Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O FIM DO PIOLHO E A “SALA ESCURA E SECRETA” (uma declaração de voto)
01/10/2022
O FIM DO PIOLHO E A “SALA ESCURA E SECRETA” (uma declaração de voto)

Devo completar breve 82 anos. Sou otimista, e tenho um imenso sentimento de empatia com a vida. Assim, imagino estar vivo em 2026, para, outra vez, participar do ritual sacrossanto da democracia, e digitar meus votos na urna eletrônica.

Nós, brasileiros, temos ainda o privilégio de exercer, livremente, o direito de votar. Fazemos parte dessa minoria, os 40% da população mundial à sombra protetora de Constituições que dão forma ao Estado Democrático de Direito. Eles podem, assim como nós brasileiros, desfrutar desse convívio programado e certo, com a mais solene e ao mesmo tempo popular dasliturgias: as eleições.

Ao longo desse tempo de vida, transitei entre a ilusão da crença na revolução social, até chegar a um estado de decepcionante frustração, vendo, de perto, as entranhas do chamado “socialismo real"; desde o tacão das botas russas no leste europeu, ao langoroso clima do Malecón, em Havana, onde a ruina das antigas mansões demagnatas cubanos, revela a incapacidade de um Estado policial, e ineficiente, até mesmo para transformar aqueles palacetes confiscados, em milhares de moradias decentes para os pobres.

Hoje, tenho a certeza de que nenhuma ideologia se aquietará no espaço volátil de um cérebro inteligente.

E tenho uma outra certeza:qualquer forma de progresso material, somente será consolidado, se correr paralelo às transformações sociais. E isso somente poderá acontecer onde existir a democracia radicalmente ampla, e participativa. É possível assim, chegar a algo parecido com as democracias sociais dos países nórdicos e de alguns outros.

No dia em que o Brasil aquietar-se nessa forma de agir e de viver, sem tumultos, sem ódios, estaremos nos aproximando do sonho que não é utópico, de um país sustentável, desenvolvido, e socialmente equidoso. Em resumo: poderemos nosincluir entre as quatro maiores potências econômicas do mundo, continuando como grande exportador de alimentos, preservando a Amazônia, e sem cometer o crime hediondo de tolerar, entre nós, o flagelo da fome, resultado de um outro flagelo: a insensibilidade, de mãos dadas com a incompetência. 

Desde o meu primeiro voto, até o que espero digitar agora, nunca vivi um tempo em que os brasileiros estivessem se entredevorando, tratando-se como figadais inimigos, e alguns lambendo, literalmente,o cano de armas, antecipando aquele prazer psicótico, ou freudianamente erótico, de usá-las contra algum inimigo, um outro brasileiro qualquer, que, ao invés de ter arsenais para “lamber armas", prefere  cuidar bem de uma biblioteca. 

É urgente, é imperioso, é mesmo um imperativo de salvação nacional, por um fim a esse cenário de conflitos, antecipação de uma guerra civil, ou de uma ditadura, resultante da carnificina nas ruas, provocada pelo fanatismo dos que têm armas, e começam a se enxergar como centúrias belicosas a serviço de um projeto pessoal de poder.

O fim desse conflito, a forma de nos livrarmos da hecatombe, depende, apenas,do cumprimento dos rituais democráticos. Só a democracia plenamente exercitada nos livrará de uma pressentida tragédia.

O processo político afunilou-se, e nos levou ao confronto entre Bolsonaro e Lula.

Por mais que fosse tentado não se chegou a uma escolha que viesse a reduzir a polarização, que inflama os dois lados.

Um episódio simples, quase insignificante, me faz entender a origem dessa identidade com o povo, que fez de Lula a única alternativa possível para se colocar, com chances de sucesso, e enfrentar Bolsonaro.

Chegou a nossa reserva ambiental no meio das caatingas em Canindé, uma jovem amiga, professora de arte, que é também artista,e prosadora no teatro amplo do sertão, Val Santos. Ela vinha de uma visita a um povoamento isolado em meio à aridez que cresce, com a caatinga devastada. Ela ouviu de uma mãe e avó o relato: “Antes de Lula ser presidente, a gente acordava de noite com os meninos chorando de fome e azucrinados pelos piolhos, chupando o sangue do couro da cabeça deles, então, eu acendia um candeeiro, e ficava catando piolho e enganando a fome com pirão de farinha d`água.

No tempo de Lula, chegaram uns homens aqui espalhando os postes e os fios, botaram lâmpadas dentro da casa, que já era essa aqui, de alvenaria, que o MST fez,depois que nos passamos dois anos debaixo de uma lona preta, esperando ganhar uma terra. Os meninos deixaram de sofrer com os piolhos, porque, com a Bolsa Família a gente não morria de fome, e sobrava um dinheiro para comprar sabão de alcatrão, e os bichos sumiram”.

Quando essa luz chegou pelo sertão, fazia mais de cinquenta anos que existia Paulo Afonso, mas, tudo aqui em volta ficava no escuro.

Alguns dirão: mas agora tem o Auxílio Brasil, duas três vezes maior.

A mesma senhora que lembrou do fim dos piolhos, deu resposta a essa eventual observação, quando, à sua porta chegou um candidato pedindo-lhe o voto e exaltando Bolsonaro.

Disse ela: “Ele fez essa Bolsa Família dele, mas agora a gente tem rádio, tem televisão, e sabe o que ele fala e sente, e que só deu a ajuda quando já estava perto da eleição.” 

Mesmo não sendo Lula o candidato,qualquer outro que viesse a ameaçar a reeleição de Bolsonaro, seria o alvo de uma campanha radicalizada, repleta de xingamentos, ameaças, e toda sorte de absurdos, inclusive institucionais.

