Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O BRASIL NÃO VAI CABER DENTRO DE UM QUARTEL
25/08/2018
O BRASIL NÃO VAI CABER DENTRO DE UM QUARTEL

 

O BRASIL NÃO VAI CABER DENTRO DE UM QUARTEL

        Nos quarteis se cultivam as noções de hierarquia, disciplina, patriotismo, também civismo e solidariedade. Pelo menos isso é o que acontece em países civilizados. Nos quarteis se ensina a combater, a destruir o inimigo, mas não se ensina o ódio.

            Há uns cinco anos, um destacamento de militares da marinha chilena fazia uma marcha pelas ruas de Valparaíso, cantando uma belicosa canção onde diziam: Um marinheiro chileno pode matar dez argentinos, dez bolivianos, dez peruanos. São exatamente os países com os quais o Chile tem fronteiras e com os quais já se envolveu em guerras. Até hoje a Bolívia reivindica o pedaço de litoral do pacífico que o Chile lhe arrebatou. Seria o porto de mar que lhe faz tanta falta.

         Mas essas questões estão afetas à área diplomática e o que se busca, efetivamente, é uma convivência fraterna entre os latino-americanos. Os militares agressivos foram todos punidos. Eles reeditavam o clima de odiosidade criado durante a criminosa e corrupta ditadura do general Pinochet.

            Uma Nação deve necessariamente ter muitos quarteis, a depender do seu tamanho e da sua importância geopolítica. Não vivemos num mundo de anjos e ter uma defesa eficaz é, ainda, o maior meio para dissuadir prováveis agressores.

         O Brasil, pela sua dimensão econômica e suas potencialidades imensas, não pode descurar-se das suas medidas de defesa. Para isso os quarteis são necessários.

              Mas uma Nação não pode caber dentro de um quartel.

              Uma Nação livre, democrática não pode militarizar o ensino, a não ser que queiramos imitar a Coréia do Norte.

              Existem as Escolas Militares e para elas vão os que fazem essa opção ou os vocacionados para a carreira das Armas.

             Talvez seja necessário ampliar essas escolas, como seria também recomendável que fossem abertas mais vagas para recrutas, porque os jovens que passam pelas instituições militares adquirem uma formação que contribui para livrá-los da epidemia das drogas, dos atrativos do crime.

               Nas carreiras militares temos intelectuais, artistas, cientistas, tecnólogos e há instituições de alto nível científico, principalmente na Marinha e na Aeronáutica.

Uma Nação não se constrói debaixo de um regime de opressão e intolerância, como está a propor ao Brasil o capitão Bolsonaro.

             As declarações desse cidadão, as atitudes desse cidadão deveriam, em tempos normais, causar escândalo em todos os brasileiros. Mas o que se vê é uma parcela considerável a ele aderindo.

              Como tantos erros se acumularam e a política transformou-se, em grande parte, num convescote de marginais, as pessoas desenganadas passam a acreditar em quem prometa soluções absurdas, que, na prática, envenenariam ainda mais a nossa convivência e levariam o Brasil a uma situação de conflitos permanentes.

           O empresário quer estabilidade para trabalhar; os trabalhadores, os milhões desempregados querem emprego; intelectuais, artistas querem espaço democrático para pensar e fazer; minorias querem respeito e tratamento igualitário. Mulheres, que aliás não são minoria, estão sendo  ofendidas e humilhadas pelo capitão deseducado, grosseiro, atrabiliário.

              O capitão chega ao acinte desumano de afirmar que crianças precisam aprender a atirar para não serem covardes e dominadas por bandidos.

           O capitão, quando ainda jovem, prometeu que, se eleito presidente, fecharia o Congresso, daria um golpe de Estado, mesmo que, para isso, fosse preciso fuzilar trinta mil pessoas.

              O vice do capitão, um general, afirmou que negro é malandro e índio é preguiçoso.

              O capitão disse que um filho seu não casaria com uma negra, porque todos receberam uma boa educação e não vivem na promiscuidade.

              O capitão disse que jamais teria um filho gay, porque sabe educa-los.

              O capitão disse que “existem mulheres que até são competentes”.

          Sobre os nossos graves problemas, desemprego, desigualdade social, dívida gigantesca, desequilíbrio orçamentário, empresas falindo aos milhares, ele promete que irá “consultar o economista Paulo Guedes”, porque não é obrigado a conhecer essas coisas.

          O Brasil já errou demais, e pagou por isso um alto preço. Elegemos Jânio Quadros porque ele exibia uma vassoura, dizendo que, com ela, iria varrer a corrupção. Renunciou em sete meses, estava bêbado, e imaginou que voltaria como ditador.

               O Brasil elegeu um exibicionista incurável, Collor de Melo, que dizia estar pronto para o combate aos “marajás” e assim consertar o Brasil.

