Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
O GOVERNO DE FÁBIO MITIDIERI (2)
15/11/2022
O GOVERNO DE FÁBIO MITIDIERI (2)

De Dedá a Mitidiere, 16 anos de poder.
 


(O peso ou a vantagem dos 16 anos)

O modelo político ao qual se integra o governador eleito Fábio Mitidieri está chegando, agora, os 16 anos. A jornada, alongada, teve início quando o Prefeito de Aracaju Marcelo Déda, renunciou no meio do segundo mandato para fazer o temerário desafio ao poder indiscutível do governador João Alves, que buscaria a reeleição, tendo o enorme e raro capital  de uma sólida base geradora de votos, e, mais ainda, uma apreciação positiva entre os sergipanos que nele enxergavam o engenheiro das grandes obras, o visionário de transformações. Naquela acirrada disputa, ele, de metro em metro, ia exibindo o nascer da ponte em andamento sobre o estuário do rio Sergipe, o “impossível" caminho direto entre Aracaju e a Barra dos Coqueiros. Com a portentosa obra, esperava ganhar a eleição por larga margem em Aracaju, o que não aconteceu. Na Barra dos Coqueiros já havia o porto, e lá, por obra e graça da ponte foi possível, durante o governo Marcelo Déda, instalar-se a maior termelétrica do país.

 
Hoje, ali, abrem-se as portas para um passagem estratégica ao futuro de Sergipe. Caberá ao governador Fábio Mitidieri comandar um complexo processo visando atrair investidores, e tornar o presidente Lula um aliado dos nossos objetivos, demonstrando, a ele, que Sergipe poderá contribuir para a imperiosa necessidade de reindusrializar o Brasil, ofertando energia quase limpa, com a disponibilidade do gás, e sendo instaladas mais duas grandes termelétricas, também fotovoltaicas, que precisam sair do papel. É imprescindível ampliar o polo de fertilizantes, o potássio entre eles, desde que retomado o Projeto Carnalita. O agronegócio brasileiro poderá ser um grande parceiro, sob a ótica da necessidade de reduzir a dependência aos fertilizantes importados, e Sergipe pode contribuir para isso a médio prazo, se for acelerada a entrada em operação dos campos produtores de gás na nossa plataforma.
 
Fábio terá de sair em busca de investimentos nacionais e estrangeiros, ampliar a presença da PETROBRAS, da EXXON, aproveitando a reinserção do Brasil ao mundo, no decorrer do governo Lula. E terá de vestir os trajes da modernidade, para fazer face a um outro desafio: a inclusão da pauta ambiental como diretriz ambiciosa das nossas metas econômicas, que, paradoxalmente, terão de basear-se no gás e  óleo, cuidando-se, paralelamente, de formatar uma economia zero carbono.

Voltando ao início, ou ao partejar desse conglomerado político que irá completar vinte anos comandando Sergipe.

Déda entendeu que era indispensável ir além da estreiteza eleitoral do PT e dos nanicos de esquerda, com os quais contaria. Jovem, impetuoso, oratória flamejante, culto, esta última, uma qualidade rareando no nosso palco político, ele decidiu balançar o tronco enraizado do conservadorismo sergipano, tentando, dele, catar alguns frutos que o ajudassem a ganhar massa eleitoral. Como Prefeito, Déda já firmara a reputação de administrador competente e cuidadoso no trato com o dinheiro público.

O tronco balançado foi o do PSDB, e revelou-se promissor, porque, enjoados com o ping-pong, entre PSDB-PFL, e ansiosos por um arejamento na vida pública sergipana, houve a revoada tucana em direção ao PT. Não havia nisso nenhuma nesga de oportunismo, talvez, alguma questão municipal irresolvida, mas, no conjunto, os deputados estaduais que formaram a vistosa dissidência, demonstraram desapego às suas próprias candidaturas, (seriam vetados nos horários eleitorais do partido) e correram o grande risco de um improvável sucesso.
 
Com a chegada dos deputados Luiz Mitidieri (pai de Fábio) Jorge Araújo, Ulices Andrade e Bosco Costa, que levaram com eles muitos prefeitos, os cálculos meticulosamente feitos, revelaram que a candidatura de Marcelo Déda estava viabilizada, e tudo dependeria, agora, da sua extraordinária capacidade de conquistar eleitores, com a eloquência dos seus discursos, o carisma imenso, realçado pela teatralidade de gestos, que transmitiam simpatia e sinceridade.

Com a elegância que cultivava, no dia da transmissão do cargo no Teatro Tobias Barreto, tendo João Alves democrática e republicanamente ao seu lado, disse o novo governador: “A extensão dessa vitória se pode medir homenageando a grandeza do adversário”.

A arquitetônica do grupo que se formara e alcançava o poder, ao longo desses dezesseis anos seria alterada com defecções e novas adesões. Mas, houve uma sucessão de vitórias, a penúltima delas com o recorde alcançado por Belivaldo Chagas, indo além dos 300 mil votos de diferença.

O grupo se viu inesperadamente rachado, quando Rogério esqueceu-se de tudo o que não fossem os seus próprios interesses, e saiu, disparando pesado contra os aliados da véspera.