Bolsonaro, com seu discurso extremado, suas atitudes desafiadoras, a imensa capacidade de insuflar, sua índole anarquista, seu desprezo pelas instituições, seu nojo ao ordenamento constitucional do Estado, a profunda ignorância a respeito do seu próprio cargo, a incapacidade para enxergar as nuances de uma sociedade plural, tudo isso, faz dele um frustrado,apesar do cargo que ocupa, e do imenso poder que concentra em suas mãos. Ele delira, imaginando-se um Bolsonaro primeiro e único. Aliás, um carnavalesco Rei Momo, nunca se afasta da definição: Primeiro e Único. Durante a fuzarca do seu reinado só ele impera, e dura até a quarta-feira de cinzas.

Acontece, que o Brasil não suporta mais essa fuzarca institucional, que é apenas o prelúdio para a demolição de todo o nosso sistema protetor, a essência da Constituição de 1988.

O que está em questão agora, é a salvaguarda do nosso regime democrático, da nossa civilização, do respeito internacional que ainda desfruta o nosso país.

Bolsonaro, conquistando um segundo mandato com o respaldo do voto popular, dará mais ênfase às suas intenções de subjugar e demolir tudo o que ele entende como obstáculos à sua sonhada criação de algo muito parecido com o Estado fascista, desenhado com as cores cinzas de uma atrevida ignorância, pela figura circense do embusteiro colocado no palco, para contracenar com ele, no debate final na Rede Globo.

Da mesma forma que fez pouco caso da importância daquele momento para a civilidade política; para a nossa história de vida democrática, e assim, desrespeitou os seus adversários, menosprezou os milhões de brasileiros que acompanhavam o debate, ele fará mais ainda, ao longo de um eventual segundo mandato.

Nunca, na história deste país, o voto foi tão importante como este, que amanhã estaremos digitando. Gostando ou não gostando de Lula, mesmo reconhecendo nele, tantos erros, tantos constrangimentos que permitiu, nos fossem causados, em Lula não haverá um projeto de ditador, sobretudo, porque é um filho reconhecido da nossa democracia, que lhe permitiu fazer o roteiro árduo dos sertões pernambucanos, ao sol das estradas, ao desalento da vida numa favela paulistana: para fazer-se líder, traduzir sentimentos do povo, e chegar duas vezes à Presidência, sem nenhum arreganho de natureza autoritária, sem nenhum intento de alterar as regras do jogo, sem afrontar os outros poderes, sem investir contra o nosso moderno, eficiente e seguro sistema eleitoral.

Sobretudo, Lula sabia que na cabeça do menino pobre proliferavam os piolhos, onde não existia o sabão, e a agonia se ampliava com as agruras insuportáveis da fome.

Aquela sala secreta e escura que Bolsonaro numa das suas incontáveis sandices disse a respeito do centro que comanda as apurações dos votos, ficou provado que não existe, e nunca existiu, necessitando que, para isso, tudo fosse aberto à visitação de autoridades, onde estava, de cenho carrancudo, o nosso general Ministro da Defesa, talvez, constrangido, naquela pantomima que foi obrigado a participar, pela subordinação hierárquica que tem ao Presidente da República. Disciplinado,deve ter dividido com os seus botões a tristeza de constatar que o Presidente da República Federativa do Brasil, não tem muito apego à veracidade do que apregoa.

A  “sala escura", irreal e inexistente, é mais um dos absurdos gerados na escuridão mental de uma cabeça perturbada pelos delírios de um poder absoluto.

Cada voto depositado hoje contra Bolsonaro, será uma pequena fagulha a nos livrar da ameaça de que se espalhe, pelo país, a escuridão completa de um cérebro doentio, e em permanente estado de transe psicótico.

 

INFORME PUBLICITÁRIO 

Sergipe registra queda no índice de vacinação geral, sobretudo em crianças e adolescentes nos últimos três anos. A redução é resultado de uma tendência que atinge o Brasil desde 2015, mas que se acentuou com o início da pandemia da Covid-19.

O cenário é preocupante, principalmente, quanto a cobertura de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (Tríplice Viral D1). De janeiro a setembro do ano passado, a cobertura vacinal foi de 56%. Este ano, 41 %, segundo dados do Programa Estadual de  Imunização da Secretaria de Estado da Saúde.

Situação semelhante acontece com a imunização contra a paralisia infantil. A cobertura da vacinação contra poliomielite caiu de 73%, da janeiro a setembro de 2021, para 64% este ano de 2022. Embora o Brasil esteja livre da paralisia infantil desde 1990 é  fundamental a continuidade da vacinação para evitar a reintrodução do vírus da poliomielite no país. 

Diante do cenário de baixa cobertura vacinal, a Secretaria de Estado da Saúde (SES), vem impulsionando o movimento "Vacina Mais Sergipe"; para ratificar a vacina enquanto meio essencial para erradicar e impedir o retorno de doenças.

A Secretaria de Estado da Saúde reforça que todos os pais e responsáveis têm a obrigação de atualizar as cadernetas de seus filhos, em especial das crianças menores de cinco anos que devem ser vacinadas conforme esquema de vacinação de rotina.

A maior parte das doenças infecciosas graves podem ser, atualmente, evitáveis através de vacina. Porém, é preciso estar atento ao calendário de vacinação. Sergipe conta hoje com 489 postos de saúde, distribuídos entre sede e povoados, além das unidades  hospitalares que recebem as vacinas para recém-nascidos (BCG e contra Hepatite B).

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