A propaganda oficial compara o Brasil a um trem que estaria fora dos trilhos, e agora, tendo voltado a correr por eles iria pelo rumo certo. De fato, esse “trem Brasil” poucas vezes na sua história trafegou por trilhos que o teriam levado, virtuosamente, por um bom caminho.
Michel Temer presunçosamente assumiu o comando do trem, num momento crítico em que a sua desastrada e teimosa condutora o fazia descarrilar, e insistia em manter-se na mesma rota. Imaginou o político, o professor, o constitucionalista, mestre nas habilidades de bastidores, que teria as credenciais necessárias para restabelecer a confiança, contando, para isso, com sólida base política, e a ilimitada boa vontade da FIESP e da FEBRABAN.
Temer, um idoso carcomido pelo envelhecimento das mesmas práticas político-patrimonialistas, chegou, tardiamente, para tornar-se maquinista de uma locomotiva cuja condução exigia algo mais do que seguir os trilhos e mover desatualizadas alavancas.
De forma arrogante, Temer imaginou-se senhor absoluto, sem atentar para as circunstancias, sem ter tido a capacidade de entender os sentimentos de uma sociedade inconformada, que exigia mudanças, a maior parte o enxergando com reservas, uma outra, até com ódio. Formou uma equipe econômica ao gosto do mercado, colocou, ao seu redor, os velhos amigos, fichados integrantes da insinuante Confraria do Peculato.
Formou-se o núcleo voraz da governança pervertida.
Apesar da lava jato, das atribulações vividas por outros confrades, alguns, na cadeia, outros, sendo investigados, a Confraria não perdeu a ousadia. Isso é uma característica dos grupos que sempre confiaram na infalibilidade de um sistema feito exatamente para protegê-los.
Esse sistema é formado por um emaranhado de leis que, nas entrelinhas, ou até escancaradamente, como é o caso do foro privilegiado, tem a finalidade específica de amparar o ladrão de gravata. Com um Ministério Público submisso e uma polícia serviçal, a Confraria do Peculato estaria sempre amparada pelo manto seguro da impunidade.
Contudo, apesar dos tentáculos que se estendem, intocados, por todos os poderes, houve o fato emblemático das cadeias que se abriram para acomodar poderosos. Bilionários, ministros, senadores, se viram confinados em cubículos 4x4.
Mudou alguma coisa, subimos degraus na difícil busca pela decência na vida pública. Houve erros, açodamentos, episódios em que os exibicionismos de vaidades e arrogâncias, ultrapassaram o bom senso, mas, no geral, houve ganhos imensos, que se medem muito mais pelo efeito demonstração do que é possível ser feito, do que pelas quantias, enormes, identificadas e devolvidas aos cofres públicos.
Temer imaginou que ainda estaria na varanda da Casa Grande de um imenso cafezal paulista, irrigado com o suor de escravos negros, ou dos brancos e amarelos não escravos, todavia, tangidos dos seus países pela miséria, e vindo submeter-se na terra da esperança aos maus tratos dos patrões, até pouco tempo senhores de escravos.
Velho habitante da Casa Grande, remanescente de um passado que sempre ajudou a manter intocado, Michel Temer tinha, à sua volta, autoridades com espinhas encurvadas e solicitude a toda prova. Acostumou-se a isso. Como político, Temer é o resultado maléfico do velho sistema rançoso de vassalagem que a sociedade presta aos que mais espertamente controlam as ferramentas do mando.
Daí a irresignação, mais do que isso, a estupefação de Temer, depois de tanto tempo habituado às mesmas práticas mafiosas, e, logo agora, justamente quando se tornou o maior dignatário da Nação, sendo flagrado com a mão na botija.
O trem que Temer diz conduzir de volta aos trilhos da ordem e do progresso, não consegue mais deslizar sobre linhas que atravessam o lamaçal criado por ele mesmo e os seus contumazes comparsas.
O PARTO DA CIDADE INTELIGENTE (3)
Não se tente dizer que quilômetros e mais quilômetros de ciclovias representam um avanço para a mobilidade urbana. O trabalhador que, começando na Ponta da Asa onde mora, para chegar ao Distrito Industrial onde trabalha, completa um trajeto de uns trinta quilômetros.
O forçado ciclista não é propriamente um beneficiário dessa forma de transporte, ele é, na verdade um sacrificado, sem outra alternativa, a não ser pedalar exaustivamente, vencendo um percurso extremo, chegando suado e exaurido ao trabalho, enfrentando o risco constante de ser assaltado, o sol forte, o calor sufocante.
