Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
INTERVIR NA VALE É A MEDIDA MAIS URGENTE
28/01/2019
INTERVIR NA VALE É A MEDIDA MAIS URGENTE

As imagens da tragédia são aterradoras, e aterradores também são os crimes em série cometidos pela VALE, essa execrável empresa, voltada apenas para o imediatismo do lucro fácil, mesmo que, para isso, tenha decidido conviver com o risco dos milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos acumulados nas suas improvisadas barragens, que, um dia, poderiam romper e causar um apocalipse, tal e qual volta a acontecer.

O apocalipse se configura por etapas. Primeiro, a barragem de Mariana, agora, a barragem em Brumadinho.

Haverá uma sequencia de tragédias. Mortes, devastação ambiental, prejuízos materiais gigantescos, danos irreparáveis.

Nada adianta bloquear cinco, dez, vinte, trinta bilhões de reais da Vale. Nada adianta estabelecer novos protocolos de segurança, enquanto permanecer em atividade essa empresa predadora, gerida por gente desumana que, de maneira sórdida e cínica, vem manobrando há três anos para livrar-se da responsabilidade de cobrir o custo do primeiro desastre.

A Vale nunca pagou uma só multa, e acumula débitos em relação ao que deveria ser feito pela população atingida em Mariana.

Continuará agindo da mesma forma diante desta outra desgraça que agora acontece.

A Vale é renitente em delinquência. Tendo à sua disposição uma plêiade de advogados de primeiríssima linha, com os recursos que manipula pode procrastinar, como vem fazendo, e obstruir as ações da Justiça. Soltos, os seus principais executivos dispondo de formidáveis meios, e tendo o controle total da empresa, configura-se um perigo evidente para a sociedade e as instituições.

O governo Bolsonaro, que apenas começa, não tem nenhuma responsabilidade pelo acúmulo de erros que deram forma a uma monstruosa anomalia corporativa, cujos tentáculos se espalham pelo país, saqueando nossas riquezas e desconhecendo as nossas leis. Na área internacional esses tentáculos se mostram menos rapinantes, e esse fato, tão sintomático, expõe a ineficiência, a omissão, a conivência criminosa dos órgãos fiscalizadores, e lança dúvidas sobre a eficácia da nossa Justiça.

Enfim, a Vale é uma esculhambação gigantesca, que, pelos favores absurdos recebidos um dia do governo brasileiro, apropriou-se da maior parte das nossas riquezas minerais, e as explora como bem entende. Assim, menos por competência do que favorecimentos, chegou a ser a maior mineradora do mundo.

Sem uma intervenção direta do governo federal na gestão da empresa, essa esculhambação vai continuar, outras imagens aterradoras surgirão diante dos olhos sofridos dos brasileiros, e dos estrangeiros, estes, alarmados com a inércia tolerante e corrupta, de um país que não consegue aplicar suas leis contra uma corporação poderosa, lucrando e enriquecendo cada vez mais, e espalhando destruição e mortes.

A primeira medida urgente do atual governo seria revogar o indecente decreto assinado pela ex-presidente Dilma Roussef, dias após o desastre em Mariana. A pretexto de liberar o FGTS dos trabalhadores, a inepta e agora, evidentemente também corrupta Dilma, considerou desastres naturais os rompimentos de barragens, em vez de classificá-los como crime ambiental. Isso, simplesmente eximiu a Vale de arcar com as indenizações.

Nas Minas Gerais, em sucessivos governos, passando pelo gangster Aécio Neves, pelo malandro Pimentel, a Vale nunca pagou uma só multa. Existe uma rede de interesses espúrios, que asseguram os dividendos gordos para os acionistas da mineradora criminosa, enquanto centenas de famílias estão de luto e desesperadas, e os brasileiros humilhados como se fossemos, todos nós, meros rejeitos da Vale.

Para não passar à História com a mesma imagem da ex-presidente Dilma, o atual presidente teria de acionar, agora, o seu aparato de governo, desde a economia, à Justiça, à segurança, para encontrar, urgentemente, a fórmula que permita a intervenção.

Nesse momento, não há como ceder diante de considerações sobre como reagirá o mercado, sobre as repercussões da intervenção no exterior, que poderia ser considerada uma invasão do espaço da propriedade privada.

Nesse momento, deve cessar essa idiota narrativa sobre conceitos conflitantes de esquerda e de direita, fazendo com que meio ambiente, direitos humanos, sejam considerados ¨estratégias da esquerda internacional¨, e ações que apenas afirmam a autoridade que não deve faltar aos governos, sendo enxergadas como ¨atitudes fascistas¨.

Poderá acontecer um baque na nossa exportação dessa commodity tão disputada e tão aviltada, que é o minério de ferro. Dependemos da exportação de produtos primários, exatamente porque perdemos o foco na industrialização, e a Vale é uma das maiores responsáveis pela perda desse foco. Para a Vale é muito mais vantajosa a sua predatória exploração dos minérios, para exportá-los em estado bruto. Ao país, à sociedade brasileira, sobram as consequências de ter de importar, depois, sob a forma de equipamentos, bens com valor acrescido, até os trilhos tortos, que certa vez compramos da China.

A intervenção na Vale, após o saneamento, traçaria uma estratégia para a exploração das jazidas, em sintonia com os objetivos nacionais, retomaria o controle das reservas estratégicas, e devolveria a mineradora à iniciativa privada, trocando o cangaceirismo da máfia atual que dela apossou-se por uma gestão responsável.

Se o governo Bolsonaro não adotar essa medida, a Vale continuará escarrando lama sobre o Brasil, e impunemente assassinando brasileiros.

Vamos ter, outras vezes diante dos nossos olhos, as visões aterradoras de novas tragédias. A próxima já se delineia, desta vez em Itabira, a mais antiga das jazidas, onde enormes barragens, há tempos, dão sinais de colapso.

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