Por um triz, ele não foi eleito governador, não conseguiu capitalizar a seu favor, a insatisfação e o cansaço que existem na sociedade. Não é uma singularidade sergipana, mas, uma onda vasta que percorre o país, e é engrossada com a odiosidade e o fanatismo extremista, instalados nesses últimos anos.

De tanto atacarem a política e os políticos, acabaram por corroer os fundamentos do Estado, visto como um estorvo inútil, que terá de ser removido, sem que indiquem como será o substituto. As instituições estão sendo propositalmente desacreditadas, e dessa corrosão não escapa nenhum dos poderes. Isso faz parte de um extremismo que percorre o mundo. Não se cometerá o erro de classificar todo o bolsonarismo como extremista, apenas, nele identificar uma minoria barulhenta e sem limites. Agora mesmo, o senador eleito Laércio Oliveira, bolsonarista, faz uma declaração pública contra os que pregam a intervenção militar. Sem sequer terem uma visão geopolítica para entenderem que, havendo essa intervenção, terminaríamos nas órbitas da Rússia ou da China, por uma questão de sobrevivência do regime rejeitado pelo resto do mundo democrático.

Valmir de Francisquinho, um politico do “baixo clero", ex-prefeito de Itabaiana, sem expressar nenhuma ideia concreta, sem explicitar para o que vinha, apenas transmitindo simpatia, alinhou defeitos e falhas, prometendo corrigir tudo, e assim, transformou-se do dia para a noite num campeão de votos. Seria eleito no segundo turno, sem contar a seu lado com nenhuma das maiores lideranças politicas de Sergipe, não houvesse sido embargada pelo TSE a sua candidatura. No primeiro turno foi vencedor por larga margem.

Fábio Mitidieri, jovem, e chegando ao governo sem nunca antes ter exercido um cargo executivo, terá nisso uma vantagem, ao ser visto como novidade.

Assim, ele precisará ser contemporâneo atento às aceleradas transformações, que fazem recair de forma permanente sobre os gestores públicos a carga imensa de inusitados desafios.
(Continua) 
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(Governar, ou reinstalar o Estado?)
 

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AS VIVANDEIRAS E O MARECHAL CASTELLO BRANCO

Por uma questão de elegância e respeito às mulheres, hoje, o Marechal Castelo Branco não usaria o termo vivandeiras.

Humberto de Alencar Castello Branco era um militar sisudo, sempre, e mais ainda quando enviuvou, perdendo Dona Argentina o amor da sua vida, de tenente a general. Tinha entre os camaradas uma elevada reputação. Não era o que os franceses denominam um “trouppier", ou combatente por excelência, sempre junto à tropa. Era um “sorboniano", como no Exército denominavam os seus intelectuais integrantes da ESG, a Escola Superior de Guerra, presunçosamente comparados aos egressos da referenciada Universidade parisiense.

Castello, todavia, além de ser intelectual, de apreciar os clássicos franceses, e falar com desenvoltura a língua de Balzac, combateu na Europa. Fez parte, como tenente-coronel do Estado Maior do general Mascarenhas de Morais, comandante da Divisão brasileira, e saiu-se muito bem da empreitada ousada das tropas de um país subdesenvolvido, que se foi bater (9/44-5/45) nos contrafortes nevados dos Apeninos italianos, contra a moderna e poderosa máquina de guerra dos alemães, experimentados veteranos, sobreviventes dos combates que travavam por toda a Europa e África, desde setembro de 1939.

Em março de 1964, Castello, já general de exército, era o chefe do Estado Maior e conspirava para afastar João Goulart do poder, bloqueando a ameaça de uma “República Sindicalista", que entendia sendo formada, como o passo final que levaria o Brasil para a órbita da União Soviética comunista, o colosso militar-ideológico, que disputava com os Estados Unidos a hegemonia no planeta.

Foi surpreendido no modesto apartamento em Copacabana, com a informação de que as tropas do general Olympio Mourão já se deslocavam desde Juiz de Fora em direção ao Rio, prontas a enfrentar as tropas legalistas do general  ncora, que desistiu cedo de travar uma batalha imprevisível, entre dois exércitos com escassa munição, e escasso ânimo combatente para uma carnificina entre irmãos.

Vitoriosa a Revolução de 31 de Março, como logo a denominaram os vencedores, ou de 1º de Abril, como preferiram chamá-la os vencidos, após idas e vindas, Castello, foi escolhido presidente, com apoio militar e a influência politica dos dois “generais-civis" da revolução, Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, e o apoio do ex-presidente Juscelino Kubitscheck, que era Senador e na “eleição indireta”, votou em Castello. Sem imaginar, evidentemente, que meses depois por ele seria cassado.

Havia, marcada para outubro de 1965 a eleição para presidente da República. Carlos Lacerda era candidato quase a um passeio eleitoral, protegido por baionetas e sem adversários; mas, resolveram prorrogar o mandato de Castello e suprimir, indefinidamente, as eleições diretas.

