Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
FECHAR O STF E AGUARDAR O DITADOR
18/10/2019
FECHAR O STF E AGUARDAR O DITADOR

(O desatino nas ruas, o apelo a ditadura)

O Supremo Tribunal Federal contrariando o que ocorre em países civilizados  aqui, entre nós, não figura no rol das instituições mais respeitadas.

Há, ao invés de aceitação e acatamento, um sentimento de suspeita, repúdio, e, nos casos mais extremos, até de ódio.

O ódio nunca se justifica, porque é sinônimo de irracionalidade, todavia, o sentimento de descrédito tornou-se inevitável. Não é saudável para um país assistir o desmonte moral da sua mais alta Corte de Justiça, de onde sai o receituário para manter viva a Constituição.

 Nas ruas, cresce a atoarda raivosa, parte de uma conspiração extremista que executa, meticulosamente, aquela conhecida sequencia de etapas cujo cenário final, após o colapso das instituições democráticas, será a entronização de um ditador.

Desavergonhadamente, já vociferam que é preciso trancar as portas do STF, retirar, à vergastadas de chicote, deputados e senadores do Congresso Nacional, lacrar os transmissores das emissoras da rede Globo, empastelar a Folha, depois, os jornais e revistas desobedientes, e criminalizar o pensamento, além de  ocupar militarmente os campi de todas as Universidades, e as sedes dos sindicatos inconformados.

Com isso, acreditam que espalhariam pelo Brasil o mesmo clima de paz que há nos cemitérios, e nesse ambiente   vicejariam  os vermes e os coveiros da civilização.

 Já nomeiam quem seria o ditador, o Fuehrer, a quem caberia a sinistra, a ignóbil  tarefa de nazificar o Brasil.

E, mais desavergonhadamente ainda dão-lhe o nome: Jair Messias Bolsonaro. Pode ser até que ele nem seja tentado a trocar a faixa presidencial pela suástica no braço, mas seus filhos, príncipes regentes, ou herdeiros presuntivos, seriam fascinados pela ideia.

E assim vamos atolando no pântano conflituoso que precede as grandes tragédias.

É preciso, é urgente: o que resta de massa crítica sensata neste país,  deverá   engrossar o coro  da democracia, ou a repugnância  do vômito sobre a nojeira da ideia de ditadura.

Façamos, por oportuno, um rápido passeio pela História, nos concentrando apenas nas ditaduras registradas no espaço que Erick Hobsbawn chamou de o “século das revoluções”, o Vinte, onde se confrontaram os dois grandes totalitarismos,  nazifascismo e comunismo. Dezenas de regimes absolutistas surgiram dessas sementes de ódio lançadas,  inclusive, por pessoas movidas pelo sentimento de que estariam ajudando a melhorar o mundo. Mas, onde o poder surge da violência das armas, o trajeto será sempre de sangue. Foi o que se viu com o fascismo, o nazismo e o comunismo.

E o século vinte foi pródigo também em ditaduras no mundo subdesenvolvido, resultantes da mazorca nos quarteis,  e das ambições de caudilhos açougueiros, como aqueles que povoaram a Macondo, onde Gabriel Garcia Marquez deu moldura fantástica à realidade da latinoamérica.

Ter saudades de ditaduras é um sintoma perigoso de frustração existencial, ou epidemia coletiva  de sadomasoquismo.

 O general Santos Cruz, aquele que Bolsonaro enxotou do Planalto, exatamente por ter confrontando os filhos sociopatas, refletindo sobre o nosso conturbado momento, lembrou que as instituições precisam cuidar de si mesmas, o que significa tratar de se fazerem respeitadas.

O STF parece não ter tido esse cuidado essencial. Seus “deuses” desconectaram-se do mundo real, acomodados nas poltronas aconchegantes do “ bunker” virtual onde se refastelam.

Todavia, não será pelo caminho da demolição da Justiça, do Parlamento, da Cultura, da Cidadania, que iremos  achar saídas para o Brasil. Muito menos as encontraremos, acirrando o conflito estupido entre Lula – Livre e Bolsonaro- Mito.

O STF escolheu o pior instante possível para que os seus “deuses televisivos” derramem, vaidosos, suas cargas de sapiência, enquanto a  “massa ignara” pergunta apenas: “E depois disso tudo quem rouba e mata, de gravata ou capuz, terminará na cadeia?

O PT, nesse cenário de tumulto e radicalismos, concentra-se na única coisa que lhe interessa: Lula Livre.

Os bolsonaristas mais extremados, radicalizam o discurso e pedem uma ditadura comandada por  Bolsonaro e seus tumultuários “garotos”.

Pensávamos que já havíamos galgado os degraus civilizatórios, e, de repente, nos  vemos envolvidos numa atmosfera cinzenta de obscurantismo medieval, que nos amesquinha, e nos faz afastados do mundo moderno.

Enquanto isso, o óleo continua avançando em ondas sucessivas sobre as praias do nordeste.

E o “mito” gasta  tempo precioso, alimentando a baixaria sórdida do seu partido, o PSL.

E o Brasil acima de tudo onde fica?

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CANINDÉ VOLTANDO ÀS MANCHETES

(A receita do farmaceutico: O caos)

Houve tempo em que do município de Canindé de São Francisco só nos chegavam notícias desanimadora.

Contrastando com o progresso que começara a surgir, desde quando iniciada a construção da Usina de Xingó, algo que prenunciaria o fim dos hábitos truculentos tão comuns naquela região, as manchetes das mídias iam sendo alimentadas com as calamidades que se repetiam em Canindé .  Homicídios, massacres, assaltos aos cofres públicos, invasão de um Foro para sequestro de urnas, depois incendiadas; as tentativas de calar a voz dos que clamavam contra a iniquidade, sintetizadas, infelizmente, no bárbaro assassinato do radialista Zezinho Cazuza.

