milho irrigado, e outras forrageiras. Isso poderia ser tentado nas várzeas do próprio São Francisco, reduzindo-se o custo da irrigação, também, nos perímetros irrigados, ou, num projeto maior, que foi tentado no último governo de João Alves, todavia, numa escala muito ambiciosa. Trata-se do Projeto Quixabeira, em Canindé do São Francisco. Perdeu-se quase toda a tubulação que ficou armazenada a céu aberto, e foi simplesmente roubada, dela, restou uma pequena parte, além de alguns quilômetros de tubulação que permanecem enterradas. São tubos de mais de um metro de diâmetro. O Projeto poderia ser revisto e redimensionado. A terra é das melhores que existem, a área plana, e beirando o rio. O MST ocupou uma parte, algumas são produtivas, outras não. Um acordo com quem já está ocupando poderia ser feito, e o Projeto Quixabeira, com investimento bem menor do que foi aplicado em outros perímetros, poderia suprir a necessidade de silagem dos rebanhos. Seria factível a possibilidade de uma PPP entre Governo, industriais e produtores do leite.

O cenário está pronto para a decolagem. Mas falta o combustível. No caso, a água.

Ao incluir a “ Adutora do Leite“ no seu Plano de Governo, Fábio Mitidieri assumiu um compromisso. Ele conhece e convive de perto com o problema, e não irá postergar a sua solução. Mas a bancada sergipana não poderá ser indiferente.

CONTINUA .......

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AS ARMAS E OS ARMADOS


Armas em mão insensatas acabam sendo usadas contra as forças de segurança.


Luiz Vaz de Camões, assim começa o seu alongado e épico poema Os Luzíadas: “As armas e os barões assinalados"............. E, em seguida, vai o poeta listando os feitos heroicos da gente lusitana. Estávamos no século XVI, um tempo de conquistas, com os europeus se espalhando pelo mundo, pelas partes habitadas e as desconhecidas, ocupadas tanto por gente civilizada como por gente selvagem. Aos dois, civilizados e silvícolas, era preciso submeter ao domínio colonizador. E, para isso, eram necessárias armas mais eficientes.

Ao longo da história as armas sempre estiveram presentes, fazendo a glória dos vencedores e a desgraça ou o opróbio dos vencidos.

Depois de tantas guerras, de tantos morticínios, de tantas catástrofes, o mundo civilizado, dito moderno, continua sendo um gigantesco arsenal, utilizado vez por outra, como faz agora, de forma insana e cruel a Rússia contra a Ucrânia.

A posse das armas sempre foi um privilégio de quem tinha condições financeiras para possui-las. Forjar uma espada custava dinheiro. Os nobres, os aristocratas, os gentis-homens, eram sempre treinados na arte das armas, bons espadachins, bons cavaleiros.

Até o século XVIII, circular à noite nas ruas de Paris, podia ser uma empreitada perigosa, não tanto, talvez, como penetrar por descuido em algumas áreas do Rio de Janeiro, controladas pelo tráfico ou as milícias. Em Paris, uma espada na mão de um adestrado espadachim, era arma quase infalível contra brutais salteadores. No caso das comunidades cariocas, qual a arma que assustaria traficantes e milicianos?

Mas, com o tempo, o uso autorizado de armas foi sendo restrito aos militares, e às forças de polícia. Presume-se, hoje, que as instituições estejam aptas a garantir a segurança coletiva.

A arma não é um acessório indispensável, pelo contrário, feliz do país onde as pessoas, podem andar tranquilamente desarmadas.

Falam agora, certos círculos radicalizados, que a arma é indispensável para assegurar a liberdade do cidadão, até mesmo contra os desvios do próprio Estado.

Nesse caso a segurança individual dependeria da capacidade dos bolsos para garantir a compra de uma arma que não é barata. Aos pobres, restaria então a alternativa de correr ou ser abatido pelos ricos armados que se considerassem molestados.

Vivemos, nos últimos anos, o exagero impensável de uma corrida às armas, motivada pela cantilena insistente de que a liberdade reside na posse de uma pistola ou de um fuzil.

Que liberdade? aquela que teve Roberto Jeferson para atirar contra a Polícia Federal?

Que liberdade? Essa que leva um adolescente de 16 anos a invadir armado e repleto de munição uma escola para matar professores e alunos?

Essas cenas terríveis que estamos assistindo agora com frequência assustadora, resultam desse culto desatinado às armas.

Quando um adolescente vê o seu professor, ou até autoridades, o próprio presidente da República exibindo armas, e fazendo apologia ao seu uso, logo imagina que, para empoderar-se, para tornar-se “o cara” da sua turma, da sua escola, é preciso saber empunhar uma arma, e acionar o gatilho, promovendo cenas tétricas de morte, sangue, sofrimento e desespero.

Precisamos enxergar o nosso país como uma terra onde a felicidade é possível de ser sentida, e sejam enxergadas todas as dimensões fascinantes da vida.

E em um novo e fraterno cenário, que ninguém se sinta atraído pelo apocalipse da estupidez, usando uma arma para invadir escolas, espalhar o terror e a morte, num holocausto de sangue.

Ou, para nos ameaçar com um banho de sangue e, talvez, as atrocidades de uma guerra civil, alimentada pelo ódio entre as partes conflitantes.

Como leitura útil e oportuna, é bom passar a vista sobre a história da Guerra Civil Espanhola, (1936-1939). 

 

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