Se não existissem as ciclovias, a situação seria bem pior. Mas, que não se queira condenar o trabalhador a ser o atleta olímpico do salário mínimo. As ciclovias são um avanço indiscutível, desde quando destinados ao esporte, ao passeio descompromissado das pessoas que gostam de pedalar, e mesmo de quem trabalha, todavia, sem ter de vencer grandes distancias. As ciclovias contribuem, também, para reduzir a poluição urbana.
Uma Cidade Inteligente não pode lançar seus habitantes ao inferno diário das viagens numa frota de ônibus sucateados, desconfortáveis, que viram fornos durante os verões, ou ao sacrifício de pedalar durante horas ao sol ou à chuva.
O primeiro ato para a mudança seria a licitação, sempre prometida e nunca realizada, para habilitar empresas de transporte. Finalmente, se afastaria aquela dependência malsã dos concessionários sem segurança jurídica ao poder público discricionário concedente.
A prisão no Rio de Janeiro de empresários dos transportes e funcionários municipais, revelou uma parte da promiscuidade do sistema.
O prefeito Edvaldo Nogueira assegura para este ano a licitação para os transportes urbanos. Daí em diante é indispensável que se trate de melhorar a qualidade da mobilidade urbana. Não se consegue fazer isso com calhambeques que enchem as ruas de fumaça poluente. Nos pontos de parada os abrigos existentes apenas demonstram o descaso como se trata o povo, descaso que se revela ainda maior nas calçadas da cidade.
Pensar no transporte fluvial é uma exigência da cidade quase ilha. Se poderia começar melhorando o embarcadouro precário e inseguro para quem utiliza as tó-tó-tós, fugindo do preço elevado dos ônibus que cruzam a ponte da Barra, e utilizam as canoas, onde nem se tem noção do que seria conforto.
Com planejamento se poderá melhorar um pouco o trânsito, mas, o grande desafio será mesmo substituir o automóvel pelo coletivo, e descobrir o que se poderá fazer com a linha de ferro que cruza a cidade e está abandonada há quase vinte anos. Será que em alguns trechos não poderia circular um VLT mesmo na naquela linha antiga de bitola estreita?
O MEDO QUE A “DIREITONA” FAZIA A ROSALVO BOCÃO
Rosalvo Alexandre, o agrônomo que lutou para plantar ideias sociais na terra nem sempre fértil para esse tipo de cultivo, quando uma réstia de liberdade clareava o escuro do regime autoritário, pegou um megafone e saiu pelas ruas a denunciar o arbítrio, a clamar por democracia.
Sobrevivente, sem maiores traumas, da nefanda Operação Cajueiro, Rosalvo permanecia na luta. A sua grande preocupação era com aquilo que ele denominava a “direitona”, ou a expressão virulenta do nosso disfarçado fascismo.
A “direitona” que Rosalvo temia, era exatamente aquela golpista, identificada com tendências autoritárias, e sempre esperançosa na rebelião dos quartéis radicalizados. Voto, liberdade, democracia, parlamento, são apenas instrumentos do quais os extremistas, sejam eles da direita ou esquerda, utilizam-se, para que alcancem o fim almejado, que é sempre a ditadura.
Rosalvo não teve tempo para assistir o espetáculo atual da esquerda lançando ao lixo sua própria história, e isso se torna decepcionantemente real, quando senadores do PT votam na Comissão de Ética contra o julgamento do senador Aécio Neves, hoje, identificado pelos brasileiros como um dos nossos mais eminentes gangsters.
Registre-se, que o senador sergipano Antônio Carlos Valadares foi a favor do julgamento, e denunciou ameaças que teria recebido. A “direitona”, hoje sobrevive, apenas, nas bravatas idiotas de um Bolsonaro, cujas sandices ainda entusiasmam incautos ou desavisados.
Um homem que sempre foi, e é de direita, como o senador Ronaldo Caiado, no programa do jornalista Mário Sérgio Conti, exercita um discurso atualizado, valoriza a democracia, preconiza o afastamento de Temer, que, segundo ele, não quis entender e agir para ir de encontro às insatisfações que atormentam o povo.
Defendeu a realização de eleições diretas, ressalvando que a alteração não prevista no calendário eleitoral seria, no momento, para assegurar a clausula pétrea da Constituição, perenizando o regime democrático. Caiado lembrou que a Constituição de 1988 já foi alterada quase duzentas, vezes e existem mais de mil projetos de emenda nas gavetas do Senado e Câmara.
Pelo menos, da direita normal, e civilizada, Rosalvo agora perderia o medo.
