Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
NO SETE DE SETEMBRO, O PRESIDENTE AUSENTE
08/09/2022
NO SETE DE SETEMBRO, O PRESIDENTE AUSENTE

Nos 200 anos da independência, os brasileiros assistiram o maior comício já realizado no Brasil.

Ao invés de termos uma magnífica comemoração dos 200 anos da independência do Brasil, o senhor Jair Messias Bolsonaro, infelizmente, conduzido à Presidência da República pelo voto popular, por conseguinte, sendo legítimo Chefe da Nação, e em pleno gozo das suas atribuições, decidiu, simplesmente, neste Sete de Setembro, bicentenário da Independência do nosso país,  avacalhar por completo as nossas Instituições, e foi além disso: insultou o povo brasileiro, e humilhou mais uma vez as nossas Forças Armadas.

Não basta simplesmente dizer que ele violou de forma afrontosa a nossa legislação eleitoral, usando, desabridamente, a  imensidão dos meios que dispõe para atender ao interesse público, e os atrelou aos seus objetivos eleitorais. Qualquer outro candidato que cometesse os crimes, as transgressões e as insanidades, que, antes, e neste Sete de Setembro foram praticados pelo presidente-candidato Bolsonaro, teria, com certeza cassada a sua candidatura.

Nas circunstâncias atuais uma punição deste nível, seria o mesmo que  lançar  uma tocha acesa num barril de pólvora.

E seria este exatamente o pretexto que o presidente estaria esperando agora, ao ver cada vez mais se estreitando o caminho da sua reeleição.

Quem ainda imaginaria que Bolsonaro sentiria qualquer escrúpulo em jogar a Constituição no braseiro da sua churrasqueira?

E quem duvidaria de que em torno desse crepitar, milhões de bolsonaristas fanáticos dançariam, entre eles muitos fardados?

O presidente determina às Forças Armadas que mudem uma tradição mantida na antiga capital do país, o Rio de Janeiro, com o desfile militar de Sete de Setembro sempre na larga Avenida Presidente Vargas. O presidente queria transferir tudo para a praia de Copacabana. Os comandos militares argumentaram que o local era impróprio para o desfile, e o presidente retrucou, então, que o cancelassem e fizessem um ato militar, para o qual ele convocaria uma multidão, exatamente como o fez em Brasília, para aonde acorreu um número nunca visto de pessoas.

Formou o cenário que desejava para instalar o seu palanque eleitoral, decorado com os militares, usando uniformes de gala, ou marchando com a farda de combate. E neste cenário, no Rio e Brasília, do qual se podem retirar diversas deduções, entre elas de que o sentimento de honra estaria sendo ultrajado, o presidente-candidato fez dois discursos de campanha, retransmitidos por toda a mídia oficial, e mais por grande parte da mídia privada, o que lhe deu cobertura nacional completa, e por mais de uma hora. Afinal, o alegado era que ali estavam ocorrendo cerimônias cívico-militares, estritamente relacionadas ao bi-centenário da Independência.

Mas não foi o que aconteceu. A enorme massa bolsonarista não foi comemorar a independência brasileira, foi, firme e conscientemente, apoiar um projeto de poder com características claramente autoritárias, ou melhor, de índole repugnantemente fascistas. Justamente a ideologia que as Forças Armadas Brasileiras ajudaram a derrotar combatendo na Itália e nos mares.

Não nos ameaçam hoje, quaisquer outras ideologias totalitárias. O comunismo está morto e sepultado debaixo das pedras do Muro de Berlim. O conflito grave e decisivo que  hoje se trava no mundo, é a nova bipolaridade entre a democracia e os que a rejeitam. De um lado, o polo dos que acreditam na possibilidade de sobrevivência da civilização, que não existirá, caso não existam a pluralidade de ideias, a equidosa divisão harmônica dos poderes, o respeito aos direitos humanos, a alternância no poder ditada unicamente pelo voto popular.

No outro polo, os que entendem a democracia como um regime esclerosado. Tal como assim o definiu, em julho de 1940 o então ditador brasileiro Getúlio Vargas ao festejar a queda da França, diante das tropas nazifascistas, para, depois, mudar de lado, quando o nazifascismo nos agrediu.

