Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
O CAOS EM CANINDÉ E OS GRITOS QUE NÃO SE OUVEM
17/09/2019
O CAOS EM CANINDÉ E OS GRITOS QUE NÃO SE OUVEM

(Ednaldo, o prefeito ausente)

Os gritos abafados da indignação de um povo sofrido, enganado, traído, não vencem a distância que separa o município, para reverberarem além da terra desprezada, plantando uma tênue esperança de que algo venha a ser feito contra a omissão, a indolência e a rapacidade que se instalaram na Prefeitura de Canindé do São Francisco.

O prefeito Ednaldo, por inexperiência, incapacidade ou comodismo, logo que assumiu a prefeitura após a morte do prefeito Orlandinho Andrade, entregou a gestão municipal à advogada Kátia Siqueira. Dizem, os que conhecem a referida senhora que a sua carência de conhecimentos jurídicos contrasta com a imensa capacidade que tem de ultrapassar todos os obstáculos éticos, e assim, desde março de 2017, vem montando com requintes mafiosos, uma rede de interesses pessoais interligados, que lhe permite, além de comandar o fluxo de caixa do município, ampliar seus tentáculos por todas as secretarias, nomeando, demitindo, mandando, e sobretudo desmandando.

A advogada apropriou-se do município, o prefeito apenas lhe obedece, e nisso se torna igualmente cúmplice das trampolinagens que acabaram por transformar a Prefeitura no covil odiado, onde se acomoda um pequeno grupo que pensa em muitas coisas, ilícitas, de preferência, menos, nos interesses do município e do seu sofrido e humilhado povo.

A arrecadação de fato caiu. Diversos fatores contribuíram para isso.

Quando iniciou-se o mandato de Ednaldo, e, consequentemente, as reinações de Kátia Siqueira, o município já sofria os efeitos da queda de receita, que despencara de uma média de 11 milhões ao mês para algo em torno de 7 milhões, mas, iniciou-se uma vagarosa recuperação, para chegar-se hoje a uma média superior a 8 milhões mensais.

Quando Heleno Silva encerrou o seu mandato, sendo substituido por Orlandinho que, doente, morreria 4 meses depois, o limite prudencial para despesas com os salários fora ultrapassado, mas estava em torno de 60 %.

Ednaldo elevou essas despesas para quase 80%. Houve nomeações excessivas de contratados, alguns, privilegiadíssimos, no gabinete do Prefeito, onde poucos comparecem, a começar pelo próprio chefe do executivo municipal.

Essa ausência de responsabilidade fiscal ocorre, porque, segundo voz corrente, instituiu-se no município a “rachadinha”, e há o dedo da ex-Procuradora, que preferiu exonerar-se para manobrar tudo sem ocupar cargos, o que lhe pareceria talvez, ser um bom álibi, no caso de ser levada algum dia a prestar contas dos seus notórios feitos.

Enquanto isso, o sistema de ensino municipal perdeu nesses quase três anos algo próximo a mil alunos. Por desídias sucessivas acumuladas nesse período, onde se incluem escolas péssimas, estradas intransitáveis, merenda escolar deplorável, calendário escolar descumprido, houve a evasão escolar que, por sinal, é a mais elevada entre os 75 municípios de Sergipe. Ao lado, em Poço Redondo, onde existe prefeito, aconteceu o inverso: o número de alunos aumentou quase mil vezes, metade deles de Canindé, transferindo-se para lá, onde há estradas transitáveis, e melhores escolas. A outra metade foi absorvida pela rede pública estadual, ou escolas particulares em reduzida proporção.

Na saúde aconteceu o mesmo processo degenerativo na qualidade de serviços prestados. Médicos, enfermeiros, todos enfim, completam esta semana dois meses sem receber salário, e os contratados estão chegando aos cinco meses. Nos postos de saúde faltam remédios, até iodo e esparadrapo. O Hospital é algo calamitoso, e as pessoas fogem para o atendimento em Poço Redondo, ou em Paulo Afonso na Bahia, até para suturar um corte.