               O Brasil elegeu Dilma Roussef, num momento infeliz, quando os eleitores se viram impelidos a decidir entre uma inepta e o gangster, Aécio Neves.

               O Brasil errou quando fez o impeachment, apenas uma rotatividade de quadrilhas, levando ao poder Michel Temer, o quadrilheiro mór.

             Lula errou feio quando permitiu que Zé Dirceu montasse um projeto de poder para durar cinquenta anos e daí surgiu o mensalão. Foi até modesto: Hitler fez um projeto semelhante, mas para durar mil anos. Durou doze, sobre 60 milhões de cadáveres.

               Lula errou quando permitiu o avanço despudorado sobre os cofres da Petrobrás e errou mais ainda indicando Dilma, escolhendo Michel Temer para vice.

              Mas é possível que a sensatez sobreviva. A não ser que esse processo de revolta e indignação com o que aí está, sendo mal direcionado, termine por permitir que o “quartel de Bolsonaro” engula a dignidade da Nação, nos faça, a todos, reféns das suas propostas insandescidas e nos transformemos em cobaias para as suas “experiências” totalitárias.

 

O ITPS FAZ 95 ANOS E COMEMORA

             Quando nem se sabia direito em Sergipe o que significavam a tecnologia e a pesquisa, o Gracho Cardoso (presidente), como eram chamados na época os governadores, instalou em 1923, em Aracaju, o Instituto de Tecnologia e Pesquisa, o ITPS. Uma instituição que nunca deveria ficar a mercê de indicações políticas, onde não se avalia a competência do indicado. O ITPS sergipano foi o terceiro criado no Brasil e o primeiro no nordeste.

                Agora está completando 95 anos de continua atividade.

               O ITPS passou por diversas fases, a mais estimulante delas no primeiro governo de José Leite (1946-1950), quando ele criou a Escola Superior de Química e, então, ao esforço do Dr. Bragança e de outros sergipanos dedicados à ciência juntaram-se alguns cientistas renomados que deixavam a Europa do Leste quando, no pós guerra, a União Soviética seguindo a sua política de expansão imperialista, com suas tropas de ocupação, instalava regimes comunistas em todas aquelas antigas nações, que ficaram conhecidos como “países satélites”.

          Os cientistas eram romenos, quase todos, que escaparam do nazismo, e se viam diante de um novo totalitarismo. Aqui, eles trabalharam com afinco, introduziram novos métodos no ITPS, fizeram da Escola de Química uma das três mais conceituadas do país.

               O ITPS presta serviços relevantes em diversos setores, principalmente às atividades produtivas. Faz análise de terras, de águas, aferição de pesos, avaliação de produtos.

            O novo dirigente da instituição quase centenária, o engenheiro Kaká Andrade, começou dando o valor devido ao instituto e quer, nesse aniversário a ser comemorado nessa sexta-feira, 31 de agosto, marcar a data com um dia de variados eventos, começando às 8h30 da manhã.

           Serão feitas exposições sobre a trajetória do Instituto, homenagens aos servidores, apresentação do Coral das Águas da DESO, exposição de fotos, lançamento do livro A Casa da Ciência Química em Sergipe, da professora, mestra em educação, Claudileuza Conceição. Irão ser lembradas todas as personalidades que contribuíram para o desenvolvimento da ciência e tecnologia em Sergipe apoiando o ITPS.

O TERCEIRO MAIS ANTIGO DO BRASIL

 

QUALQUER PREVISÃO SERÁ ARRISCADA

        

       Quem se arriscar a fazer previsões sobre o resultado das eleições de Sergipe correrá risco de incorrer em decepcionantes equívocos. As pesquisas que circulam são produzidas num universo onde quase quarenta por cento dos votantes se dizem indecisos, ou dispostos a anular o voto, e há aqueles que se negam a responder o questionário.

        Nesse cenário fica complicado, a não ser que se acredite em videntes, advinhar para onde tendem os votos dos que, a essa altura, ainda estão indecisos, ou se haverá alguma movimentação entre os que não querem votar, para fazê-los chegar até às urnas e, lá, não anularem os votos, decidirem escolher algum candidato.

         Se entre nós houver algum prestidigitador, dotado de comprovada capacidade de avançar pelo futuro, antecipando fatos, então será a ele que se deveria recorrer, porque, no momento, as adivinhações valem muito mais do que pesquisas seguidas da euforia do já ganhou.

          Até o momento, para ninguém, nessa eleição tão atípica, tão marcada, sobretudo, por uma onda imensa de aparente desinteresse, haverá convicção nítida sobre a vitória.

          O desinteresse parece sumir, apenas, nas redes sociais, todavia não permitem visualizar a amplitude das tendências do eleitorado. Para os candidatos e os seus apoiadores essa eleição será uma prova excitante para nervos resistentes.