Entre esses países que renegam a democracia, estão a Rússia, a Coreia do Norte, a Venezuela, a Nicarágua, Cuba, ditaduras asiáticas e africanas, e a China, que, faz tempo, abandonou o rótulo comunista.

Seria esse bloco que desejaríamos nos juntar ?

A pergunta parece imprópria, mas, havendo uma ruptura democrática no Brasil, sem o apoio da Rússia e da China não demoraria muito tempo no poder aquele que se tornasse ditador. E esse apoio viria debaixo, claro, de muitas exigências, daquelas, que a Rússia ainda soviética, fazia aos seus países satélites do leste europeu.

Aliás, é bom acentuar: um petroleiro russo transportando óleo diesel que teria sido vendido a preços subsidiados ao Brasil, estará chegando amanhã (dia 9) ao porto de Santos.

Qual o motivo real para tanta generosidade ?

O que vimos no Sete de Setembro, foram os apelos escritos ou vociferados a favor da intervenção militar, do fechamento do Congresso, da prisão dos Ministros do Supremo. Tivemos também o deboche, e o deboche de um candidato que, além de insinuar as intenções de emparedar o Supremo, e a sociedade brasileira, enveredou pela molecagem, ao exaltar a sua suposta rigidez peniana: “Imbrochável, Imbrochável”.

Façamos aqui a hipótese de um episódio que poderá ter ocorrido em milhões de lares brasileiros: Um casal, evangélico, cultivando hábitos conservadores, e acreditando que Bolsonaro os representa, naquele momento sintonizando a TV, assistindo a fala do Presidente nas comemorações do nosso Bicentenário da Independência. Ele e ela, têm ao lado, bem atentos, os seus filhos crianças, compartilhando aquele momento cívico, e recebendo a pergunta dos filhos: “papai, mamãe, o que é imbrochável?”.

O que os dois, pai e mãe, diriam aos seus filhos naturalmente curiosos, diante daquelas palavras saídas da boca de Sua Excelência o Presidente da República Federativa do Brasil? Mentiriam, ou rápido desligariam a TV, que invadira o seu lar com obscenidades?

Juntar-se-iam aos “adoradores do mito”, e simplesmente diriam: isso é uma forma de falar do nosso presidente.

Ou, sensatamente, concluiriam com profunda tristeza: “este homem não é o defensor da família e dos bons costumes. Se o fosse, não seria debochado, não insultaria as pessoas, nem diria que se Cristo hoje retornasse, compraria uma arma. E ele não é um simples cidadão, é o nosso Presidente, e por isso obrigado a nos dar exemplos”.

Na data do Bicentenário da nossa independência a História irá assinalar: nas solenidades registradas, não esteve o Presidente da República. Nelas, apenas vagueou o candidato, um piloto de moto e jet–sky, que incorpora aos seus hábitos a vulgaridade, o insulto, as palavras chulas e a obscenidade. 

O Brasil, a civilização brasileira que construímos nestes dois séculos de independência, não merecem este menosprezo obsceno.


LEIA MAIS


SERGIPE EM DOIS TEMPOS E NA VISÃO DE DOIS ECONOMISTAS

Marcos Melo pode ter iniciado um oportuno debate sobre o desenvolvimento de Sergipe.

O Conselho do Desenvolvimento Econômico de Sergipe, CONDESE, imprimiu, na sua modesta gráfica um livreto. Quase tosco na forma, e repleto de conteúdo, intitulava-se: Matérias–Primas e Desenvolvimento Industrial, (um enfoque regional). O economista Jacó Charcot Pereira Rios, Secretário do Planejamento no governo do engenheiro Paulo Barreto, era o autor do que seria a súmula da tese que ele defendia, e apontando a mais efetiva forma de retirar Sergipe do subdesenvolvimento.

Do tempo em que ele escreveu o ensaio até agora nos separam 49 anos. 

Vivíamos, na época, a plenitude da euforia resultante da produção do petróleo e gás, alavancada pela entrada em operação das plataformas em águas rasas, fato até então inédito no país, e que acontecia em Sergipe.