No hospital inacabado, um elefante branco que se arrastou e parou há quase dez anos, estavam armazenados alguns equipamentos hospitalares. Semana passada encostou no prédio que se deteriora um caminhão baú, e logo desapareceu com

o que havia lá dentro, inclusive um equipamento nunca utilizado de Raio-X, que poderia ter sido deslocado para o hospital antigo. Um episódio a mais do desgoverno carente de responsabilidade.

A conta de combustíveis é elevada, e se manteve a mesma, sem alterações, até quando parou a frota de ônibus nas alongadas férias forçadas; quando reduziu-se o serviço de caminhões-pipa com a chegada das chuvas. Para ambulâncias paralisadas ou sucateadas ainda se compra gasolina. O mesmo acontece com máquinas patrol, carregadeiras, caçambas, tratores, tudo sendo sucateado, ou nas oficinas, esperando que paguem pelos consertos, mas, permanecem “consumindo” combustível. E como queimam óleo diesel....

Por irregularidades permanece fechado o Matadouro Municipal, causando graves transtornos na comercialização e no abate do gado. O Hotel da Prefeitura que funcionava irregularmente e não fornecia notas, nem recebia cartões de crédito, agora foi fechado, e os funcionários ficaram sem receber.

Terrenos pertencentes ao município estão sendo transferidos a particulares, e a transação é “legalizada” com a interferência de quem tem “poder” para isso, e não é a Câmara de Vereadores.

No prédio da Secretaria de Ação Social, raramente alguém entra em busca de apoio, faz tempo, todo o atendimento está praticamente suspenso.

Semana passada a Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde fez uma fiscalização no lixão do município, após receber graves denúncias. Em Canindé, percorrendo o lixão, a equipe técnica constatou entre outros absurdos criminosos o descarte de lixo hospitalar no local, onde estão crianças junto com adultos que catam lixo. O desleixo da Prefeitura é tão calamitoso que permitiu porcos engordando com carniça para depois serem abatidos doentes, e sua carne vendida à população. No rio São Francisco, é despejado o chorume pestilento que escorre da lixeira contaminada. O relatório já foi entregue ao Secretário da Saúde o médico Valberto de Oliveira Lima pelo chefe da Vigilância Dr. Ávio Britto, e deverá ser remetido ao Ministério Público.

Ou seja, para resumir: Não há Prefeito em Canindé, e no buraco desocupado que surgiu, criou-se um caso de polícia.

A situação é de completa calamidade pública no que diz respeito à administração, mas, o futuro do município é promissor. Canindé continua sendo o segundo polo receptor de turismo de Sergipe. Manoel Foguete e outros empresários de menor porte, montaram uma infraestrutura que, aliada às características da exuberante natureza, está gerando emprego, e fazendo com que o número de turistas cresça exponencialmente.

Em Canindé vai ser instalada a quinta maior usina fotovoltaica do mundo. Segundo o executivo, do grupo, o engenheiro Joaquim Ferreira começa a montagem começa no próximo ano.

Mas a Prefeitura não pode continuar sendo um foco de atraso, de desmandos, e objeto de suspeições, uma instituição apodrecida, num município que precisa receber o oxigênio da inovação, do empreendedorismo, e de ter lideranças capazes de representa-lo nessa nova etapa que se inicia.

Talvez, haja um remédio que é drástico, mas absolutamente necessário. Um impeachment do prefeito está tendo seu trâmite legal já concluído. Na próxima semana haverá a votação. Nove, dos onze vereadores são favoráveis ao afastamento do prefeito, e os dois restantes dizem que irão se abster, ou não comparecerão à sessão.

Pesquisas revelam que mais de 90% da população desaprovam o prefeito, e consideram perniciosa a influência da advogada que o manipula.