RODRIGO MAIA E A “MOSCA AZUL”
Bem ansiosa e inquieta é aquela mosca azul que terminou por injetar em Rodrigo Maia o sonho de colocar ao peito a faixa que o quase ex-presidente tanto tem desonrado.
Do desastre que se avizinha para Temer, surgirá de um quase consenso político, o nome do presidente da Câmara para ocupar o governo na transitoriedade e, certamente, para concluir o mandato, eleito indiretamente pelo Congresso. Vozes abalizadas no cenário político já se manifestam, sugerindo um ato de grandeza final no presidente que não mais governa. Se manifestaram FHC, o presidente do PSDB senador Tasso Jereissati, da mesma forma o senador Cunha Lima, que até previu um prazo de 15 dias para o ato de renuncia.
Rodrigo Maia já tem o discurso prontinho: há uma gravíssima crise institucional, Temer devasta o país com sua insistência em continuar num cargo que perdeu a condição de exercer, exaure os cofres fazendo favores, gera um atrito de proporções imensas entre os poderes, e com isso condena o país a um sofrimento que somente por extremo egoísmo ele seria capaz de desconhecer.
A seu favor, Rodrigo Maia contabiliza o apoio da maioria da Câmara e do Senado, tem sinal verde do ator fundamental em toda essa cena de ópera bufa: o mercado. Poderá, até, ser bafejado por um consenso que se estabeleceria entre os partidos. Do DEM, que é o seu, passando pelo PSDB, a maioria do PMDB, e possivelmente até o PT.
Lá em Hamburgo, perdido entre os chefes de estado do G-20, Temer, visto como incômoda presença deve estar preparando o retorno, tendo na cabeça a palavra renúncia.
Todavia, ao mesmo tempo Temer começa a dar sinais de que a vaidade transformou-se em insanidade. Isso ficou bem claro quando desembarcou na Alemanha dizendo que no Brasil não existe crise econômica. Chegamos aos 14 milhões de desempregados, o déficit fiscal avolumou-se. Poderemos começar a viver o pior dos cenários: a “estagflação”, combinação perversa de queda de preços e estagnação.
Empresas estão falindo aos montes, no comércio cada dia aumentam as portas fechadas, a Polícia Federal deixa de fiscalizar as fronteiras, porque não há dinheiro, ou tornaram-se, os federais, vítimas de um ato de represália do presidente, com eles muito insatisfeito, porque o investigaram e prenderam seus amigos. E para o povão que passa fome, vem aí o presentinho de Temer: a bolsa família está ameaçada.
E é assim que a crise acabou?
OS INCENTIVOS FISCAIS E A MORTE ANUNCIADA
O nordeste industrializou-se, desenvolveu-se, desde que entraram em cena a SUDENE e, com ela os incentivos fiscais, que naquela época eram cuidadosamente aplicados.
A primeira indústria de base a instalar-se em Sergipe, a fábrica de cimento do grupo Votorantim, veio atraída pelas nossas reservas de calcário, certamente pelos incentivos, sendo convencidos os seus dirigentes diante dos argumentos apresentados pelo professor Aloísio de Campos um dos assessores do governador Luiz Garcia.
Implantado no governo de Lourival Baptista, o Distrito Industrial de Aracaju, diziam pessimistas escribas do jornal Gazeta de Sergipe, para ele só viriam duas indústrias: uma de massa puba, outra de pé de moleque. Talvez não fizessem ideia da força dos incentivos fiscais. Quase todas as indústrias sergipanas receberam esse beneficio, o mesmo acontece no resto do nordeste e de um modo geral em todo o país, porque os incentivos se espalharam, e entre os estados travou-se a guerra fiscal que os tornou, em alguns casos, perniciosos.
O STF, determinou que os incentivos fossem extintos, alegando inconstitucionalidade. A morte está anunciada, o que se discute agora, é se virá progressivamente em 15 anos, como querem os estados industrializados, ou em 18, como pretendem os pobres, do nordeste, do norte. É tema polemico, todavia, para nós essencial, e para que seja adequadamente tratado, já se debruçam sobre ele, técnicos que receberam a orientação partida do Secretário do Desenvolvimento, o engenheiro Jose Augusto.
A SAIDA DA VALE PODERÁ SER UMA BOA NOTÍCIA
Não será exatamente uma má noticia a venda da Mina Taquarí-Vassoura, operada pela VALE. O comprador foi um grupo canadense que é o maior produtor de potássio do mundo. Executivos da VALE foram recebidos pelo governador Jackson Barreto e deram a informação, deixando a boa noticia de que o grupo agora controlador manterá a mina em operação.
