Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
O "ABACAXI" DA NATVILLE, O "ABACAXI" DA FOTOVOLTAICA
02/02/2020
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(O "abacaxi" na origem de duas grandes empresas)

O que teria uma fruta, o abacaxi, a ver com aquele que é o maior laticínio de Sergipe, o Natville?
Qual a relação que poderia haver entre o abacaxi e o leite, a não ser quando os dois se juntam num bom iogurte?
A fruta casa muito bem com o leite, mas, daí a ter ingerência nas atividades de uma grande empresa leiteira, poderá, a primeira vista, parecer um absurdo, ou mesmo alguma dessas esquisitices que andam em moda. Afinal, depois que a ministra pastora Demaris disse ter avistado Jesus numa goiabeira, árvores e frutas podem, a qualquer hora, aparecer como personagens de fabulações delirantes ou surreais.


A relação do "abacaxi" com o laticínio todavia é positiva, e nela,  o saboroso fruto tão injustiçado por se ter tornado sinônimo de coisa ruim, surge, de fato, como elemento de um episódio singular, a partir do qual uma jovem ex-gerente de agencia do BANESE, Janea Maria Mota Santos Dantas, começou a percorrer um caminho de sucessos empresariais sucessivos, levando-a até a montagem e ao comando de um complexo leiteiro de grande porte, e em permanente ascensão.
Já o caso do "abacaxi" da usina Fotovoltaica projetada para Canindé do São Francisco, faz com que a fruta seja, infelizmente adjetivada, para transformar-se na metáfora possível de algo ruim, deploravelmente prejudicial a um fantástico projeto de 4 bilhões de dólares, que trará um significativo impulso de desenvolvimento ao nosso semiárido.
Esse “abacaxi” é o cartório de registro de Canindé, uma emperrada coisa inútil a espera de quem o faça encontrar-se com a modernidade.  
Vamos, primeiro ao caso do "abacaxi" da Natville.
Nascida em fazenda onde seu pai mantinha a tradição do rebanho leiteiro, Janea  nunca abandonou suas origens, e deixando o emprego queria tornar-se empresária, mas, tinha dúvidas por onde começar. Os conselhos do pai e do sogro, pequenos produtores de leite, foram decisivos para a escolha:  “Fique naquilo que a gente sabe fazer, cuidar de produzir leite e fabricar leite e manteiga”. O marido, Valduínio de Souza Dantas apoiou, e integrou-se ao projeto.