 

MICHEL TEMER E EDUARDO CUNHA, IRMÃOS SIAMESES

         No Porto de Santos, do grande empresário até os estivadores nas docas, comenta-se as transações nebulosas que envolvem Michel Temer, desde que se candidatou pela primeira vez a deputado federal. Essas transações cresceram, exponencialmente, a partir do momento em que ele instalou-se no Palácio Jaburú, para exercer o cargo de Vice Presidente.

            O vice-presidente e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, o mega-ladrão Eduardo Cunha, estabeleceram, há muito tempo, uma rendosa parceria. Cunha é um peculatário megalômano, mais cerebral, contudo, que o dissipador ostentatório Sérgio Cabral.

            Quando formou-se a dupla Temer-Cunha, tempos aziagos estariam marcando a rota ou derrota brasileira. Logo, Eduardo Cunha tornou-se o artífice dos golpes em grande estilo. E a ele acoplaram-se todos os componentes da Organização Criminosa hoje instalada no Planalto.

            Agora, um delator, o velho e confiável operador da Organização, Lúcio Funaro, revela repasses de até noventa milhões de Eduardo Cunha, o arrecadador para Temer, o chefe. A Polícia Federal e o MPF já têm o roteiro seguido pelas vistosas transferências de grana.

         Michel Temer será preso ao sair do poder? Dificilmente. Cidadão com duas nacionalidades, ele, se enxergar alguma ameaça, viaja ao Líbano, onde poderá permanecer o tempo que quiser sem ser extraditado. Bateríamos então um recorde mundial. Teríamos um presidente preso e um outro foragido.

            Não se poderá reclamar, então, de impunidade ou discriminação.

            Mas, até o virar de ano, Eduardo Cunha, da sua cela em Curitiba, continuará dando as cartas no país. Poderia existir um cenário mais degradante?

 

OS 13 QUE O MPF QUER IMPUGNAR

        São treze os candidatos listados pelo Ministério Público Eleitoral para que sejam impugnados. Há enormes diferenças de um caso para outro. Na ponta do absurdo surge o homem do helicóptero amarelo, Sukita, uma excrescência que invadiu a política e com pleno sucesso na conquista de eleitores.

         O helicóptero amarelo sobrevoa Capela e a maior parte do povo do município não diz: “Lá vai voando o nosso dinheiro”. Alguns até dizem: “Vem chegando o nosso benfeitor”. São os que receberam alguma sobra insignificante do saque ou uma promessa de muita felicidade futura, de um novo tempo de mudanças, aliás, essas são promessas até de gente bem melhor qualificada no cenário político. Meter a mão na botija é mais arriscado, prometer trazer os céus para a terra é coisa fácil. Basta ser um contumaz mentiroso.

         Mas, entre os 13 listados há um que, nitidamente, se diferencia. Trata-se do presidente da Assembleia, Luciano Bispo. Ele tem sido responsável pela recuperação do abalado prestígio do poder legislativo.  Incluiu a Assembleia nos debates sobre os problemas essenciais de Sergipe, imprimiu um novo protagonismo ao poder e o aproximou da sociedade. Além de tudo, Luciano segue um comportamento republicano, dialoga amplamente com as instituições e traça, a partir desse diálogo, o caminho que vem seguindo. Entre o exibicionista do helicóptero amarelo e um Luciano Bispo, há uma distância enorme de respeito aos cargos públicos que os separam.

LUCIANO TEM UMA AÇÃO REPUBLICANA COMO PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA

 

TEXTO PUBLICADO NO JORNAL EL PAÍS

Katherine Johnson, a calculadora que ajudou a Apolo 11 a chegar à Lua

A matemática e cientista espacial completa 100 anos neste domingo, dia 26 de agosto

KATHERINE JOHNSON, NA NASA, EM 1966

Foto: NASA

Em 20 de julho de 1969, em frente a uma pequena TV em preto e branco de um resort das montanhas de Pocono (Pensilvânia, Estados Unidos), um grupo de mulheres afro-americanas, colegas da fraternidade Alpha Kappa Alpha, contemplava Neil Armstrong, seguido por Edwin Aldrin, pisar na Lua pela primeira vez. Depois de quatro dias a bordo da nave da missão Apolo 11, os astronautas haviam se separado do módulo de comando Columbia, onde o colega Michael Collins permaneceu em órbita ao redor do satélite, e chegado à superfície.