Sabendo-se que a jazida explorada nas profundezas do subsolo só durará mais uns dois anos, chega-se a conclusão de que o grupo adquirente deverá executar o Projeto Carnalita, aquele que a VALE fingiu que queria fazer. O Projeto Carnalita é algo que exigirá um investimento em torno de uns 4 bilhões.
O ALARDE QUANDO ACUSA, O SILÊNCIO QUANDO ABSOLVE
Nesses tempos em que as pessoas torcem a cada dia para que ocorram novas prisões de engravatados, existem, também, aqueles que desejam satisfazer a vontade popular, alias, de certa forma justa, e buscam fazer descobertas que possam chegar às manchetes. Afinal, ocupar espaços nas mídias é sempre algo prazeroso, para atender vaidades, ou justos sentimentos de busca da justiça.
Acontece que os acusados, principalmente se forem pessoas públicas, alimentam com muito maior destaque os espaços de informação, e hoje com intensidade muito maior nas redes sociais.
Quando, acusada de ilícitos a pessoa pública busca a defesa, enfrenta um período de criticas, especulações, enfim, torna-se alvo dos torpedos disparados do “moralismo” virando moda, ou modismo de ocasião.
O conselheiro e ex-deputado Ulices Andrade foi alvo, recentemente, de uma dura acusação. O fato gerou variadas manchetes, durante algum tempo. Ulices manteve-se calado, mas procurou a Justiça. No STJ foi absolvido, e com o voto de ministros considerados extremamente rigorosos diante de atos de corrupção.
Para informar que sobre ele não pesam mais as suspeitas, Ulices terá de buscar espaços na mídia para divulgar o fato, ou continuar calado, e sob a desinformada suspeição da sociedade.
E ainda existe aquela estória de que a versão é sempre mais contundente do que os fatos.
ALQUIMIA NO ROMANCE DO QUÍMICO ESCRITOR
O químico industrial Chico Varela nunca contentou-se em “apenas” exercer a sua profissão. Passada a fase da militância política, chegando ao tempo da reflexão maior sobre a vida, a relação entre a natureza humana e as ideias transformadoras da sociedade, o que gera algum desencanto, ou, pelo menos, um bom somatório de precauções e antídotos contra radicalismos, Varela enxergou, na literatura, o estuário onde desaguar suas preocupações, suas inquietudes, até os sonhos, se é que eles podem servir como se fossem apenas afluentes.
E ai vem mais um livro de Varela. Trata-se de Honra do Samurai, resultado das suas incursões pelo Império do Sol Nascente, tão pródigo em revelar coisas que surpreendem, ainda mais a nós, seus antípodas tão distantes. Acontece o lançamento nessa quinta- feira, 13, às 19 no Museu da Gente Sergipana.
O GÁS, O PREÇO, E O QUE SE QUER FAZER
A SERGÁS é empresa da qual o estado de Sergipe detém 17% das ações, os outros sócios majoritários, a Mitsui, e uma subsidiária da PETROBRAS detêm o restante. O governo do estado indica um dos três diretores, no caso, o ex-prefeito de Aracaju e advogado Welington Paixão.
Welington tem procurado valorizar a sua participação, já indicou para o governo uma grande fonte de receita proveniente do gás, que vinha sendo até agora ignorada, mas que já tinha até liminar favorável ao estado. Trata-se de uma receita nada desprezível, uma das que o ex-secretário da fazenda Jeferson Passos não teve olhos para enxergar, o que até hoje causa indignação em Jackson.
Surge agora uma providencial discussão sobre o uso mais intenso do gás para fins industriais, e nisso se identifica o preço cobrado pela SERGÁS, que seria um dos mais elevados do país.
Wellington há algum tempo dedica-se a analisar o problema, mas há o obstáculo da sua própria limitação na empresa. O gás em maior quantidade será, em breve, uma das grandes atrações para indústrias que aqui queiram se instalar, e para tantas outras que aqui operam, como as cerâmicas por exemplo.
Wellington entende como oportuna às iniciativas adotadas no âmbito da Secretaria do Desenvolvimento, e a participação de empresários e políticos no tema essencial ao nosso desenvolvimento, mas considera que o contrato atual com a PETROBRAS é desfavorável a Sergipe e terá de ser alterado para reduzir o custo que pesa sobre a SERGÁS, e assim tornar mais competitivo o gás, hoje priorizado, por ser muito menos poluente do que o petróleo.