Havia a projeção de que a produção de óleo e gás se sustentaria em Sergipe por um largo horizonte, algo em torno de meio século, e já haviam sido avaliadas as portentosas jazidas de sais minerais e calcário. O economista Jacó Charcot, um técnico oriundo da SUDENE, assimilou as ideias social-desenvolvimentistas de Celso Furtado, e aprimorou  sua visão estratégica junto a Raul Prebisch, na CEPAL; tentava, com aquela publicação, fazer acender uma chama de entusiasmos e ações para que Sergipe não perdesse a grande oportunidade. Seria a instalação no nosso território de um complexo industrial moderno, capaz de receber os minérios aqui produzidos, e os transformasse em uma gama imensa de matérias primas. Em resumo: ele projetava um Polo Mineral Petroquímico, que poderia ser o eixo de uma integração industrial com o nordeste e São Paulo.

Uma parte das suas ideias foi concretizada. Instalou-se a Mina de Potássio de Taquarí–Vassouras; também a FAFEN; a Planta de Gás Natural no Terminal Marítimo em Aracaju; e foi surgindo ao longo dos anos o polo de fertilizantes e rações; além de instalado o porto off-shore na Barra dos Coqueiros.

Marcos Melo é outro dos exponenciais economistas saídos da Faculdade de Economia, quando ainda não havia a Universidade Federal, e nossos cursos superiores, tal como a Escola de Química Industrial, que incluía-se entre as três melhores do país, eram criados e mantidos pelo governo de Sergipe.

Marcos Melo, da mesma forma que Jacó Charcot é desenvolvimentista, ele fez mestrado nos Estados Unidos, e consegue, pragmaticamente, transitar com sucesso entre o liberalismo de Milton Friedman, e a presença indutora do estado recomendada por Raul Prebisch.

Agora, Marcos Melo publica um artigo onde passeia por um tempo longo, desde quando a euforia inicial se foi dissolvendo, mas, houve conquistas suficientes para a transformação que se registrou numa economia quase atrelada ao carro de boi. Houve avanços, e ultimamente graves recuos. O processo agravou-se há uns trinta anos, quando acentuou-se a desindustrialização do país, causada por fatores diversos. Houve a supervalorização do Real equiparado ao dólar, no bem sucedido Plano Real, que, todavia, teve algumas falhas, e uma delas foi a de reduzir a competitividade da indústria brasileira, outra, se pode atribuir à pesada concorrência chinesa, que destroçou boa parte das nossas empresas têxteis. O Parque Cimenteiro foi também afetado com o fechamento de uma importante empresa, que agora está sendo reativada. 

E veio o tsunami em série, causado pela PETROBRAS abandonando Sergipe de forma intempestiva, e até criminosa. O fechamento da FAFEN, finalmente reaberta, depois de muito protagonismo do governo do Estado e o apoio pressuroso do então Ministro das Minas e Energia Bento Albuquerque, foi um fato positivo.

Mas, levará tempo para recuperar o estrago feito, que ainda repercute, principalmente na área da Cotinguiba.

E, por fim, o abandono total da estatal, encerrando suas atividades em terra e no mar. E o que é pior: retardando a transferência das suas atividades para a CARMO ENERGY, que adquiriu, aliás por boa soma de dólares as instalações da petroleira em terra, isso, em dezembro do ano passado, e até agora a empresa adquirente não pôde reiniciar suas atividades. Michel Temer tirou Sergipe do seu mapa, depois que Jackson, seu correligionário, o chamou de golpista, o que agora o PT tenta esquecer, pois Temer será muito útil levando uma boa parte do MDB para Lula (essas surpresas da história e da prática normal da política). O bloqueio foi rompido, em parte, graças à atuação do ex-deputado André Moura, líder de Temer, que canalizou mais de um bilhão de reais para as Prefeituras (há quem afirme que foi muito mais).

Isso fez circular recursos numa economia cambaleante, quando já não havia no cofre dinheiro para pagar os servidores, dando ao sucessor de JB, Belivaldo Chagas, o enorme trabalho de recuperar as finanças combalidas, e restituir ao estado a capacidade de investir.

Há inúmeras análises que podem ser feitas, mas, o essencial é manter o debate vivo, em torno do que mais interessa aos sergipanos que é a economia, aquela que põe e retira o pão da nossa mesa. E Marcos Melo contribui com muita competência e autoridade para fazê-lo.

Se analisarmos os três anos e meio do atual governo federal, cabe a pergunta: o que foi feito em Sergipe nesse mandato que agora aproxima-se do fim? É fácil responder: 25 quilômetros a mais na interminável duplicação da BR-101.
 

Voltar