Uma dessas mulheres era a matemática e cientista espacial Katherine Johnson, que faz 100 anos neste domingo, 26 de agosto. Seu trabalho foi essencial para aquele feito, que levaria os Estados Unidos à vitória na corrida espacial contra a então União Soviética (URSS). Como integrante do Centro de Pesquisas Langley (Hampton, Virgínia, EUA) da NASA, nos anos anteriores trabalhou mais de 14 horas diárias no programa de retorno da missão, conhecida como Lunar Orbit Rendezvous. Johnson foi responsável por calcular o momento em que o módulo lunar Eagle, do qual desceriam os astronautas, deveria abandonar o satélite para que sua trajetória coincidisse com a órbita descrita pelo Columbia e pudesse, assim, acoplar-se a ele para retornar à Terra. "Havia feito os cálculos e sabia que estavam corretos, mas era como dirigir esta manhã, poderia acontecer qualquer coisa", comentou anos depois em uma entrevista.

Johnson havia sido, desde 1953, uma das matemáticas "da Área Oeste", mulheres afro-americanas que a NASA começou a contratar na década de 1940 – sendo ainda o NACA (Comitê de Assessoria Nacional para a Aeronáutica dos EUA) – para executar as tarefas de cálculo exigidas pelos engenheiros do Departamento de Navegação e Orientação de Langley. Seu trabalho, repetitivo e sem criatividade, que anos mais tarde seria realizado por computadores, ficou conhecido graças ao livro Estrelas Além do Tempo, de Margot Lee Shetterly (levado ao cinema em 2016 por Theodore Melfi como Elementos Secretos).

A capacidade de Johnson para a matemática, especialmente para a geometria, assim como seu acerto na hora de fazer as perguntas adequadas e sua liderança, logo a levaram a se tornar uma peça importante dentro da NASA. Sua carreira profissional decolou junto com Alan Shepard, o primeiro norte-americano a viajar ao espaço, na missão Redstone 3, e o segundo homem a empreender esse feito, depois do soviético Yuri Gagarin, ambos em 1961. Johnson se ofereceu para calcular o ângulo de decolagem do voo suborbital (que não alcança a velocidade necessária para completar a órbita da Terra) de Shepard, que deveria amerissar numa área pré-definida, perto dos navios da Marinha dos EUA. O cálculo se assemelhava ao do movimento parabólico de um projétil, mas as equações eram mais complexas devido a outras variáveis como a rotação terrestre, as mudanças de massa e a gravidade, que varia segundo a altura.

KATHERINE JOHNSON COM A MEDALHA PRESIDENCIAL DA LIBERDADE

Foto: NASA

Depois desta, em 1962 preparava a missão Atlas 6 para colocar um humano em órbita ao redor da Terra. O astronauta John Glenn, único tripulante, desconfiando dos novos computadores, exigiu que Johnson refizesse os cálculos da trajetória partindo das mesmas equações. Seus resultados foram idênticos. A matemática já tinha feito cálculos similares, confirmados mais tarde por computador, para um artigo publicado em 1960. Naquele texto, o primeiro assinado por uma mulher na NASA, estudava, junto com o engenheiro Ted Skopinski, o ângulo de decolagem de um satélite orbital que precise passar por uma posição dada. Do mesmo modo, entre 1963 e 1969, redigiu um relatório com seu colega Al Hamer em que detalhavam órbitas lunares, consequências de uma possível falha elétrica a bordo da nave e alternativas de ação que garantissem uma correta aterrissagem baseadas na navegação astronômica. Esses manuais estiveram presentes quando a missão Apolo 13 sofreu uma explosão em seu interior e os sistemas travaram, mas não puderam ser utilizados porque não era possível distinguir a partir da nave o rastro de escombros resplandecentes da cápsula.

Johnson participou de numerosos projetos durante os 33 anos em que esteve na NASA. Essa dedicação e suas contribuições em momentos decisivos a fizeram merecedora, em 2015, da Medalha Presidencial da Liberdade dos EUA, concedida pelo então presidente Barack Obama. Até hoje, é a única mulher da NASA a ter recebido a honraria. Além disso, em 2016 as novas instalações informáticas do Centro de Pesquisas Langley foram batizadas com seu nome. Neste domingo, Johnson celebrará seu centenário, por acaso no Dia da Igualdade da Mulher nos EUA.

                OBSERVAÇÃO - Khatarine Johnson, a cientista que fez os cálculos para a viagem e o retorno da lua, fazia parte de uma equipe de três afro-descendentes. Ela faz cem anos neste domingo, homenageada por toda a Nação americana.

                Aqui, o candidato Jair Bolsonaro, ao invés de tratar dos graves problemas brasileiros, de demonstrar respeito e apreço aos negros e às mulheres e pensar, por exemplo, em criar um grande programa de estimulo ao ensino da matemática, a coisa mais essencial para o nosso desenvolvimento cientifico, mergulha na mediocridade, na intolerância.

                 É por isso que os americanos e outros países conquistam o espaço e aqui um candidato nos promete jogar no fundo incivilizado de um poço de ódio.


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