Depois, sobreveio um tempo de paz, dando sequencia aliás ao que antes existia, e fora interrompido pela entrada em cena de personagens truculentos.

 Esse tempo  recente de civilidade conquistada, serviu, também, para que, sob o silencio da mídia, se registrasse um processo de degradação administrativa, iniciado  após a morte do prefeito Orlandinho Andrade, sendo sucedido pelo  vice, Ednaldo da Farmácia.

Entre outras “receitas” que o farmacêutico prescreveu para a sua própria administração, incluíram-se: descuido, desmazelo, incompetência, preguiça, desonestidade, ausência de rumos. Em suma: irresponsabilidade absoluta.

Sob o signo dessa irresponsabilidade que levou alguns a acariciarem generosamente os seus próprios bolsos, e bolsas, veio o caos do atraso dos salários, da paralisação da Saúde, da precarização da Educação,  da deterioração urbana, tanto da sede como dos maiores povoados.

O resultado total  das receitas prescritas pelo farmacêutico foi o caos.

A coisa chegou a tal volume que houve a interferência construtiva do Promotor da Comarca Emerson Oliveira Andrade, visando deter a sangria criminosa. Nesse ínterim,  os vereadores, até pressionados pela opinião pública em estado de indignação, resolveram abrir um processo de impeachment.

Tudo transcorreu rigorosamente em consonância com as normas legais.  Após um alongado tramite do processo que incluiu oitivas diversas e ampla defesa do acusado veio o resultado final: Dez votos a zero.  O município tem onze vereadores. Essa unanimidade raríssima, ou mesmo inédita em casos dessa natureza, evidencia o clima de descrédito do prefeito marcado pela incompetência e desonestidade.

Pesquisas revelaram que noventa e cinco por cento da população apoiavam o afastamento do prefeito. Para substituí-lo interinamente, até que ocorram as eleições, que o TRE definirá se diretas ou indiretas, assumiu o presidente da Câmara Weldo Mariano, um jovem politico em segundo mandato.

No dia seguinte ele exonerou contratados e comissionados, suspendeu o pagamento de funcionários ausentes ao trabalho, fez um levantamento das contas e verificou que o prefeito deixara acumulada uma divida de 15 milhões, na sua maioria com pagamentos de salários atrasados, variando de dois a quatro meses; adotou imediatas providencias para renegociar os precatórios, e impedir o sequestro do FPM, feito todos os meses pelo INSS. A dívida com o Instituto acumulada por vários prefeitos anteriores ultrapassa hoje a enormidade de cento e cinquenta milhões de reais.

A receita de Canindé caiu consideravelmente, tinha uma media de onze milhões e hoje é de pouco mais de oito. Somente a folha leva mais de seis milhões. A cidade e os povoados estavam imundos, sem o recolhimento regular do lixo, em uma semana já estão limpos, e não se joga mais lixo hospitalar num imenso monturo  , onde engordavam porcos que eram abatidos e a carne oferecida criminosamente à população.

O Prefeito quer dar transparência as despesas e à receita, uma Caixa Preta nunca antes revelada,

 e vai colocar na praça principal da cidade todos os meses em um grande cartaz, os números reais para que a população os conheça.

Ou seja, após quase três anos Canindé do São Francisco voltou a ter um Prefeito que está agindo, e para isso formou uma qualificada equipe de Secretários, todos com habilitação acadêmica para os cargos que exercem, ou comprovadamente experientes.

Mas o prefeito afastado por incúria administrativa, e pesadamente rejeitado pela população recorreu à Justiça e já anuncia nas redes sociais que a sua volta será apenas questão de tempo.

Quando houve o processo de impeachment o prefeito tentou impedir a votação final e recorreu à Justiça. O então Juiz substituto de Canindé, Ícaro Tavares de Oliveira Bezerra, fez uma consistente peça na qual refutou as alegações da defesa e retratou, com precisão, os motivos do impeachment e a sua legalidade. Inconformado, voltou o prefeito a demandar, e ingressou com um recurso no Tribunal de Justiça. O Juiz Marcel Ayres Britto, substituindo um desembargador, emitiu a sentença final, corroborando ainda com argumentos mais fortes a decisão de primeira instancia, e o impeachment foi concluído.

Agora, a população canideense está na expectativa de um novo julgamento, e, na sua quase totalidade, confiando que não haverá caminho de volta para o farmacêutico das receitas desastrosas, que levou o município à sua mais grave situação financeira, e à paralização administrativa.

O impeachment somente foi iniciado depois que o promotor da Comarca Emerson Oliveira Andrade, ao sentir que a prefeitura estava sem rumo, adotou as medidas cautelares, impedindo gastos e contratações durante quatro meses. Nesse interim os vereadores premidos pelas circunstancias, estimulados pela população encontraram o remédio definitivo com a fórmula eficaz do impeachment.

 O novo prefeito gerou esperanças, que rapidamente serão desfeitas e se transformarão em desalento e decepção, se o prefeito for reconduzido ao cargo após perder as condições morais e administrativas para exercê-lo.

A demissão por justa causa que afetou o prefeito, se transformaria então em castigo aplicado à sofrida população, que respirou de alívio após o afastamento, e começa a ter algum otimismo.

Uma situação de instabilidade com entra e sai de prefeitos, causaria irrecuperáveis prejuízos ao município, com a perspectiva de  ganhar, já a partir do próximo ano, um portentoso investimento de mais de um bilhão de dólares numa usina fotovoltaica, que será uma das três maiores do país.

Quem agora está pensando em futuro, não imagina ser obrigado a retroceder, dar uma marcha-ré  outra vez em direção ao caos.

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