Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
O ASSASSINATO DA DEMOCRACIA E A HORA DE INTERVIR NA VALE
25/01/2019
O ASSASSINATO DA DEMOCRACIA E A HORA DE INTERVIR NA VALE

(Os dois nunca se gostaram)

A Câmara dos Deputados da República brasileira, se desfalcada pela perda de um dos seus integrantes, que renuncia, alegando não ter segurança para o exercício do mandato, e preservação da própria vida, deixa de ser um Poder, e se reduz a uma lixeira institucional. Pode haver ¨lixo institucional¨ num Estado Democrático de Direito?

No entendimento de alguns extremistas, onde se incluem cidadãos comuns, e até um filho do presidente da República, que festejam a morte política do deputado Jean Wyllys, o ¨lixo institucional¨ seria o próprio deputado, e, com a sua renúncia, as instituições estariam sendo desinfetadas.

Este, é o melhor argumento para o assassinato a sangue frio de uma democracia, cuja morte vem sendo animadamente anunciada.

Prevalecendo esse argumento, surgiria um novo ¨lixo¨ acoplado às instituições apodrecidas: seria o próprio voto. O voto, por exemplo, daqueles que conferiram a Jean Wyllys um terceiro mandato.

Os que erguem brindes à deserção forçada de Jean Wyllys se tornam, então, os supremos inquisidores, os que decidem qual o voto que vale e o que não vale nada.

Um presidente que retornou do Fórum Mundial de Davos e buscou adequar-se ao clima de civilização e modernidade, não pode, por questões pessoais com o deputado, ou por qualquer outra questão, seja ideológica ou discriminatória em relação à homossexualidade, permitir que a República por ele comandada se esfacele diante da insanidade do ódio.

Como muito bem afirmou o vice-presidente da República general Hamilton Mourão, as pessoas podem ou não gostar, aprovar ou desaprovar as ações e o modo de vida de um parlamentar, mas, ao parlamentar eleito, o Estado terá de assegurar as garantias indispensáveis ao exercício do mandato.

A repercussão no mundo da renúncia e fuga do Brasil, do deputado Jean Wyllys, será desastrosa para o nosso país, e aqui, internamente, o episódio poderá ser o inicio de uma tragédia, onde a força bruta vencerá a tibieza dos pilares que sustentam o Estado Democrático de Direito.

Faz alguns anos, o jornalista e advogado Hugo Costa, no auge dos seus exuberantes e às vezes ácidos textos, produziu uma verrina afiada, num artigo ao qual deu o título: ¨Bonifaccioso Neto¨. Naquela ocasião, Hugo, que também sabia ser doce e afetivo, cometeu uma injustiça. O Juiz do Trabalho e professor Bonifacio Fortes Neto era um homem honrado. Hugo era amigo de Bonifácio, colega de faculdade, talvez, com ele se tenha desavindo, quando exerceu o cargo de Juiz substituto do trabalho. Mas o trocadilho causou impacto.

No caso do ex-Juiz e agora Ministro da Justiça e Segurança Sérgio Moro, o nome não ajuda muito a fazer trocadilhos desprimorosos, mas, eles já surgem, e até em profusão. E surgirão muito mais, se o ministro se mantiver calado diante da gravidade do eclipse institucional que surge, a partir do momento em que, um parlamentar brasileiro renuncia, vai viver no exterior, dizendo-se ameaçado, temendo o mesmo destino da vereadora Mariele e seu motorista, cujos assassinatos são agora atribuídos a milicianos, e quase se completa um ano sem ter sido elucidado. E Jean Wyllys se sentiu mais inseguro ainda, desde quando se tornaram públicas as noticias, revelando uma proximidade suspeita entre o senador eleito, filho do presidente, e as milícias do Rio de Janeiro, que exercem por conta própria o ¨direito¨ de matar.

Nesses dias de tristeza para quem não perde a fé e esperança no Brasil, explode um outro crime cometido pela mineradora VALE.

Mais uma barragem rompeu, desta vez em Brumadinho, novamente em Minas Gerais. É um depósito de materiais venenosos, bem menor do que a barragem de Mariana, não muito longe.

De nada adiantarão as providencias emergenciais, que o presidente Bolsonaro a essa altura já está anunciando, e começando a por em pratica, de nada adianta afirmar que serão tomadas medidas para evitar novas tragédias.

Tudo isso a ex-presidente Dilma anunciou, depois de fazer um vôo panorâmico sobre o cenário lúgubre do Rio Doce transformado na cloaca dos rejeitos que desciam das montanhas mineiras, onde a VALE criminosamente operava, e continua operando, nos mesmos moldes de total irresponsabilidade e desrespeito ao povo brasileiro. Naquele momento, a presidente poderia ter anunciado uma intervenção na mineradora, mas, ela já andava cambaleando, e sem credibilidade. Agora, o presidente Bolsonaro tem todas as condições para não repetir o mesmo erro.

Crimes gigantescos, todavia sem visibilidade como esses dois desastres ambientais, a VALE continua cometendo pela Amazônia, onde devasta as jazidas minerais, patrimônio do povo brasileiro, que os seus mafiosos dirigentes ganharam de mão beijada. A VALE devasta, a VALE é reincidente em crimes, a VALE é uma empresa irresponsável, e essa empresa controla hoje mais de cinquenta por cento das fantásticas reservas minerais brasileiras, dizima o patrimônio que deveria ser público, dizima a floresta, faz contrabando, sonega, e os seus acafagestados donos, ainda fingem derramar lágrimas, como fez um deles, um tal Flávio Schvartzman, que, de novo, repetiu a mesma consternação falsa, que outros revelaram quando, há quase três anos, os brasileiros se comoviam e se indignavam com a primeira tragédia.

Na verdade, a tragédia é a própria VALE, a tragédia é a falta de coragem, a falta de vontade política, a falta de verdadeiro patriotismo para que se faça, o mais rápido possível, uma intervenção federal naquele empresa criminosa, gerida por reincidentes meliantes. Não adianta fazer gabinetes de crise. Adianta chegar à raiz do problema. E a raiz é a VALE.

Desta vez, serão mais de 200 mortos.

Desta vez, a lama venenosa poderá atingir o rio São Francisco.

UM REGISTRO: Há umas duas semanas, o autor destas linhas conversava com o Secretário do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia de Sergipe, o engenheiro José Augusto Pereira de Carvalho. Tocou-se na questão do rompimento da barragem de Mariana, e de todo o impacto ambiental provocado. José Augusto afirmou que, pelas informações que tinha a respeito do sistema de barragens semelhantes, espalhadas por vários pontos de Minas Gerais, temia, e muito, que uma nova tragédia estivesse perto de acontecer.

Sobre a calamidade que se chama VALE, escrevemos em dezembro do ano findo, duas notas, que estão à disposição dos leitores, intituladas: PRIVATIZAÇÃO BEM SUCEDIDA E A VALE UMA DESGRAÇA BRASILEIRA e A VALE VALERIA SER REESTATIZADA?

(Tragédia número 1)

(Tragédia número 2)

 

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