Pouco tempo depois Janea já estava com uma pequena queijaria. Arguta observadora, verificou que havia duas épocas no ano em que o mercado se retraia, e as vendas desabavam. Uma dessas era bem identificada: o período chuvoso no sul e sudeste, quando os  queijos baixavam de preço;  mas,  um outro período, era objeto de controvérsias. O queijo vindo de fora chegava a Sergipe, Alagoas e Pernambuco a preços normais, os produzidos aqui, mantinham os preços menores, mas o consumo   diminuía. Janea teve a certeza de que a causa de tudo era o abacaxi, em plena safra e a preços reduzidos, a fruta saborosa substituía o queijo nas mesas onde tudo pode mudar, menos o café e o cuscuz.
Apressou-se a planejar sua produção em maior quantidade, de modo a não coincidir com aqueles dois períodos, e seu negócio começou a expandir-se. Mas, ela já imaginava um dia em que iria adicionar o abacaxi aos iogurtes.
O grupo Natville acaba de ampliar sua fábrica principal em Nossa Senhora da Glória, e tem ali capacidade instalada para quase 700 mil litros diários. Está processando cerca de 450 mil litros de leite. 
Em Capim Grosso, povoado de Canindé, adquiriu um laticínio que estava fechado pela prática de diversas fraudes, e era um calamitoso poluidor. Janea o transformou, fez as adequações ambientais, passou a produzir o soro seco, e o utiliza na matriz em Gloria para fabricar o leite em pó.
O Natville acaba de expandir-se até Alagoas, onde incorporou um laticínio em União dos Palmares.  Produz leite longa-vida, achocolatados, creme de leite, leite em pó e vai usar  também o abacax,i como saboroso ingrediente nos seus iogurtes.
Em Glória vai começar uma unidade fabril para produzir queijos finos, qualidade exportação.
Janea tem uma característica que a diferencia como empresária moderna: está próxima dos seus colaboradores, com os quais assiste missa na igreja que fez na fazenda onde mora, e muitos deles a chamam de comadre. São centenas de crianças que já batizou.
Estabelece uma relação de amizade e confiança com todos os seus fornecedores, dos menores aos maiores, como o engenheiro Paulo de Deus, chegando a 11 mil litros diários em seu complexo de fazendas em Canindé, e Zé do Poço e seus filhos, que ultrapassam 12 mil  litros, em Santa Rosa do Ermírio , Poço Redondo, uma área que alcança a excelência pela capacidade e denodo de gente muito pobre, que ali chegou sem nada, e dali fez a maior bacia leiteira do sertão sergipano. Para aquela área estão em andamento parcerias com o Grupo Natville, Governo do Estado, Prefeitura de Poço Redondo e produtores locais. Será uma espécie de(PPP, Parceria Público Privada) com característica diferenciada para o semiárido.
O grupo tem ainda um ramo voltado para a produção leiteira, e que é tocado pelo marido de Janea, Valduíno Souza  Dantas. Segundo o técnico Ricardo Dantas, principal assessor do grupo, o núcleo de pecuária leiteira, tem capacidade agora,  para mais de 10 mil litros dia, mas está em expansão, e a meta é chegar aos 30 mil litros em 3 a 4 anos. O incremento se fará com vacas confinadas em grandes galpões, dotados de sistema de umidificação e ventilação, além de nutricionistas especializados, controlando a ração nas diversas fases de vida das vacas, que deverão alcançar uma produção média bastante elevada.
Retornemos ao “abacaxi" mais uma vez, agora, sobre aquele  que atravanca o projeto da Fotovoltaica. O problema, sem dúvidas, merecerá a interferência da Corregedora do TJ a desembargadora Elvira, que é rigorosa no acompanhar desempenhos. O fato é que Sergipe não pode perder um investimento de 4 bilhões de reais por causa de um cartório. Por mais cartorial que ele seja.
Na quinta-feira chegou a Aracaju, o Diretor-superintendente do Grupo Engevias, engenheiro elétrico Paulo Roberto fraga Zuch. Ele tem larga experiencia em implantação de projetos e privatizações. É um empresário  que confere ao projeto da fotovoltaica sergipana uma importância ainda maior, por localizar-se numa área carente de desenvolvimento econômico e social. Ele já tem a marca de realizações em Sergipe, onde chegou trazido pelo sergipano que viaja mundo, mas aqui volta com novas ideias e sugerindo coisas, o também engenheiro Joaquim Ferreira. Dos dois surgiu o projeto da usina eólica na Barra dos Coqueiros.
Hoje, o mundo tem excesso de capitais em busca de um destino. No Brasil, com a queda dos juros o rentismo deixou de ser atraente, e  os rentistas correm para  trocar de ramo, finalmente encontrando-se com a economia produtiva. Dessa forma, projetos tipo a fotovoltaica em Canindé, que tem uma grife atraente, como assinala Joaquim Ferreira, se tornam disputados por monumentais fundos de investimentos, europeus, chineses, norte-americanos, árabes, daí, o volume de quatro bilhões de reais não causar sustos quanto à sua capitalização, aliás já estruturada.
Esse grupo, esses engenheiros e ativistas empreendedores, descobriram Sergipe, localizaram nos ermos do semiárido o local propício para uma fotovoltaica, inclusive, no caso, pela quase vizinhança da usina de Xingó, e seu sistema de distribuição ocioso pela ausência de energia  não gerada em turbinas paradas. A fotovoltaica irá utilizar essa capacidade ociosa num negócio que será também bom para a CHESF, e excepcional para Canindé e Sergipe,  e ainda beneficiando Alagoas.
O engenheiro Paulo Roberto Zuch, é gaúcho, sergipaniza-se, agora, e olha para Sergipe com visão de futuro,  vê o semiárido pobre, com a fotovoltaica, recebendo uma injeção ativante de motivações e capacidade produtiva. Mas ele veio a Aracaju, depois a Canindé para externar a preocupação com o que está ocorrendo. Lembrou que tudo andou no ritmo esperado, tanto na Junta Comercial, como na ADEMA, e o governo aliou-se ao projeto. No plano federal tudo corre bem.
O grupo que dirige não quer sair de Sergipe, não quer sair de Canindé.
É inadmissível:   por causa de um cartório, ou “abacaxi", todas essas vontades, todas essas esperanças venham a ser frustradas, e percamos um investimento de 4 bilhões de reais, que aliás não costuma aparecer facilmente, nem em São Paulo.

 

 

 

 


 

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