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OUÇAM O GENERAL SANTOS CRUZ

(Santos Cruz, a voz da sensatez)

Por trás da face dura do general Santos Cruz que aparenta autoritarismo, revela-se a alma de um humanista que enxerga o Brasil pela ótica não desvirtuada pelos conflitos, e pela divisão dos brasileiros em hostes radicais de extremados. Estes, mais se assemelham a essas torcidas ferozes, prontas a se exterminarem mutuamente. Numa entrevista na noite dessa segunda-feira 16, concedida ao jornalista Roberto D Àvila o general, sem perder a elegância, sem demonstrar ressentimento por ter sido absurdamente exonerado, fez uma análise primorosa sobre os equívocos do presidente Bolsonaro, comportando-se como candidato ainda no palanque, falando para a sua claque de fanáticos, ao invés de dirigir-se aos 210 milhões de brasileiros, com a responsabilidade grave de um Chefe da Nação.

Santos Cruz é uma voz de sensatez, de experiência e de dedicação à causa do Brasil, e faz falta a um governo que se perde nas mesquinharias familiares, no desperdício de tempo, instigando conflitos e espalhando malquerenças, apegando-se a temas obsoletos, numa inútil controvérsia, apesar de ter uma excelente equipe de auxiliares.

Santos Cruz, cosmopolita, tem uma rara experiência de mundo por ter servido em variados locais como adido militar, e comandado uma força de intervenção da ONU para impor a paz a países africanos devastados pela guerra. É um combatente, mas, conhece as peculiaridades da diplomacia, e disse que é um erro a indicação de um filho do presidente para ser embaixador em Washington. Lembrou que diplomacia não se faz com “amizades”, e deixou implícito que isso é uma suposição tosca, enquanto se despreza a capacidade dos diplomatas formados pelo Itamaraty. Santos Cruz foi bem claro ao afirmar que as forças armadas não se confundem com o governo Bolsonaro, nem com nenhum outro, por serem uma instituição permanente de Estado, e os militares que lá estão prestam individualmente serviços ao Brasil, e não representam as suas Forças de origem.

Moderno, com vistas ao futuro, sem contaminações de radicalismos ideológicos, Santos Cruz reprova essa necessidade patológica de revólver o passado para ressuscitar fantasmas malfazejos, e envenenar a sociedade. Hoje briga-se contra tudo, o lulo-petismo, o comunismo, a Globo, a imprensa em geral, os presidentes da Câmara e do Senado, o STF, a esquerda, a Universidade, o presidente da França, a primeira ministra da Alemanha, a ex-presidente chilena Michele Bachelet, a ciência, os artistas, os governadores do nordeste, e esse é um processo de liquidificação do Brasil. Santos Cruz deu a receita: uma democracia precisa diariamente reforçar as suas instituições e construir o entendimento entre os seus integrantes.

A BIENAL DO LIVRO, A BIENAL DO VOTO

(Bienal reunindo multidão)

Na sua quinta edição, a Bienal do Livro revela que a literatura, a cultura enfim, fazem parte importante do universo social de Itabaiana e Sergipe. Pelo shopping Peixoto passaram, festivamente, dezenas de milhares de pessoas, que compraram livros, ouviram palestras, consumiram um farto material cultural, inovadoramente posto à disposição de todos.

Seria bom para o Brasil que uma outra bienal, aquela das eleições, se realizassem com o mesmo êxito, a mesma civilidade, e a exibição de bons resultados, como ocorre na festa do livro de dois em dois anos na Itabaiana, celebrizada pelo empreendedorismo do seu povo, e agora também pela nobreza do culto ao livro, o melhor instrumento do qual pode utilizar-se o ser humano. Imaginava-se que estivemos num tempo de aversão ao livro. Itabaiana de dois em dois anos comprova o contrário.

Imagina-se, ou melhor, constata-se que vivemos um tempo de aversão à política e aos políticos.

De dois em dois anos comecemos então por anotar o que dizem e prometem os candidatos para deles cobrar fidelidade à palavra empenhada, e compromissos, fazendo assim a nossa bem sucedida bienal do voto.

Há na construção do bem sucedido evento, a participação da sociedade itabaianense, destacando-se o trabalho do escritor e acadêmico Saracura, do escritor, acadêmico e militante cultural Domingos Pascoal, do Grupo Peixoto, do Grupo Ethos, e de tantos outros. A Loja Maçônica Cotinguiba e a Academia Sergipana de Letras, deram suporte ao evento, agora incluído entre os maiores do calendário cultural sergipano.


 


 

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