Num tempo em que alguns jornais no Rio e São Paulo ainda tinham o “privilégio” de desafiar a censura, Lacerda, furioso, investia contra o presidente que escolhera. Entre outras coisas disse: "Castello é mais feio por dentro do que por fora”, “Castello, o anjo da rua Conde Laje". Explicando: Chamar Castello de bonito “por fora" seria quase ofendê-lo, mas, “por dentro", suas qualidades eram exaltadas. E rua Conde Laje, era sinônimo de puteiro.

Muito assediado por políticos, “os que batiam às portas dos quarteis” pediam um regime mais forte e mesmo totalitário, com ele à frente, Castello, que desejava um tempo de excessão o mais curto possível, foi buscar nos seus alfarrábios de tenente um velho termo utilizado nos velhos exércitos em marcha, para qualificar prostitutas que os acompanhavam na retaguarda, oferecendo a soldados e oficiais os seus "serviços". Aproveitou, também, para fustigar Carlos Lacerda, de quem já fora eleitor declarado, e soltou a expressão: “Em torno dos quarteis estão as vivandeiras a bater nos seus portões".

Entre os políticos foi um corre-corre em busca do dicionário.

Castello, que combatera o nazifascismo, tinha formação liberal, aceitou comandar um regime de força sem perder a convicção civilista, e entendia que estava a cumprir uma missão por curto tempo, até a restauração plena da democracia. Por isso, quase foi deposto pelos radicais fardados e engravatados, que levaram Costa e Silva ao poder, depois, em 1968, por sua vez, Costa e Silva para não ser deposto pelos mesmos radicais, teve de assinar o Ato Institucional nº 5. Essa história é bem conhecida.

Se vivo fosse, o que diria hoje o Marechal  Humberto de Alencar Castello Branco, sobre esses ingênuos, equivocados ou fanáticos, que pretendem fazer do Brasil um imenso quartel com “um rei, e sem lei"?

Elegante, educado, ele não reviveria o mesmo termo aplicado aos políticos que, naquele tempo, eram quase cem por cento homens, em consideração às mulheres também às portas dos quarteis; mas, certamente, recomendaria aos militares, dentro deles, que tapassem os ouvidos aos tresloucados urros dessa horda semi-selvagem dos que se dizem “patriotas", e não passam de uma ridícula minoria, querendo anular uma eleição onde votaram mais de cento e vinte milhões de brasileiros.

Patriotismo não se confunde com ANARQUIA.
 

INFORME PUBLICITÁRIO

Sergipe ampliou em 60% Cofinancimento para Assistência Social nos 75 municípios
Repasse mensal é usado para manutenção de equipamentos, oferta de serviços, benefícios e acolhimento institucional para famílias socialmente vulneráveis

A Rede da Assistência Social está presente em 100% do território sergipano,  atendendo diariamente pessoas em situação de vulnerabilidade social e violação de direitos. Para a manutenção dos equipamentos municipais, Sergipe por meio da Secretaria de  Estado da Inclusão e Assistência Social (SEIAS), paga mensalmente o chamado Cofinanciamento Estadual da Assistência Social. Em 2022, os 75 municípios sergipanos passaram a contar com um aumento de 60% no valor do repasse mensal.

O aumento teve o objetivo de fortalecer a rede de atendimento, elevando de R$ 12 milhões para R$ 19,2 milhões o valor anual investido pelo Estado no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em Sergipe. O repasse mensal é correspondente à parte que  cabe ao Estado no Cofinanciamento Tripartite da Assistência Social, voltado para a manutenção dos serviços de Proteção Social Básica (PSB) e Proteção Social Especial (PSE) de Média e Alta Complexidade, e os Benefícios Eventuais tipificados no SUAS e  executados pelos municípios. 

Desde 2019, com a retomada do cofinanciamento, Sergipe avançou no fortalecimento do SUAS para melhor atender ao público. As ofertas do SUAS funcionam como porta de entrada dos mais vulneráveis para atendimento,  acompanhamento, acolhimento e  concessão de benefícios pelas três esferas da Federação. E a partir de maio deste ano houve a ampliação do cofinanciamento estadual para os 75 municípios. Além disso, também neste ano retomamos o CapacitaSuas para gerar mais qualificação para os trabalhadores do SUAS de Sergipe, bem como o Apoio Técnico para gestores e equipes técnicas dos Cras e Creas. 

SUAS em Sergipe

O Cofinanciamento Estadual é utilizado para a manutenção de serviços de proteção social para as famílias socialmente vulneráveis. Fazem parte da rede a Proteção Social Básica (PSB) e a Proteção Social Especial (PSE) de Média Complexidade, por meio de  108 Centros de Referência em Assistência Social (Cras) e 79 Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas) presentes em todos os municípios, além dos outros equipamentos socioassistenciais, como o Centro de Referência Especializado  para População em Situação de Rua (Centro-Pop), Centro DIA (que atende jovens e adultos com deficiência e dependem de outras pessoas).

Também faz parte da rede socioassistencial em Sergipe a PSE de Alta Complexidadee unidades de acolhimento, como Abrigos e Casas-Lares. Além disso, o Confinanciamento Estadual também é utilizado para custeio dos benefícios eventuais concedidos às  famílias em situação de vulnerabilidade social nos municípios.

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