Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O GENERAL TRAPALHÃO E O CAPITÃO ATURDIDO
03/10/2018
O GENERAL TRAPALHÃO E O CAPITÃO ATURDIDO

O presidente Getúlio Vargas, eleito democraticamente em 1950, após 15 anos da ditadura iniciada em 1930 e encerrada pela força das armas em 1945, preparava-se para comparecer a um evento no qual anunciaria medidas populares, entre elas a elevação do salário mínimo, que estava congelado desde que ele fora deposto, e em seguida eleito o marechal Eurico Gaspar Dutra. Getúlio enfrentava uma dura oposição, e começavam a ocorrer atos de indisciplina nas forças armadas.

Era o dia 28 de janeiro de 1954, um grande comício seria levado a efeito na espaçosa esplanada do Castelo. Preparando-se para deslocar-se ao local em companhia do Ministro do Trabalho João Goulart, que tinha sólidas articulações com o sindicalismo, Getúlio foi advertido que os comunistas e sindicatos rebeldes já haviam ocupado a praça, e que surgia uma profusão de faixas e cartazes exigindo cem por cento de aumento do salário, regulamentação das leis trabalhistas, e o congelamento de preços, além de incisivas criticas ao governo. Getúlio cancelou a ida ao comício, e o palanque foi tomado por exaltados oradores da esquerda, que se associavam à direita representada pela UDN, e ao ousado porta- voz do golpe, o jornalista Carlos Lacerda.

Getúlio não congelou os preços, mas fez hibernar o decreto de duplicação do mínimo.

A agitação transferiu-se aos quarteis, e em fevereiro explodiu, ampliando o tumulto, o Manifesto dos Coronéis, assinado por 82 oficiais naquele posto, todos na ativa. No parágrafo final assinalavam os signatários: ¨A elevação do salario mínimo que nos grandes centros do país quase atingirá o nível dos vencimentos máximos de um graduado, (sargentos) resultará por certo, se não corrigido de alguma forma, em aberrante subversão de todos os valores profissionais¨.

Os exaltados militares exigiam a exoneração de Jango, e Getúlio os atendeu.

Mas, no dia primeiro de maio, sem ir ao estádio do Vasco da Gama como fazia todos os anos, Getúlio anunciou pela Voz do Brasil o aumento de 100 % no salário mínimo. 48 horas depois, dava entrada na Câmara Federal um pedido de impeachment contra o presidente Getúlio.

Sessenta e quatro anos transcorridos, a questão do salário mínimo ainda está no fulcro das decisões econômicas, e atrelada ao esfarelamento das contas da previdência social.

Mas, hoje em dia um ponto perfeitamente pacificado é a determinação constitucional da existência do décimo terceiro salário, e do direito às férias remuneradas. Os empresários são quase unanimes em reconhecer que o acréscimo de mais um salário e o reforço das férias remuneradas são instrumentos dinamizadores, fazendo crescer o consumo, o que em ultima analise resulta em ganhos sociais e econômicos para toda a população.

64 anos transcorridos desde que colegas seus assinaram um manifesto contra o aumento do salário mínimo, o general Mourão, vice arrogante do capitão Bolsonaro, retroage decepcionantemente no tempo, para condenar direitos adquiridos, e que a ele, como servidor público, também beneficiam. O general entende que empresário não pode pagar o décimo terceiro salário a quem só trabalha doze meses, e mais ainda o descanso remunerado, para ele dois absurdos que estariam emperrando a nossa economia.

Essa visão atrasada, obscurantista, absurda, gerou uma indignação tão grande, inclusive entre os próprios empresários, e o capitão, para não perder mais votos deu um pito publico no general a quem desautorizou.

Esse quadro é resultante da incapacidade politica e administrativa de Jair Bolsonaro para traçar os rumos da sua campanha, por nada entender de economia, e subordinando-se ao pensamento do seu guru econômico que andou prometendo novos impostos, ampliando a escorchante carga tributária, gerando desconforto enorme entre empresários, seduzidos pelas frases curtas que Bolsonaro usa, para de forma simplória e tantas vezes desconexa, tratar de problemas complexos, sobre os quais ele absolutamente nada entende.

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